domingo, 30 de dezembro de 2018

José Henrique Borges Martins, o Ferreirinha das Bicas e o Bravo



José Henrique Borges Martins, o Ferreirinha das Bicas e o Bravo

Neste último texto da rubrica que intitulei “Com os pés na terra”, que foi publicada no Correio dos Açores, entre 13 de abril de 2011 e 9 de outubro de 2018, e depois desta data no meu blogue “Pois alevá…diário de um professor”, em virtude de naquele jornal, sem qualquer explicação, não ter sido publicado um texto sobre Paulo Freire, farei uma singela homenagem ao poeta terceirense José Henrique Borges Martins e a dois improvisadores da ilha Terceira que ele tão sabiamente acarinhou e de algum modo os imortalizou, Francisco Ferreira dos Santos (o Ferreirinha das Bicas) e Manuel Borges Pêcego (o Bravo).

José Henrique Borges Martins que comigo esteve presente em diversas reuniões, onde um grupo de cidadãos preparou a criação, em Angra do Heroísmo, de um jornal independente dos poderes instalados, o “Directo”, que foi dirigido pelo meu colega da Escola Secundária Padre Jerónimo Emiliano de Andrade, António Neves Leal, foi um poeta de mérito e um destacado investigador da cultura popular, tendo elaborado, entre outos, e publicado trabalhos sobre os cantadores e improvisadores populares e sobre crendices e feitiçarias.

Para além de dar o seu contributo ao “Directo”, Borges Martins, que combateu o Estado Novo com a sua poesia, colaborou com o extinto jornal “A União” e com o “Jornal da Praia”.

Com os livros “Cantadores e improvisadores da ilha Terceira”, de 1984, e “Improvisadores da Ilha Terceira. suas vidas e cantorias”, de 1993, Borges Martins homenageou alguns heróis do povo, os cantadores populares.

De entre eles, destacamos o Ferreirinha das Bicas que terá sido, segundo alguns, o maior de entre eles, e o Bravo que foi um homem livre e que por isso teve problemas com as autoridades por dizer verdades que as incomodavam.

O Ferreirinha das Bicas nos seus improvisos mostrou preocupações sociais e denunciou as desigualdades e a sociedade hipócrita onde vivia.

As duas quadras abaixo ilustram bem o pensamento do seu autor:

Vai preso quem rouba um pão
Por sua necessidade,
Mas quem rouba meio milhão
Passeia pela cidade

Eu conheço falsos sábios
Que pregam religião
Que mostram Cristo nos lábios
E o diabo no coração

A temática das desigualdades sociais, também, foi por diversas vezes abordada por Manuel Borges Pêcego. Para além de ilustrar a sua condição social, a quadra abaixo revela o seu espírito crítico:
Fui pagar a contribuição,
Mas não foi com dinheiro falso,
P’ra calçar tanto ladrão
Que por mim, ando descalço

O Bravo teve problemas com a polícia que o mandou internar na casa de saúde de São Rafael. A causa terá sido uma quadra dita em frente à cadeia, onde denunciou as injustiças deste mundo:
Oh, como esta vida é feia
Presos, meditai a fundo.
Só nunca vão à cadeia
Os maiores ladrões do mundo.

Pico da Pedra, 31 de dezembro de 2018
Teófilo Braga

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Açoriano e mestre em Educação Ambiental lidera abaixo-assinado contra regresso do gado ao Parque Ecológico do Funchal, Associação avança com Providência Cautelar


DEZ 25, 2018 - 11:24:59 PMHENRIQUE CORREIA

Açoriano e mestre em Educação Ambiental lidera abaixo-assinado contra regresso do gado ao Parque Ecológico do Funchal, Associação avança com Providência Cautelar

