quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Os pombos em Ponta Delgada em 1933


Os pombos em Ponta Delgada em 1933

A 11 de Fevereiro de 1933, Alice Moderno escreveu um texto, no jornal Correio dos Açores, onde, para além de se regozijar pelo facto dos pombos existentes na cidade de Ponta Delgada serem “poupados às balas dos caçadores”, mencionou o facto dos mesmos serem alimentados por donos de estabelecimentos comerciais e outras pessoas que “lhes distribuíam diariamente as rações de milho de que se sustentavam”. Segundo ela, para “além da bondade que manifestavam para com os animais, vinham dando aos seus concidadãos um belo exemplo educativo”.
Mas, como não há bela sem senão, no mesmo texto Alice Moderno, também, menciona o facto de em frente à Varanda de Pilatos serem praticados “actos da mais requintada crueldade”. Com efeito, alguns indivíduos atiravam aos pombos milho “em cujo grão” colocavam “um pequeno anzol, preso, por sua vez, a um barbante”.
Alice Moderno termina o seu texto denunciando à polícia a situação e lamentando que aqueles “atos repugnantes, de repreensível maldade” serem praticados num local “frequentemente transitado por viajantes, que levarão uma bem triste ideia da forma como são tratados, nesta terra, os pobres animais, tão dignos de melhor sorte”.
No dia 17 do mesmo mês, a redação do Correio dos Açores informa que o artigo de Alice Moderno foi muito felicitado e acrescenta que a perseguição aos pombos já vem de longe, lamentando que “pelo encanto e suavidade que dão à paisagem da Baixa, bem mereciam que alguém de ânimo generoso tomasse desassombradamente a sua defesa”.
No dia seguinte, 18 de Fevereiro, os responsáveis pelo Correio dos Açores voltaram à carga e acrescentaram que era “preciso castigar severamente e de forma que o delinquente sinta o castigo. E se à polícia incumbe aplica-lo a todos nós cumpre velar para que actos dessa natureza se não repitam, denunciando os malfeitores, amarrando-os à vergonha do seu delito”.
Os responsáveis pelo Correio dos Açores terminam o seu texto com um parágrafo que, apesar dos anos decorridos, mantém toda a atualidade: “De resto, essa insânia de malvadez com os animais, não será uma curiosa revelação psicológica daqueles que, cansados de fazer mal ao seu semelhante, ou temendo fazê-lo, cevam os seus ruins instintos perseguindo…os pombos?!
O poeta micaelense Francisco Espínola de Mendonça, formado em Filologia Romântica, que foi professor no Liceu de Ponta Delgada, no dia 20 de Fevereiro de 1933, sobre o assunto publica no mesmo jornal dois sonetos, de que se transcreve o seguinte:
De quando em quando, em doces revoadas,
Bandos de pombas descem junto a nós.
Não têm pombal e vivem longe, sós,
Nos alcantis de rochas escarpadas.

Uns grãos de milho, numa ânsia atroz,
Pedem elas às almas bem formadas.
Mas quantas vezes são atraiçoadas,
E vêm morrer nas garras dum algoz!

Acarinhai as pombas diligentes
Que vibram como nós, em luta igual,
Por amor dos filhinhos inocentes.

E, por piedade, não lhes façam mal.
Abram-se as mãos e as almas complacentes
Às pobres pombas que não têm pombal…

Hoje, a presença de pombos nas cidades continua a ser alvo de simpatia por grande parte das pessoas, mas não encontrando predadores o seu número tem aumentado muito, constituindo um problema para a saúde pública.
De modo a evitar mortes e sofrimento desnecessário existem métodos para controlar as populações, associados à redução dos seus abrigos e de alimentos.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 25 de fevereiro de 2015, p. 12)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Eduardo Pontes


