domingo, 30 de junho de 2019

Educação Ambiental, mas qual?


Educação Ambiental, mas qual?


Do mesmo modo que quando se fala em movimentos de defesa do ambiente estamos a falar numa panóplia de vertentes, de que são exemplo o conservacionismo, que tem como preocupação central a protecção das espécies e dos sistemas naturais ou a ecologia social, de carácter libertário, que defende uma alternativa de administração ao estado centralizado, sendo o município “o lugar natural para modificações sociais, políticas e ambientais e o bairro e a cidade como a base duma nova política democrática”, também quando se aborda o tema educação ambiental estamos perante uma diversidade de “correntes”, isto é, diferentes formas de conceber e praticar a educação ambiental.

São inúmeros os esforços no sentido da classificação das várias correntes de educação ambiental que de acordo com Lima (1999) são “proporcionais, em número e, variedade, às tantas concepções de mundo, de sociedade, e de questão ambiental existentes”. No âmbito deste texto apresentaremos algumas “características” das três correntes de educação ambiental propostas, em 1994, por Ofélia Peña:

- a educação para a conservação, cujos adeptos defendem o regresso à natureza, recusam o desenvolvimento tecnológico e consideram que a solução para os problemas ambientais passa pela alteração dos valores de cada um. Os seus promotores educam pelo exemplo, constroem as suas casas ecológicas, produzem os seus próprios alimentos, fazem as suas roupas, etc.;

- a educação ecológica cujos promotores não põem em causa o modelo de desenvolvimento actual, defendendo apenas alguns ajustes. Usam métodos de educação tradicionais e autoritários e pseudo - participativos. Uma educação formal, onde o educador e o especialista ocupam um papel de destaque;

- a educação ambiental popular que defende a necessidade de superar a actual lógica neoliberal e propõe mudanças políticas e a redistribuição do poder e da riqueza, sendo o seu grande objectivo fazer com que as pessoas ao aprenderem a pensar e a serem autogestionárias recuperem o poder de decisão entretanto perdido. Os seus promotores, valorizam a educação não formal e como processo contínuo e permanente. Promovem métodos do tipo participativo e dialógico, onde entre educador e educando se estabelecem relações de colaboração e aprendizagem mútua.

Nos Açores, ao contrário do que afirmou recentemente, a uma revista regional, a Secretária Regional do Ambiente e do Mar, não existe qualquer estratégia regional de educação ambiental, desconhecendo-se que educação ambiental é perfilhada pelo Governo Regional dos Açores e pelas diversas entidades que fazem a gestão das ecotecas, espaços criados para a promoverem na região. Pelo contrário, faz-se alguma sensibilização e ensina-se muita biologia.

Teófilo Braga

(Publicado no Jornal Terra Nostra, 21 de dezembro de 2007)

sábado, 29 de junho de 2019

Impactes Ambientais da Abertura ao Público de Grutas Vulcânicas



Impactes Ambientais da Abertura ao Público de Grutas Vulcânicas


O património geológico pode e deve desempenhar um papel fundamental como recurso para o ensino, nomeadamente da Geologia e da Vulcanologia, bem como contribuir para a formação de cidadãos conscientes, capazes de trabalhar em prol de um desenvolvimento sustentável.

A abertura ao público, tornando possíveis visitas a tubos ou algares vulcânicos com os mais diversos fins, nomeadamente educacionais ou turísticos, pode ser responsável por diversos impactes ambientais.

Os visitantes, para além de poderem deixar resíduos diversos, poderão destruir diversas estruturas geológicas, como estalactites e estalagmites. Nos Açores, sobretudo na ilha Terceira, onde há uma tradição de visita às cavidades vulcânicas é possível encontrar em grutas como a dos Balcões, a do Natal, a do Coelho e a das Agulhas restos de recipientes usados para transportar refeições e baterias eléctricas bem como observar diversas estruturas geológicas destruídas.

A introdução de sistemas de iluminação artificial poderá modificar as condições climáticas das cavidades, nomeadamente aumentar a temperatura, e alterar o seu ecossistema. Nos Açores, Paulo Borges e Fernando Pereira, numa comunicação apresentada em 2004) também, consideram que o decréscimo da densidade do artrópode endémico Trechus terceiranus no Algar do Carvão (ilha Terceira) está associado à utilização da luz artificial naquele algar.

Em casos de excesso de visitantes a concentração de dióxido de carbono poderá, também, sofrer aumentos significativos. Esta alteração poderá ameaçar a fauna cavernícola, sobretudo as espécies troglóbias, já que estas são muito sensíveis a pequenas alterações dos parâmetros ambientais.

Para minimizar alguns impactes, podem ser tomadas algumas medidas como limitar o período de visitação e o número de visitantes em cada visita, abrir ao público apenas alguns troços, em vez da luz branca utilizar iluminação cenográfica colorida, etc.

Como as soluções têm de ser diferentes para cada uma das cavidades vulcânicas sugere-se que sejam utilizados sistemas de monitorização das alterações climáticas provocadas pelos sistemas de iluminação e pelos visitantes e elaborados e implementados planos de gestão de todas as cavidades vulcânicas abertas ao público nos Açores.

No caso da Gruta do Carvão (Troço do Paim), algumas medidas preventivas foram tomadas, como é o caso do limite do número de participantes em cada visita que é de 15 pessoas, a iluminação em que se utiliza "luz fria", de baixa potência e que só é activada durante os períodos das visitas e a instalação, para breve, de um equipamento para monitorização da qualidade do ar interior, com medição de CO2, CO, Temperatura e Humidade Relativa.

Teófilo Braga

(Publicado no Jornal Terra Nostra, 23 de novembro de 2007)

Património Geológico, Eterno Esquecido?


Património Geológico, Eterno Esquecido?

Durante muitos anos, a sociedade apenas valorizou o património cultural e biológico e praticamente ignorou o geológico. A este propósito, no prefácio ao livro “Património Espeleológico da Ilha de São Miguel”, editado, em 1994, pelos Amigos dos Açores- Associação Ecológica, o Prof. Doutor Victor Hugo Forjaz, depois de se referir ao facto do património geológico ter sofrido danos irremediáveis causados por obras públicas e privadas, escreve o seguinte: “Em altos cargos municipais e governamentais ainda há quem pense que o Ambiente apenas enquadra a “bicharada” e as espécies botânicas que nos rodeiam; a paisagem vulcânica, frequentemente apaixonante e por vezes rara, não os toca, não os sensibiliza”. Galopim de Carvalho, no livro “Introdução ao Estudo dos Minerais”, editado em 2002, diz-nos que não existe uma cultura geológica nacional a qual “está patente, por exemplo, na pobreza de terminologia geológica nos escassos diplomas legais onde, a custo, se pode encaixar o património geológico”. A provar que a situação não é apenas Regional ou Nacional, o Geólogo Espanhol Manuel Ortiz, em artigo publicado, no presente ano, na revista de Educação Ambiental “Aula Verde”, aponta como causas, para o facto do património geológico ser praticamente desconhecido da maior parte do grande público, a sua escassa divulgação por parte da “administração ambiental”.

Nos Açores, sobretudo devido à pressão exercida pelas mais diversas entidades, nos últimos anos, têm sido dados passos importantes para a conservação e valorização do património geológico, com a classificação de alguns espaços como Monumento Natural. São exemplos, a “Pedreira do Campo”, em Santa Maria, cuja proposta de classificação terá partido da Secção de Biologia Marinha (Dep. Biologia, Univ. Açores), CIRN/UA (Centro de Investigação de Recursos Naturais, Univ. Açores) e Ordem dos Biólogos (Delegação Regional dos Açores) (Cachão et al s/d) e o “Pico das Camarinhas e Ponta da Ferraria” e a “Gruta do Carvão”, na ilha de São Miguel, cujas propostas de classificação foram da responsabilidade dos Amigos dos Açores- Associação Ecológica (Amigos dos Açores, 1987 e Amigos dos Açores, 1988).

A demonstrar a sensibilidade para com o património geológico por parte dos governantes regionais para a importância do património geológico está a criação, em 2002, do GESPEA – Grupo para o Estudo do Património Espeleológico dos Açores, de que fazem parte as duas Organizações Não Governamentais de Ambiente de âmbito regional, Amigos dos Açores e Montanheiros, o qual, por Resolução do Conselho do Governo n.º 103/2005, de 16 de Junho de 2005, ficou com a incumbência de elaborar o Plano Sectorial das Cavidades Vulcânicas e dos Monumentos Naturais Regionais existentes na Região Autónoma dos Açores, o qual tem, entre outros, o objectivo de “estabelecer orientações para a gestão territorial das Cavidades Vulcânicas e dos Monumentos Naturais Regionais, nomeadamente das grutas e algares vulcânicos, fendas e grutas de erosão e dos seus valores ecológicos, estéticos, científicos e culturais”.

Digno de registo está, ainda, o facto de a componente geológica ter tido um peso importante na classificação de uma parte significativa das cerca de 40 áreas protegidas terrestres dos Açores.

A nós açorianos, cabe o papel de continuar a pressionar, as mais diversas entidades responsáveis pela gestão do património geológico, no sentido deste passar a desempenhar um papel fundamental como recurso, não apenas para o turismo, mas sobretudo para o ensino, nomeadamente da Geologia e da Vulcanologia, bem como instrumento de Educação Ambiental ao serviço de uma Região mais justa, limpa e pacífica.

Teófilo Braga
(Terra Nostra, 26 de outubro de 2007)

sexta-feira, 28 de junho de 2019

TRANSGÉNICOS


TRANSGÉNICOS

Uma acção de arranque de milho transgénico ocorrida no Algarve, curiosamente a primeira região do país declarada livre de plantações com organismos geneticamente modificados (OGM), pela respectiva Associação de Municípios, quase passou despercebida nos Açores.

Apenas tivemos conhecimento, através de uma reportagem publicada num jornal diário, que um dirigente de uma associação de lavradores de São Miguel, sempre à procura de protagonismo e de conseguir “dinheiro fácil”, não se importando com que meios, para aqueles que diz defender, admitiu no futuro a utilização de milhos transgénicos nos Açores. Felizmente, mais bem informado e cauteloso, o presidente da Federação Agrícola dos Açores entende que “se deve aguardar por mais estudos sobre o que poderá advir para a saúde pública”.

Sabemos que, ao contrário do que dizem os defensores dos transgénicos, que afirmam a pés juntos que estes são inócuos para a saúde, nunca foram feitos estudos sérios e independentes para confirmar tal facto.

Os transgénicos, para além de potenciais riscos para a saúde e para a agricultura poderão ter um impacto muito grande na biodiversidade, não só das espécies selvagens, mas também das cultivares.

