quinta-feira, 31 de março de 2022

Homenagem a Alice Moderno e a Maria Evelina de Sousa

 


Homenagem a Alice Moderno e a Maria Evelina de Sousa

 

Alice Moderno (1867-1946) e Maria Evelina de Sousa (1881-1946) forma duas mulheres que, sobretudo durante a Primeira República se distinguiram das demais pela sua atividade como professoras, jornalistas, feministas, defensoras dos animais e apoiantes de obras de beneficência social.

 

Apesar de ambas terem sido já homenageadas pela Assembleia Legislativa Regional dps Açores, a sua via de obra não tem sido devidamente dada a conhecer aos açorianos.

 

Mais recentemente, a capela mandada construir por Alice Moderno no Cemitério de São Joaquim e que aquela havia deixado em testamento a Dona Maria Joana de Morais Flores Vargas Moniz “com a obrigação de conservar na mesma as urnas que lá se encontrarem à data de óbito da testadora [encontrava-se a de Maria Evelina de Sousa], incluindo ainda a urna dela mesmo testadora” foi vendida e os restos mortais das duas amigas colocados numa campa que não apresentava qualquer identificação.

 

Não permitindo que o legado das duas feministas caia no esquecimento, um grupo de admiradores da sua obra deslocou-se no passado dia 27 de março ao Cemitério de São Joaquim para lhes prestar uma singela homenagem que consistiu na colocação de uma placa identificativa provisória e de dois vasos de flores.

 

Não permitiremos que apaguem a memória e apelamos às entidades públicas, sobretudo ao Governo Regional dos Açores, sucessor da Junta Geral Autónoma do Distrito de Ponta Delgada que foi a herdeira da parte mais importante dos seus bens, para que, no mínimo, coloque uma placa identificativa de Alice Moderno e de Maria Evelina de Sousa que perpetue a memória das duas ilustres açorianas.

 

TB

 

 

 

quarta-feira, 30 de março de 2022

Acácias

 


Acácias

A acácia, austrália ou acácia-austrália (Acacia melanoxylon R. Br.) é uma planta da família Fabaceae, originária da Austrália, que foi introduzida nos Açores em virtude dos vários usos que eram dados à sua madeira.

 

A palavra Acacia deriva do grego akakia que era o nome de uma acácia de espinhos existente no vale do Nilo, melan que significa negro e xylon que significa madeira.

 

António Emiliano Costa, num dos Boletins da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, publicado no início da década de 50 do século XX, a propósito da acácia-austrália escreveu o seguinte:

 

“A acácia tem normalmente, em S. Miguel, um desenvolvimento superior ao da criptoméria, sendo a sua madeira utilizada para quase todos os fins. Hoje constitui quase o único recurso da marcenaria e tanoaria, sendo também utilizada na construção civil. A sua grande rusticidade e rebentação de toiça, rivaliza com o incenso e o eucalipto, permitem a sua exploração em talhadio, o que explica que a acácia constitua hoje o revestimento de mais de 60% dos “biscoitos” - terrenos cobertos de lava basáltica- onde se faz a exploração desta espécie para lenhas”.

 

A acácia-austrália é uma planta de folha persistente que floresce entre fevereiro e abril. As suas flores são de cor creme ou amarelo-pálido.

 

Embora possa atingir os 40 metros de altura, a acácia-austrália, que é uma espécie de crescimento rápido, em média atinge os 15 m.  No passado existiu em Água d’Alto um exemplar notável que, segundo António Emiliano Costa, possuía 0,88 m de diâmetro à altura do peito e um fuste que devia “orçar pelos 25 metros”.

 

Não se sabe quem introduziu a acácia-austrália nos Açores, mas de certeza José do Canto foi um dos responsáveis pela sua introdução em São Miguel, a partir da Europa, desde 1847, para substituir os vinháticos nas matas de corte. Para além daquela espécie José do Canto introduziu no seu jardim em Ponta Delgada outras do género Acacia, vindas de Inglaterra, Bélgica e da Nova Holanda (Brasil).