Henrique Correia, 25 de dezembro de 2018

Teófilo Braga, açoriano, professor, mestre em Educação Ambiental, fundador da Associação Ecológica Amigos dos Açores, é o primeiro subscritor de um abaixo-assinado que visa pressionar a atual gestão da Câmara do Funchal, liderada por Paulo Cafôfo, contra o eventual regresso do gado ao Parque Ecológico.
Ontem, a Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal, presidida por Raimundo Quintal, já tinha tornado público que interpôs “uma Providência Cautelar, no Tribunal Administrativo do Funchal, visando a suspensão imediata da eficácia da decisão da Câmara do Funchal de autorizar a criação de gado no Parque Ecológico”.
Hoje, Teófilo Braga dá conta que está já a circular o abaixo-assinado no sentido de contrariar essa decisão, O primeiro subscritor já visitou o Parque Ecológico por diversas vezes e participou, como voluntário, numa jornada de plantação de espécies nativas”.
No texto do abaixo-assinado, refere que “foi com alguma estranheza que tomámos conhecimento de que a Câmara Municipal do Funchal autorizou, recentemente, a criação de gado no Parque Ecológico do Funchal. Como a realidade dos factos demonstra, após a retirada do gado, em 1995, foi possível verificar, no Parque Ecológico do Funchal, a recuperação da biodiversidade, a qual a par da água e do solo são recursos vitais para a Madeira, apesar do revés provocado pelo incêndio de origem criminosa ocorrido em agosto de 2010”.
O mesmo texto que suporta o documento que está já a circular, aponta que “a medida agora tomada, a concretizar-se, será um duro golpe no trabalho que tem sido feito até agora, isto é a reflorestação com vista à recuperação das formações vegetais primitivas, à redução da erosão, à diminuição dos efeitos das cheias e ao reforço das nascentes. Estamos solidários com os trabalhos desenvolvidos ao longo de cerca de vinte anos pela Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal e apoiamos a tomada de posição daquela contrária ao regresso do gado ao Parque Ecológico”.
Face ao exposto, refere, “apelamos ao bom senso do senhor Presidente da Câmara Municipal para que volte atrás na sua decisão, respeitando o que é afirmado na página 83 do Plano de Gestão do Parque Ecológico do Funchal: “Não estão identificadas quaisquer áreas com a função de silvo pastorícia, nem se vislumbra considerar esta atividade como um objetivo futuro para estas áreas”.
Fonte: Notícias do Funchal
https://funchalnoticias.net/2018/12/25/acoriano-e-mestre-em-educacao-ambiental-lidera-abaixo-assinado-contra-regresso-do-gado-ao-parque-ecologico-do-funchal-associacao-avanca-com-providencia-cautelar/?fbclid=IwAR2qi_2zGNTmuGl5h_Yhio1hnr6B6qSoeivEJEEgdfgwte7IKo7gfpUa7TU

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Em defesa do Parque Ecológico do Funchal


Assine aqui:
https://www.change.org/p/presidente-da-c%C3%A2mara-municipal-do-funchal-regresso-de-gado-ao-parque-ecol%C3%B3gico-do-funchal

REGRESSO DE GADO AO PARQUE ECOLÓGICO do FUNCHAL

Foi com alguma estranheza que tomámos conhecimento de que a Câmara Municipal do Funchal autorizou, recentemente, a criação de gado no Parque Ecológico do Funchal.

Como a realidade dos factos demonstra, após a retirada do gado, em 1995, foi possível verificar, no Parque Ecológico do Funchal, a recuperação da biodiversidade, a qual a par da água e do solo são recursos vitais para a Madeira, apesar do revés provocado pelo incêndio de origem criminosa ocorrido em agosto de 2010.

A medida agora tomada, a concretizar-se, será um duro golpe no trabalho que tem sido feito até agora, isto é a reflorestação com vista à recuperação das formações vegetais primitivas, à redução da erosão, à diminuição dos efeitos das cheias e ao reforço das nascentes.

Estamos solidários com os trabalhos desenvolvidos ao longo de cerca de vinte anos pela Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal e apoiamos a tomada de posição daquela contrária ao regresso do gado ao Parque Ecológico.

Face ao exposto, apelamos ao bom senso do senhor Presidente da Câmara Municipal para que volte atrás na sua decisão, respeitando o que é afirmado na página 83 do Plano de Gestão do Parque Ecológico do Funchal: “Não estão identificadas quaisquer áreas com a função de silvo pastorícia, nem se vislumbra considerar esta atividade como um objetivo futuro para estas áreas”.

Primeiro Subscritor: Teófilo Braga, açoriano, professor, mestre em Educação Ambiental, fundador da Associação Ecológica Amigos dos Açores. Já visitou o Parque Ecológico do Funchal por diversas vezes e participou, como voluntário, numa jornada de plantação de espécies nativas, organizada pela Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal.

Algumas notas a propósito das Narrativas Insulanas


Com os pés na terra (399)

Algumas notas a propósito das Narrativas Insulanas

Com um prefácio de Avelino de Freitas Meneses que não acrescenta nada à obra, a “Letras Lavadas Edições” publicou, em março de 2018, o livro “Narrativas Insulanas” da autoria de Sebastião Carlos da Costa Brandão e Albuquerque, visconde do Ervedal da Beira, por decreto do mal-amado Rei D. Carlos.