Outra questão que se levanta é a da subjugação dos agricultores aos interesses das grandes empresas. Com efeito, acordo com Manuel Batista, biólogo e geneticista, grandes firmas como a Monsanto “asseguram os seus lucros, vendendo aos agricultores,
não simplesmente sementes transgénicas, como também um contrato extremamente restritivo (por exemplo,o agricultor não pode oferecer as sementes a outro; tem de usar exclusivamente as tais sementes; é obrigado a aceitar consumir herbicidas e pesticidas da Monsanto, etc...).”

De acordo com informações recolhidas através da leitura dos jornais dos Açores, o Presidente do Governo Regional dos Açores terá assinado em 14 de Abril de 2005 uma petição para a Região integrar a "Rede Europeia das Regiões Livres de OGM". Aplaudimos o facto e apelamos para que as Secretarias Regionais do Ambiente e do Mar e a da Agricultura e Florestas, promovam debates com vista a esclarecer as poplulações acerca das razões que levaram a tal assinatura e acerca do que são os OGM, vantagens e inconvenientes consumo e cultivo dos mesmos nos Açores.

Nesta matéria, tal como em muitas outras, como a das radiações electromagnéticas, é preciso não esquecer e aplicar o principio da precaução, isto é “na ausência da certeza científica formal, a existência de um risco de um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam prever este dano”.

E quando for o Estado (ou a Região) a ignorar e a desrespeitar tal princípio, aos cidadãos não lhes resta outra alternativa: a desobediência civil, não compactuando com injustiças e barbaridades cometidas em nome de interesses privados ou do pretenso interesse público.

(Publicado no Jornal “Terra Nostra”, 28 de setembro de 2007)

A Pegada Ecológica dos Açores


A Pegada Ecológica dos Açores

A pegada ecológica, como medida da exigência do homem na biosfera, foi um conceito desenvolvido pelos autores do livro “Our Ecological Footprint - Reducing Human Impact on the Earth” (1996), Mathis Wackernagel e William Rees.

A pegada ecológica, que pode ser definida como sendo a área produtiva equivalente de terra e mar necessária para produzir os recursos utilizados e para assimilar os resíduos gerados por uma dada unidade de população, tem crescido demasiado nos últimos anos. De acordo com o Relatório Planeta Vivo-2006, da responsabilidade do WWF- Rede de Organizações Não Governamentais, criada em 1961, cuja finalidade é “conter a degradação do ambiente e construir um futuro em que o homem viva em harmonia com a natureza”, a pegada ecológica global da humanidade, entre 1961 e 2003, quase que quadruplicou, tendo este aumento sido muito maior do que o da população mundial que, no mesmo período de tempo, apenas aumentou quase o dobro.

De acordo com o citado relatório, entre 1961 e 2003, uma das componentes da pegada ecológica, a do dióxido de carbono (CO2), resultante do uso dos combustíveis fósseis aumentou mais de 10 vezes. De acordo com o estudo “Perspectivas para a Sustentabilidade na Região Autónoma dos Açores”, publicado em 2006, no ano de 2003, era de 6,5 t de CO2 equivalente per capita o valor da emissão de GEE, nos Açores, sendo as fontes combustíveis responsáveis por 4,2 t equivalente por habitante e a meta de aumento da emissão de GEE estabelecida pelo Protocolo de Quioto já tinha sido ultrapassada nos Açores, desde 1988.

Ainda, segundo a publicação “Perspectivas para a Sustentabilidade na Região Autónoma dos Açores”, em 2002, a pegada ecológica dos Açores era de 3,9 ha/hab, sendo a bio-capacidade (área efectivamente existente) de 2,25 ha/hab o que significa que temos um deficit ecológico de -1,65 ha/hab. Assim sendo, para sustentar o actual estilo de vida necessitariamos de é 1,7 Açores.

Perante tal situação, há que repensar o actual modelo de desenvolvimento, baseado no crescimento económico ilimitado, há que adoptar uma nova ética, abandonando a actual antropocêntrica e caduca, e há que tomar medidas para que, com a partipação de todos os açorianos, se construa uma Região mais justa, limpa e pacífica.

Por último, há que desmistificar, a ideia de que as questões ambientais são um campo das ciências biológicas ou das engenharias, bem como ultrapassar a noção que considera que o ambiente é o mesmo que natureza e os seus recursos. Sendo muito mais do que isso, a luta dos activistas (ambientalistas, ecologistas, etc.), deve ser feita em várias frentes, nomeadamente a técnica, a política e a ética.

Teófilo Braga


(Publicado no Jornal “Terra Nostra”, 3 de agosto de 2007)

quinta-feira, 27 de junho de 2019

ECO-ESCOLAS, SIM OU NÃO?



ECO-ESCOLAS, SIM OU NÃO?


O Programa Eco-Escolas, que se destina sobretudo às escolas do ensino básico, é coordenado a nível nacional pela Associação Bandeira Azul da Europa e tem como objectivos, para além da promoção de uma melhor gestão ambiental dos espaços escolares, a sensibilização da comunidade escolar (alunos, professores, pessoal não docente, famílias, etc.) para a necessidade da adopção de comportamentos mais amigos do ambiente.

Com uma metodologia própria que é constituída por sete passos (1. conselho Eco-Escolas 2.auditoria ambiental; 3. plano de acção, 4.monitorização/avaliação, 5.trabalho curricular, 6.divulgação à comunidade e 7. eco-código), as escolas participantes deverão abordar como temas base a água, os resíduos, e a energia, podendo, também, ser tratados os seguintes: biodiversidade, agricultura biológica, espaços exteriores, ruído e transportes.

Nos Açores, a participação das escolas no Programa Eco-Escolas tem vindo a crescer, embora o esforço dispendido pelos docentes não seja devidamente reconhecido pelas autoridades responsáveis pelo ensino a nível regional. Pelo contrário, apenas a Direcção Regional do Ambiente tem, na medida das suas possibilidades, acarinhado o projecto e anualmente proporcionado formação aos professores envolvidos. De igual modo, seria injusto não reconhecer o papel dos Directores das Ecotecas no incentivo e apoio aos professores envolvidos.

Para que seja possível alcançar os objectivos pretendidos, isto é levar à alteração do desempenho das escolas, por exemplo em termos de poupança de energia e água, e de uma correcta gestão dos resíduos, não basta o envolvimento de uma só turma ou clube escolar, por mais boa vontade e empenho que haja do coordenador de cada escola e de meia dúzia de professores. Pelo contrário, é necessário o envolvimento de toda a comunidade escolar e o apoio das mais diversas entidades, como Juntas de Freguesia, Casas do Povo, Câmaras Municipais, etc.

Po último, tal como é implementado em algumas escolas, onde se fazem actividades pontuais com a participação de um grupo reduzido de alunos e professores, não se faz mais em prol do ambiente e da qualidade de vida do que já o fazem centenas professores sem serem obrigados às burocracias das inscrições e dos relatórios. A única diferença é que estes últimos não têm o direito a verem hasteada nas suas escolas uma bandeira verde.

Teófilo Braga

(Publicado no Jornal Terra Nostra, 6 de julho de 2007)

Alice Moderno e a Quinta do Norte


Alice Moderno e a Quinta do Norte

Hoje, na Quinta do Norte, nas Capelas, estão instaladas diversas instituições e projetos, entre os quais o de inovação pedagógica NOVAS ROTAS.

Quase todas as pessoas sabem que nesta quinta esteve instalada a Casa do Gaiato, instituição que tem por fins acolher, educar e integrar na sociedade crianças e jovens provados do seu meio familiar. Esta organização esteve nas Capelas desde 2 de abril de 1956 até agosto de 2011.

O que é quase desconhecido é que o nome de Alice Moderno está, também associado à Quinta do Norte, como se verá nos parágrafos seguintes.

A 31 de janeiro de 1946, Alice Moderno fez um testamento onde deixava a maioria dos seus bens à Junta Geral Autónoma do Distrito de Ponta Delgada com a obrigação desta no prazo máximo de dois anos construir um Hospital Veterinário, o que acabou por acontecer.

Alguns anos após a morte de Alice Moderno que ocorreu a 20 de fevereiro de 1946, mais precisamente em 1954, a Junta Geral decidiu vender os bens restantes daquela benemérita para comprar uma propriedade destinada à instalação da Casa do Gaiato.

27 de junho de 2019
T.B.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Proteção às Árvores na Legislação Portuguesa


Proteção às Árvores na Legislação Portuguesa

A defesa de árvores isoladas ou não é preocupação bem antiga dos legisladores portugueses. Assim, durante o Estado Novo, foi publicado o Decreto-Lei nº 28 468, de 15 de fevereiro de 1938 que surgiu para proteger as árvores em jardins, parques, matas ou manchas de arvoredo existentes nas zonas de proteção de monumentos nacionais, edifícios de interesse público ou edifícios do Estado de reconhecido valor arquitetónico.

Como razão apontada para a sua criação, no preâmbulo do decreto mencionado pode ler-se o seguinte: “…Com efeito, o arvoredo, que constitui interessante moldura decorativa dos monumentos arquitetónicos e valoriza grandemente as paisagens, é por vezes impiedosamente sacrificado, sendo de esperar que a proteção que lhe for dada pelo Estado frutifique e seja seguida pelos particulares.”

Setenta e quatro anos depois, o Decreto-Lei nº 28 468, de 15 de fevereiro de 1938 foi, finalmente, revogado pela Lei nº 53/2012, de 5 de setembro, que aprova o regime jurídico da classificação de arvoredo de interesse público.

Mais abrangente do que a legislação que revogou, esta lei destina-se a proteger não só “ povoamentos florestais, bosques ou bosquetes, arboretos, alamedas e jardins de interesse botânico, histórico, paisagístico ou artístico” mas também “exemplares isolados de espécies vegetais que, pela sua representatividade, raridade, porte, idade, historial, significado cultural ou enquadramento paisagístico, possam ser considerados de relevante interesse público e se recomende a sua cuidadosa conservação.”

Interessante é a abertura que a lei permite à participação dos cidadãos que poderão ter uma palavra a dizer na classificação. Assim, de acordo com o artigo 3º, podem propor a classificação do arvoredo os proprietários, as autarquias locais, as organizações de produtores florestais ou entidades gestoras de espaços florestais, as organizações não-governamentais de ambiente e cidadãos ou movimentos de cidadãos.