 

Em 1873, a espécie, segundo o francês Ferdinand Fouqué que visitou o nosso arquipélago e publicou as “Viagens Geológicas aos Açores” já era bem conhecida entre nós.

 

Num relatório publicado em 1934, o eng. Gonçalo Estrela Rego estimava que a acácia-austrália ocupava 25,24 % da área arborizada, a criptoméria 29,45% e em primeiro lugar estava o pinheiro-bravo que ocupava a área de 32,79%.

 

Em 2007, as acácias-austrália estavam em 3º lugar numa lista de árvores mais representativas dos Açores, ocupando 4,3 mil hectares, enquanto o primeiro lugar era ocupado pelo incenso (23,9 mil hectares) e o segundo pela criptoméria (12,4 mil hectares).

 

Em 2020, no que diz respeito à chamada floresta de produção regional, a acácia -austrália estava em segundo lugar em área ocupada (20%) enquanto em primeiro lugar estava a criptoméria (56%).

 

Nos Açores, não só foram introduzidas acácias-austrália, outras espécies do género Acacia que são originárias da Austrália, exceto a Acacia karroo Hayne que é da África do Sul, também chegaram cá.

 

Em 1953, o Regente Agrícola Silvano Pereira escreveu que as acácias eram árvores cultivadas em matas e mencionou a existência de outra espécie, a acácia-de-flor ou acácia-negra (Acacia decurrens Willd.) que era cultivada em jardins.

 

Gonçalo Teles Palhinha no Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores, publicado em 1966, menciona como cultivadas nos Açores, para além da acácia-austrália, a acácia-mimosa (Acacia dealbata Link) e a acácia-virilda (Acacia retinodes Schlecht.).

 

No Portal da Biodiversidade dos Açores, consultado recentemente, há referência a duas espécies de acácias naturalizadas entre nós, a acácia-austrália que existe em todas as ilhas e a acácia-de-espigas (Acacia longifólia (Andr.) Willd.), que está presente apenas em Santa Maria.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32696, 30 de março de 2022, p.9)

quinta-feira, 24 de março de 2022

Nicolau Maria Raposo do Amaral (filho) e as plantas

 


Nicolau Maria Raposo do Amaral (filho) e as plantas

 

Nicolau Maria Raposo do Amaral (filho), que nasceu em Ponta Delgada, em 1770, e faleceu na mesma cidade, em 1865, foi Coronel de Milícias e seguiu as pisadas do pai, sendo um dos maiores negociantes de grosso trato dos Açores. Tal como o pai continuou com as sementeiras de pinheiros. Assim em 1809, acusa a receção de um barril de sementes de pinho manso, mas refere que precisa de três alqueires de sementes dos “brabos”.

 

No ano seguinte, a 17 de setembro, volta a pedir do continente seis alqueires de semente de pinho, tendo pouco depois reforçado o pedido para que possa continuar a “plantação na qual de dia em dia tenho maior gosto por ver a grande vegetação destas árvores, no terreno em que as mando plantar.”

 

Em 22 de julho de 1811, volta a pedir sementes de pinho para fazer depois a plantação num “sítio a meia légua distante da minha fazenda dos Ginetes, aonde tenho dado princípio ao pinhal”.

 

Em 1812, há mais do que uma carta a fazer referência ao envio de sementes de pinho e é também pedida sementes de pimenta da Índia.

 

As sementeiras continuaram em 1813 e em 1814 Nicolau Amaral volta a pedir 4 alqueires de semente de pinho para poder continuar as sementeiras e plantações.

 

Em 1817, pede por duas vezes sementes de pinho, num total de 5 alqueires. Numa das cartas, datada de 12 de fevereiro, menciona que “os pinheiros de 14 anos têm se altura 50-60 palmos”. Naquele ano, Nicolau Amaral possuía 320 limoeiros, 470 laranjeiras e 2050 álamos.