Embora não se trate de um livro que se compare ao que de melhor um não natural escreveu sobre a ilha de São Miguel, como foi o caso dos irmãos Buller, recomendamos a sua leitura a quem quer conhecer um pouco mais a vida na nossa ilha em 1894. De entre o que o autor escreveu, sem a pretensão de publicar, destacamos uma visita ao Pico da Cruz, a sua ida às Furnas e às Sete Cidades e a descrição das visitas aos três jardins de Ponta Delgada: António Borges, Jácome Correia e José do Canto. No que diz respeito às tradições, destaco o relato de uma coroação do Espírito Santo e das Festas do Santo Cristo dos Milagres.

Neste texto apenas vou fazer referência a alguns aspetos que por algum motivo achei por bem dar a conhecer a quem não teve, ainda, a oportunidade de ler o livro referido.

Sobre a minha terra de nascimento, Vila Franca do Campo, o autor relata uma ida à Lagoa do Fogo, não muito bem-sucedida devido ao mau tempo, a partir da Prainha de Água d’Alto. Como o autor apenas esteve de passagem pela vila, no regresso das Furnas a caminho de Ponta Delgada, sobre a mesma apenas escreveu o seguinte: “Passámos em Vila Franca do Campo às quatro horas da tarde, só pudemos ver galinhas, e eram tantas que a mim e ao Matos deu-nos para fazer a estatística delas, no espaço de cem metros e só à volta do carro contámos, eu noventa e oito e ele oitenta e sete, os galos não entravam na conta.”

Quando se diz hoje que a preocupação com os direitos dos animais é uma moda recente, o autor mostra-nos que tal afirmação está errada, pois já no século XIX ele escreveu sobre o assunto. Com efeito, na descrição da visita às Sete Cidades que foi feita com o apoio de burros e de um macho, o autor refere o seguinte: “Despedi-me, primeiro do macho, e depois do acessório, ao Sr. José Jacinto Raposo, industrial moageiro de Feteiras, satisfiz os honorários combinados, dei-lhe ainda uma gorjeta, e pedi-lhe em seu nome que por aquele dia desse férias ao bom animal, e não fosse prendê-lo de novo à moenga, ele assim o prometeu, mas quem sabe se cumpriria!”.

A descrição dos jardins de Ponta Delgada é fabulosa, pelo que só por ela não me arrependi de ter adquirido o livro. Não vou transcrever o que sobre cada um deles o autor escreveu, limito-me, apenas, a referir a introdução que ele fez. Assim, segundo ele “há três parques em Ponta Delgada que por forma alguma não devem deixar de ver-se, pois são admiravelmente belos e alguns deles ricos em plantas, arbustos e primores. …O primeiro, que fica do lado poente é do Sr. António Borges, o segundo é do Sr. Conde Jácome, e o terceiro do Sr. José do Canto. O primeiro revela um artista e poeta; o segundo um fidalgo; o terceiro um sábio inteligente amante adorador da natureza em toda a realidade das suas forças e expansões.”

Termino este texto, com uma referência a dois aspetos que não agradaram ao visconde do Ervedal da Beira. Segundo ele, “a gente da ilha em geral é boa e afável, muito atenciosa e dedicada ao trabalho, acolhe muito bem as pessoas que por ali passam. Tem, contudo, defeitos que lhe não posso perdoar. Os homens comem canários e as mulheres não só comem os canários, o que é mais agravante da parte de quem deve ter maior sensibilidade no coração, mas além disso envolvem-se nuns medonhos e horríveis capelos (capotes) ou capuzes que as transformam em bruxas ou feiticeiras.”

Uma vez mais recomendo a leitura do livro e dou os meus parabéns à editora.

Pico da Pedra, 26 de dezembro de 2018

Teófilo Braga

domingo, 23 de dezembro de 2018

Manhãs de Páscoa


Com os pés na terra (398)
Manhãs de Páscoa

Numa conhecida rede social tenho vindo a divulgar algumas espécies existentes nos Açores, dando a conhecer o seu nome científico, o nome comum, a origem, a família e o local onde podem ser encontradas.

Uma das espécies que mais despertou a atenção dos leitores foi a Euphobia pulcherrima, a qual apresenta, entre outros, o nome comum de Manhãs de Páscoa. A maioria estranhou aquela designação, pois floresce por altura do Natal e houve um que disse que a conhecia pelo nome de Repúblicas.

