terça-feira, 27 de novembro de 2018

Podas vergonhosas


Uma vergonha que se repete ano após ano e não nenhum responsável que ponha cobro a isto?

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Os limites da autonomia dos professores nas escolas


Com os pés na terra (394)
Os limites da autonomia dos professores nas escolas

De acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo “é da especial responsabilidade do Estado promover a democratização do ensino, garantindo o direito a uma justa e efectiva igualdade de oportunidades no acesso e sucesso escolares”.

Segundo a mesma lei o sistema educativo está organizado de modo a “Contribuir para desenvolver o espírito e a prática democráticos, através da adopção de estruturas e processos participativos na definição da política educativa, na administração e gestão do sistema escolar e na experiência pedagógica quotidiana, em que se integram todos os intervenientes no processo educativo, em especial os alunos, os docentes e as famílias.

Se analisarmos os resultados escolares facilmente se concluirá que não basta alargar a escolaridade obrigatória para garantir que todos ou pelo menos a grande maioria dos alunos que frequenta a escola tem índices de aproveitamento elevados. Em sumo, se o acesso está democratizado, a igualdade de oportunidades no sucesso ainda é uma miragem.

Relativamente à democracia nas escolas, podemos afirmar que é apenas formal. A título de exemplo, menciono o caso dos pais que estão representados no Conselho Pedagógico, onde, como é obvio, se tratam ou deviam tratar de assuntos de natureza pedagógica, não tendo para tal, salvo raras exceções, formação para o efeito e não estão representados no concelho executivo, onde deviam estar, pois a razão de existência da escola é haver alunos.

Ainda em relação à democracia, numa escola, tal como devia acontecer na sociedade, só faz sentido uma democracia participada e o mais direta possível, para não excluir ninguém.

Relativamente à participação e autonomia dos docentes, o Estatuto da Carreira Docente dos Açores (ECDRAA) define que o “direito de participação exerce -se no âmbito do sistema educativo regional, da escola, da aula e da relação entre a escola e a comunidade que ela serve” e compreende, entre outros, “o direito à autonomia técnica e científica através da liberdade de iniciativa, no âmbito da orientação pedagógica, a exercer no quadro das orientações curriculares e planos de estudo aprovados e dos projetos educativos das escolas, na escolha dos métodos de ensino, das tecnologias e técnicas de educação e dos tipos de meios auxiliares de ensino mais adequados” e “o direito de participar em experiências pedagógicas, bem como nos respetivos processos de avaliação”.

No que diz respeito aos deveres dos professores para com os alunos, o ECDRAA, entre outros destaca a promoção do desenvolvimento do rendimento escolar dos alunos e a qualidade das aprendizagens, de acordo com as respetivas orientações curriculares e atendendo à diversidade dos seus conhecimentos e aptidões e organizar e gerir o processo de ensino e aprendizagem, adotando estratégias de diferenciação pedagógica suscetíveis de responder às necessidades individuais dos alunos”.

O regime jurídico da criação, autonomia e gestão das unidades orgânicas do sistema educativo (Decreto Legislativo Regional nº 13/2013/A de 30 de agosto) por sua vez estabelece que compete à unidade orgânica “proceder à aferição dos critérios de avaliação dos alunos, garantindo a sua coerência e equidade e desenvolver métodos específicos de avaliação dos alunos, sem prejuízo da aplicação dos normativos gerais”.
Desconheço o entendimento que a tutela da Educação dá a “aferição dos critérios de avaliação”, mas parece-me que nas escolas tal é entendido como uma mesma grelha de excell usada na avaliação dos alunos para todas as turmas, pelo menos para cada um dos departamentos curriculares.
A opção por uma única grelha de avaliação para todos os alunos para mim é tão absurda como o é a planificação anual ou periódica igual para toda a escola quando as turmas são completamente diferentes.