 

Numa carta dirigida a 4 de junho de 1828, a Pedro de Melo Breyner, Nicolau Amaral dá a conhecer as virtudes da faia, espécie nativa dos Açores. Dado o seu interesse abaixo se transcreve um longo extrato:

 

“Vejo o desejo que V.S.ª tem de lhe mandar faias daqui para abrigar o pomar de árvores de espinho que está plantando , à maneira do que os Micaelenses usam nos seus pomares, abrigo de muita utilidade, para a boa vegetação das laranjeiras, privando-as em grande parte de padecerem os estragos que lhes resulta dos grandes ventos assim como a fruta para não cair tanta, cuja falta de abrigo  dá motivo aos pomares de espinho desse reino não terem árvores do tamanho das nossas, e tão frondosas aumentando mais este mal, pelo uso constante de apanhar a fruta com parte da ramagem, mutilação esta mui sensível à árvore e que não pode deixar de ficar em miserável estado estando bem carregada de fruta, o que aqui se não pratica, e que V. Ex.ª pode experimentar em algumas e ver o efeito, por que pode ser que a vantagem das nossas seja só devido ao clima, e não ao que levo dito: porém de resto lhes não pode fazer mal os dois benefícios apontados, a favor da sua vegetação. Não só remeterei daqui a semente já pronta para semear, assim como faias em disposição de se plantarem, e. enviarei a V. Ex.ª uma norma da maneira de as plantar e semear para ser mais fácil ter pela semente melhor plantação do que pela enviada, porque sua transplantação para os caixões, passagem do mar, e de chegarem boas, e em tempo oportuno, tudo conspira a não surtir um tão bom resultado como pela semente, e uma vez nascida está à disposição do cultivador para a transplantar no tempo mais próprio, e o Sr. Luís da Câmara  se for da vontade de V. Ex.ª pode ir ao seu pomar explicar-lhe a maneira de se fazer os canteiros para se semear, distância de sua plantação do tapume, e de árvore a árvore, largura, e comprimento dos quartéis  que se devem fazer para ficarem as laranjeiras da parte de dentro de cada um, e por isso abrigadas, e desta maneira pela inteligência que tem o dito sr. Luís da Câmara, fica V. Ex.ª plenamente conhecendo como deve fazer esta plantação.”

 

Em 1841, em carta de 9 de fevereiro, Nicolau Amaral escreve que continua a aumentar “a plantação de pomares de espinho, assim como de pinheiros, e vinháticos em baldios, e matos que a sua casa tem, e de que já faço um bom rendimento.”

 

Em 1852, numa das cartas, afirma que não envia laranjas de São Miguel “porque todas as minhas quintas estão arruinadas do madito coccus hesperidium e chegando ao ponto de reduzir o terreno outra vez a cultura de pão, e por este causal seria a maior imprudência, o enviá-lo por estarem atacadas por aquele insecto”.

 

Dois anos depois, Nicolau Amaral está um pouco mais animado, pois a praga que atacava as laranjeiras não havia progredido. Na mesma carta, datada de 22 de abril, comunica que recebeu bolota de carvalho para semente.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32690, 23 de março de 2022, p. 9)

terça-feira, 15 de março de 2022

Nicolau Maria Raposo do Amaral (pai) e as plantas




Nicolau Maria Raposo do Amaral (pai) e as plantas

 

Quando se aborda o assunto da introdução de plantas ou o da florestação da ilha de São Miguel vem sempre em primeiro lugar o nome de José do Canto (1820-1898). Apesar do contributo de José do Canto ser ímpar, outros, antes dele, também não devem ser esquecidos.

 

Através de documentos a que tive acesso, tomei conhecimento de que tanto Nicolau Maria Raposo do Amaral como o seu filho com o mesmo nome para além de negociantes também se dedicaram à agricultura e à florestação de terrenos que possuíam.

 

Nicolau Maria Raposo do Amaral nasceu em Ponta Delgada, a 11 de janeiro de 1737, e faleceu em Ponta Delgada a 7 de janeiro de 1816. Para além de ser um dos maiores comerciantes da ilha, foi Cavaleiro de Cristo e Provedor das Armas, em São Miguel.

