quinta-feira, 28 de maio de 2020
terça-feira, 26 de maio de 2020
José Sebastião Ávila
Júnior e a Revista Pedagógica (1)
O
professor primário Ávila Júnior, da ilha Terceira, foi um dos colaboradores da
Revista Pedagógica, de Maria Evelina de Sousa, que se publicou na ilha de São
Miguel.
Republicano
antes da implantação da República, José Sebastião Ávila Júnior, teve uma
participação ativa na comunicação social da sua ilha. Com efeito, foi diretor
de O Académico, revista que se publicou em Angra do Heroísmo, em 1907, que,
entre outros, abordava temas educacionais, de O Alarme que se publicou, na
mesma cidade, em 1911, e no ano seguinte, dirigiu o semanário A Luta.
A
primeira participação como redator da Revista Pedagógica ocorreu no dia 9 de
novembro de 1911, com um texto intitulado A Escola e a República I. Nele, sem
poupar nas palavras, o autor dá a conhecer o que defende para a educação, isto
é, “a escola livre, a escola popular, em couraçarmos cuidadosamente a sociedade
de amanhã- a infância- que é incontestavelmente a base mais sólida em que a
República se há-de firmar e com a qual a Pátria há-de florescer
extraordinariamente e também em acordarmos, de mansinho, mas teimosamente, este
generoso povo narcotizado pela terrível indiferença, abatido por uma longa
servidão, envenenada pela mais que muito perigosa sífilis católica, quase
moralmente morto pelo desprezável e ignóbil jesuíta”.
A 16 de
novembro, Ávila Júnior dá continuidade ao texto, defendendo que é com a
educação do povo que a sociedade portuguesa se poderá transformar radicalmente
e ser implantada a verdadeira República. Não acreditando no retorno da
monarquia, Ávila Júnior era de opinião de que sem uma escola como deve ser o
futuro seria “uma república retintamente reacionária”.
Na
terceira parte do seu texto, publicado a 23 de novembro, Ávila Júnior critica a
“lei de instrução primária” da responsabilidade do governo republicano por
conter “coisas verdadeiramente horrorosas”, como permitir que “indivíduos não diplomados,
mas que exerciam o magistério particular à data da publicação da reforma”
continuassem a ser professores do ensino particular.
Se,
segundo ele, a medida era acertada para as grandes cidades onde havia
professores de qualidade, para o resto do país não, pois, as escolas
particulares eram “pseudoescolas -verdadeiros antros onde as crianças se
inutilizavam e pervertiam”. Ao permitir a sua continuação “e com a guerra
odienta e surda do padre, a escola oficial laica ficará deserta e as tenras
criancinhas, já tão supersticiosas lá irão agravar mais o seu lastimável estado
de ignorância com a perniciosa educação jesuítica desses perigosos covis
reacionários”.
A 30 de
novembro, Ávila Júnior começa a publicar uma série de artigos sobre a Lei de
Instrução Primária.
No
primeiro texto, Ávila Júnior critica o “liberticida” e “ditador carrasco” João
Franco que nada fez para melhorar a vida dos professores. No texto, o professor
da Terceira conta que João Franco, “esse homem sem talento, sem dignidade e sem
brio” despediu um grupo de professores, que foi recebido por ele para expor as
suas dificuldades, mandando-os cavar “batatas nas horas vagas para melhorarem a
sua situação”. No mesmo trabalho, Ávila Júnior mostra a sua desilusão com o
ministro António José de Almeida que “deu-nos uma lei deformada…que é apenas o
produto híbrido do avariado bestunto de algum ex-lente de teologia, que não a
reforma primária de que tanto carecemos”.
No dia
7 de dezembro, no segundo texto sobre a lei mencionada, que entregava às
Camaras Municipais a administração do
ensino, Ávila Júnior que era a favor da descentralização, levanta algumas
dúvidas, pois as futuras comissões administrativas serão eleitas pelo povo que
“é ignorante e ainda está, e continuará por muitos anos, subordinado ao
caciquismo, fiel aliado da reação religiosa que, tendo como primordial elemento
de vida a ignorância do povo, há-de guerrear tenazmente a instrução e a escola
e perseguirá cruelmente o professor liberal que lhe contraria os baixos
intuitos, porque sabe o que quer e para onde vai”.
Em
próximo artigo, continuaremos a divulgar o pensamento do professor Ávila Júnior
que foi perseguido na Monarquia e alvo de processo disciplinar na República.
