sábado, 23 de setembro de 2023

Tremoceiro


Tremoceiro

O tremoceiro é uma planta anual herbácea e ereta, com folhas compostas por sete folíolos verdes alongados. As flores são brancas ou azuladas e os frutos são vagens com sementes achatadas e amareladas.

O tremoceiro foi muito usado, pelos nossos antepassados, como adubo verde pois tem a capacidade de fixar o azoto. Também foi usado no chamado outono, misturado com a faveira e o centeio para alimentar o gado bovino no Inverno, quando a erva escasseava. Nesta altura o leite de vaca era um pouco amargo.

A palha dos tremoceiros era usada nos fornos de lenha quando se cozia pão e as sementes são ainda hoje muito consumidas, depois de cozidas, como aperitivo.

Nos Açores, o cultivo do tremoceiro, segundo o engenheiro agrónomo Arlindo Cabral, ter-se-á iniciado por volta de 1550. Segundo ele, num texto publicado no Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais nº 7, de 1948, “a esta portentosa planta muito deve a fertilidade do nosso solo, a ponto de poder afirmar-se com verdade que se não fora ela a terra açoriana já não seria bastante para todos os seus filhos”.

O terceirense Augusto Gomes, em 1993, quando escreveu sobre os antigos processos da antiga arte de curar, na ilha Terceira, refere que para tratar o diabetes era costume mastigar tremoços.

Em 2002, na Ribeira Seca da Ribeira Grande, uma respondente referiu que comer tremoço de manhã servia para baixar os diabetes.

Bilhete de Identidade

Nome científico: Lupinus albus L.

Nome vulgar: Tremoço, tremoceiro, tremoço-velho, tremoço-branco

Família: Fabaceae

Origem: Região Mediterrânica Oriental

Bibliografia

Cabral, A. (1948). O tremoço e a sua introdução nos Açores. Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais, nº 7. p.112.

Gomes, A, (1993). A alma da nossa gente: repositório de usos e costumes da Ilha Terceira, Açores. Angra do Heroísmo, Direcção Regional dos Assuntos Culturais. 498 pp.

Salsaparrilha


Salsaparrilha

A salsaparrilha é uma trepadeira lenhosa, perenifólia, com caules muito ramificados. As folhas são lanceoladas a ovadas, sendo na base arredondadas a cordadas, as flores são verde-amareladas e os frutos são carnudos globoso-ovoides (Gabriel e Borges, 2022; Vieira, Moura e Silva, 2020).

Desconhecendo-se qualquer publicação científica sobre a salsaparrilha açoriana, apresenta-se os usos etnomédicos e médicos da Smilax officinalis L.: “Como diurética, nas afecções urinárias; nas inflamações das vias respiratórias (tosse e bronquites). Em doenças da pele usou-se como depurativa.” (Cunha, Silva e Roque, 2003)

Gomes (1993) escreveu o seguinte: “Com esta planta obtém-se uma tisana, fervendo 50 g dela num litro de água. Uma chávena tomada em jejum é um óptimo depurativo.”

Em 1990, na Maia, a salsaparrilha era utilizada para “apurar o sangue” e para combater “inflamações da pele.

Em 1992, na Ribeirinha, a salsaparrilha era usada para purificar o sangue, na Maia para combater a diarreia e no Pico da Pedra o “chá” fazia “muito bem ao sangue para quem tem sangue grosso”.

Na Ribeira Seca da Ribeira Grande, em 2002, a salsaparrilha era usada para tratar “alergia no corpo”.

Bilhete de Identidade

Nome científico: Smilax azorica H. Schaef. & P.Schönfelder

Nome vulgar: Salsaparrilha, alegra-campos, alegra-cão, legacão

Família: Smilacaceae

Origem: Açores

Bibliografia

Cunha, A., Silva, A., Roque, O. (2003) Plantas e Produtos Vegetais em Fitoterapia. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. 701 pp.

Gabriel, R., Borges, P. (Eds.) (2022). Guia Prático da Flora Nativa dos Açores. Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura. 520 pp.

Gomes, A, (1993). A alma da nossa gente: repositório de usos e costumes da Ilha Terceira, Açores. Angra do Heroísmo, Direcção Regional dos Assuntos Culturais. 498 pp.

Vieira, V., Moura, M., Silva, L. (2020). Flora terrestre dos Açores. Ponta Delgada, Letras Lavadas. 356 pp.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Rícino


Rícino

O rícino é um arbusto com caule lenhoso na sua base que apresenta folhas de tonalidades avermelhadas, alternas, palmadas e lobadas. As flores femininas são verdes ou avermelhadas e as masculinas são amarelo esverdeadas. Os frutos são cápsulas globosas.