Eduardo Pontes: um açoriano no coração da Cova da Moura

No passado dia 20 de Janeiro faleceu, em Lisboa, o açoriano Eduardo José Azeredo Pontes que havia nascido em Ponta Delgada a 10 de Março de 1936.
Eduardo Pontes viveu grande parte da sua vida em Lisboa, onde foi colaborador do CIDAC- Centro de Informação e Documentação Anticolonial (depois Centro de Informação e Documentação Amílcar Cabral e hoje Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral), organização criada em Maio de 1974 e nascida “da luta pela liberdade e pela justiça no tempo da ditadura do Estado Novo, atuando em particular através da produção e distribuição de informação clandestina contra a guerra colonial”.
Eduardo Pontes foi, também, um dos fundadores e o primeiro presidente da Associação Cultural Moinho da Juventude, criada em 1984, no bairro da Cova da Moura, na Amadora.
A associação Cultural Moinho da Juventude, que desenvolve atividades envolvendo crianças, jovens e adultos nas áreas sociais, culturais e económicas, surgiu com o empréstimo de livros às crianças, por parte de Eduardo Pontes, e tem tido um papel relevante nomeadamente para a população do bairro onde está instalada de tal modo que foi galardoada, em 2007, pela Assembleia da República com o prémio Direitos Humanos.
Eduardo Pontes, que teve uma intervenção política que começou nos tempos da ditadura de António de Oliveira Salazar e de Marcelo Caetano, após o 25 de Abril de 1974, foi um dos responsáveis pelo Movimento Democrático de Ponta Delgada e mais tarde um dos poucos funcionários do MES – Movimento de Esquerda Socialista, tendo feito parte do seu Comité Central, eleito no IIº Congresso, realizado em Fevereiro de 1976.
Na qualidade de membro do MES, encabeçou as listas daquele partido à Assembleia Constituinte, por Ponta Delgada, realizadas a 25 de Abril de 1975, tendo também sido candidatos o funcionário público Jorge Costa Dias e o engenheiro José Eduardo Martins Mota.
Já havia sido “expulso” dos Açores, na sequência dos ataques às sedes dos partidos de esquerda que ocorreram em todo o país durante o chamado Verão Quente, quando liderou a lista do MES às eleições para a Assembleia da República, realizadas em 1976.
A propósito e para memória futura, aqui fica um registo do que aconteceu ao MES e a algumas pessoas a ele ligadas, durante o período referido no parágrafo anterior: em São Miguel e na ilha Terceira foram destruídas as sedes e diversos haveres; foram “expulsos” vinte e seis militantes, um de Santa Maria, dez de São Miguel e quinze da ilha Terceira.
Mas a atividade cívica e política de Eduardo Pontes não começou com o advento da liberdade. Com efeito, Eduardo Pontes foi um dos poucos protagonistas da resistência ao Estado Novo, nos Açores.
Em prol da democracia, foram muitas as ações em que ele participou pelo que, por falta de espaço, apenas refiro algumas.
Em 1961, na sequência do assalto ao navio Santa Maria, por Henrique Galvão, Eduardo Pontes foi um dos participantes numa ação de rua que consistiu em fazer pinturas murais, saudando o autor do assalto e condenando o ditador Salazar. Como resultado foi condenado a 30 dias de prisão e igual tempo de multa a vinte escudos por dia.
Em Abril de 1970, Eduardo Pontes foi um dos subscritores de uma carta, dirigida aos deputados à Assembleia Nacional por São Miguel, a solicitar a libertação de Jaime Gama que havia sido preso pela PIDE-DGS.
No final de 1970, foi criada em Ponta Delgada a Cooperativa Sextante que, para além da venda de livros, também organizava sessões de convívio e conferências. Entre os principais dinamizadores figuravam Eduardo Pontes, Manuel Barbosa e Jorge Lopes.
Nas campanhas eleitorais de 1969 e de 1973, Eduardo Pontes desempenhou um papel de relevo na dinamização da candidatura da oposição democrática, tendo sido, em 1969, um dos subscritores da Declaração de Ponta Delgada.
Pela sua maneira de ser, pela sua dedicação desinteressada às causas que abraçou, Eduardo Pontes permanece no coração de todos os que com ele conviveram.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30560, de 19 de fevereiro de 2015, p.18)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