Teófilo Braga
(Correio
dos Açores, 32141, 27 de maio de 2020, p.15)
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segunda-feira, 25 de maio de 2020
sábado, 23 de maio de 2020
sexta-feira, 22 de maio de 2020
quarta-feira, 20 de maio de 2020
terça-feira, 19 de maio de 2020
A propósito de Demografia e Ecofascismo
Numa altura em que em todo o mundo morrem
milhares de pessoas devido a uma pandemia é no mínimo de mau gosto virem
algumas aves agoirentas defender que o grande problema da Terra é o excesso
populacional.
Após a leitura de um pequeno texto de um
dos defensores da tese de que a mãe de todos os males do mundo está na
população, lembrei-me de um termo não muito usado entre nós, ecofascismo, que,
tal como muitos outros, tem servido para desacreditar o movimento ecologista.
O canadiano Murray Bookchin, que defende
que as sociedades devem ser organizadas em pequenas comunidades democráticas,
descentralizadas e sem hierarquias, classifica como ecofascistas os adeptos da
chamada ecologia profunda. A classificação de ecofascismo também pode ser usada
para identificar alguns grupos políticos “verdes” de extrema-direita com
(ainda?) muito pouca influência nas sociedades atuais.
Ainda sobre a designação ecofascimso,
António Cândido Franco, professor na Universidade de Évora, num pequeno texto
de apreciação ao livro “Colapso. Capitalismo Terminal, Transição Ecossocial,
Ecofascismo”, da autoria de Carlos Taibo, professor de Ciência Política na
Universidade Autónoma de Madrid, escreveu o seguinte:
“Foi
teorizada recentemente por Janet Biehl a partir das políticas que o Partido
Nacional Socialista alemão adaptou na década de 30 na Alemanha, com a proteção
legal de espécies animais, a criação de parques selvagens para usufruto de uma
elite e dum povo de escol, o germânico, uma política de natalidade controlada
pelo Estado, uma engenharia genética ao serviço do aperfeiçoamento duma minoria
mais forte e mais capaz e o uso massivo
da eutanásia como forma de liquidar com um mínimo de dor os fracos e os
doentes”.
Ainda sobre o caso alemão, sabe-se que no
interior do partido de Hitler existiu uma corrente “verde” que defendia o
renascimento da vida rural, o vegetarianismo ou a defesa dos animais, nem
sempre com sucesso, como se depreende do extrato de um texto William Gillis:
“Os nazistas certamente
acreditavam no ambientalismo e na redução drástica da “sobrepopulação” da
Europa e do mundo, mas eles eram tão comprometidos com a supremacia da raça
ariana mística assim como com o projeto de Estado- nação e a máquina de guerra
para poder realizar seus objetivos. Os nazis demandaram a agricultura orgânica,
mas não estavam destruindo todo o setor agrário. Na sua sede por poder,
construíram projetos infraestruturais gigantescos como a Autobahn (sistema de
rodovias), e uma enorme vigilância burocrática para, no final das contas, fazer
essa “harmonia com a natureza” não contar muito. Havia protestos internos dos
verdadeiros crentes ideológicos dentro do movimento nazista contra coisas como
drenagem de pântanos, mas mesmo assim isso foi levado a diante.”
Se
é verdade que o passado não se repete, também não é menos verdade que face à
crise global, de esgotamento dos recursos naturais e da conjugação de problemas
associados às alterações climáticas, podem surgir tentações de despotismo
“ecologista” como resposta à mesma, de modo a garantir a sobrevivência das
condições de vida das elites.
Sem
nunca pôr em causa os modos de produção e consumo e sem pugnarem por mais
justiça social, alguns adeptos do capitalismo verde, cansados de usar o
ultrapassado conceito de desenvolvimento sustentável associaram, recentemente, àquele
o da economia circular e continuam por aí a propor medidas de mitigação que só
adiam a solução dos problemas.
Tal
como no passado de má memória, para os adeptos atuais do ecofascismo, o grande
problema da Terra não é a injusta repartição da riqueza criada, mas sim o
excesso de habitantes. Face ao exposto, não estranharei se um dia destes, em
nome da salvação do Planeta não apareçam por cá alguns “verdes” a defender a
eutanásia dos mais desfavorecidos: a maioria dos habitantes dos países pobres,
os idosos e os incapacitados.