Teófilo Braga
Pico da Pedra, 27 de novembro de 2018

terça-feira, 20 de novembro de 2018

ALICE MODENO E MARIA EVELINA DE SOUSA HOMENAGEADAS EM LISBOA


ALICE MODENO E MARIA EVELINA DE SOUSA HOMENAGEADAS EM LISBOA

Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa foram duas mulheres que se distinguiram no seu tempo, tendo o seu trabalho em diversas áreas sido reconhecido não só no arquipélago como fora dele.

Se sobre Alice Moderno há várias obras publicadas, com destaque para três livros da Professora Doutora Maria da Conceição Vilhena, a vida e a obra de Maria Evelina de Sousa está muito longe de ser conhecida, entre nós açorianos.

Injustamente ignorada ou vista como uma “ajudante” de Alice Moderno Maria Evelina de Sousa teve um pensamento próprio e uma intervenção inovadora na área da educação, sendo de destacar a sua Revista Pedagógica que já serviu de tema a uma desse de mestrado de Isolina Júlia dos Reis e Reis de Medeiros, intitulada “Revista Pedagógica (1906-1916). A modernidade do Pensamento Pedagógico em São Miguel nos Inícios do Século XX”, que merece uma leitura atenta.

No texto de hoje, damos a conhecer dois eventos, ocorridos em Lisboa, em que as duas açorianas foram homenageadas. Assim, Alice Moderno, açoriana pelo coração, já que nasceu em Paris, e Maria Evelina de Sousa, natural de Ponta Delgada, foram alvo de reconhecimento público, em agosto de 1912, na sede da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e em maio de 1924, por ocasião do 1º Congresso Feminista e de Educação que se realizou de 4 a 9 de maio.

A primeira homenagem referida foi amplamente noticiada pela imprensa lisboeta, tendo “O Mundo”, dirigido por França Borges, publicado uma notícia no próprio dia e no dia a seguir ao evento. Na nota publicada, no dia 10 de agosto, dia da homenagem, podemos ler o seguinte: “É hoje, como noticiamos, que se realiza na sede da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas uma sessão de homenagem às distintas escritoras D. Maria Evelina de Sousa e D. Alice Moderno, a última das quais é sobretudo uma notável poetiza…”

A segunda, como já afirmámos ocorreu no 1º Congresso Feminista e de Educação, na sequência da intervenção de Tito de Sousa Larcher que mencionou o facto de que nos Açores, de acordo com os dados estatísticos, havia mais mulheres do que homens a saber ler. Aquele ilustre cidadão nascido em Braga, mas que se distinguiu pelo seu trabalho em Leiria, onde doou à Biblioteca e Arquivo Distrital cerca de 3200 obras, propôs “um voto de saudação às mulheres açoreanas que, no meu entender, deve partir da mesa, dada a alta categoria social do seu presidente.”

A congressista Judith Rocha associou-se às palavras de Tito Larcher e recordou os nomes de Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa. A sua intervenção, transcrita no livro “O Primeiro Congresso Feminista e de Educação (Relatório)” da autoria de Arnaldo Brazão, publicado pelas Edições Spartacus, em 1925, foi a seguinte:

“A propósito das considerações do Sr. Titi de Sousa Larcher, das quais se vê que a mulher açoreana é menos analfabeta que o homem, eu quero lembrar o nome de duas propagandistas do feminismo e da educação da mulher nos Açores, as senhoras D. Alice Moderno e D. Maria Evelina de Sousa, e apresento a seguinte proposta de aditamento à do Sr. Tito Larcher:

Proponho que dessa saudação proposta à mulher açoreana se destaquem os nomes das dedicadas propagandistas da instrução e das reivindicações feministas a professora D. Maria Evelina de Sousa e a poetisa D. Alice Moderno.”


A saudação não só foi aprovada como o presidente da mesa, Bernardino Machado, que foi presidente da República Portuguesa por duas vezes, de 6 de agosto de 1915 a 5 de dezembro de 1917 e de 1925 até ser destituído pelo golpe militar de 26 de maio de 1926, a propósito da mesma, afirmado o seguinte:

“Associo-me com todo o prazer ao aditamento apresentado pela ilustre congressista Srª D. Judith Rocha, saudando as Sras. D. Alice Moderno e D. Maria Evelina de Sousa.”

