quinta-feira, 14 de agosto de 2025

As plantas na medicina popular segundo Urbano de Mendonça Dias (1878-1951)

 


As plantas na medicina popular segundo Urbano de Mendonça Dias (1878-1951)

 

Numa consulta que fiz ao volume IV de “A Vila”, da autoria de Urbano de Mendonça Dias, encontrei um muito interessante capítulo intitulado “Medicina Popular”. A partir dele extrai apenas as informações relativas ao uso das plantas nos tratamentos de diversos problemas de saúde, tendo atualizado os nomes científicos.

 

Quem foi Urbano de Mendonça Dias?

 

Foi um jurista, pedagogo, escritor, etnógrafo e político conservador natural de Vila Franca do Campo.

 

Foi autor de diversos obras sobre a história dos Açores e cultura popular, de que destacamos “A vida dos nossos avós - Estudos etnográficos da vida açoriana através das suas leis gerais” e “A Vila - Publicação Histórica de Vila Franca do Campo”.

 

Talvez a sua maior obra terá sido a fundação do Instituto de Vila Franca, mais tarde designado Externato de Vila Franca do Campo, responsável pela instrução de muitos vila-franquenses depois da então denominada então escola primária.

 

As plantas na medicina popular

 

A casca da romã ou romãzeira (Punica granatum) quando tomada “em jejum, durante nove dias seguidos, cura as bronquites asmáticas.”

 

Para curar a tosse, são usadas várias plantas, como a salva (Salvia officinalis), em infusão, tal como o limão (Citrus limon), a perpétua [pode ser a perpétua-roxa (Gomphrena globosa)], a sempre-viva ou perpétua-silvestre (Helichrysum luteoalbum), o suspiro-branco (Cephalaria leucanta) e o xarope de agrião (Barbarea verna) [poderá ser o agrião-de-água (Nasturtium officinale)].

 

Com fins diuréticos, são usadas infusões de folhas de salsa (Petroselium crispum) ou de barbas de milho (Zea mays].

 

Para combater as dores de barriga são usadas infusões de poejo (Mentha pulegium), de canela (Cinnamomum verum), a casca da laranja-azeda (Citrus aurantium), urzela (Rocella fuciformis) ou usai-dela (Chenopodium ambrosioides).

 

Para curar a cobrela [herpes zóster] era usado o óleo obtido a partir da queima do trigo (Triticum aestivum) ou o limão.

 

Para curar as dores de cabeça, são enumeradas algumas partes de plantas ou frutos. Assim, um dos processos consiste “colocar uma casca de limão nas fontes e na testa ou friccionar estas mesmas partes com vinagre ou mostarda (Sinapis nigra) [Brassica nigra]”. Também pode ser, através da considerada “a mais típica medicina da Ilha”, do seguinte modo: dispõe-se “em cruz, sobre a cabeça, dous galhos de Arruda (Ructa bracteosa) [Ruta chalepensis], tostados em brazas vivas, atando-se por sobre isto um lenço, que pouco tempo depois as dores de cabeça terão desaparecido, graças a tão inofensivo medicamento.”

 

Para estancar o sangue do nariz, esmagam-se folhas de salsa e tapava-se a narina de onde provém a hemorragia.

 

No que diz respeito a problemas relacionados com o coração são usadas infusões de folhas de laranjeira ou cascas de laranjas ou cidreira (Melissa officinalis).

 

As dores de estômago são tratadas com infusões de flores de fel-da-terra (Centaurium erythraea), de macela (Chamaeamelum nobile), de agrimónia (Agrimonia eupatoria) ou de rainha-das-ervas (Tanacetum parthenium).

 

Para o tratamento de golpes, arranhões e eczemas é usada a goma da espadana (Phormium tenax) ou o suco das folhas pisadas do rabo-de-asno (Equisetum telmateia), do saião (Aeonium arboreum) e do fel-da-terra (Centaurium erythraea). No tratamento dos eczemas é usada a infusão de coquilho ou conteira (Canna indica).

 

Para a cura de hemorroidas e soltura [diarreia] é aconselhada a infusão de folhas de araçazeiro (Psidium cattleianum), de erva-do-bom-pastor (Capsella bursa-pastoris), de amoras, frutos da silva (Rubus ulmifolius) ou banhos de fava-da-cova (Parietaria judaica).

 

A colocação de um pedaço de folha de couve (Brassica oleracea) sobre um furúnculo faz com que ele rebente.

 

Para combater a solitária é polvilhada uma talhada de abóbora-menina (Cucurbita maxima) com açúcar, coloca-se no forno a assar e toma-se o suco que vai destilando. Outro processo consiste em usar o cozimento das folhas do feto-macho (Dryopteris filix-mas).

 

Entre os tratamentos para as dores de dentes, são referidos os seguintes: bochechar a infusão de papoulas (Papaver sp.) e receber vapores da infusão de alecrim (Rosmarinus officinalis).

 

No que diz respeito à inflamação da garganta um dos melhores remédios consiste no “cozimento de malvas [Malva multiflora] em água, ou melhor em leite, e gargarejado.

 

Contra as dores de ouvidos é aconselhado injetar no ouvido suco de alho (Allium sativum) assado.

 

Para debelar as febres é usada uma infusão de avenca (Adiantum capillus-veneris) ou de sabugueiro ou rosa-de-bem-fazer (Sambucus nigra).

 

A erva-molarinha (Fumaria muralis) é empregada, em infusão para amaciar a pele. Para tratar inflamações cutâneas usa-se o cozimento de violetas-roxas (Saintpaulia ionantha?)

 

Para fazer crescer o cabelo aplica-se o suco de urtiga (Urtica membranacea). Com mesmo fim, usa-se o cozimento de folhas de nogueira (Juglans regia) que também tira a caspa.

 

Os incómodos intestinais são tratados com o cozimento de folhas de nogueira ou com o cozimento de erva-piolha (Delphinium staphisagria). As bichas [lombrigas] são eliminadas usando um infuso de hortelã-pimenta (Mentha x piperita).

 

As hemorragias uterinas são tratadas com infusões de erva-do-bom-pastor (Capsella bursa-pastoris), de sempre-noiva (Polygonum aviculare), de losna (Artemisia absinthium) ou de erva-sabina (?)

 

Por último, para combater o reumatismo, são aconselhadas fricções dos infusos de folhas de gigante (Acanthus molis) ou de uma maceração de folhas de eucalipto (Eucalyptus globulus) em álcool.

 

Bibliografia

 

Braga, T. (2023). As plantas na Medicina Popular nos Açores. Ponta Delgada, Letras Lavadas.

 

Dias, U. (s/d). A Vila, volume IV. Ponta Delgada.

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Urbano_de_Mendon%C3%A7a_Dias

 

https://www.worldfloraonline.org/

 

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