A lei, em vigor, para além de obrigar a que “as operações de beneficiação do arvoredo de interesse público”, como desrama, poda de formação ou sanitária e outras carecerem de autorização, estipula a proibição de intervenções que possam danificar o arvoredo, como o corte do tronco, ramos ou raízes, a remoção de terras ou outro tipo de escavação, na zona de proteção, o depósito de materiais, seja qual for a sua natureza, e a queima de detritos ou outros produtos combustíveis, bem como a utilização de produtos fitotóxicos na zona de proteção e, por último, qualquer operação que possa causar dano, mutile, deteriore ou prejudique o estado vegetativo dos exemplares classificados.

No que diz respeito ao âmbito da aplicação, de acordo com o artigo 7º do diploma referido, o mesmo “aplica-se às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, sem prejuízo dos diplomas regionais que são objeto das necessárias adaptações”.

Nos Açores, há legislação por vezes de âmbito muito restrito, como o Decreto Legislativo Regional nº 28/84/A que classifica diversas espécies arbóreas na cidade da Horta, na ilha do Faial.
O Decreto Legislativo Regional n.º 43/2008/A que altera o Decreto Legislativo Regional n.º 29/2004/A, de 24 de Agosto, que estabelece o regime jurídico de proteção e valorização do património cultural móvel e imóvel, para além de, no seu artigo 59º, reclassificar, como bens de interesse municipal, árvores e maciços de árvores classificadas anteriormente, no artigo 11º prevê a classificação dos históricos e outras composições arquitetónicas utilizando predominantemente material vegetal vivo” como imóveis de interesse público. De igual modo, também estipula que “podem ser objeto de classificação exemplares arbóreos, mesmo quando isolados, que pela sua representatividade, raridade, porte, historial ou significado cultural possam ser considerados como detendo relevante interesse cultural”.
Por último, o decreto Legislativo Regional n.º 3/2015/A, que substitui o Decreto Legislativo Regional n.º 29/2004/A, de 24 de agosto, retira a classificação e salvaguarda dos exemplares arbóreos notáveis do seu objeto pois considera “que é uma matéria do âmbito das competências do departamento governamental com competência na área de ambiente”.
Face ao exposto, não havendo legislação regional especifica e sendo a realidade regional muito diferente da do território continental ou mesmo madeirense, faz todo o sentido a adaptação da legislação nacional em vigor.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31861, 27 de junho de 2019, p. 16)

A Participação Social


A Participação Social


Na legislação portuguesa é reconhecida a possibilidade, a todos os cidadãos, de intervir na formulação e execução da política de ambiente. Contudo, tal como defende António Barreto, “nem sempre as leis e as instituições primam pela clareza e pelo acesso fácil aos cidadãos. Ou porque estes não estão habituados a elas. Ou porque as burocracias tendem a tornar difícil o que não deveria ser”.

Outro aspecto relacionado com o referido anteriormente, é, segundo Sendim, a apatia dos cidadãos e o cepticismo e a desconfiança com que, por vezes, ainda, é encarado, entre nós, o exercício de direitos de cidadania. Por um lado, todas as pessoas têm a obrigação de conhecer os seus direitos e acreditar que podem ter um papel importante na correcção de disfunções do sistema jurídico. Por outro lado, há que ultrapassar a desconfiança com que são encaradas as pessoas que exercem um direito de cidadania, por exemplo uma consulta pública, cuja atitude é, por vezes, entendida como motivada por interesses pouco claros.

Entre nós, a participação pública na tomada de decisões parece ser um dos objectivos de quem ocupa os mais diversos cargos de decisão aos mais diversos níveis da vida política. Contudo, segundo nos parece, os nossos governantes da democracia apreciam mais a sua vertente representativa do que a participativa. Basta vermos o fraco empenho na discussão dos diversos temas de que é exemplo o funcionamento de alguns órgãos consultivos, como é o caso do Conselho Regional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável que quanto a nós deveria ser completamente reformulado.

Terminaria, reafirmando a necessidade de nos Açores se ultrapassar a simples participação consultiva, que, de acordo com Pretty, é um dos níveis mais baixos da participação pública já que não favorece a tomada de decisões por parte dos cidadãos.

(Publicado no Jornal Terra Nostra, 8 de junho de 2007)

terça-feira, 25 de junho de 2019

AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS DO AMBIENTE


AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS DO AMBIENTE

Em Portugal, com a liberdade de expressão e de associação conquistadas com o 25 de Abril de 1974, por todo o país multiplicaram-se as organizações viradas para a protecção da natureza, para a defesa do consumidor, para o estudo do ambiente e da ecologia, bem como os grupos ecologistas propriamente ditos. Caracterizados por uma grande independência face ao poder e aos partidos políticos, muitos daqueles organismos, bem como os jornais e revistas por eles criados e apoiados, têm tido uma vida efémera.

Nos Açores, a situação não é muito diversa e as poucas associações que foram criadas não se têm afirmado, sobretudo por falta de participação dos seus associados, por serem usadas como mero “trampolim” para a ocupação de cargos no aparelho do estado, pela pressão exercida sobre elas pelo poder político ou económico, pela inexistência de uma organização interna exemplar e transparente, etc.

A seguir, apresento alguns princípios orientadores que devem estar subjacentes a todas as actividades das ONGAS para que estas possam desempenhar um papel importante no incentivo à participação dos cidadãos e na implementação da educação ambiental, entendida esta não apenas como uma estratégia para o ensino das ciências naturais ou conservação dos recursos naturais.
1- Independência. As associações deverão ser independentes dos poderes políticos e dos interesses económicos, corporativos ou outros.
2- Diálogo e cooperação. A dimensão dos problemas e a urgência na sua resolução exigem colaboração e coordenação de esforços. Assim, as associações deverão promover o diálogo com governos, partidos políticos, universidades, sindicatos e organizações patronais, autarquias, outras associações, etc..
3- Voluntariado. As associações deverão desenvolver as suas actvidades tendo como base o trabalho voluntário dos seus membros, não devendo os cargos de direcção ser desempenhados por profissionais.
4- Competência. As associações devem recusar liminarmente o espectáculo e a demagogia. Todas as suas posições públicas deverão ser fundamentadas através do contributo das mais diversas áreas disciplinares e científicas.
5- Postura construtiva. As associações deverão evitar a crítica estéril, devendo previligiar a apresentação de alternativas positivas, por exemplo propor a utilização de energias renováveis e a eficiência energética, quando se ataca o nuclear ou um mundo baseado na não-violência quando se combate as armas nucleares e a violência.
6- Democracia e participação. As associações deverão apostar na participação directa dos cidadãos.
7- Associativismo. A autonomia e a especificidade das diferentes associações deverão ser respeitadas, sendo previligiado o trabalho “em rede”, em detrimento de qualquer estrutura centralizadora e dirigista, tão do agrado do poder político.
Teófilo Braga
(Publicado no Jornal “Terra Nostra”, 11 de maio de 2007)

Escola, Eficiência Energética e Energias Renováveis


Escola, Eficiência Energética e Energias Renováveis


Se é verdade que as escolas existem para educar e não para poupar energia com o seu funcionamento, também é verdade que é necessário que nas escolas haja poupança de energia não só por razões de ordem económica, mas também por razões ambientais e educacionais.

A compreensão dos impactos ambientais do uso da energia, por parte dos alunos e da restante comunidade educativa, é uma das componentes da educação ambiental e cívica que levada à prática através de pequenas alterações comportamentais poderá levar à poupança de cerca de 10% da energia consumida.

São inúmeros os projectos que poderão ser implementados pelos professores com vista a tratarem o tema energia. Neste artigo, faremos uma breve referência aos Programas Eco-escolas, Carbono Force e Concurso Solar Padre Himalaya.

O Programa ECO-ESCOLAS, que pretende promover acções que conduzam a um melhor desempenho ambienta, a uma melhor gestão do espaço escolar e a uma maior sensibilização de toda a comunidade, tem como temas base a água, os resíduos e a energia. No corrente ano o grande tema é o das alterações climáticas o qual está intimamente relacionado com a produção / consumo de energia, ao nível das causas, e com os temas da água e da biodiversidade, ao nível das consequências.

Tendo por objectivo, entre outros, por em prática políticas sustentáveis na área da energia e transportes com vista à redução das emissões de CO2, o projecto CARBON FORCE – Missão Possível pretende introduzir nas escolas, de forma integrada e prática, os seguintes temas: alterações climáticas; energias renováveis e eficiência energética; transportes / mobilidade sustentável e consumo eficiente de água.

As duas iniciativas referidas, a primeira da responsabilidade da ABAE - Associação Bandeira Azul da Europa e a segunda do Instituto do Ambiente e do Instituto Superior Técnico (IST), têm o mérito de envolverem professores, como o principal meio de veiculação de informação e os alunos, futuros decisores, que não são tratados como meros receptores passivos, já que poderão participar na identificação e na implementação de medidas de eficiência energética e colaboram em auditorias energéticas e no controlo do consumo das próprias escolas.

Por último, o Concurso Solar Padre Himalaya, iniciativa da Sociedade Portuguesa de Energia Solar que nos Açores tem sido apoiado pela ARENA- Agência Regional da Energia e Ambiente da Região Autónoma dos Açores, visa divulgar informação sobre energias renováveis junto das camadas mais jovens da população e promover a aquisição de hábitos de cidadania conducentes a um uso mais racional dos recursos energéticos do planeta, através do envolvimento dos jovens em actividades experimentais. De entre os materiais que podem ser construídos pelos alunos destacam-se relógios solares, painéis solares, fornos solares e carrinhos solares.