AS maltratadas árvores



O desamor pelas árvores

1- As podas de hoje e as de ontem
Há alguns dias passei em frente à chamada Escola da Mãe de Deus e deparei-me com uns “objetos” que mais pareciam postes de eletricidade ou de telefone do que os seres vivos que conhecemos como sendo árvores.
Como se não bastasse o mau podar ao longo nas estradas e caminhos em várias ilhas dos Açores, a decapitação das árvores também ocorre no interior dos próprios estabelecimentos escolares, de que a escola referida, infelizmente, não é um caso isolado.
Há escolas onde árvores que produzem bonitas flores nunca chegam a florir, há escolas onde, com o pretexto da segurança, todos os anos as árvores são decepadas, não ficando um único ramo para amostra, há escolas que possuem cursos profissionais ou afins onde não se ensina as técnicas de bem podar.
Em suma, se tomássemos a árvore pela floresta, diríamos que nas escolas apenas se deseduca.
Mas, o que faz com que as coisas sejam assim e não se alterem os (maus) hábitos?
Sinceramente desconhecemos, mas poderá estar relacionado com a má preparação ou desmotivação/desleixo dos professores, com a insensibilidade ou falta de informação dos dirigentes escolares, com a falta de bom senso dos autarcas responsáveis pelos edifícios escolares, com a ignorância dos podadores ou com a maldita tradição que nos impede de remar contra a corrente, apesar de por vezes termos consciência de estarmos a caminhar para o abismo.
De acordo com o que nos é dado conhecer, a arte de má podar já é antiga e ao longo dos tempos tem sido denunciada na comunicação social dos Açores, como foi o caso de “um amigo das árvores” que numa carta, datada de Fevereiro de 1930, dirigida ao jornal Correio dos Açores, reclamou contra o modo como foram podadas várias árvores junto à Matriz de Ponta Delgada.
Segundo o colaborador do Correio dos Açores que teve a paciência de descrever como deviam ser feitas as podas, a situação era tal que causava “ horror ver como foram dados os cortes, parecendo mesmo que o podador não tem a mínima noção da forma de fazer uso do serrote”.
2- Plantar em vão
Há mais vinte anos, pelo menos duas vezes por dia, passo no caminho da Giesta, que liga a Estrada da Ribeira Grande à freguesia do Pico da Pedra, e verifico que já foram mais do que muitas as tentativas feitas pelos autarcas de arborizar aquela artéria.
Apesar, creio, da boa vontade dos responsáveis os resultados estão à vista, isto é poucas são as árvores existentes e as que lá estão não têm o crescimento que era suposto que tivessem.
Muitas poderão ser as razões apontadas, mas uma possível causa, não temos dúvidas, estará relacionada com o facto de as árvores não estarem no interior de uma caldeira ou então protegidas de modo a evitar que a seda ou a lâmina das roçadoras fira o seu tronco.
Com o esquecimento da função do sacho e com a pressa de apresentar trabalho feito, o recurso à monda manual também deixou de ser moda e os novos métodos não são devidamente aplicados tanto nos caminhos como nas escolas.
Nos estabelecimentos escolares as roçadoras, também, são rainhas em mutilar troncos de árvores e arbustos as quais também são vítimas de algumas comemorações, de que são exemplo os dias da Árvore, da Terra e do Ambiente.
Nos dias referidos, uma das atividades prediletas é a plantação de espécies diversas com destaque, nos últimos anos, para as nativas e endémicas, que regra geral acabam por morrer no mesmo ano. Com efeito, a época tardia em que é feita a plantação faz com que com a entrada do período de férias as plantas fiquem ao abandono, não sendo devidamente regadas.
Será interessante sabermos quantas plantas são cedidas anualmente a todas as escolas dos Açores e quantas sobrevivem ao longo do tempo.
Mas, mais importante será repensarmos o modo como voluntariamente ou não tratamos as plantas e como é feita a sensibilização para a sua proteção.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30554, 11 de fevereiro de 2015)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Manifesto