 

Em carta datada de 25 de setembro de 1789, Nicolau Maria Raposo do Amaral  informa D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e do Ultramar, sobre a presença de pinheiros e onde seria possível plantá-los em São Miguel e na Terceira.

 

Em relação à ilha Terceira., escreveu: “tem João da Rocha Ribeiro um grande pinhal, e continua a semear outros com sementes que manda vir de fora, que produzem maravilhosamente pela bondade do terreno para esta planta.”

 

No que diz respeito a São Miguel perguntado sobre a presença de baldios onde se pudessem semear pinheiros, a resposta foi a seguinte:

 

“São poucos os baldios nesta Ilha à excepção daqueles que mal produzem alguma erva nos meses de Inverno para a sustentação dos gados. No Vale das Furnas, distante nove léguas desta cidade, há um pequeno Pinhal do Governador Interino desta ilha, semeado há poucos anos, que me dizem tem perto de dois mil pinheiros, e me disse o mesmo Governador que por falta de sementes não tem continuado nesta interessante cultura.”

 

Através de uma carta que escreveu a 4 de maio de 1800, constata-se  que recebeu sementes de cedros e pinhos para semear onde achasse mais conveniente.

 

Em carta datada de 23 de abril de 1800 fica-se a saber que o mesmo havia recebido, de Londres, sementes de pinho silvestre e de cedro do Líbano. Na carta mencionada é referido que aquelas essências produziam excelente madeira para a construção e que os terrenos das ilhas Terceira e Flores eram os melhores para aquelas plantas.

 

Por carta enviada a 26 de maio de 1800, é feita referência ao envio de sementes para a Terceira e para as Flores. Desta vez as espécies mencionadas são os pinheiros silvestres, os cedros do Líbano e os cedros do Bussaco. Na mesma carta Nicolau do Amaral justifica a razão para a sementeira nas Flores do seguinte modo: “Porque me parece que o terreno da Ilha das Flores é o melhor para esta cultura pela imensidade de Cedros que cobrem as suas montanhas, como observei quando fui mandado à dita Ilha fazer as especulações de que fui encarregado pelo Ministério”.

 

No que diz respeito à agricultura, fica-se a saber que em 1809 a colheita de trigo foi muito má, tendo havido terras que só produzirem dois alqueires por alqueire de terra.

 

No que concerne a fruta, em carta de 1810, Nicolau Amaral escreve que em São Miguel só se produzem laranjas e manda vir sementes de melões e melancias.

 

No ano seguinte, em carta de 16 de abril, Nicolau Amaral pede uma quarta de semente de melancia do Brasil.

 

As plantas ornamentais também são referidas na correspondência que vimos citando. Assim, em carta de 24 de janeiro de 1812, pede desculpa pelo facto de não mandar tocas de tulipas por não ser a altura adequada para o efeito e por não enviar uma magnólia por não ter amizade para pedir a Carlos Scholtz, outro apaixonado por plantas e introdutor de espécies em São Miguel.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32678, 16 de março de 2022, p.9)


quarta-feira, 9 de março de 2022

Para algumas feministas educar também era revolucionar

 


Para algumas feministas educar também era revolucionar

Ao ler o relatório do 1º Congresso Feminista e da Educação, realizado em 1924, onde foram homenageadas as açorianas Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa, pela sua dedicação à causa da instrução e educação, deparei-me com o nome de Deolinda Lopes Vieira Pinto Quartim que naquele congresso foi uma das oradoras, tendo apresentado a tese “A educação dos anormais” e uma moção sobre a Escola Única.

 

Ao continuar as minhas pesquisas sobre aquela professora primária, cheguei aos nomes de Lucinda Tavares que colaborou com a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, organização a que as duas açorianas pertenceram e que contou com a colaboração do Marquês de Jácome Correia e de Ermelinda Rodrigues da Silveira, também professora que, tal como o marido José Fontana da Silveira, colaborou com Maria Evelina de Sousa na Revista Pedagógica.