Teófilo Braga

(Publicado no Jornal Terra Nostra, 13 de abril de 2007)

segunda-feira, 24 de junho de 2019

O MELHOR RESÍDUO É O QUE NÃO SE PRODUZ


O MELHOR RESÍDUO É O QUE NÃO SE PRODUZ

De acordo com alguns estudos, na Região Autónoma dos Açores a produção de resíduos sólidos urbanos apresenta uma tendência de evolução crescente, sendo que cada habitante é responsável por uma produção diária de cerca de 1,4 kg, valor que é superior ao verificado em Portugal Continental. Em ilhas de reduzidas dimensões, como as nossas, os resíduos exigem uma gestão integrada correcta e cuidadosa, constituindo o crescente consumo de recursos uma prática completamente insustentável.
É de lamentar que não se envolvam os cidadãos na gestão dos resíduos, uma vez que são eles os responsáveis pela sua produção, sendo importante inverter esta realidade através de uma aposta na educação ambiental. Considera-se, ainda, que é contraproducente ter uma recolha diária, porta-a-porta, dos resíduos sólidos urbanos, uma vez que assim se desincentivam os cidadãos de efectuar a separação dos resíduos e de se deslocar ao ecoponto mais próximo.
Além disso, não se entende que se enfatize tanto a reciclagem, já que esta acção, em termos de prioridade, corresponde ao 3.º e último R da política dos três R’S. É extremamente importante que se sensibilize e eduque o cidadão por forma a promover a implementação dos outros dois: a redução e a reutilização. Não se percebe por que não é lançada nenhuma campanha e não são tomadas quaisquer medidas que levem à redução da produção de resíduos, quer por parte do público quer das cadeias de distribuição. Por que razão não se penalizam as embalagens descartáveis e não se incentivam os sistemas de retorno de embalagens, contribuindo, assim, para a poupança de energia e de matérias-primas?
Estando uma parte importante da população das nossas ilhas dispersas por zonas rurais, e sendo uma percentagem significativa dos resíduos sólidos urbanos constituída por matéria orgânica, por que razão não é feito um esforço com vista a divulgar a compostagem doméstica? O composto produzido poderia ser utilizado nos própios quintais, evitando-se assim a chegada aos aterros sanitários de muitas toneladas de resíduos e poupando-se na aquisição de fertilizantes.
Existindo em algumas localidades recolhas diárias de resíduos indiferenciados, porta-a-porta, e sabendo-se que só assim se conseguem elevados níveis de recuperação de resíduos, por não apostam as respectivas autarquias na recolha selectiva?
Por último, e sabendo-se que, na sombra, os lobies da queima, continuam a tentar vender um modelo centralizado de eliminação de resíduos - incineração ou plasma - a política dos três R’S não se destina apenas a embalar as criancinhas?
Teófilo Braga
(Publicado no Jornal “Terra Nostra”, 16 de Março de 2007)

domingo, 23 de junho de 2019

Educação Ambiental


Educação Ambiental

Temos muita legislação e são muitas as instituições que se dedicam à causa ambiental. Contudo, tal como nos diz António Barreto (2002): “É, todavia, verdade que nem sempre as leis e as instituições primam pela clareza e pelo acesso fácil aos cidadãos. Ou porque estes não estão habituados a elas. Ou porque as burocracias tendem a tornar difícil o que não deveria ser”.

Urge, pois, ultrapassar a apatia dos cidadãos e o cepticismo e a desconfiança com que, por vezes, ainda, é encarado, entre nós, o exercício de direitos de cidadania. Por um lado, todas as pessoas têm a obrigação de conhecer os seus direitos e acreditar que podem ter um papel importante na correcção de disfunções do sistema jurídico. Por outro lado, há que ultrapassar a desconfiança com que são encaradas as pessoas que exercem um direito de cidadania, por exemplo uma consulta pública, cuja atitude é, por vezes, entendida como motivada por interesses pouco claros (Sendim, 2002).

O que fazer para alterar o actual estado das coisas?

A educação ambiental poderá dar um contributo nesse sentido. Mas, o que tem sido feito entre nós?

Procure-se saber o que se faz em nome da educação ambiental e não temos dúvida que em nome daquela ensina-se ciências naturais, sobretudo biologia e em menor escala geologia. Por outro lado, de acordo com Fernandes (1997), a educação ambiental é por oportunismo, muitas vezes transformada em mero acto de propaganda destinado à obtenção de meios financeiros ou de “bandeiras de qualidade”.

Na educação ambiental não pode ser perdido de vista o seu princípio geral:

“Fazer compreender às pessoas e às comunidades a natureza complexa resultante dos factores físicos, biológicos, sociais, económicos e culturais do ambiente natural e urbano e dar a estas pessoas ou comunidades a oportunidade de adquirir os conhecimentos, os valores, as atitudes e as aptidões práticas que lhes permitam ajudar de uma maneira responsável e eficaz a prever e resolver os problemas ecológicos e gerir a qualidade do ambiente.”

Para a implementação da educação ambiental é necessário reflectir sobre como integrá- la nos currículos escolares a todos os níveis de ensino, como deverá ser feita a formação dos professores, como e quem a fará na sua vertente não formal, quais os recursos necessários, que metodologias deverão ser usadas, etc.. Em suma, mais do que demonstrar alguma boa vontade, é importante, com urgência, elaborar uma Estratégia Regional de Educação Ambiental, tendo por base, entre outras, a Estratégia Internacional de Acção em Matéria de Educação e Formação Ambiental, adoptada pela Unesco e PNUA por ocasião do Congresso Internacional sobre Educação e Formação Ambiental, realizado em 1987 na cidade de Moscovo.

(Publicado no Jornal Terra Nostra, 16 de fevereiro de 2007)

sábado, 22 de junho de 2019

PERCURSO PEDESTRE “LAGOA DO FOGO- LOMBADAS”



PERCURSO PEDESTRE “LAGOA DO FOGO- LOMBADAS”

Ponto de Partida: Miradouro da Lagoa do Fogo
Ponto de Chegada: Lombadas
Extensão: 5,7 km
Duração média: 2 h 30 min
Grau de Dificuldade: Elevado
Grau de Perigosidade: Elevado
Forma: Linear

O percurso inicia-se no miradouro da Lagoa do Fogo, uma das mais belas, senão a mais bela das lagoas açorianas, implantada numa caldeira com 3 km de diâmetro e 100 a 300 m de profundidade, formada há cerca de 15 000 anos, no topo do vulcão de Água de Pau ou do Fogo.

Na descida do miradouro até à lagoa, é possível observar uma grande diversidade da flora nativa dos Açores como a uva-da-serra (Vaccinium cylindraceum), o queiró (Calluna vulgaris), a urze (Erica azorica), o folhado (Viburnum tinus ssp. subcordatum), o azevinho (Ilex perado ssp. azorica), o feto-do-botão (Woodwardia radicans), o feto-do-cabelinho (Culcita macrocarpa), o louro (Laurus azorica), o canicão (Holcus rigidus) e o sargasso (Luzula purpureosplendens).

O posto 2 situa-se numa praia, na margem da lagoa, de onde é possível observar parte da caldeira de colapso, na qual se insere a lagoa. A vegetação deste posto caracteriza-se por ser rasteira, com destaque para o queiró (Caluna vulgaris), evidenciando-se, ao longe, as plantações das criptomérias (Cryptomeria japonica).

As aves são presença constante e abundante na lagoa e nas suas margens, sendo este um importante ponto de reprodução para aves marinhas como a gaivota (Laurus cachinnans atlantis) e o garajau-comum (Sterna hirundo). Para além destas, é possível observar outras espécies como o milhafre (Buteo buteo rotchschilidi), a alvéola (Motacilla cinerea) e o melro-negro (Turdus merula azorensis).

O posto 3 situa-se numa encruzilhada de trilhos, no bordo norte das cumeeiras da Lagoa do Fogo. Este posto apresenta uma vista panorâmica muito bonita sobre a caldeira da Lagoa do Fogo, bem como, sobre parte da costa norte de São Miguel, com destaque para a cidade da Ribeira Grande e freguesias limítrofes.

O trajecto, desde o posto anterior, faz-se, na sua grande maioria, no interior de uma mata de criptomérias (Cryptomeria japonica), na qual, é possível encontrar diversos exemplares de flora nativa açoriana como a uva-da-serra (Vaccinium cylindraceum) o azevinho (Ilex perado ssp. azorica), o feto-do-cabelinho (Culcita macrocarpa) e o sanguinho (Frangula azorica).


O percurso termina no local das Lombadas, junto às ruínas das instalações da empresa que explorou a água mineral.

Teófilo Braga
(Terra Nostra, 301, 15 de dezembro de 2006)

sexta-feira, 21 de junho de 2019

PERCURSO PEDESTRE “FURNAS”


PERCURSO PEDESTRE “FURNAS”


Ponto de Partida e de Chegada: Largo Marquês da Praia e Monfort
Extensão: 11 km (aproximadamente)
Duração média: 3 h 30 min
Grau de Dificuldade: Fácil/Médio
Grau de Perigosidade: Baixo
Forma: Circular

O percurso pedestre tem início no Largo Marquês da Praia e Monfort, onde se situa um dos acessos ao mais importante parque da ilha e um dos maiores jardins açorianos, o Parque Terra Nostra. A sua construção deve-se à iniciativa de Tomaz Hickling, vice-cônsul americano que chegou a S. Miguel em 1769, e que maravilhado com o Vale das Furnas, adquiriu um terreno e construiu a sua casa de campo - o "Yankee Hall" - no meio de um jardim.

Num terreno anexo ao jardim, em 1935, foi aberto o Hotel Terra Nostra. Em 1936, toda a propriedade foi adquirida pela “Sociedade Terra Nostra”, que desde então tem feito grandes beneficiações. No “Parque Terra Nostra”, com 12,5 hectares de superfície, o visitante poderá observar não só, uma variedade muito rica de espécies oriundas dos quatro cantos do mundo, mas também um espaço onde poderá encontrar alguns exemplares da flora primitiva dos Açores.
O posto 2 localiza-se nas “Caldeiras da Lagoa das Furnas”, que corresponde a um dos mais importantes campos fumarólicos dos Açores. As fumarolas aqui existentes resultam da ascenção do vapor de um aquífero em ebulição, localizado a cerca de 160 metros de profundidade e à temperatura de 200º C.
A Lagoa das Furnas ocupa uma área de cerca de 2 Km2 e possui uma profundidade máxima de cerca de 12 metros. As primeiras introduções de peixes que conhecemos são a de ruivos (Rutilus rutilus), efectuadas no final do século passado pelo consúl inglês George William Hayes, e as de carpas (Cyprinus carpio) e percas (Perca fluviatilis), entre 1895 e 1913, por José Maria Raposo Amaral. Depois destas, muitas outras se seguiram e num estudo efectuado, em 1992, por Helena Flor de Lima foi identificada a presença das seguintes espécies piscícolas: ruivo, perca, sandre (Stizostediom lucioperca), carpa comum e lúcio (Esox lucius).
O terceiro ponto de paragem é junto à Ermida de Nossa Senhora das Vitórias, mandada edificar por José do Canto em cumprimento de um voto feito por ocasião de doença de sua esposa. A ermida, que foi inaugurada a 15 de Agosto de 1886, é, no dizer de Urbano de Mendonça Dias “das mais ricas obras d'arte de toda a Ilha, em cantaria da terra, em estilo gótico do norte da Europa, executada por artistas Micaelenses sob a chefia do Mestre António de Sousa Redemoinho, hábil pedreiro de Vila Franca”.
O quarto ponto de paragem situa-se no cruzamento da estrada regional com um caminho que leva à zona da Lagoa Seca, uma área aplanada onde se situa um viveiro florestal, e que conduz também ao miradouro do Lombo do Milho, de onde se tem uma magnífica vista sobre a freguesia das Furnas. Sensivelmente no centro desta área aplanada encontra-se uma elevação, em forma de doma - o Pico do Gaspar - formada por traquitos de cor cinza clara que, nalguns locais, estão muito alterados.
O último posto localiza-se no anel pomítico do Pico do Gaspar, junto ao cruzamento com o caminho rural dos Castelinhos, de onde é possível seguir para Sul, contornando uma parte deste anel pomítico, no meio de arvoredo composto, entre outras espécies, por criptomérias (Cryptomeria japonica), fetos (Woodwardia radicans), heras (Hedera helix) e uveiras da serra.
A região da Lagoa Seca e do Pico Gaspar é apontada por alguns autores como o local do centro eruptivo de uma erupção vulcânica que terá ocorrido nas Furnas por volta dos anos 1444-45.
A região da Lagoa Seca está ocupada essencialmente por pastagens e por pequenas matas de criptomérias e acácias (Acacia melanoxylon). Neste posto e nos anteriores é possível observar a nossa única ave de rapina diurna, o milhafre (Buteo buteo rotschildi), que aqui nidifica.
Teófilo Braga
(Terra Nostra, 299, 17 de novembro de 2006)

quinta-feira, 20 de junho de 2019

PERCURSO PEDESTRE “PICO DE MAFRA”