Neste texto, para além de tentar esclarecer a questão dos nomes comuns, que variam de terra para terra e que são atribuídos pelas mais diversas razões, darei a conhecer um pouco mais a espécie referida que é oriunda do México.

O roubo de plantas da espécie referida dos Jardins de Ponta Delgada, noticiado recentemente pelo jornal Correio dos Açores, monstra que o vandalismo continua a ser prática corrente na nossa ilha, e prova que a planta tem interesse económico, pois quem o faz, fá-lo porque quer embelezar a sua casa sem gastar dinheiro ou para ganhar dinheiro fácil, através da sua venda.

Não tendo dados sobre a importância económica da espécie nos Açores, menciono, abaixo, a informação recolhida num artigo publicado na “Revista Mexicana de Biodiversidad”, em junho de 2015.

De acordo com os autores do artigo citado, a espécie é uma das plantas ornamentais de maior importância económica em todo o mundo, superando as suas vendas anuais os 100 milhões de dólares, nos Estados Unidos da América.

Não conhecemos qualquer utilização, nos Açores, da Euphobia pulcherrima para além da ornamental, mas há bibliografia que menciona diversos usos medicinais sobretudo relacionados com doenças de pele. Por outro lado, o livro Segredos e Virtudes das Plantas Medicinais, inclui a espécie na lista de plantas ornamentais exóticas, tóxicas ou alergizantes.

Luís Franquinho e António da Costa, no seu livro “Madeira Plantas e Flores”, apresentam três nomes comuns para a Euphobia pulcherrima: Manhãs de Páscoa, Poinsétia e Eufórbia Cardeal. Raimundo Quintal, na lista de plantas do Jardim José do Canto, por seu turno, apresenta os seguintes nomes comuns: Poinsétia e Estrela-de-Natal. Ainda sobre os nomes comuns da espécie que vimnos referindo, a página Web “Paisagismo Digital”, apresenta os seguintes: Estrella-federal , Pascuero , Poinsetia , Flor-de-pascua , Flor-de-nadal, Pascuero , Árvore-república , Poisetia , Flores-de-páscoa , Manhãs-de-páscoa , Folha-de-sangue , Flor-de-páscoa , Poinsétia e Bico-de-papagaio .

Os nomes comuns dados nos Açores à espécie são, pelo menos tudo leva a crer, importados. Por razões de economia de espaço e tempo, e por alguns nos parecerem óbvios, apresentamos a seguir uma explicação ou uma tentativa de explicação para dois deles.

O nome Manhãs de Páscoa poderá ser devido ao facto de, em Espanha, “Felices Pascuas!” ser uma “forma tradicional de felicitar la Navidad” e o de Poinsétia é uma forma de homenagear o médico, botânico e estadista dos Estados Unidos da América, Joel Roberts Poinsett (1779 - 1851).


Pico da Pedra, 24 de dezembro de 2018

Teófilo Braga

sábado, 22 de dezembro de 2018

Roubos de plantas


Roubos de plantas
(Correio dos Açores 21 de dezembro de 2018)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

O Visconde do Ervedal da Beira e os canários



Notas Zoófilas (136)

O Visconde do Ervedal da Beira e os canários


No livro “Narrativas Insulanas”, escrito por Sebastião Carlos da Costa Brandão e Albuquerque que viveu em Ponta Delgada, onde fora colocado como juiz no Tribunal da Relação dos Açores (Ponta Delgada) em janeiro de 1894 há duas referências que mostram alguma sensibilidade do autor relativamente à proteção dos animais.

A primeira diz respeito a um macho que participou numa visita do autor às Sete Cidades, em que aquele pagou ao seu proprietário o devido e deu-lhe uma gorjeta pedindo para que o animal fosse poupado ao trabalho no resto do dia.

A segunda referência diz respeito à apanha de canários para serem usados na alimentação, o que se verificou até quase ao fim do século XX. Com efeito, apesar da proibição da apanha continuaram a serem vendidos num conhecido restaurante na Ribeira Grande, tendo tal facto sido denunciados por várias vezes às autoridades pela associação Amigos dos Açores.

Sobre os canários, Sebastião Carlos da Costa Brandão e Albuquerque no livro citado, editado em março de 2018, pelas Letras Lavadas Edições, a par do uso do capote e capelo, considera que o seu uso na alimentação “são defeitos” que não pode perdoar às pessoas de São Miguel.