Teófilo Braga
Pico da Pedra, 20 de novembro de 2018

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Jardim dentro de Jardim


Jardim dentro de Jardim

O Jardim José do Canto é membro do “Botanic Gardens Conservation International”, qualidade que foi recuperada em 2016, durante a implementação de um projeto de recuperação e revitalização, coordenado pelo Doutor Raimundo Quintal, que ocorreu entre janeiro de 2014 e dezembro de 2017.

Para pertencer ao organismo referido os jardins devem promover ações de sensibilização/ educação e possuir nas suas coleções de plantas, espécies nativas da região onde estão inseridos.

Embora já existissem, no Jardim José do Canto, espécies endémicas dos Açores, como o pau-branco, existindo um exemplar bastante antigo que pode ser visto muito perto do busto do rei D. Carlos, durante o projeto de recuperação foi criado, junto à estátua do criador do Jardim, José do Canto, um espaço para os endemismos açorianos.

Antes de fazer uma listagem das espécies endémicas existentes, sempre que possível mencionando os usos das mesmas no passado, apresento o ponto da situação da flora açoriana, recorrendo ao livro “Flora Vascular dos Açores-Prioridades em Conservação”, da autoria de Luís Silva, Mónica Martins, Graciete Maciel e Mónica Moura, publicado pelo Centro de Conservação e Proteção do Ambiente e pelos Amigos dos Açores, em 2009.

De acordo com os autores mencionados, “o número actual de plantas vasculares nos Açores será de aproximadamente 947 taxa”, sendo o número de espécies nativas reduzido (menos de 300) e o das endémicas bastante reduzido, isto é, 72, cerca de 7,2% do total das plantas vasculares. Os mesmos autores referem que “mais de dois terços da flora indígena açoriana, um património natural único dos Açores, corre sérios riscos de desaparecimento.”

Se é verdade que as plantas têm de ser protegidas nos seus habitats, não é menos verdade que ninguém protege o que não conhece, pelos que a presença de espécies endémicas nos jardins poderá contribuir para criar uma mais forte consciência ambiental nos cidadãos que poderão agir em defesa do património natural da sua terra ou pressionar as entidades governamentais para o fazerem.

No Jardim José do Canto, se não me enganei na contagem, existem cerca de 20 espécies nativas dos Açores, sendo o número de endémicas cerca de 15.

Que plantas endémicas pode o visitante observar?

Entre outras, as seguintes:

A mais interessante, a Vidália (Azorina vidalii), que ao contrário do que diziam alguns especialistas, propaga-se com extrema facilidade, podendo ser encontrada hoje em locais onde antes não existia, como o litoral da cidade da Ribeira Grande, o litoral de Ponta Delgada (entre a Praia das Milícias e o Miradouro do Rosto do Cão) e no Ilhéu de Vila Franca do Campo. Muito bonita como ornamental, encontra-se em alguns Jardins Botânicos fora dos Açores.

A ginja-do-mato (Prunus azorica), também é uma bonita ornamental, que também já pode ser vista em alguns jardins. A sua madeira foi, outrora, usada em marcenaria.

O azevinho (Ilex perado), que quando está com os seus frutos maduros, fica muito bonito, tem grandes potencialidades como planta ornamental, No passado a sua madeira foi usada em obras de marcenaria.

O louro (Laurus azorica), hoje, tem pouca utilização. No passado a sua madeira era utilizada para o fabrico de charruas e cangas para as juntas de bois e o óleo da baga de louro foi usado na iluminação e como remédio para curar feridas no gado.

O folhado (Viburnum treleasei) é uma bonita planta ornamental cuja madeira foi muito usado no fabrico de alfaias agrícolas.

O cedro-do-mato (Juniperus brevifolia) que foi usado em tinturaria e a sua madeira na construção de igrejas e barcos.