PERCURSO PEDESTRE “PICO DE MAFRA”


Ponto de Partida e de Chegada: Igreja Paroquial dos Mosteiros
Extensão: 5,2 km (aproximadamente)
Duração média: 1 h 30 min
Grau de Dificuldade: Fácil
Grau de Perigosidade: Baixo
Forma: Circular

O percurso pedestre "Pico de Mafra", localiza-se na freguesia dos Mosteiros, situada na extremidade ocidental da ilha de São Miguel, a cerca de 30 km da cidade de Ponta Delgada. Com uma área aproximada de 8,98km2, os Mosteiros possuem, de acordo com o censo populacional de 200, uma população de 1188 habitantes,.

O percurso pedestre tem início junto à Igreja de Nossa Senhora da Conceição, mandada construir, no centro da freguesia dos Mosteiros, em terrenos que pertenceram à família de António Moreira da Câmara. A igreja paroquial de Nossa Senhora da Conceição, construída em diversas etapas, remonta ao início do século XVII. A capela-mor deste templo foi mandada construir no ano de 1606 e o corpo da igreja começou a ser construído em 1837. Por seu turno, a torre só ficaria construída a 2 de Agosto de 1851.

O segundo posto localiza-se na ponta dos Mosteiros, junto às denominadas piscinas naturais, talhadas nas lavas que formam uma plataforma rochosa basáltica. Estas lavas são ricas em fenocristais de olivina (cor esverdeada) e de piroxenas (cor negra, escuros), que podem ser facilmente observados na rocha. Neste local podem-se observar algumas plantas características da flora do litoral como, por exemplo, a erva leiteira (Euphorbia azorica), o bracel (Festuca petrae), a diabelha (Plantago coronopus) e o Limonium vulgare ssp. serotinum.

O terceiro posto situa-se junto a um fontanário localizado na Rua Direita do Pico de Mafra. Muito próximo deste, localizado num ramal que liga o caminho Velho do Pico de Mafra à estrada regional, situa-se um bebedouro que é utilizado pelos habitantes da localidade para dar de beber ao gado bovino, Quem quiser subir ao Pico de Mafra, elevação com 359 metros de altitude, poderá fazê-lo, depois de ter obtido a autorização prévia dos proprietários, entrando no primeiro portão que dá acesso a uma pastagem, situado no caminho que liga o Pico de Mafra à localidade de João Bom.

O Pico de Mafra é um cone strombiliano basáltico cujas escoadas lávicas deram origem à fajã ou delta lávico onde está implantada a freguesia dos Mosteiros. As escoadas do Pico de Mafra, ao avançar mar dentro, permitiram a preservação da antiga falésia existente no local, sob a forma de uma "arriba fóssil" a qual é melhor observada do miradouro do Caminho do Concelho. No que diz respeito à avifauna, no Pico de Mafra é possível ouvir-se o canto ou observarmos algumas das seguintes espécies: toutos (Sylvia atriccapilla atlantis), Milhafres (Buteo buteo rothschidi), alvéolas (Motacilla cinerea patriciae), tentilhões (Fringilla coelebs moreletti), estrelinhas (Regulus regulus azoricus) e Santantoninhos (Erithacus rubecula).

O último posto localiza-se junto a um tradicional Império do Espírito Santo, podendo-se, um pouco mais abaixo, apreciar um bonito fontanário construído, em 1869, pela Câmara Municipal de Ponta Delgada. Daqui, tem-se uma interessante vista da freguesia dos Mosteiros, que está implantada num delta, ou fajã lávica, parcialmente capeada por piroclastos pomíticos provenientes da caldeira das Sete Cidades.

Teófilo Braga
(Terra Nostra, 297, 20 de outubro de 2006)


Um Novo Regime Jurídico para os Percursos Pedestres


Um Novo Regime Jurídico para os Percursos Pedestres

O grupo parlamentar do PSD- Partido Social Democrata apresentou na Assembleia Legislativa Regional dos Açores uma proposta com vista a alterar o Decreto Legislativo Regional nº 30/2012/A, de 3 de junho, que estabelece o Regime Jurídico de Proteção e Classificação dos percursos pedestres da Região Autónoma dos Açores.

Com a sua proposta o PSD pretende alcançar o que não foi conseguido até hoje, isto é, tornar mais eficaz a manutenção, sinalização e fiscalização dos percursos pedestres classificados, facilitar a colaboração entre as entidades envolvidas e racionalizar os meios e recursos disponíveis.

Embora reconheça que a grande causa para a ineficiência é a falta de articulação entre os vários departamentos governamentais, o que é também a nossa opinião, o PSD considera que são as responsabilidades dos promotores dos percursos pedestres, nomeadamente a da sua manutenção, conservação e limpeza, que “leva ao desencorajamento da proposta de novos trilhos para classificação e, consequentemente, à inibição do aumento da rede de percursos pedestres classificados e homologados”.

Na proposta a que nos vimos referindo, achamos louvável a forte preocupação com a melhoria da “eficiência e eficácia das entidades e dos meios disponíveis” e com a conservação da natureza.

Como pretende o PSD que tal seja conseguindo?

Centralizando as decisões num órgão mais restrito e descentralizando o órgão consultivo. Assim, a competência para a inventariação, a proposta de classificação e a homologação dos percursos pedestres passa a pertencer ao departamento do Governo Regional com competências em matéria de turismo. Para o efeito aquele departamento cria um conselho de gestão com representantes de outros departamentos governamentais e da associação de municípios. No que diz respeito ao órgão consultivo, deixa de existir um de âmbito regional, sendo criadas comissões de acompanhamento por ilha, tornado possível a participação de agentes locais que melhor conhecem as realidades das suas terras.

Muito interessante é a introdução de uma classificação dos percursos pedestres em classes, tendo em conta os valores paisagísticos, naturais e culturais. Esta sugestão exigirá, mais tarde, a elaboração dos critérios para a inclusão dos percursos em cada uma das tipologias propostas.

Como consequência do referido no parágrafo anterior, louva-se também o surgimento dos percursos pedestres protegidos, os quais serão dotados de um plano de gestão que entre outros têm por objetivos:

“- Promover o ordenamento e disciplina das atividades turísticas, definindo regras de utilização e de acesso, de forma a evitar a degradação dos valores naturais e paisagísticos do percurso, possibilitando o exercício de atividades de lazer compatíveis com a sensibilidade dos valores em presença;
- Salvaguardar o carácter natural, paisagístico e cultural, possibilitando um incremento de atividades de carácter educativo e interpretativo, principalmente para benefício da população local e para a divulgação dos valores encerrados no percurso pedestre protegido.”

A minha grande dúvida em relação a esta proposta do PSD relaciona-se com a manutenção, conservação e limpeza dos percursos pedestres que passará a ser da responsabilidade do departamento governamental com competência em matéria de turismo quando antes era da responsabilidade dos promotores. Embora não saiba qual a melhor solução, tenho dúvidas de que a completa desresponsabilização dos promotores seja uma boa medida.

Pela a agilização do órgão executivo, pela democratização do órgão consultivo e pelo enfase dado à conservação da natureza, através da inovação introduzida com a classificação dos percursos pedestres tendo em conta aspetos patrimoniais, esta proposta depois de algumas alterações merece ser aprovada.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31856, 20 de junho de 2019, p.17)

PERCURSO PEDESTRE “PRAIA DA VIOLA”


PERCURSO PEDESTRE “PRAIA DA VIOLA”


Ponto de Partida: Rua do Forno da Telha, Lomba da Maia
Ponto de Chegada- Maia
Extensão: 3,6 km (aproximadamente)
Duração média: 2 h
Grau de Dificuldade: Difícil
Grau de Perigosidade: Elevado
Forma: Linear

O percurso inicia-se na Rua do Forno da Telha, na Lomba da Maia, muito próximo do cemitério da freguesia. A freguesia da Lomba da Maia ocupa uma área de 20,5 km2 e tem uma população, segundo os Censos de 2001, de 1174 habitantes, que se dedica maioritariamente à agricultura e à pecuária.

No que diz respeito à agricultura, a Lomba da Maia e as freguesias limítrofes são as de maior produção de batata branca ou inglesa (Solanum tuberosum) na ilha de São Miguel. Este papel predominante da agricultura na vida dos cidadãos da freguesia, é notada nos campos em redor deste ponto, onde se pode observar diversas culturas como, por exemplo, e para além das mencionadas batatas, as ervilhas (Pisum sativum), os tomates (Lycopersicum esculentum), as cebolas (Allium cepa) e a vinha (Vitis vinifera).

Através de José do Melo Lindo, a Lomba da Maia está ligada aos primórdios da indústria de lacticínios na ilha de São Miguel. Com efeito, terá existido na Lomba da Maia, no final do século XIX e nos primeiros anos do século XX, uma fábrica de lacticínios, primeiro como sucursal de uma fábrica existente na Ribeira Grande pertencente aos industriais João Borges e Caetano Velho Cabral, a trabalhar, devido à escassez do leite, apenas nos meses de Junho, Julho e Agosto.

O segundo ponto de paragem faz-se junto às Azenhas da Viola, um conjunto de moinhos de água já em ruínas, muito próximo da Ribeira do Salto. Neste posto, pode-se apreciar, entre outras, as seguintes espécies características da vegetação costeira: a erva-leiteira (Euphorbia azorica), a figueira-brava (Pericalis malviflora), a faia (Myrica faia), o Tolpis fruticosa, o bracel-da-rocha (Festuca petraea), a diabelha (Plantago coronopus), a urze (Erica azorica), o queiró (Calluna vulgaris), a cenoura-brava (Daucus carota ssp. azoricus), o bermim (Silene vulgaris ssp. maritima) e o Limonium vulgare ssp. serotinum.