Na página 174, do livro que recomendamos a sua leitura, sobre o assunto podemos ler o seguinte:


“Os homens comem os canários, e as mulheres não só comem os canários, o que é mais agravante da parte de quem deve ter maior sensibilidade no coração, mas além disso envolvem-se nuns medonhos e horríveis capelos (capotes) ou capuzes que as transformam em bruxas ou feiticeiras.

Não se pode imaginar o quanto é agradável sair e percorrer os campos, e ver-se a gente acompanhado e saudado pelos suavíssimos gorjeios dos canários! Voam e cantam felizes e alegres pelos ares e arvoredos, e não têm o estrídulo cantar dos seus companheiros de outros países, embora de mais vistosas plumagens; as suas notas são brandas, melodiosas, os sons têm gemidos e tristezas, têm risos e alegrias. Que sacrilégio e que barbaridade a guerra de extermínio que lhes fazem e o canibalismo feroz com que os devoram!

Nas mesas dos hotéis aparecem terrinas cheias destes inocentes, que são devorados com a ferocidade e prazer de cafres; que horror!

Desculpam-se os seus perseguidores com a fava e grão-de-bico que as pobres avezinhas comem apenas para o seu sustento, e lhes pagam fidalga e generosamente com as suas encantadoras melodias!”

Pico da Pedra, 20 de dezembro de 2018

Teófilo Braga

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Festas do Santo Cristo manchadas e a loucura das touradas em 1961


Com os pés na terra (397)

Festas do Santo Cristo manchadas e a loucura das touradas em 1961

Em 1961, as festas da cidade de Ponta Delgada, as maiores festas religiosas dos Açores, realizadas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres foram manchadas pelo derramamento de sangue de animais (touros) para pura diversão de alguns sádicos que se dizem humanos. Com efeito, a Agência de Publicidade SPAL voltou a colaborar com um grupo de terceirenses na organização de dois festivais tauromáquicos que se realizaram nos dias 8 e 11 de maio, respetivamente segunda-feira e quinta-feira do Santo Cristo.
Nesta segunda investida da indústria tauromáquica terceirense, em 1961, recorde-se que a primeira ocorreu pela Páscoa, para além de touros das ganadarias de José de Castro Parreira e José Diniz Fernandes, vieram da ilha Terceira os amadores Henrique Parreira e Amadeu Simões e o grupo de forcados chefiados pelo cabo Osvaldo Simões que na sua estreia terá feito uma pega de costas. Para as duas touradas de praça, veio “expressamente de Madrid” o famoso matador espanhol Luís Lucena.
Na segunda tourada realizada o cabo dos forcados foi levado pelo touro de um extremo ao outro da praça até embater num muro. Levado ao hospital pela ambulância dos bombeiros voluntários foi-lhe diagnosticada “uma simples comoção sem fracturas”.
Para além das duas touradas, realizou-se uma garraiada onde atuaram oito “neófitos micaelenses”.
De acordo com o jornal Correio dos Açores os três novilhos foram lidados por António Manuel da Câmara Cymbron, Luís Ricardo Vaz Monteiro de Vasconcelos Franco e Henrique Machado Soares e como forcados atuaram Victor Manuel Rebelo Borges de Castro, Luís Fernando da Câmara Cymbron e João de Sousa Duarte com o auxílio de Luís Manuel Athayde Mota e António Manuel Rebelo Borges de Castro.
Na altura, o entusiasmo pelas touradas era tanto que foi muito falada a construção de uma Praça de Touros em Ponta Delgada, tendo sido aventados um terreno pertencente à Câmara Municipal de Ponta Delgada na rua da Mãe de Deus, em frente ao Foral da Misericórdia, e um outro pertencente a particulares localizado em São Gonçalo.
A adesão de alguns micaelenses às touradas em 1961 causou algum pânico na ilha Terceira como se poderá confirmar através de alguns textos publicados nos jornais daquela ilha.

Assim, a 20 de Abril de 1961, a ANI transcreveu uma notícia do Diário Insular onde se afirmava que uma subscrição para a construção de uma praça de touros em São Miguel já havia recolhido cerca de 2000 contos. Na mesma notícia ainda se pode ler o seguinte: E a piada reside exactamente, desde que se confirme a notícia da tal subscrição, no facto de S. Miguel ameaçar desviar da Terceira o centro tauromáquico do arquipélago com a construção de uma praça que, naturalmente, destronaria a velha Praça de S. João” e continua: “Podem não achar-lhe qualquer piada os aficionados terceirenses, mas a verdade é que o facto não deixa de a ter. Ou não terá?”
De igual modo, o Jornal A União, citado pelo Correio dos Açores, de 4 de Maio de 1961, também publicou um texto intitulado “Virou-se o feitiço…” onde a dado passo pode ler-se:

