sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Professores são discriminados

O Movimento dos Professores e Educadores Precários e Desempregados dos Açores (MPEPDA) criticou ontem o regulamento do concurso lançado a nível nacional, considerando que discrimina os professores das regiões autónomas. “O regulamento do concurso do continente discrimina os professores contratados e que trabalham nas regiões autónomas. A situação é flagrante, os professores dos Açores e da Madeira não podem concorrer por via do concurso nacional através da primeira prioridade”, afirmou Fernando Marta, do MPEPDA, em declarações aos jornalistas durante uma acção de protesto em Ponta Delgada. Fernando Marta lamentou que a secretária regional da Educação, Cláudia Cardoso, não tenha assumido qualquer posição relativamente a esta situação, nomeadamente “fazendo alguma pressão junto do Ministério de Educação”. Secretária “mais preocupada em fazer vida negra a alguns professores” “A verdade é que não vimos por parte da secretária regional da Educação qualquer tipo de repúdio ou intervenção em relação a esta matéria. O que nos parece é que a secretária anda mais preocupada em fazer a vida negra a alguns professores deste movimento do que com a questão da educação e contratação dos professores”, frisou. O MPEPDA promoveu uma concentração junto ao Palácio de Santana, residência oficial do presidente do Governo dos Açores, para condenar a abertura de 30 vagas para docentes na região, que, segundo este movimento, não resolve a situação dos professores em precariedade ou desemprego. “Parece que é fantástico que, numa altura tão difícil, abram 30 vagas mas, na verdade, serão totalmente absorvidas por professores que já pertencem aos quadros, ou seja, como todas as escolas, segundo a Secretaria Regional da Educação, estão com vagas negativas (com professores a mais), quando chegar à fase de contratação, não terão vagas para nós”, afirmou Sónia Martins, que também pertence ao movimento. Nesse sentido, considerou que “esta medida é, nada mais nada menos, que ‘show off’ como todas as outras”. O MPEPDA estima que existam nos Açores cerca de 600 professores e educadores em situação precária ou de desemprego. Correio dos Açores, 24 de Fevereiro de 2012

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Maçãs Podres

A existência de maças podres que contaminam todo um cesto de fruta não começou e pelos vistos não acabou com João Moutinho, o jogador do Sporting Clube de Portugal que, depois de se ter transferido para o Futebol Clube do Porto, passou, pelo menos para alguns, de bestial a besta. Na vida em sociedade todos nós estamos a tropeçar, no dia-a-dia, com maçãs que, para não ferir susceptibilidades, dizemos que estão ligeiramente tocadas, embora o cheiro a podridão seja nauseabundo. É por demais evidente que nem sempre a maçã tem consciência do seu estado e muitas vezes, pelo menos para ela e para quem a rodeia, ela é a única pessoa no mundo e arredores que está certa, todos os outros andam com o passo trocado. Esta introdução vem a propósito de situações que são do meu conhecimento e que ocorrem um pouco por toda a Região. A situação que vou referir está relacionada com o mau clima criado numa sala de aula pelo facto de dois ou três alunos, não só por não estarem interessados em aprender, mas também por fazerem intervenções descontextualizadas e por não serem pontuais, perturbarem o normal funcionamento das aulas, o que constitui um desrespeito para o docente e para os restantes alunos, que por acaso estão muito motivados e são muito trabalhadores. Mas, tão ou mais grave que o comportamento dos alunos é a atitude dos pais e encarregados de educação que, primeiro acreditam piamente na versão dos seus educandos, desconfiando dos relatos dos professores e depois acham que, por serem jovens, o que eles fazem deve ser tolerado. Além disso, quando um dos docentes exemplificou o que se passava falando no facto de uma só maçã poder contaminar toda uma fruteira ficaram escandalizados, considerando que a comparação não fazia sentido e era um desrespeito para com os alunos prevaricadores. Como a classe que se diz dirigente, não é capaz ou não está muito interessada numa verdadeira educação para a cidadania, em promover a autonomia de cada um e a participação de todos na vida política e social, transfere para a escola, nomeadamente para os professores, que mal têm tempo para cumprir programas, alguns deles repetitivos, a responsabilidade de incutir alguns valores que já deviam ter sido “bebidos” no berço. Se na escola há quem, remando contra a maré, ainda acredite que ela possa contribuir, para a além da transmissão de conhecimentos, para a transmissão de valores como o respeito pela diversidade, o apreço pela vida de todos os seres sencientes, a justiça e a solidariedade e seja um meio de mobilidade social, também há quem ache que ela deva apenas cumprir a sua, talvez, principal função: a de reproduzir as desigualdades existentes. Daí, o saudosismo de alguns pela escola salazarenta ou pelas escolas industriais para os filhos dos mais pobres. Eu neste aspecto até sou mais radical, para além de condenar a escola do passado e de já há alguns anos estar descrente com a escola que nós temos, acho que a escola do presente e do futuro deve ser um espaço de transformação da sociedade, cabendo lá todos os que querem aprender, independentemente das origens sociais e do facto dos seus pais terem as algibeiras mais ou menos recheadas ou vazias. Os que andam lá apenas porque adoram os recreios, que abominam os professores e os conteúdos quaisquer que eles sejam, que existem para perturbar, para desobedecer, para chamar nomes, que tenho vergonha de repetir aqui, aos colegas, docentes e funcionários, deviam ter o acesso vedado a qualquer estabelecimento de ensino. Não se pode acabar com as maçãs podres se não as isolarmos das sãs e estas só se conseguem tratando bem o terreno, adubando com conta peso e medida, regando sempre que for necessário e podando sempre e só quando for necessário e no período indicado. Teófilo Soares Braga (Correio dos Açores, 15 de Fevereiro de 2012)