A praia de areia, conhecida pelas populações das freguesias mais próximas como Praia da Viola, constitui o terceiro posto. Neste local, para além das plantas expontâneas, como a diabelha (Plantago coronopus), o cubre (Solidago sempervirens), a figueira-brava (Pericalis malviflora), as chagas (Tropaeolum majus), o agrião d’água (Nasturtium officinale), o bracel-da-rocha (Festuca petraea), a cana (Arundo donax) e o feto (Cyrtomium falcatum), pode-se encontrar algumas espécies cultivadas, como é o caso da espadana (Phormium tenax) e o inhame (Colocasia esculenta), planta que se adapta bem a terrenos alagados, como são os desta zona.

O quarto posto situa-se junto às Azenhas do Nateiro, um conjunto de moinhos de água em ruínas que, outrora, aproveitavam o caudal da Nascente do Nateiro para a moagem de cereais. A presença de moinhos nesta zona da ilha é bastante antiga. Com efeito, Gaspar Frutuoso refere a presença de moinhos de água na Maia no século XVI, os quais se mantiveram em actividade até meados do século XX

O posto 5 localiza-se na ponte da Ribeira da Faleira, a qual passa pelo povoado da Lombinha da Maia, situado a cerca de 3 km da sede da freguesia, a Maia. A Ribeira da Faleira tem origem a uma altitude aproximada de 580 metros, na zona central da ilha de São Miguel. Nas margens da Ribeira da Faleira, predomina a cana (Arundo donax), uma espécie que, junto à costa, é utilizada em sebes, sobretudo em terrenos de vinha. Existem, ainda, o incenso (Pittosporum undulatum) e a conteira (Hedychium gardnerianum

O percurso acaba na estrada que liga a Maia à Lombinha da Maia, no local onde esta se cruza com o estreito carreiro que liga até à Praia da Viola. Daqui, tem-se uma vista muito aprazível do povoado da Maia.

A freguesia da Maia, com uma superfície de 21,97 km2 e 1901 habitantes, de acordo com os Censos de 2001, fica a cerca de 17 km da cidade da Ribeira Grande e a 36 km de Ponta Delgada. O seu nome deriva do de uma fidalga moradora na localidade no final do século XV, Inês da Maia.

Teófilo Braga
(Terra Nostra, 292, 11 de agosto de 2006)


quarta-feira, 19 de junho de 2019

PERCURSO PEDESTRE “Montanha do Pico”


PERCURSO PEDESTRE “Montanha do Pico”


Ponto de Partida e de Chegada- Cabeço das Cabras
Extensão: 7 km (aproximadamente)
Duração média: 6 h
Grau de Dificuldade: Difícil
Grau de Perigosidade: Elevado
Forma: Linear

O percurso pedestre inicia-se próximo do Cabeço das Cabras, a cerca de 1200 m de altitude. Neste local a vegetação, devido às condições climatéricas, é bastante baixa, sendo possível encontramos, entre outras, as seguintes espécies da flora açoriana: urze (Erica azorica), uva-da-serra (Vaccinium cylindraceum), canicão (Holcus rigidus), rapa (Calluna vulgaris), tomilho (Thymus caespititius), azevinho (Ilex perado), cedro-do-mato (Juniperus brevifolia), queiró (Daboecia azorica), Rapa-língua (Rubia peregrina) e Tolpis azorica.

A uma altitude de 1425 metros localiza-se o segundo posto do trilho da Montanha, junto à Furna Abrigo. A Furna abrigo é uma chaminé vulcânica de um hornito, o qual é, de acordo com Nunes (1998), um pequeno cone de lava, sem conduta profunda, formado por “salpicos” de lava, resultantes de pequenas explosões ocorridas à superfície das escoadas.Por seu turno, Arruda (1972) caracteriza a Furna Abrigo como sendo um algar com 39 metros de profundidade implantado em lavas do tipo pahoehoe, muito recentes. Ainda de acordo com a descrição do referido autor, a 30 metros de profundidade existe uma passagem para outra sala com um comprimento de 13 metros e uma largura de 10 metros. Na sala inferior, sobretudo na zona Este da cavidade, podem ser observados numerosos pingos de lava, alguns dos quais de grandes dimensões.

O posto 3 localiza-se a uma altitude de 2250 m, na cratera de colapso existente na Montanha do Pico. As crateras de colapso “resultam do colapso de segmentos da superfície do vulcão, devido à drenagem de magma basáltico da conduta e de níveis superiores da câmara magmática. Drenado o magma, o tecto da câmara abate (por blocos ou como um todo), incapaz de suster o peso das formações superiores (Nunes, 1998).
A esta altitude a vegetação quase que desaparece, mas continua a ser possível observar a rapa (Calluna vulgaris), o queiró (Daboecia azorica) e o tomilho ou erva-úrsula (Thymus caespititius), sendo esta última a espécie predominante. Na cratera, é possível observar-se, ainda, o bermim (Silene vulgaris ssp. craterícola), uma subespécie endémica dos Açores que apenas se encontra neste local. No que diz respeito à avifauna, é possível observar-se o tentilhão (Fringilla coelebs moreletti), o melro-negro (Turdus merula azorensis) e a álvéola (Motacilla cinerea patriciae).

O último posto deste percurso localiza-se no cimo do Piquinho, a 2351 m de altitude, o ponto mais alto de Portugal.O Piquinho é um cone lávico muito íngreme, que se eleva cerca de 125 metros do fundo da cratera, formado por lavas “em tripa” (Nunes, 1999). Ocupando todo o sector NE da cratera, as suas vertentes, segundo Nunes (1999), para cotas superiores a 2280 m, apresentam inclinações médias de 45º, atingindo localmente valores na ordem de 50º-70º. No topo do Piquinho existe uma cratera com cerca de 15 m de diâmetro, onde se localiza um pequeno campo fumarólico.

Do Piquinho, a paisagem que se avista é monumental, desde a ilha de São Jorge, a nordeste e o Faial a Oeste, à zona central da própria ilha, a sueste, com os seus cones vulcânicos, as manchas de vegetação primitiva, as pequenas lagoas, etc, até à imensidade do oceano Atlântico. Deste local é, ainda, possível observar, em dias de bom tempo, as ilhas Graciosa e Terceira.

BIBLIOGRAFIA
ARRUDA, L., (1972), “Contribuição para o estudo espeleológico da ilha do Pico (Açores)”, Sociedade Portuguesa de Espeleologia 5; 1-11.
NUNES, J. (1998), Paisagens Vulcânicas dos Açores, Amigos dos Açores, Ponta Delgada.
NUNES, J. (1999), Actividade Vulcânica na Ilha do Pico do Plistocénico Superior ao Holocénico: Mecanismo Eruptivo e Hazard Vulcânico, Departamento de Geociências da Universidade dos Açores, Ponta Delgada (Tese de Doutoramento).


Teófilo Braga
(Terra Nostra, julho de 2006)

terça-feira, 18 de junho de 2019

PERCURSO PEDESTRE “SALTO DO CABRITO”



PERCURSO PEDESTRE “SALTO DO CABRITO”


Ponto de Partida– Estrada Ribeira Grande- Lagoa do Fogo (junto ao Pico Vermelho)
Ponto de Chegada- Caldeiras da Ribeira Grande
Extensão: 5,4 km (aproximadamente)
Duração média: 2 h
Grau de Dificuldade: Fácil
Grau de Perigosidade: Médio
Forma: Linear


O percurso pedestre tem início junto ao Pico Vermelho, um cone de escórias com cratera circular e forma em taça. Muito perto deste local, um pouco mais a Norte, localiza-se a primeira central geotérmica do território nacional, inaugurada em setembro de 1980. Olhando para Sul, observamos o flanco norte do Vulcão de Água de Pau. No topo daquele vulcão existe uma caldeira com 3 km de diâmetro e 100 a 300 m de profundidade, formada há cerca de 15 000 anos. No interior da caldeira está implantada a Lagoa do Fogo, uma das mais belas lagoas açorianas.

O segundo posto localiza-se junto ao Salto do Cabrito, queda de água com cerca de 40 m de altura. Aqui, localiza-se a Central do Salto do Cabrito que entrará em funcionamento ainda este ano. Neste local, existiu uma central hidroeléctrica, conhecida como “Luz Velha do Cordeiro”, que esteve em serviço entre setembro de 1902 e dezembro de 1972. Neste local, pode-se encontrar, entre outras as seguintes espécies vegetais: incensos, acácias, figueiras e fetos arbóreos. É muito comum, também, observar-se, junto à cascata, entre outras aves, alvéolas.

O terceiro ponto de paragem, localiza-se junto à central hidroeléctrica da Fajã Redonda. Esta central entrou em funcionamento em 1927 e foi desactivada muito recentemente.

O quatro posto localiza-se junto à câmara de decantação da Central Hidroeléctrica do Salto do Cabrito, junto à estrada que liga as Caldeiras às Lombadas. Nas Lombadas podemos observar algumas espécies da flora primitiva dos Açores como: louros, faias, azevinhos, cedros-do-mato e urzes.

O quinto posto, localiza-se a cerca de 300 metros de altitude, junto a uma barragem, de 15 metros de altura, que represa as águas da ribeira Grande. Neste posto, a vegetação é constituída, essencialmente, por acácias, criptomérias, plátanos e conteiras.

O percurso termina nas Caldeiras, povoado pertencente à freguesia da Matriz, da Ribeira Grande. As águas sulfurosas das Caldeiras, consideradas boas para a pele e para reumatismo, foram usadas durante muitos anos com fins terapêuticos.Com efeito, aquelas águas "muito mais salutares que as das Caldas da Rainha em Portugal, curam radicalmente todas as moléstias a que são aplicadas", alimentaram, durante muitos anos, um pequeno balneário, datado de 1811, designado por Banhos da Coroa, que atualmente se encontra encerrado.

Teófilo Braga
(Terra Nostra, 2 de junho de 2006)

segunda-feira, 17 de junho de 2019

PERCURSO PEDESTRE “FAJÃ DE LOPO VAZ”



PERCURSO PEDESTRE “FAJÃ DE LOPO VAZ”

Ponto de Partida e de Chegada – Miradouro da Fajã de Lopo Vaz- Lajes das Flores
Extensão: 3 km (aproximadamente)
Duração média: 1h 20 min
Grau de Dificuldade: Fácil
Grau de Perigosidade: Médio
Forma: Linear

O início do percurso pedestre situa-se no Miradouro da Fajã de Lopo Vaz, a cerca de 1800 m da estrada que liga as Lajes das Flores à Fajã Grande.Daqui, avista-se a escarpa cujos materiais terão originado a Fajã de Lopo Vaz, que terá resultado da acumulação de materiais proveninetes da referida escarpa, bem como a Ponta da Rocha Alta, a Oeste.