“Por bem fazer…mal haver. A embaixada académica (Liceu) que foi a S. Miguel e quis levar até aos nossos irmãos micaelenses um pouco daquela descuidada alegria que as Touradas emprestam à mocidade terceirense, deve estar agora convencida de que, indo “por bem”, o seu esforço redundou num péssimo serviço prestado à ilha Terceira. Lançando em Ponta Delgada o “vírus” da Festa Brava, mudaram possivelmente o “eixo” desse atractivo até há pouco “exclusivamente terceirense” em terras Açorianas, criando-se mais uma situação “subsidiária” de que não será fácil furtar-nos dentro de pouco tempo”.

Ainda a atestar o interesse pelas touradas, o Correio dos Açores noticiou a organização de uma excursão de micaelenses à Terceira para assistirem a uma tourada de gala que se realizou a 3 de julho de 1961 e que contou com a participação do toureiro português António dos Santos e do “matador” espanhol Orteguita, onde foram corridos touros vindos do continente português.

Felizmente a barbaridade descrita hoje não existe na ilha de São Miguel, apesar dos incentivos dados por governantes sem escrúpulos e a conivência de parte da Igreja Católica.

Pico da Pedra, 18 de dezembro de 2018
Teófilo Braga

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Duas notas sobre Francisco Soares Silva


Com os pés na terra (396)
Duas notas sobre Francisco Soares Silva

Por mais de uma vez escrevemos sobre o operário micaelense Francisco Soares Silva que foi diretor do jornal Vida Nova que se publicou em Ponta Delgada no início do século XX.

A leitura do livro “Os Alevantes da Memória”, da autoria de David Luna de Carvalho, editado em 1999, pelas Edições Salamandra dá-nos a conhecer a ligação de Francisco Soares Silva ao concelho do Nordeste, na ilha de São Miguel.

Tal como aconteceu com a democracia surgida com o 25 de abril de 1974, que foi construída essencialmente por adeptos do Estado Novo daí o estado em que o país e a região se encontram, a República implantou-se em terreno onde escasseavam os republicanos.

No caso do Nordeste, o autor referido menciona a pouca adesão à República, dando como prova o facto de apenas 43 pessoas terem assinado a sua proclamação. Ainda segunda a mesma fonte, para além do administrador do Concelho, “feito à pressa republicano”, apenas havia dois nomes que não estavam associados à monarquia como se pode ler através do seguinte extrato: …o único que não tinha a ver com o partido republicano era o médico-cirurgião, António Cabral de Mello. O outro nome, Francisco Soares da Silva, assumia-se como “Socialista-Libertário”.

Por que razão assinou Francisco Soares Silva, a proclamação da república nos Paços do Concelho do Nordeste?

De momento, desconhecemos já que nas pesquisas efetuadas até ao momento o seu nome aparece sempre ligado a Ponta Delgada.

Outro livro consultado, recentemente, que esclarece um pouco mais a ligação da feminista Alice Moderno com os principais responsáveis pelo jornal Vida Nova é o da autoria de Breno de Vasconcelos, intitulado “Paz Cinzenta …os Açores através de algumas figuras e episódios de uma época”, editado em Lisboa, em 1979.
Francisco Soares Silva foi um dos primeiros sócios da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, instituição fundada por Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa. Foi também na tipografia de Alice Moderno que chegou a ser impresso o jornal Vida Nova de Francisco Soares Silva.

Através do livro de Breno de Vasconcelos ficamos a saber que um dos dirigentes do movimento operário em são Miguel, Manuel Medeiros Cabral, companheiro e vizinho de oficina de Francisco Soares Silva, possuía a sua “Agência Funerária Cabral” ao lado do escritório de Alice Moderno, no edifício que era pertença daquela ilustre escritora e defensora dos animais.

Sobre o débil movimento operário micaelense, onde o nome de Francisco Soares Silva, teve um papel ímpar, Breno de Vasconcelos escreveu o seguinte:

“No auge das campanhas proletárias que também surgirem em Ponta Delgada, mestre Cabral tomou parte activa, juntamente com um seu vizinho de oficina, Francisco Soares Silva, mais conhecido por “mestre Chico Manco”, que era bastante inteligente e foi um dos acérrimos defensores da classe operária”.