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, 32135, 20 de maio de 2020, p.12)
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segunda-feira, 18 de maio de 2020
domingo, 17 de maio de 2020
quinta-feira, 14 de maio de 2020
quarta-feira, 13 de maio de 2020
terça-feira, 12 de maio de 2020
Da cidadania e dos prémios escolares
Da cidadania e dos prémios escolares
“Minha avó queria que eu me educasse, por isso jamais me deixou ir à
escola” (Margaret Mead)
Hoje, nas escolas há dois temas que são
discutidos, o da Educação para a Cidadania e o da bondade ou não dos prémios
escolares.
Sobre o primeiro,
considero que a cidadania não se transmite em aulas específicas, mas deve ser
praticada na escola e na sociedade em que vivemos.
De igual modo não
considero que a escola, a nadar contra a maré (será que o faz ou nada ao sabor
da corrente da maioria amorfa da comunidade onde está inserida?), seja um instrumento
de mobilidade social. Sobre este assunto a socióloga Maria Filomena Mónica, em
entrevista ao Jornal Público, no dia 20 de março de 2014, afirmou: “Nos anos a seguir ao 25 de Abril, acreditava-se que a
escola devia servir de instrumento de mobilidade social. A prova de que isso
não funcionou é que continuamos com a maior taxa de desigualdade social da
Europa: o rendimento médio dos 20% mais ricos é sete vezes superior ao dos 20%
mais pobres, enquanto a média europeia é de quatro”.
Nos
Açores, parece-nos que a situação será semelhante, se não for pior do que no
resto do território nacional. Com efeito, consultando as estatísticas,
verifica-se que “é nos Açores que a desigualdade é mais acentuada na
distribuição de riqueza em Portugal” (Correio dos Açores, 8 de maio de 2029).
Quanto ao papel da
disciplina de Cidadania e de outras afins no que diz respeito à alteração de mentalidades tenho também as
minhas dúvidas, pois uma disciplina não consegue combater todos os meios
informação acessíveis aos alunos que são para eles mais atraentes, como a
televisão ou a internet?
Ainda no que toca à disciplina de Cidadania, que formação
receberam os docentes? Que critérios são seguidos para a atribuição da mesma a
alguns docentes e não a outros? Não tendo recebido qualquer formação, que
experiência de participação cívica (ou política) têm os docentes da mesma para
partilhar com os alunos?
A outra questão que considero
polémica, mas que é muito pouco contestada, é a atribuição pelas escolas de
prémios de excelência aos alunos pelo seu desempenho escolar. Embora não tenha
dados, que não serão nada difíceis de obter, parece-me que os alunos excelentes
são, com raras exceções, filhos de pais excelentes, em termos da sua situação
financeira ou do seu grau de escolaridade.
Face ao exposto,
podemos refletir sobre a chamada igualdade de oportunidades. Sobre a mesma, no
seu livro “A escola está morta”, Everett Reimer escreveu: “…Todo o mundo
entende o significado de igualdade de oportunidades. Se assim é, por que
esconder a verdade? Chamem-na loteria social. Em verdade, é uma loteria social-
jogada com dados viciados, onde cada criança tem tantas oportunidades de vencer
quantos forem os dólares na conta bancária de seu pai”.
Sobre os prémios
escolares creio que parece serem mais importantes para os pais do que para os
alunos, já que não vejo estes a vangloriarem-se por os terem recebido e, pelo contrário,
vejo alguns pais a fazerem a sua divulgação nas redes sociais.
Se não ponho em causa
o facto de todos devermos reconhecer os bons resultados e incentivar quem,
sobretudo com esforço próprio os alcançam, acho totalmente desnecessárias as
cerimónias para a atribuição de prémios.
José
Fontana da Silveira, na Revista Pedagógica de Maria Evelina de Sousa, no dia 19
de dezembro de 1912, manifestou a sua discordância com os prémios como estímulo
aos alunos porque “recompensar o dever, a virtude é sempre um mal: a consciência é o único juiz das nossas ações
que legisla, ou antes deve legislar, sem o anseio de qualquer prémio material.
Além disso o premiado está sempre em risco de ser atacado do desejo de superioridade
sobre os outros, que muitas vezes não podem atingir o nivelamento do colega
premiado por uma questão de pobreza física ou intelectual, faltas de que não
tem culpa”.