No miradouro, podem-se observar algumas espécies da flora açoriana, entre as quais destacam-se as seguintes introduzidas: criptoméria (Cryptomeria japonica), oriunda do Japão, hortência (Hydrangea macrophylla), também oriunda do Japão, roca-da –velha (Hedychium gardneranum), originária do Himalaia, a faia-da-Holanda ou faia-do-norte (Pittosporum tobira), nativa da Ásia, a acácia (Acacia melanoxylon), proveniente da Austrália. É também possível observar algumas espécies nativas dos Açores, como a faia (Myrica faya), a urze (Erica azorica), hera (Hedera azorica) e o pau-branco (Picconia azorica), sendo as três últimas endémicas.

Depois de uma descida feita num estreito e íngreme carreiro, onde é possível observar algumas espécies endémicas da flora açoriana, como o cedro-do-mato (Juniperus brevifolia), o bracel (Festuca petraea) e o pau-branco (Picconia azorica), chega-se ao segundo posto, junto à primeira casa que se encontra, na praia de calhau rolado e de areia existente na Fajã de Lopo Vaz. Neste ponto, existem dois plátanos (Platanus x hybrida), árvore que pode ultrapassar 30 m de altura, utilizada como ornamental em jardins e uma das árvores de arruamento mais comuns. Além dos plátanos, existem muitas rocas (Hedychium gardneranum), bananeiras (Musa sp.), inhames (Colocasia sp.) e uma plantação de abacaxi (Ananas comosus).

O último ponto de paragem é no fim do carreiro que atravessa toda a fajã. Aqui o solo está ocupado essencialmente por pastagens permanentes, onde é possível ver algum gado, vacas ou cabras, a pastar. Aqui, regista-se a presença de pastagens, não se notando grandes alterações no que diz respeito às plantas e animais que se observaram ao longo do percurso. Assim, continuam-se a observar gaivotas (Laurus cachinnans), tentilhões (Fringila coelebs moreletti) e toutinegras (Sylvia atricapilla atlantis).

Sobretudo na Primavera e no Verão é possível observar o grarajau-comum (Sterna hirundo), ave migratória que nidifica, nos Açores em colónias densas, em ilhéus e praias remotas, migrando, no final da época reprodutiva, mais de 15.000 Km, até à América do Sul e África do Sul.

Teófilo Braga
(Terra Nostra, 7 de abril de 2006)

PERCURSO PEDESTRE “TRÊS LAGOAS”



PERCURSO PEDESTRE “TRÊS LAGOAS”

Ponto de Partida e de Chegada – Posto de Recolha de Leite do Sanguinal (Vila Franca do Campo)
Extensão: 8 km
Duração média: 3h
Grau de Dificuldade: Fácil
Grau de Perigosidade: Baixo
Forma: Circular


O percurso pedestre inicia-se junto do Posto de Recolha de leite do Sanguinhal, na denominada estrada do Carreiro, em Vila Franca do Campo. Deste ponto, situado na margem de um afluente da ribeira Seca, podemos observar o Pico da Cruz, a Oeste, e o Pico da Roça Velha, a Este, cujas altitudes são 706 e 554 metros, respectivamente. Toda a área circundante está coberta por pastagens e por pequenas matas de criptoméria (Cryptomeria japonica).

O segundo posto situa-se a cerca de 1200 metros a Norte do primeiro, num local onde a estrada encontra um pequeno caminho a Este que dá acesso a um bebedouro artificial e a uma pastagem. A pouca distância daqui, a estrada bifurca em duas direcções: uma, a da direita, rumo ao Espigão do Salto e Monte Escuro e a outra em direcção ao Pico da Cruz. Neste local, a ocupação dos solos é semelhante à referida anteriormente. É de mencionar, no entanto, a presença de alguns pés de azáleas (Rhododendron indicum), groselheiras (Elaeagnus umbellata), tamujos (Myrsine africana), urzes (Erica azorica) e fetos reais (Osmunda regalis).

Saindo do posto anterior deve percorrer-se a pastagem existente, de modo a que a ribeira fique sempre à nossa esquerda. Depois, deve-se contornar o Pico da D. Guiomar, pelo lado esquerdo, até se chegar às margens da lagoa do Areeiro, situada no interior da cratera de um pequeno cone vulcânico.

No Pico da Dona Guiomar podem ser observadas comunidades vegetais, que apresentam espécies da flora natural dos Açores, como o folhado (Viburnum tinus), a uva da serra (Vaccinium cylindraceum), o louro (Laurus azorica) e o sanguinho (Frangula azorica).

Nas águas límpidas da lagoa, que não é povoada por espécies piscícolas, surgem algumas plantas aquáticas, como é o caso do Potamogeton sp. e Eleocharis sp.

O posto 4 situa-se nas margens da Lagoa dos Nenúfares, pequena lagoa localizada a SE da Lagoa do Congro, que deve o seu nome ao facto de se apresentar quase coberta por nenúfares (Nymphaea alba). A área envolvente está ocupada por uma mata de criptoméria e por incensos (Pittosporum undulatum). No atalho que bordeja a lagoa e no de acesso ainda se podem observar algumas azáleas e cedros (Chaemocyparis lawsoniana).

Nas suas águas, para além dos nenúfares, é possível observar algumas espécies como o Hypericum elodes, o Potamogeton polygonifolius, o junco (Juncus efusus) e o Scirpus fluitans. A lagoa é povoada por peixes vermelhos (Carassius auratus) e pelo tritão de crista (Triturus cristatus), anfíbio que foi referenciado na Ilha de S. Miguel, desde 1922.

O último posto do percurso localiza-se nas margens da lagoa do Congro. A Lagoa do Congro ocupa um maar. Com aproximadamente 1,25 Km de perímetro, a Lagoa do Congro apresenta um espelho de água com cerca de 0,1 Km2 de área e encontra-se cerca de 20 metros afundada na caldeira.
Para além das espécies predominantes como a criptoméria, a acácia e o incenso, é digno de registo a presença de uma espécie endémica da Madeira, o til (Ocotea foetens).
Nas suas águas, apenas é referenciada a presença da carpa (Carpa sp.) e da perca-do-rio (Perca fluviatilis).

Teófilo Braga

(Terra Nostra, 10 de março de 2006)

domingo, 16 de junho de 2019

PERCURSO PEDESTRE “LAGOA DAS FURNAS- RIBEIRA QUENTE”



PERCURSO PEDESTRE “LAGOA DAS FURNAS- RIBEIRA QUENTE”


Ponto de Partida – Caldeiras da Lagoa das Furnas
Ponto de Chegada- Ribeira Quente
Extensão: 12 km
Duração média: 4h
Grau de Dificuldade: Médio
Grau de Perigosidade: Médio

O percurso inicia-se nas “Caldeiras da Lagoa das Furnas”, um dos mais importantes campos fumarólicos dos Açores. Estas fumarolas estão associadas a aquíferos superficiais em ebulição, localizados a 100-200 m de profundidade e a temperaturas de cerca de 160º C, cuja fonte de calor provém de corpos magmáticos introduzidos associados ao vulcanismo recente da Caldeira das Furnas.

A Caldeira das Furnas é uma depressão vulcânica de subsidência, com cerca de 6 km de diâmetro e que atinge 250 metros de desnível nos sectores Norte e Este da depressão, nomeadamente junto ao miradouro do Salto do Cavalo.A Lagoa das Furnas ocupa uma área de cerca de 2 km2 e possui uma profundidade máxima de cerca de 12 metros.

O segundo posto localiza-se em frente à Ermida de Nossa Senhora das Vitórias. Mandada edificar por José do Canto, a ermida foi inaugurada a 15 de Agosto de 1886, encontrando-se implantada num num terreno com mais de 600 hectares, todo ele mandado arborizar pelo seu proprietário, que foi um dos principais introdutores de novas espécies, que hoje fazem das nossas ilhas um autêntico jardim botânico. Contudo, segundo Jácome Corrêa “os folhados (Viburnun tinus ssp. subcordatum), os paus brancos (Picconia azorica), os sanguinhos (Frangula azorica), a uveira da serra (Vaccinium cylindraceum) da flora insular e própria da região foram conservados”. Muito perto da ermida e da casa, situa-se o Vale dos Fetos, uma grande atracção para quem tem a oportunidade de o visitar.

O terceiro posto localiza-se junto ao entroncamento com o trilho que vai até ao Pico da Areia, relativamente perto do Pico do Gaspar.A região da Lagoa Seca e do Pico do Gaspar é apontada por Guest et al. como o local do centro eruptivo do episódio vulcânico que terá ocorrido nas Furnas por volta dos anos 1444-45. Esta erupção terá tido características muito idênticas a outra que também ocorreu, em 1630, no interior da Caldeira das Furnas, e que, em ambos os casos, se caracterizaram por uma fase inicial hidrovulcânica, explosiva (com formação de um anel pomítico) e uma fase final efusiva com a formação de um doma de composição traquítica.

A região da Lagoa Seca está ocupada essencialmente por pastagens e por pequenas matas de criptomérias (Cryptomeria japonica) e de acácias (Acacia melanoxylon). Neste posto, e nos anteriores, é possível observar a nossa única ave de rapina diurna, o milhafre (Buteo buteo rotschildi).

O quarto posto localiza-se no cume do Pico da Areia, uma elevação com 471 m de altitude, onde é possivel observar algumas espécies da flora primitiva dos Açores, com destaque para a urze (Erica azorica), o louro (Laurus azorica), a uva da serra (Vaccinium cylindraceum) e o folhado(Viburnun tinus ssp. subcordatum).

O percurso termina junto ao porto da Ribeira Quente, freguesia que deve o seu nome à ribeira de águas quentes que a atravessa. A este respeito pode ler-se no Album Micaelense: “A Ribeira Quente dista pouca da Povoação, e é assim chamada por causa d’uma grande ribeira que vinda do vale das Furnas, recebendo também as águas quentes das caldeiras, depois de atravessar aqelle logar, vai lançar-se ao mar”.

Na Ribeira Quente é digna de visita a sua praia, devido, essencialmente, à temperatura agradável das suas águas, aquecidas por fumarolas submersas que existem no extremo E da praia, uma das mais procuradas da ilha.

Teófilo Braga

(Terra Nostra, 279, 10 de fevereiro de 2006)

PERCURSO PEDESTRE “LOMBADAS”


PERCURSO PEDESTRE “LOMBADAS”

Ponto de Partida e de Chegada- Lombadas

Extensão: 12 km (aprox.)

