A propósito da batata-doce e do género Ipomoea
De acordo com uma “Lista das Plantas
Vasculares (Tracheobionta)” da autoria de Luís Silva, Mónica Moura, Hanno
Scherfer e Elisabete F. Dias, nos Açores, do género Ipomoea, existem as
seguintes espécies: Ipomoea imperati, Ipomoea indica (Bons-dias)
e Ipomoea batatas (Batata-doce).
De acordo com os mesmos autores,
no nosso arquipélago, a Ipomoea imperati não está presente nas seguintes
ilhas: Flores, Corvo, Graciosa, São Jorge e Santa Maria. A Ipomoea indica
apenas não existe na ilha do Corvo.
Através da consulta do Catálogo
das Plantas Vasculares dos Açores, de Ruy Telles Palhinha, editado em 1966,
verifica-se que apenas são referidas a Ipomoea imperati e a Ipomoea
batatas, o que nos leva a concluir que a Ipomoea indica é de
introdução mais recente. Para além
destas espécies é bem possível que existam outras cultivadas em jardins e
quintais.
A Ipomoea imperati, do Sul
da Europa, é rara, com poucas populações e aparece geralmente em locais
arenosos perto da costa. A Ipomoea indica, do Sul e Centro da América, aparece
sobretudo em locais de mais baixa altitude, abaixo dos 400 metros, em arribas,
terrenos cultivados ou em bosques de incensos e outras exóticas.
A Ipomoea indica está
incluída na “Flora e Fauna Terrestre Invasora na Macaronésia- TOP 100 nos
Açores, Madeira e Canárias”, publicação que tem como editores Luís Silva,
Elizabeth Land e Juan Luengo.
De acordo com a informação
constante no livro acima mencionado, a Ipomoea indica tem: “Reprodução
assexuada (fragmentos do caule; nos Açores não produz semente). Introdução
intencional (ornamental). Dispersão natural por propagação vegetativa,
fragmentos do caule transportados acidentalmente. Utilização como ornamental.”
Para além dos impactos nos habitats e nos espaços protegidos, a espécie afeta
algumas espécies da nossa flora, como a urze (Erica azorica), o tamujo (Myrsine
africana), a faia (Morella faya) e o alegra-cão ou alegra-campos (Smilax
canariensis).
No que diz respeito à batata-doce
(Ipomoea batatas), segundo uma nota publicada no nº 12 do Boletim da
Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, assinada por C.F.,
já existia em São Miguel e na Terceira, desde o século XVI e o seu cultivo
generalizado só ocorreu nas Flores e no Corvo na segunda metade de 1800.
De acordo com Gaspar Frutuoso, a
sua introdução em São Miguel terá começado em Vila Franca do Campo, em casa de
Sebastião Pires, através de “umas pequenas batatas, delgadas e murchas” que
foram oferecidas a sua mulher por passageiros de uma nau das Índias de Castela
que ficaram em sua casa.
A geógrafa Raquel Soeiro de
Brito, no seu livro “São Miguel a Ilha Verde”, apresenta um pequeno texto sobre
o seu cultivo em São Miguel, onde descreve as duas fases: a dos canteiros, em
março, e a da plantação no seu local definitivo, de maio a julho.
A batata-doce foi cultivada para
servir de matéria prima para a indústria do álcool e para a alimentação humana.
Em Vila Franca do Campo, a que era de inferior qualidade, também, era usada na
alimentação dos porcos.
Hoje, produzida em pequenas
áreas, em toda a ilha de São Miguel, geralmente para autoconsumo, de acordo com
a geógrafa referida, o núcleo principal da sua cultura foi a área de
Arrifes-Relva, seguida da de Lagoa-Água de Pau e da de Ginetes-Feteiras.
Para além do tubérculo ser rico
em vitaminas, A, C e E, e possuir nutrientes como potássio, cálcio e ferro, a
batata-doce é analgésica, anti-inflamatória e antioxidante, antirreumática e
emoliente.
Yolanda Corsépius no seu livro “Algumas
Plantas Medicinais dos Açores”, publicado em 1997, refere que “a polpa cozida e
amassada, aplica-se morna sobre as partes inflamadas”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores,
32123, 6 de maio de 2020, p. 12)
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