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, 32129, 13 de maio de 2020, p.12)
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domingo, 10 de maio de 2020
quinta-feira, 7 de maio de 2020
quarta-feira, 6 de maio de 2020
A propósito da batata-doce e do género Ipomoea
A propósito da batata-doce e do género Ipomoea
De acordo com uma “Lista das Plantas
Vasculares (Tracheobionta)” da autoria de Luís Silva, Mónica Moura, Hanno
Scherfer e Elisabete F. Dias, nos Açores, do género Ipomoea, existem as
seguintes espécies: Ipomoea imperati, Ipomoea indica (Bons-dias)
e Ipomoea batatas (Batata-doce).
De acordo com os mesmos autores,
no nosso arquipélago, a Ipomoea imperati não está presente nas seguintes
ilhas: Flores, Corvo, Graciosa, São Jorge e Santa Maria. A Ipomoea indica
apenas não existe na ilha do Corvo.
Através da consulta do Catálogo
das Plantas Vasculares dos Açores, de Ruy Telles Palhinha, editado em 1966,
verifica-se que apenas são referidas a Ipomoea imperati e a Ipomoea
batatas, o que nos leva a concluir que a Ipomoea indica é de
introdução mais recente. Para além
destas espécies é bem possível que existam outras cultivadas em jardins e
quintais.
A Ipomoea imperati, do Sul
da Europa, é rara, com poucas populações e aparece geralmente em locais
arenosos perto da costa. A Ipomoea indica, do Sul e Centro da América, aparece
sobretudo em locais de mais baixa altitude, abaixo dos 400 metros, em arribas,
terrenos cultivados ou em bosques de incensos e outras exóticas.
A Ipomoea indica está
incluída na “Flora e Fauna Terrestre Invasora na Macaronésia- TOP 100 nos
Açores, Madeira e Canárias”, publicação que tem como editores Luís Silva,
Elizabeth Land e Juan Luengo.
De acordo com a informação
constante no livro acima mencionado, a Ipomoea indica tem: “Reprodução
assexuada (fragmentos do caule; nos Açores não produz semente). Introdução
intencional (ornamental). Dispersão natural por propagação vegetativa,
fragmentos do caule transportados acidentalmente. Utilização como ornamental.”
Para além dos impactos nos habitats e nos espaços protegidos, a espécie afeta
algumas espécies da nossa flora, como a urze (Erica azorica), o tamujo (Myrsine
africana), a faia (Morella faya) e o alegra-cão ou alegra-campos (Smilax
canariensis).
No que diz respeito à batata-doce
(Ipomoea batatas), segundo uma nota publicada no nº 12 do Boletim da
Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, assinada por C.F.,
já existia em São Miguel e na Terceira, desde o século XVI e o seu cultivo
generalizado só ocorreu nas Flores e no Corvo na segunda metade de 1800.
De acordo com Gaspar Frutuoso, a
sua introdução em São Miguel terá começado em Vila Franca do Campo, em casa de
Sebastião Pires, através de “umas pequenas batatas, delgadas e murchas” que
foram oferecidas a sua mulher por passageiros de uma nau das Índias de Castela
que ficaram em sua casa.
A geógrafa Raquel Soeiro de
Brito, no seu livro “São Miguel a Ilha Verde”, apresenta um pequeno texto sobre
o seu cultivo em São Miguel, onde descreve as duas fases: a dos canteiros, em
março, e a da plantação no seu local definitivo, de maio a julho.
A batata-doce foi cultivada para
servir de matéria prima para a indústria do álcool e para a alimentação humana.
Em Vila Franca do Campo, a que era de inferior qualidade, também, era usada na
alimentação dos porcos.
Hoje, produzida em pequenas
áreas, em toda a ilha de São Miguel, geralmente para autoconsumo, de acordo com
a geógrafa referida, o núcleo principal da sua cultura foi a área de
Arrifes-Relva, seguida da de Lagoa-Água de Pau e da de Ginetes-Feteiras.
Para além do tubérculo ser rico
em vitaminas, A, C e E, e possuir nutrientes como potássio, cálcio e ferro, a
batata-doce é analgésica, anti-inflamatória e antioxidante, antirreumática e
emoliente.
Yolanda Corsépius no seu livro “Algumas
Plantas Medicinais dos Açores”, publicado em 1997, refere que “a polpa cozida e
amassada, aplica-se morna sobre as partes inflamadas”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores,
32123, 6 de maio de 2020, p. 12)
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