Pico da Pedra, 14 de dezembro de 2018

Teófilo Braga

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

domingo, 9 de dezembro de 2018

A Maçonaria nos Açores


A Maçonaria nos Açores

Muito pouco se tem escrito sobre a presença da Maçonaria nos Açores pelo que sobre a mesma apenas conhecemos um excelente livro da autoria de António Lopes, intitulado “A Maçonaria Portuguesa e os Açores (1792-1935)”.

Instituição respeitável, como todas as outras está infiltrada por pessoas que se aproveitam para fins diversos dos da organização, nomeadamente para benefício pessoal ou de familiares e amigos.

Sendo uma organização secreta, que não se justifica nos dias de hoje, pouco se sabe acerca dela, nomeadamente nos Açores. Uma importante fonte para ficarmos a conhecer algumas “trafulhices” feitas por alguns dos seus membros é o livro publicado em 2013 pela Esfera dos Livros, intitulado “Segredos da Maçonaria Portuguesa” da autoria de António José Vilela.

O livro, entre outras informações, dá a conhecer “o vasto património da maçonaria, quem são os maçons eleitos para o Parlamento do GOL-Grande Oriente Lusitano, o que dizem as atas confidenciais das sessões, onde, entre outros assuntos, já se votou a criação de serviços de inteligence e as ligações do espião Jorge Silva Carvalho aos altos graus da maçonaria e ao atual ministro Miguel Relvas”.

Em relação aos Açores há pouca informação, mas dado o interesse ou o desconhecimento por parte da maioria dos açorianos, vamos divulga-la, abaixo.

Na página 235, pode ler-se que Ricardo Rodrigues, atual presidente da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, partilhava o templo da Loja Maçónica Abade Correia da Serra, nº 69, com Adelino Cunha, José Gomes Ferreira e com os deputados do PSD Carlos Páscoa e José Manuel Canavarro.

Na página 121 há a referência à Loja “Renascer “, de Ponta Delgada, que tinha como venerável mestre António Joaquim Rodrigues Lopes.

Na página 259, há um quadro com os dirigentes da Loja do GOL em Angra do Heroísmo. Assim, a Loja “Vitorino Nemésio” tinha em 2006 os seguintes dirigentes:
Dimas Costa Lopes- Venerável mestre
Jorge Paulos Bruno – Representante e primeiro vigilante
Júlio Dinis Lopes da Silva-Representante (suplente) e segundo vigilante
Francisco Jorge Silva Teixeira – Primeiro experto

José Sousa
Açores, 8 de dezembro de 2018

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

O dia 13 de junho de 1974 na história de Vila Franca do Campo


O dia 13 de junho de 1974 na história de Vila Franca do Campo

Sobre o assalto à Câmara Municipal de Vila Franca do Campo conhecemos algumas versões do que terá ocorrido, todas elas ligadas a pessoas que estiveram de um ou do outro lado da barricada, isto é, dos que defendiam a substituição do executivo em exercício por um uma comissão ligada ao Movimento Democrático (MD) ou por outra que estava ligada ao Partido Popular Democrático Açoriano (PPDA).

Sobre este assunto já escrevi um texto que foi publicado no Correio dos Açores, no dia 24 de abril de 2013, com base em informações que possuía, oriundas de um livro do Dr. Manuel Barbosa, em dados recolhidos junto de pessoas que presenciaram o ato e de documentos, sobretudo folhetos, que recolhi na altura e do que presenciei, pois assisti ao referido assalto.

Volto ao tema, não para fazer juízos de valor sobre ninguém, mas porque recentemente tive acesso ao Processo sobre os acontecimentos que foi instruído pelo Governo Civil do Distrito Autónomo de Ponta Delgada.

Antes de fazer referência ao assalto propriamente dito, apresento os nomes das personalidades envolvidas no processo de “assalto ao poder” na Câmara Municipal da Vila.

O executivo municipal em exercício de funções quando se deu o 25 de Abril de 1974 era composto por Orlando Augusto Borges Brandão, António dos Santos Botelho e António Daniel de Carvalho e Melo.

Para substituir as pessoas referidas que, como era de esperar, estavam ligadas ao Estado Novo, o Movimento Democrático, apresentou uma comissão que tinha a seguinte composição: Raúl Eduardo do Vale Raposo Borges, Armando Botelho Henrique, Alfredo Moniz Gago da Câmara, Elias Pimentel Costa e João José Sardinha.