MANIFESTO CONTRA A LEGALIZAÇÃO DA SORTE DE VARAS NOS AÇORES



Somos todos Açores e qualquer prática legalizada numa das nossas ilhas implicará a Região no seu todo. Ora, a recente divulgação de que estará a ser preparada, por parte de um grupo de deputados à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, uma iniciativa legislativa que contempla a introdução da chamada “Sorte de Varas”, ou “Tourada Picada”, na ilha Terceira (o que significa, naturalmente, verter para os Açores essa pretensa legalização), tem gerado forte contestação na opinião pública. Muitas são as vozes, de todos os quadrantes da sociedade, mesmo entre os aficionados, que se têm posicionado contra esta prática de crueldade extrema para com o touro, proibida em todo o país e que não se reveste, nas nossas ilhas, de qualquer caráter cultural, tradicional ou identitário. Acrescente-se que se trata da terceira tentativa de legalização desta variante tauromáquica, tendo sido rejeitada em 2009 por parcos dois votos.
Somos todos Açores e, numa altura de forte aposta no Turismo Sustentável, no Turismo de Natureza, assente sobretudo no respeito ambiental e na estreita e harmoniosa ligação do Homem com a Terra e com o Mar, não consideramos compreensível esta pretensão, que remete para uma forma de sofrimento animal que não é admissível nos dias que correm, e que mancharia, cá dentro e para quem nos visita, a imagem dos Açores – abrindo, além do mais, gravíssimas fendas na sociedade açoriana, que se quer coesa e unida.
Somos todos Açores. Estas nove ilhas do verde e das águas límpidas, das belezas naturais e da comunhão com a Natureza, não merecem isto. Não merecem ficar conotados com uma nova forma de crueldade animal. Não merecem a mancha social e política que a legalização de uma prática deste teor traria para todo o arquipélago.
Porque somos todos Açores, e independentemente de a suposta iniciativa parlamentar chegar ou não à Assembleia Legislativa Regional, manifestamo-nos CONTRA a legalização da Sorte de Varas nos Açores.
Subscritores: Álamo Oliveira, Escritor; Alexandra Correia, Administrativa; Alexandra Patrícia Manes, Aux. Ação Educativa; Alexandre Pascoal, Sociólogo/Promotor Cultural; Álvaro Borralho, Prof. Univ.; Alzira Silva, Jornalista (ref.) e Ex-Dep. ALRAA; Ana Isabel Serpa, Prof; Ana Loura, Eng. Téc. Eletrotecnia; Ana Luísa Araújo, Hematologista; Ana Madeira, Prof.; Ana Paula Andrade, Pianista/Prof. Música; Ana Paula Marques, Prof. e Ex-Dep. ALRAA; Ana Rita Afonso, Prof.; Ana Teresa Almeida Bettencourt, Ass. Social; André Bradford, Dep. ALRAA; André Franqueira Rodrigues, Jornalista; Aníbal Pires, Dep. ALRAA; Aníbal Raposo, Cantautor; Antero Ávila, Músico/Compositor; António Inocêncio, Dirig. Sindical; António Lucas, Prof./Pres. SPRA; António Manuel Amaral, Deleg. Sindical SITAVA; António Teixeira Maduro, Téc. Sup. (ref.); Armando Mendes, Jornalista; Benilde