 

Através da leitura de um texto sobre os primórdios do feminismo em Portugal, escrito por João Esteves, fica-se a saber que o movimento feminista, no início, contou com a participação de mulheres de diferentes opções ideológicas e políticas, como republicanas monárquicas e libertárias, como era o caso das três professoras referidas. Se havia profundas diferenças entre o que pretendiam sobretudo as republicanas e as anarquistas, havia um conjunto de pontos que as uniam como a prioridade dada à educação, a um ensino laico, o combate ao alcoolismo, à mendicidade e à prostituição.

 

Antes de fazer uma breve apresentação de algumas das ideias de Lucinda Tavares, abaixo apresento a posição da CGT-Confederação Geral do Trabalho, organização anarcossindicalista, sobre o movimento feminista, através de extratos da saudação feita ao 1º Congresso Feminista e da Educação, pela voz do seu secretário geral Manuel da Silva Campos.

 

Depois de referir que aquela organização estava convencida “de que não há um problema feminista a resolver, mas uma questão social a solucionar, isto é, que a emancipação moral e política do género feminino depende da libertação económica dos povos da classe detentora dos meios de Produção e de Vida”, terminou afirmando o seguinte: “esperando aceiteis a “igualdade dos sexos perante a lei”, que reclamais, apenas como uma espécie da longa jornada que o homem e a mulher precisam ainda trilhar para alcançar a meta da sua felicidade”.

 

Para Lucinda Tavares, o feminismo era “a reação contra todas as ignomínias, injustiças e desigualdades de que é vítima a mulher portuguesa, mesmo dentro da sua esfera de criatura delicada, sensível e sentimental” e tinha por finalidade “1º Educar a mulher em princípios de liberdade e independência, para que ela eduque seus filhos sob esse sagrado lema. 2º Conquistar-lhe os direitos a que tem jus, porque não pode haver a nítida compreensão de dever sem usufruição de direito. 3º Dadas as razões de ordem económica com que temos de lutar, que seja lícito à mulher, como é ao homem, escolher entre os ramos de actividade humana, no extenso e variadíssimo campo do comércio, da ciência, das artes e das letras, aquele porque optar o seu espírito, a sua inteligência, as suas tendências naturais”.

 

Ainda de acordo com João Esteves, Lucinda Tavares, que era apologista da Escola Moderna, como oradora em várias sessões, defendia “a emancipação económica, política e moral das mulheres” e fazia a apologia da “educação integral como contraponto à educação religiosa e burguesa”.

 

Interessante, mas coerente com o seu pensamento, é a sua posição sobre a implantação da República que é um misto de regozijo e desconfiança. Vejamos o que escreveu sobre o assunto:

“… Fora implantada a República, sonho dourado de tantos espíritos!

 

Aceitamo-la com entusiasmo, saudámo-la do íntimo do coração com a mais viva alegria,

Mas, cremos nós que o seu advento fosse um grande passo no campo das reivindicações sociais? Sem dúvida que não. O que devemos, pois, fazer, nós todas as mulheres que já nos sentimos um pouco emancipadas da escravidão a que a sociedade nos tem condenado?

 Educar as nossas irmãs para que saibam educar os seus filhos em princípios de Liberdade e Solidariedade, de forma a poderem fazer da sociedade portuguesa, que ora abre os olhos após um prolongadíssimo sono, uma sociedade sem preconceitos, sem fanatismo e sem padres.”

Teófilo Braga

 

(Correio dos Açores, 32672, 9 de março de 2022)

quarta-feira, 2 de março de 2022

Apontamentos sobre o NPEPVS-DA, a primeira organização ambientalista dos Açores (3)

 


Apontamentos sobre o NPEPVS-DA, a primeira organização ambientalista dos Açores (3)

Hoje, terminamos a série de três textos sobre o NPEPVS-DA- Delegação dos Açores do Núcleo Português de Estudo e Proteção da Vida Selvagem.

 

Nos dias 30 e 31 de dezembro de 1983 e 1 de janeiro de 1984, esteve patente ao público, na sede da Junta de Freguesia do Pico da Pedra uma exposição de cartazes com o objetivo de sensibilizar a população para a necessidade e o dever de proteger o ambiente.