Desconhece-se a data da introdução do rícino no nosso arquipélago, mas já em 1799 o Governador dos Açores, em ofício dirigido a D. Rodrigo de Sousa Coutinho, menciona o uso do óleo de rícino na iluminação particular. Em 1840, o “Agricultor Micaelense” noticia a venda em Lisboa de sementes de rícino produzidas em São Miguel “a razão de 600 reis moeda insulana por alqueire de mamona, também medida insulana.”

Francisco de Carvalhal que se dedicou à adaptação da cultura do rícino nos Açores, desde 1914, escreveu no Correio dos Açores de 1931 que “as sementes de rícino, esmagadas e misturadas em farinha e qualquer gordura, são consideradas excelente veneno para os ratos”.

Ramos (1871) refere que das suas sementes é extraído “o óleo de rícino, que é um laxante suave e d’um uso frequente em todas as partes do globo.”

Gomes (1993) menciona que o óleo de rícino é “um purgante” para combater a “solitária (ténia)”.

Corsépius (1997) refere o uso do óleo como purgante, mas adverte que a planta “é tóxica não devendo por isso ser utilizada em preparações caseiras. A ingestão das sementes pode mesmo causar a morte!”

Dadas as contraindicações e os efeitos secundários o seu uso só deverá ser feito mediante o acompanhamento de um especialista. De acordo com o livro “Segredos e Virtudes das Plantas Medicinais” As sementes de rícino não devem ser ingeridas, pois 3 ou 4 podem matar uma criança, e cerca de 15, um adulto”.

Bilhete de Identidade

Nome científico: Ricinus communis L.

Nome vulgar: Mamoeiro, mamona, carrapateira

Família: Euphorbiaceae

Origem: África Oriental

Bibliografia

Carvalhal, F. (1931). Monografia sobre a cultura do rícino no arquipélago dos Açores. Correio dos Açores, 17 de junho.

Corsépius, Y. (1997). Algumas plantas medicinais dos Açores. Edição do autor.99 pp.

Delaveau, P., Lorrain, M., Mortier, F., Rivolier, C., Rivolier, J., Schweitzer, R. (1983). Segredos e Virtudes das Plantas Medicinais. Lisboa, Selecções do Reader’s Digest. 463 pp.

Gomes, A, (1993). A alma da nossa gente: repositório de usos e costumes da Ilha Terceira, Açores. Angra do Heroísmo, Direcção Regional dos Assuntos Culturais. 498 pp.

Ramos, A. (1871). Noticia do Archipelago dos Açores e do que ha mais importante na sua História Natural. Lisboa, Typographia Universal. 227 pp.

Vieira, V., Moura, M., Silva, L. (2020). Flora terrestre dos Açores. Ponta Delgada, Letras Lavadas. 356 pp.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Pinheiro-bravo


Pinheiro-bravo

O pinheiro-bravo é uma árvore de tronco direito, que em geral atinge uma altura de 15 metros.

As folhas são verde-escuras, persistentes e rígidas em forma de agulha, podendo atingir os 20 cm de comprimento. A floração ocorre nos meses de março e abril, sendo as flores masculinas em forma de espigas amareladas e as femininas avermelhadas. Os frutos, as pinhas, são escamosos e de cor castanha-avermelhada.

O pinheiro terá sido uma das primeiras árvores introduzidas pelos povoadores na ilha de São Miguel, sendo a sua cultura intensificada pelos padres da Companhia de Jesus que, por volta de 1750, fizeram grandes plantações nas Furnas.

Isabel Nogueira, no livro “Iconographia Selecta Florae Azoricae”, publicado pela Secretaria Regional da Cultura em 1988, depois de referir a importância da sua madeira para o fabrico de mobiliário, caixotes, aglomerados, etc., menciona a utilização na medicina. Segundo ela, “as gemas foliares postas de infusão e fervidas depois em água bastante açucarada produzem um bom xarope (xarope de seiva de pinheiro) que é utilizado na cura de catarros e bronquite”.

Corsépius (1997) apresenta as seguintes propriedades e indicações: “antissética e expectorante - bronquite; diurética-cistites, reumatismo; sudorípara, rubfaciente e excitante- má circulação periférica, fadiga, pés cansados.”