Oliveira, Dep. ALRAA; Bruno da Ponte, Editor; Bruno de Jesus Pereira, Piloto; Carla Rita Couto, Secretária; Carlos Cordeiro, Prof. Univ.; Carlos Costa Neves, Dep. AR e Ex-Ministro da Agricultura; Carlos Enes, Dep. AR; Carlos Frazão, Maestro; Carlos Arruda, Ortopedista; Carlos Manuel Martins do Vale César, Ex-Presidente do Governo Regional dos Açores; Carlos Medeiros, Músico; Carlos Mendonça, Fisioterapeuta/Pres. CMN e Ex-Dep. ALRAA; Carlos Oliveira, Prof.; Carlos Ribeiro, Prof. Univ.; Catarina Fraga, Dentista; Catarina Moniz Furtado, Dep. ALRAA; Catia Benedetti, Prof. Univ.; César Gonçalves, Médico Cl. Geral; Chrys Chrystello, Jornalista; Cipriano Pacheco, Padre; Clara Queirós, Prof. Univ. (ref.); Daniel Gonçalves, Prof./Escritor; Daniel Pavão, Prof; Davide Santos, Biólogo; Dinarte Oliveira Melo, Gestor; Diogo Caetano, Geólogo; Duarte Melo, Padre; Eduardo Ferraz da Rosa, Prof. Univ.; Elsa Violante Cavaleiro Lobo Ferreira, Téc Reinserção Social; Emanuel Couto, Solicitador; Emanuel Jorge Botelho, Prof. (ref.)/Escritor; Emília Mendonça, Prof (ref.).; Fabíola Jael Cardoso, Prof.; Fátima Mota, Prof. (ref.)/Galerista; Fernando Lopes, Prof Univ. e Ex-Dep. ALRAA; Filipe Cordeiro, Coord. Secção PDL do SBSI; Filipe Tavares, Produtor/Realizador; Filomena Maduro, Funcionária da ALRAA (ref.); Francisco César, Dep. ALRAA; Francisco Wallenstein Macedo, Biólogo; Gilberta Rocha, Prof. Univ., Dir. CES-UA e Ex-Dep. ALRAA; Graça Silva, Dep. ALRAA; Guilherme Figueiredo, Reumatologista; Hélder Medeiros (Helfimed), Téc. Sup./Humorista; Hélder Silva, Prof. Univ., Dir do DOP-UA e Ex-Dep. ALRAA; Henrique Schanderl, Prof. Univ.; Herberto Gomes, Jornalista; Hernâni Jorge, Jurista e Ex-Dep. ALRAA; Hugo Arruda, Magister d'Os Tunídeos; Inês Soares Sá, Secretária; Ivo Machado, Escritor; Joana Borges Coutinho, Empresária; Joana Félix, Poeta; Joana Sarmento, Eng. Ambiente; João Cordeiro, Ass. Imprensa; João de Melo, Escritor; João Decq Mota, Coord. USH; João Stattmiller, Sociólogo; Jorge Barata Almeida e Sousa, Eng. Mecânico; Jorge Kol, Arquiteto; Jorge Macedo, Dep. ALRAA; Jorge Santos, Neurologista, Pres. Deleg. Açores Ordem dos Médicos; José (Zeca) Medeiros, Realizador e Músico; José Andrade Melo, Prof.; José Carlos Frias, Empresário; José Cascalho, Prof. Univ., Ex-Dep. ALRAA; José Couto, Advogado; José de Sousa Rego, Prof. e Ex-Dep. ALRAA; José Decq Mota, Pres. C. Naval da Horta, Ex-Dep. ALRAA; José Gabriel Ávila, Jornalista (ref.); José Guilherme Reis Leite, Ex-Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores; José Manuel Santos Narciso, Jornalista; José Maria Cardoso Jorge, Chefe do Núcleo de São Miguel do CNE; José Maria Pacheco (Tia Maria do Nordeste), Bancário (ref.); José Maria Teixeira Dias, Prof. Univ. (ref.); Labieno Moniz Furtado, Empresário; Laurindo Frias, Pneumologista; Lídia Bulcão, Dep. AR; Lizuarte Machado, Dep. ALRAA; Lúcia Arruda, Jurista; Lúcio