Duração média: 4 h


O percurso inicia-se junto às ruínas do edifício onde, há alguns anos, se procedia ao engarrafamento da conhecida água mineral das Lombadas.
A empresa responsável pelo engarrafamento daquela água foi constituída em 2 de Julho de 1895 e no ano seguinte a água das Lombadas era vendida em Lisboa, para onde já haviam sido enviadas doze mil garrafas.
Nas Lombadas, podemos observar algumas espécies da flora primitiva dos Açores, como o louro (Laurus azorica), a faia (Myrica faya), o azevinho (Ilex perado ssp azorica), o cedro-do-mato (Juniperus brevifolia) e a urze (Erica azorica).

O segundo posto do percurso localiza-se no sopé do Pico da Vela, elevação com 863 metros de altitude. Daqui, temos uma vista diferente da Caldeira do Fogo e a própria lagoa parece-nos outra.
A actual configuração da caldeira do Fogo, parcialmente ocupada pela lagoa, terá surgido há cerca de 5 mil anos e a última erupção ocorreu em 1563.
A Lagoa do Fogo, a uma cota de cerca de 610 metros, ocupa o fundo da caldeira do maciço vulcânico de Água de Pau que atinge o ponto mais alto, a 949 metros, no Pico da Barrosa. A lagoa possui uma área aproximada de 1,5 km2 e uma profundidade máxima de 30 metros, sendo o seu comprimento máximo de 2,4 km e a largura máxima de 1,2 Km.
O terceiro posto situa-se no marco geodésico da Cumieira, a uma altitude de 881 metros. Aqui, a vegetação é muito rasteira, podendo ser vistos alguns exemplares de Tolpis azorica, Centaurium scilloides e erva- úrsula (Thymus caespititius).
Deste ponto, a paisagem continua a ser imponente: Vila Franca do Campo reduz-se a um aglomerado pequeno de casas e o ilhéu da Vila aparece com outra fisionomia.
O último ponto de paragem localiza-se junto ao Monte Escuro, cone stromboliano basáltico, com 890 m de altitude, situado no flanco nordeste do maciço do Fogo e cujas lavas correram para Norte, em direcção ao Porto Formoso, para Nordeste, em direcção de São Brás, e para Sueste, rumo à Lagoa do Congro.
Curiosa é a descrição que Gaspar Frutuoso faz desta zona: “a alta Serra do Monte Escuro, que tem no cume uma grande alagoa, ao redor da qual, antes do segundo terremoto, havia tão cerrado mato marinho, de altíssimo arvoredo de muitos cedros, folhados, faias, louro e ginjas, que ninguém podia lá passar, nem o gado que entrava podia mais sair e ali morria de velho, aproveitando somente os donos algum que, com grande dificuldade, se lhe tornava a vir por si mesmo, que eles não podiam lá entrar para o tirarem”.
Hoje, no Monte Escuro, as grandes árvores deram lugar a uma vegetação bastante rasteira, onde predomina o queiró (Calluna vulgaris). Aqui à volta, pode-se observar uma vasta área que depois de ter sido utilizada como pastagem está plantada de criptoméria (Cryptomeria japonica). A criptoméria é uma espécie originária do Japão que devido às características da sua madeira: forte, duradoira e fácil de trabalhar e ao facto de ser uma árvore de crescimento relativamente rápido, fazem com que apresente um grande interesse económico. Por outro lado, a sua plantação em locais antes ocupados pela Laurissilva constitui uma forte ameaça para aquela floresta característica dos Açores.

Teófilo Braga
(Terra Nostra, 277, 13 de janeiro de 2006)

sexta-feira, 14 de junho de 2019

PERCURSO PEDESTRE “PRAIA- LAGOA DO FOGO”


PERCURSO PEDESTRE “PRAIA- LAGOA DO FOGO”

Ponto de Partida e de Chegada- Praia de Água d’Alto

Extensão: 12,5 km

Duração média: 5 h


O percurso tem início junto à ponte da Ribeira da Praia. Desta ponte tem-se uma magnífica vista do lugar da Praia, pequeno povoado que pelas suas características foi considerado “Lugar Classificado”. Nesta localidade, a EDA- Electricidade dos Açores, em sintonia com a Câmara Municipal de Vila Franca e com o objectivo de homenagear o pioneiro da electrificação nos Açores, o Eng. José Cordeiro, recuperou o edifício da central conhecida por “Fábrica da Praia”, transformando-a em Museu.

O segundo posto localiza-se junto às ruinas de uma antiga fábrica de desfibração de espadana. A espadana ou linho da Nova Zelândia, também conhecida por tabua (Phormium tenax), é uma planta oriunda da Nova Zelândia que foi introduzida em S.Miguel, em 1828, por Francisco Lopes Amorim.. Porém, a sua exploração industrial ter-se-á iniciado depois de 1880, ano em que José Bensaúde e José Jácome Correia adquiriram uma máquina para a sua desfibração e a instalaram em Ponta Delgada.

O terceiro ponto de paragem, localiza-se junto a uma pequena barragem e na origem do canal de derivação da central Nova. Esta central começou a produzir em 1927 com uma potência de “ 600 cavalos, aproveitando um caudal de 300 litros por segundo e uma altura de queda, artificial, de 290 metros”.Neste posto a vegetação é bastante baixa, com predomínio para a urze (Erica azorica) e para a queiró (Calluna vulgaris). Aqui, é possível observarmos algumas aves, como o tentilhão (Fringilla coelebs moreletti), o milhafre (Buteo buteo rothschildi) e a álveola (Motacilla cinerea patriciae).

O último posto localiza-se nas margens da lagoa do Fogo, uma das mais belas lagoas açorianas. A lagoa do Fogo, situada à altitude de cerca de 610 metros, ocupa o fundo da caldeira do Vulcão de Água de Pau, a qual possui 3 km de diâmetro e 100 a 300 m de profundidade e foi formada há cerca de 15 mil anos. A actual configuração da caldeira terá surgido há cerca de 5 mil anos e a última erupção ocorreu em 1563.

A Lagoa do Fogo possui uma área aproximada de 1,5 km2 e uma profundidade máxima de 30 metros, sendo o seu comprimento máximo de 2,4 km e a largura máxima de 1,2 km.Nas suas águas vivem, entre outras, as seguintes espécies piscícolas: a carpa(Cyprinos carpio) e a truta arco-íris(Salmo irideos), esta última introduzida pela primeira vez, em 1941, pela Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada.

Teófilo Braga
Terra Nostra, 275, 9 de dezembro de 2005



quinta-feira, 13 de junho de 2019

PERCURSO PEDESTRE “PONTA DA MADRUGADA- PEDREIRA DE NORDESTE”



PERCURSO PEDESTRE “PONTA DA MADRUGADA- PEDREIRA DE NORDESTE”

Ponto de Partida- Miradouro da Ponta da Madrugada

Ponto de Chegada- Igreja da Pereira de Nordeste

Extensão- 3,5 km (aprox.)

Duração- 2h (aprox.)


O percurso pedestre inicia-se no Miradouro da Ponta da Madrugada, um dos pontos turísticos mais conhecidos e visitados do concelho de Nordeste. Do Miradouro da Ponta da Madrugada, inaugurado em Junho de 1969, para além de se poder vislumbrar o lugar da Pedreira, o majestoso Lombo Gordo e o sopé da Serra da Tronqueira, observam-se ainda as altas e escarpadas falésias litorais que predominam em todo o concelho de Nordeste .

Depois de uma breve mas muito íngreme descida chega-se à Praia do Lombo Gordo. A Praia do Lombo Gordo, tal como a zona onde se insere o percurso pedestre, está incluída no Biótopo do Programa Corine “Ponta da Madrugada/Costa Leste” que abrange uma faixa costeira com uma área de 374 hectares, entre o Faial da Terra e a Ponta do Arnel. Este biótopo, constitui, assim, um sítio de grande importância para a Conservação de Natureza e dos Recursos Naturais da Comunidade Europeia, e possui um elevado interesse do ponto de vista panorâmico, é um local importante para a nidificação de aves migradoras, como o cagarro (Calonectris diomedea borealis) e o garajau-comum (Sterna hirundo), é possível encontrarem-se treze endemismos de invertebrados e mantém alguma vegetação primitiva da ilha de São Miguel, com realce para sete endemismos, com destaque para a vidália (Azorina vidalii), malfurada (Hypericum foliosum), erva-leiteira (Euphorbia azorica), louro (Laurus azorica) e Spergularia azorica.

Depois de se caminhar sobre o calhau e de se atravessar a ribeira da Tosquiada, chega-se às primeiras casas da Fajã do Araújo. Ao longo da subida, os terrenos que marginam o caminho estão, ocupados por pastagens, mas também se observam terrenos cultivados, alguns dos quais com vinhas (Vitis labrusca). As sebes são essencialmente de canas (Arundo donax), embora também se observem sebes de buxeiros (Buxus sempervirens).

O percurso pedestre termina no adro da Igreja da paróquia de Nossa Senhora da Luz, situada na Pedreira, lugar da freguesia de Nordeste.
De acordo com a tradição, a actual igreja terá sido o resultado de grandes obras que levaram ao aumento da primitiva ermida. Não se conhece a data do início daqueles trabalhos, mas tudo leva a crer que terminaram em 1872.Sabe-se que, só depois de 1861, a primitiva ermida passou a ter sacrário e que a igreja da Pedreira passou a ter a sua pia baptismal e arquivo próprio, após concessão contida numa Provisão de 21 de Agosto de 1888.
A imagem de Nossa Senhora da Luz, padroeira do lugar, adquirida à custa de donativos dos paroquianos, é moderna mas muito expressiva. A propósito da referida imagem pode ler-se no Apontamento Histórico e Etnográfico de São Miguel e Santa Maria, publicado, em 1982, pela Direcção Escolar de Ponta Delgada: “Conta-se que aquando da chegada da nova imagem da Padroeira à igreja se registaram muitos milagres, como o que conheceu Justino Inácio Machado, aleijado de há muito e que naquele momento recuperara os movimentos”.
De fronte da Igreja, situa-se um pequeno jardim público com um coreto, inaugurados a 3 de Setembro de 1995. No jardim podem ser apreciadas, entre outras, as seguintes espécies botânicas: camélias (Camellia japonica), piracantos (Pyracantha angustifolia), azáleas (Rhododendron indicum), hortênsias (Hydrangea macrophylla), estrelícias (Strelitzia reginae) e castanheiro da índia (Aesculus hippocastanum).

Teófilo Braga

Terra Nostra, 271, 14 de outubro de 2005