Em 1989, uma moradora na Rua do Castilho, na cidade de Ponta Delgada, referiu que a seiva (das agulhas) era utilizada para fazer um xarope para a tosse.

Na Ribeira Seca, Ribeira Grande, em 2002, uma respondente mencionou que a inalação de uma mistura de “pinho, tomilho, eucalipto e alfazema”, fervida em água, era usada para combater a sinusite.

Bilhete de Identidade

Nome científico: Pinus pinaster Ait.

Nome vulgar: Pinheiro-bravo, pinheiro-marítimo

Família: Pinaceae

Origem: Mediterrâneo Ocidental e Norte de África

Bibliografia

Corsépius, Y. (1997). Algumas plantas medicinais dos Açores. Edição do autor.99 pp.

Fernandes, A., Fernandes, R. (Red.) (1983). Iconographia Selecta Florae Azoricae, Fasc. II. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. 286 pp.

Quintal, R., Braga, T. (2021). Árvores dos Açores. Ponta Delgada, Letras Lavadas. 240 pp.

Saraiva, A. (2020). As árvores na Cidade. Lisboa, Gradiva. 537 pp.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Perpétua-silvestre


Perpétua-silvestre

A perpétua-silvestre é uma planta herbácea com caules eretos ou ascendentes branco-tomentosos, com altura até 50 cm. As folhas são alternadas, inteiras oblongas a lineares e as flores são amarelas com ápice frequentemente purpúreo.

A perpétua-silvestre existe em todas as ilhas dos Açores, sendo comum a baixas altitudes, em terrenos secos e nas bermas de caminhos e estradas.

As folhas da perpétua-silvestre são comestíveis, tanto cruas como cozinhadas. No que diz a propriedades a perpétua apresenta as seguintes: adstringentes, diuréticas, febrífugas, hemostáticas, estomáquicas e vulnerárias.

Na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, em 1989, a perpétua-silvestre era usada em “chá” para combater a rouquidão.

Bilhete de Identidade

Nome científico: Helichrysum luteoalbum (L.) Rchb.

Nome vulgar: Perpétua-silvestre, perpétua-da-terra

Família: Asteracea

Origem: (Cosmopolita)

Bibliografia

Gabriel, R., Borges, P. (Eds.) (2022). Guia prático da Flora Nativa dos Açores. Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura. 520 pp.

https://colombia.inaturalist.org/taxa/53083-Pseudognaphalium-luteoalbum

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

domingo, 17 de setembro de 2023

Oliveira


Oliveira

A oliveira é uma árvore perenifólia, que pode atingir uma idade de mais de 2 mil anos, com copa arredondada, mas pouco densa. O seu tronco é grosso, irregular e contorcido, nos indivíduos velhos.

As folhas são opostas, simples, oblongo-lanceoladas, coriáceas, de cor verde-acinzentado na página superior e prateado na inferior. As flores são pequenas, esbranquiçadas a amarelo-esverdeadas e os frutos são drupas, conhecidas por azeitonas.

Castro (1981) sobre a oliveira escreveu o seguinte:

“o óleo é alimentar e medicinal e emprega-se como colagogo, laxante ligeiro, etc.

Exteriormente, emprega-se, com cânfora, em fricções anti-reumáticas.

O óleo (azeite) faz parte de certos medicamentos, em uso interno e externo.

As folhas, em cozimento, empregam-se para dilatar as artérias e fazer baixar a tensão arterial. Também têm propriedades antidiabéticas.”

Cunha, Silva e Roque (2003) apresentam como principal indicação o combate à hipertensão arterial, mas chamam a atenção para a seguinte contraindicação: “Não utilizar o azeite, como colagogo, quando exista obstrução das vias respiratórias.”

Em 1989, na cidade de Ponta Delgada, o “chá” de folhas de oliveira, verdes ou secas, era usado para “baixar a tensão arterial.”

Na ilha de São Jorge, segundo informação colhida em 2023, o “chá” era também usado para regular a tensão arterial.

Bilhete de Identidade

Nome científico: Olea europaea L.

Nome vulgar: Oliveira

Família: Oleaceae

Origem: Região Mediterrânica

Bibliografia

Castro, J. (1981). Medicina vegetal - teoria e prática conforme a Naturopatia. Mem Martins, Publicações Europa-América. 374 pp.

Cunha, A., Silva, A., Roque, O. (2003) Plantas e Produtos Vegetais em Fitoterapia. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. 701 pp.

Saraiva, A. (2020). As árvores na Cidade. Lisboa, Gradiva. 537 pp.