Rodrigues, Dep. ALRAA; Luís Alberto Bettencourt, Realizador de TV e Cantautor; Luís Banrezes, Promotor Cultural; Luís Noronha Botelho, Prof. (ref.); Luiz Fagundes Duarte, Prof. Univ.; Luz Paramio, Oceanógrafa; Manuel António Santos, Ouvidor de S. Jorge; Manuel Conde Bettencourt, Prof.; Manuel Faria, Tenente Coronel (na reserva); Manuel Moniz, Jornalista; Marco Coelho, Oficial de Placa; Marco Melo, Veterinário; Mª Alexandra Pacheco Vieira, Advogada; Mª Antónia Fraga, Prof (ref.); Mª das Mercês Pacheco, Empresária; Mª do Carmo Barreto, Prof Univ.; Mª do Céu Guerra, Atriz; Mª Fernanda Mendes, Psiquiatra e Ex-Dep. ALRAA; Mª Helena Frias, Livreira; Mª Isabel Lopes, Enfermeira; Mª Manuel Arruda, Prof. (ref.); Mª Margarida Lopes, Designer; Mário Abrantes, Eng. Silvicultor; Mário Furtado, Prof./Pres. Junta da Matriz da RG; Mário Roberto Carvalho, Artista; Marta Cabral, Veterinária; Marta Couto, Dep. ALRAA; Martim Cymbron, Artista Plástico; Martinho Baptista, Empregado Comercial; Miguel Balacó Amaral, Veterinário e Pres. CR Açores Ordem dos Médicos Veterinários; Milagres Paz, Bailarina e Prof. Dança; Milton Mendonça, Bancário/Vice-Pres. CMN; Milton Sarmento, Advogado; Nélia Amaral, Psicóloga e Ex-Dep. ALRAA; Nélio Lourenço, Sociólogo; Nelson Cabral, Ator e Encenador; Nuno Tomé, Jurista; Onésimo Teotónio de Almeida, Prof. Univ. e Escritor; Orlando Guerreiro, Eng. Ambiente; Paulo Borges, Prof. Univ. e Ex-Dep. ALRAA; Paulo Linhares Dias, Advogado; Paulo Marques, Coord. USSMSM; Paulo Matos, Técnico de Óticas; Paulo Mendes, Psicólogo e Ex-Dep. ALRAA; Paulo Pacheco, Veterinário; Paulo Sanona, Ajudante de Reabilitação; Paulo Santos, Advogado; Paulo Valadão, Veterinário e Ex-Dep. ALRAA; Pedro Bradford, Acupunctor; Piedade Lalanda, Prof. Univ. e Ex-Dep. ALRAA; Renata Correia Botelho, Dep. ALRAA; Ricardo Rodrigues, Advogado, Pres. CMVFC e Ex-Dep. AR; Ricardo Serrão Santos, Prof. Univ./Eurodeputado; Rita Blanco, Atriz; Roberto Correia Batista, Secretário; Rogério Sousa, Promotor Cultural; Rogério Veiros, Dep. ALRAA; Rosa Chaves, Designer de Comunicação; Rui Coutinho, Prof. Univ.; Rui Goulart, Jornalista; Rute Rocha, Professora; Sandra Medeiros, Dermatologista; Sara Carreiro, Administrativa; Sara Coutinho, Jornalista; Sílvia Torres (Sonasfly), Cantautora; Sónia Pastor Furtado, Secretária; Sónia Nicolau, Prof.; Suzete Frias, Psicóloga e Pres. Dir. ARRISCA; Tânia Fonseca, Psicóloga/Vice-Pres. CMRG; Teófilo Braga, Prof.; Tiago Matias, Ass. Imprensa; Tiago Miranda, Pres. Juv. Monárquica dos Açores; Tiago Redondo, Secretário; Tomás Silva, Arquiteto; Urbano Bettencourt, Prof. e Escritor; Urbano Resendes, Artista Plástico; Valentina Matos, Bióloga; Vamberto Freitas, Prof. Univ. e Escritor; Vera Pires, Func. SATA; Vítor Marques, Promotor Cultural; Vítor Silva, Coord. CGTP Açores; Zuraida Soares, Dep. ALRAA.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Nunca!