Curiosamente tal como acontece sempre que há mudanças de regimes ou mesmo mudanças de partidos no poder há sempre os adesivos ou lapas que mudam de opinião para se manterem na mó de cima. No caso em apreço na comissão referida há um elemento que sete meses antes era apresentado num jornal vila-franquense como como membro da Ação Nacional Popular, o partido que suportava o Estado Novo.

Insatisfeitos com a comissão proposta pelo Movimento Democrático foi apresentada aos vila-franquenses no dia 11 de junho, elementos do Partido Popular Democrático Açoriano no dia 13 pretenderam apresentar uma alternativa no mesmo local, o Jardim Antero de Quental.

Foram escolhidos para o efeito Eduíno Simas e Eduardo Calisto, que estando numa “Janela da “Construtora” não chegaram a dar a conhecer a equipa porque gritaria e o barulho feito com latas velhas e outros objetos pela multidão concentrada no local não o permitiu.

Relativamente aos responsáveis pelo boicote à sessão, através da leitura dos relatórios da PSP e do presidente da Câmara Municipal em exercício não restam dúvidas de que eram partidários da Comissão proposta pelo Movimento Democrático. Assim, enquanto Orlando Brandão culpa diretamente o MD e estranha a presença de Manuel Barbosa e Renato Resendes, acusando-os de por meio de apaniguados trazerem pessoas de Água d´Alto e de Ponta Graça, o relatório da PSP refere que três autocarros de passageiros trouxeram pessoas daquelas localidades para boicotar a sessão e refere que um dos filhos de Alfredo Gago da Câmara e o filho de Elias Pimentel da Costa andaram pelas casas pedindo latas e panelas velhas e que o chefe dos Correios de Vila Franca assumiu a responsabilidade dos rapazes terem ido para a rua perturbar a manifestação.

Sobre quem assaltou o edifício da Câmara Municipal o Relatório da PSP, através do depoimento do subchefe João Gomes, identificou as seguintes pessoas:

“O FILHO DE ELIAS PIMENTEL DA COSTA, que foi o primeiro da entrar com ANTÓNIO DA SILVA, vendedor de peixe, UM FILHO DESTE empregado comercial, que trabalha com o Laurindo, OS DOIS FILHOS do Alfredo Moniz Gago da Câmara, UM TAL DIONÍSIO, chefe dos Correios, que esteve na varanda, O FILHO DA PENICA (Laiola), o MANUEL ou JOSÉ RAINHA, pescador e ADELINO PIMENTEL CASIMIRO, que foi visto sair da Secretaria do Tribunal acompanhado de um rapaz”.
Teófilo Braga

5 de dezembro de 2018



segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Notas Ecológoicas



NOTAS ECOLÓGICAS 1, 3 de dezembro de 2018

1- Cagarro Ave Regional dos Açores
Faltam 25 assinaturas para que esta petição ser enviada à Assembleia Legislativa dos Açores:

http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT87499&fbclid=IwAR0x8EOv_CzEN31DBtsoWWvzWMv1chUmNQMyHxwOe51RTOHjHXqaUAolnGI

Se concorda, assine ainda hoje!

2- Fraude científica para defender a tauromaquia
O sociólogo Luís Capucha, aldrabou para tentar justificar cientificamente a tauromaquia. Veja o texto aqui:
https://www.dn.pt/pais/interior/sociologo-acusado-de-instrumentalizar-revista-cientifica-para-defender-tauromaquia-10264241.html

3- Ética Aplicada: animais
Para quem quiser aprofundar o assunto recomendamos a leitura do livro “Ética Aplicada: Animais”, editado pelas Edições 70, em maio de 2018

Abaixo um resumo, em espanhol, que poder ser lido aqui: https://revistes.uab.cat/da/article/view/v9-n4-mendoca
La creciente concienciación respecto a la sensibilidad de los animales está derivando en cambios relevantes en la sociedad y un compromiso en auge para garantizar su bienestar. Portugal ha estado avanzando de forma sólida, aunque lenta, incluso a través de la aprobación de cambios legales que sitúan a los animales en el centro del escenario. El trabajo académico sigue siendo esencial para fortalecer los enfoques teóricos que son la base de estos cambios sociales y políticos. En este contexto, el libro portugués “Ética Aplicada – Animales” (traducción del autor) constituye una fuente importante para aprender y reflejar los principales temas relacionados con los animales. El libro abarca una amplia gama de temas desde el estatuto ético de los animales hasta la domesticación, los animales de compañía, la experimentación animal, la ganadería, el vegetarianismo, las especies amenazadas y el activismo. Esta reseña describe y analiza brevemente el contenido del libro.