 

Esta exposição do NPEPVS-DA, foi visitada por cerca de 110 pessoas e foi amplamente divulgada junto dos órgãos de comunicação social, tendo a RTP-Açores transmitido imagens da mesma no dia 30 de dezembro.  Para que a exposição fosse possível, o NPEPVS contou com a colaboração de várias pessoas da freguesia, como o carpinteiro José Ventura Almeida que cedeu material diverso e algumas horas de trabalho. Igualmente foi indispensável o trabalho de Lúcia Oliveira Ventura, Maria José Almeida, Maria de Lurdes Ventura e Paula Almeida.

 

O segundo número do “Priôlo”, com 40 páginas, surgiu em março de 1984. No “edital”, Duarte Furtado apela à colaboração de mais pessoas para “darmos o exemplo da completa defesa e preservação da fauna e flora da nossa região, grandemente ameaçadas, se medidas concretas de salvaguarda não forem desde já postas em marcha” e acrescentou que “o que, desinteressadamente, pudermos fazer em prol da sociedade, é certamente o que amanhã nos dará por certo uma maior alegria, permitindo ao mesmo tempo encarar o dia a dia, imensas vezes desgastante”.

 

No referido boletim, Margarida Medeiros, da Divisão de Ambiente da SRES, publica um “Alerta- A nossa flora corre perigo”, Teófilo Braga, escreve contra a caça à baleia, Geráld Le Grand publica um pequeno texto sobre o priôlo, António Frias Martins escreve sobre “O ilhéu de Vila Franca”, Erik Sjogren é autor de um artigo sobre “Plantas dos Açores”, Fátima Melo escreve sobre a nossa ave de rapina noturna “O mocho”, Rolando Cabral escreve sobre “A Vida na Cidade”, Dalberto Pombo é autor do texto “Plantas e Saúde- a salsa”, Maria Furtado assina o texto “A importância dos espaços verdes nos Centros Urbanos” e Geráld Le Grand é autor do texto “«Satus» e Distribuição da avifauna nidificante no arquipélago dos Açores”.

 

No boletim é também referido o início de uma campanha em defesa das aves de rapina e são dadas a conhecer algumas informações, nomeadamente de avistamentos de aves, como um falcão (Falco tinnunculus) na zona do Pico das Camarinhas, em São Miguel, no dia 18 de janeiro de 1984, ou a chegada dos pardais (Passer domesticus) à ilha das Flores.

 

Com data de 25 de maio de 1984, foi lançado uma folha informativa com um texto intitulado “Porque se anilham aves?”., extraído de uma folha informativa do CEMPA.

 

Por último, a 6 de junho de 1984, foi enviada ao todos os sócios a informação de que os mesmos poderão passar férias, apenas durante o verão, na ilha de Lanzarote, nas Canárias, bastando para tal colaborar em trabalhos domésticos.

 

O terceiro número do boletim não chegou a ver a luz do dia, mas através da consulta do material que já havia sido recolhido, fica-se a saber que o mesmo contaria com um novo colaborador, o Eng.º. Fernando Monteiro com um texto intitulado “Mensagem”. Pelo seu conteúdo, transcreve-se um extrato:

 

 “A conceção de uma sociedade progressiva, justa, equilibrada, hoje mais do que nunca, passa pelo melhor uso da natureza, logo no entendimento e respeito pela sua integridade e pela compreensão da sua inocuidade.

Mas os inimigos da natureza são inúmeros e ameaçadores.

Nos Açores a dinâmica vertiginosa da pecuária é, por exemplo, a maior ameaça ao equilíbrio natural.”

 

O mesmo número contaria com um texto de Paulo Alexandre Vieira Borges intitulado “Espeleologia nos Açores”, com a colaboração de Geráld Le Grand com o texto “Azores tern expedition” e de Dalberto Pombo intitulado “Plantas e Saúde- o girassol”. Estava também prevista a saída de um escrito intitulado “Como e porquê se anilham aves?”, extraído de um folheto informativo do Centro de Estudos de Migrações e Proteção de Aves”.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32666, 2 de março de 2022, p. 13)