As plantas na medicina
popular segundo Urbano de Mendonça Dias (1878-1951)
Numa
consulta que fiz ao volume IV de “A Vila”, da autoria de Urbano de Mendonça
Dias, encontrei um muito interessante capítulo intitulado “Medicina Popular”. A
partir dele extrai apenas as informações relativas ao uso das plantas nos
tratamentos de diversos problemas de saúde, tendo atualizado os nomes
científicos.
Quem foi
Urbano de Mendonça Dias?
Foi
um jurista, pedagogo, escritor, etnógrafo e político conservador natural de
Vila Franca do Campo.
Foi
autor de diversos obras sobre a história dos Açores e cultura popular, de que
destacamos “A vida dos nossos avós - Estudos
etnográficos da vida açoriana através das suas leis gerais” e “A Vila
- Publicação Histórica de Vila Franca do Campo”.
Talvez a sua maior obra terá sido a fundação do
Instituto de Vila Franca, mais tarde designado Externato de Vila Franca do
Campo, responsável pela instrução de muitos vila-franquenses depois da então denominada
então escola primária.
As
plantas na medicina popular
A
casca da romã ou romãzeira (Punica granatum) quando tomada “em
jejum, durante nove dias seguidos, cura as bronquites asmáticas.”
Para curar a
tosse, são usadas várias plantas, como a salva (Salvia officinalis),
em infusão, tal como o limão (Citrus limon), a perpétua [pode
ser a perpétua-roxa (Gomphrena globosa)], a sempre-viva ou perpétua-silvestre
(Helichrysum luteoalbum), o suspiro-branco (Cephalaria leucanta) e o xarope de agrião (Barbarea verna) [poderá ser o agrião-de-água
(Nasturtium officinale)].
Com fins diuréticos,
são usadas infusões de folhas de salsa (Petroselium crispum) ou de
barbas de milho (Zea mays].
Para combater as dores
de barriga são usadas infusões de poejo (Mentha pulegium), de canela
(Cinnamomum
verum), a casca
da laranja-azeda (Citrus aurantium), urzela (Rocella
fuciformis) ou usai-dela (Chenopodium ambrosioides).
Para curar a cobrela [herpes zóster] era
usado o óleo obtido a partir da queima do trigo (Triticum aestivum)
ou o limão.
Para curar as dores de cabeça, são enumeradas algumas partes
de plantas ou frutos. Assim, um dos processos consiste “colocar uma casca de
limão nas fontes e na testa ou friccionar estas mesmas partes com vinagre ou
mostarda (Sinapis nigra) [Brassica nigra]”. Também pode ser, através
da considerada “a mais típica medicina da Ilha”, do seguinte modo: dispõe-se
“em cruz, sobre a cabeça, dous galhos de Arruda (Ructa bracteosa) [Ruta
chalepensis], tostados em brazas vivas, atando-se por sobre isto um lenço,
que pouco tempo depois as dores de cabeça terão desaparecido, graças a tão
inofensivo medicamento.”
Para estancar o sangue do nariz, esmagam-se folhas de salsa e
tapava-se a narina de onde provém a hemorragia.
No que diz respeito a problemas relacionados com o coração são
usadas infusões de folhas de laranjeira ou cascas de laranjas ou cidreira
(Melissa officinalis).
As dores de estômago são tratadas com infusões de flores de fel-da-terra
(Centaurium erythraea), de macela (Chamaeamelum nobile),
de agrimónia (Agrimonia eupatoria) ou de rainha-das-ervas (Tanacetum parthenium).
Para o tratamento de golpes, arranhões e eczemas é usada a
goma da espadana (Phormium tenax) ou o suco das folhas pisadas do
rabo-de-asno (Equisetum telmateia), do saião (Aeonium
arboreum) e do fel-da-terra (Centaurium erythraea). No tratamento
dos eczemas é usada a infusão de coquilho ou conteira (Canna indica).
Para a cura de hemorroidas e soltura [diarreia] é aconselhada
a infusão de folhas de araçazeiro (Psidium cattleianum), de erva-do-bom-pastor
(Capsella bursa-pastoris), de amoras, frutos da silva (Rubus ulmifolius)
ou banhos de fava-da-cova (Parietaria judaica).
A colocação de um pedaço de folha de couve (Brassica oleracea) sobre um furúnculo faz com que ele rebente.
Para combater a solitária é polvilhada uma talhada de abóbora-menina
(Cucurbita maxima) com açúcar, coloca-se no forno a assar e toma-se o
suco que vai destilando. Outro processo consiste em usar o cozimento das folhas
do feto-macho (Dryopteris filix-mas).
Entre os tratamentos para as dores de dentes, são referidos
os seguintes: bochechar a infusão de papoulas (Papaver sp.) e
receber vapores da infusão de alecrim (Rosmarinus officinalis).
No que diz respeito à inflamação da garganta um dos melhores
remédios consiste no “cozimento de malvas [Malva multiflora] em
água, ou melhor em leite, e gargarejado.
Contra as dores de ouvidos é aconselhado injetar no ouvido
suco de alho (Allium sativum) assado.
Para debelar as febres é usada uma infusão de avenca (Adiantum
capillus-veneris) ou de sabugueiro ou rosa-de-bem-fazer (Sambucus
nigra).
A erva-molarinha (Fumaria muralis) é empregada,
em infusão para amaciar a pele. Para tratar inflamações cutâneas usa-se o
cozimento de violetas-roxas (Saintpaulia ionantha?)
Para fazer crescer o cabelo aplica-se o suco de urtiga (Urtica
membranacea). Com mesmo fim, usa-se o cozimento de
folhas de nogueira (Juglans regia) que também tira a caspa.
Os incómodos
intestinais são tratados com o cozimento de folhas de nogueira ou com o
cozimento de erva-piolha (Delphinium staphisagria). As bichas [lombrigas] são eliminadas usando um
infuso de hortelã-pimenta (Mentha x piperita).
As hemorragias uterinas são tratadas com infusões de erva-do-bom-pastor
(Capsella bursa-pastoris), de sempre-noiva (Polygonum
aviculare), de losna (Artemisia absinthium) ou de erva-sabina
(?)
Por último, para combater o reumatismo, são
aconselhadas fricções dos infusos de folhas de gigante (Acanthus
molis) ou de uma maceração de folhas de eucalipto (Eucalyptus
globulus) em álcool.
Bibliografia
Braga, T. (2023). As plantas na Medicina Popular nos Açores.
Ponta Delgada, Letras Lavadas.
Dias, U. (s/d). A Vila, volume IV. Ponta Delgada.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Urbano_de_Mendon%C3%A7a_Dias
https://www.worldfloraonline.org/
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