Da proibição do aguilhão à legalização da “puya”

Em 1928, alguns jornais dos Açores denunciavam o “processo bárbaro de estimular os animais”, tendo sido encontrada a pele de um animal jovem, proveniente da ilha Graciosa, com mais de duas mil cicatrizes de feridas provocadas por um aguilhão.
Na altura, as razões apontadas para a proibição do uso do aguilhão tinham mais a ver com alguma sensibilidade para com o sofrimento animal, mas, sobretudo, com aspetos económicos. Com efeito, o jornal “A União” foi claro relativamente ao assunto quando publicou um texto, mais tarde transcrito no Correio dos Açores, onde se pode ler: “Haverá pois toda a conveniência em que as autoridades competentes façam cumprir rigorosamente o decreto que acaba de ser publicado, proibindo o uso do aguilhão, e isso não só como medida de “caridade” mas também como proteção a uma indústria da nossa terra [fábrica de curtumes] ”.
Através do artigo 3º do referido decreto, datado de 27 de setembro de 1928, ficava proibida “o uso do aguilhão ou de qualquer instrumento perfurante na condução de animais, quer em transporte, quer em trabalho, excepto na condução e trabalho de bovinos da raça brava”. Curioso é que então como hoje há sempre animais que não são animais, isto é, os interesses da tortura para divertimento sempre falaram mais alto.
O decreto mencionado esteve em vigor por muito pouco tempo, tendo sido revogado a 16 de março de 1929 por outro que permitia “em todo o território da República Portuguesa o uso do aguilhão para guiar bovinos adultos em trabalhos de lavoura e carretagem”.
A barbaridade para com os animais continuou de tal modo que, durante cerca de duas décadas, uma das principais lutas de Alice Moderno e da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais foi contra o uso do aguilhão, mas agora por razões humanitárias e por compaixão pelos animais que ela dizia que eram “os seus irmãos inferiores”.
Varrido dos Açores o uso do aguilhão, acreditamos que, mais do que por imposições legais, pela evolução dos meios de transporte, isto é, com a caída em desuso das carroças e afins e sua substituição pelos veículos motorizados, continuou a prática imoralmente legal de torturar animais com bandarilhas nas praças de touros.
Não satisfeitos com a barbaridade que são as touradas de praça como as existentes, um grupo de amantes do sofrimento animal quer que o mesmo seja levado ao extremo, através da legalização das touradas picadas ou sorte de varas,, para posteriormente evoluírem para os touros de morte. Sobre esta horrenda barbaridade é bom recordar que, em 1989, houve uma proposta neste sentido que chegou a ser apresentada na ALRA por um membro do governo regional de então.
Quando pensávamos que o planeta Terra estava a girar normalmente em torno do seu eixo e que os deputados estavam preocupados com as gentes que os elegeram, quando acreditávamos que estavam a trabalhar para minimizar os impactos na vida de muitas famílias do desemprego que surgirá com a saída dos militares americanos da ilha Terceira, caiu como uma bomba a notícia que estavam a trabalhar numa atualização do Regulamento Tauromáquico que pretende legalizar a sorte de varas nos Açores ou apenas na ilha Terceira.
Em 2009, sobre o assunto interrogava-me o que teria levado a que alguns deputados apresentassem “ uma proposta legislativa no sentido de legalizar a sorte de varas, prática não tradicional, bárbara, aspiração de uma minoria e vergonhosa para a região, caso seja aprovada?”
Na altura, pensava que teria sido uma “ uma atitude impensada de desrespeito pelo bem-estar animal e pelo querer das pessoas de bom senso, confiantes que sairiam impunes perante a opinião pública açoriana, nacional e internacional” e acrescentava que os deputados ainda estavam a tempo de arrepiar caminho.
Hoje, perante a repetência de alguns, e pensando que sabem bem o que são as touradas picadas e que conhecem as dimensões dos instrumentos de tortura, as “puyas”, já não tenho qualquer vontade de repetir o apelo pois não os considero pessoas de bem.
A todos os opositores da barbaridade que é a sorte de varas, deputados ou não, a minha solidariedade e apoio, no que me for possível, para impedir que alguns sádicos manchem o bom nome dos Açores.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30548, de 4 de fevereiro de 2015)
Assine a petição: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT75986