Teófilo Braga

13 de novembro de 2018

Gagarro 2018

Depois de ter estado envolvido na origem das campanhas de salvamento do cagarro, pensava que com a entrada em cena de muitos voluntários, alguns à força, estava dispensado. Mas, mais uma vez este ano não deixei para os outros o que foi possível fazer.

Hoje, foi a vez de um cagarro que se encontrava na Escola Secundária das Laranjeiras.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Encontro com uma profissão de Eduardo Calisto de Amaral (2)


Encontro com uma profissão de Eduardo Calisto de Amaral (2)

“A vida só é bela quando é uma empresa em benefício de outros homens e do mundo” (Agostinho da Silva)

Hoje, divulgamos a segunda parte da nota introdutória que fizemos ao livro “Encontro com uma profissão” da autoria do professor Eduardo Calisto de Amaral.

Embora por vezes contando a colaboração da Direção de Obras Públicas e da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, todas as melhorias feitas na Escola da Ribeira Seca não seriam possíveis sem o muito trabalho voluntário de professores, contínuos e alunos, de muitos donativos e de receitas obtidas através de várias iniciativas.

Para além da lição que dá às presentes gerações e às futuras, o de contar sempre com as próprias forças, outra lição se pode tirar do que foi feito na Escola da Ribeira Seca e que mostra o pioneirismo e a ousadia de quem lá trabalhava, isto é, tendo sempre em conta o supremo interesse da educação e dos direitos das crianças, como sempre aconteceu, por vezes houve necessidade de desobedecer, como ocorreu quando foi decidido fechar os alpendres para “ver as crianças abrigadas em dias de chuva e vento” e fazer e manter uma ligação entre os recreios masculino e feminino, apesar de um vereador da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo ter dito que tal era ilegal e afirmado: “Vocês têm de fechar isso novamente”.

O professor catedrático Rogério Fernandes escreveu que depois do 25 de abril o professor deveria não só ser um transmissor de conhecimentos, mas também um dinamizador cultural do meio onde estava inserido. Sobre as funções dos professores, quer pela leitura do texto, quer pelo conhecimento pessoal, já que fui aluno da Escola da Ribeira Seca e morador na localidade, confirmo que o professor Eduardo Calisto não esperou pela instalação do regime democrático, nem pela nomeação do ministro Veiga Simão, onde segundo ele “tudo começaria a mudar, nesta altura, quer a nível pedagógico, quer até de ordenado”, para dinamizar o desporto e a cultura nas escolas e comunidades por onde passou. Com efeito, no Porto Formoso dinamizou o teatro e o voleibol, em Ponta Garça, colaborou nos ensaios “cujos números eram apresentados em Festas Escolares no salão ao lado da Igreja”, e na Ribeira Seca, através de uma peça de teatro e um ato de variedades que esteve em cena, para além do ensaio geral destinado às famílias, cinco vezes.

Não sei se o professor Eduardo Calisto alguma vez leu algum texto do pedagogo Álvaro Viana de Lemos, mas por aquilo que fez nas escolas e nas comunidades sou levado a concluir que para ele ser professor era muito mais do que ensinar a ler, a escrever e a contar pelo que seria capaz de subscrever a frase que aquele um dia proferiu: “A educação é tudo; a instrução quase nada!”

Para além da educação para a responsabilidade e para o gosto em cultivar e amar a terra, o professor Eduardo Calisto refere no seu livro que o prazer das crianças era tanto que preferiam “o amanho da terra”, esquecendo-se de “toda a sorte de brincadeiras” e acrescenta que “um dos pequenos, de nome Teófilo Feitor de Andrade chegava em férias a ir sozinho arranjar os terrenos, sem que para tal tivesse sido mandado por alguém”. Este relato lembra-me um dos grandes objetivos de quem quer verdadeiramente educar, que é o de promover a autonomia das crianças e recorda-me a frase de Rui Grácio: “os mestres são os que criam, ou libertam, a autonomia dos discípulos”.

Recomendo a leitura deste livro que é importante para a história do ensino na nossa Vila e apelo a todos os seus colegas para que também partilhem as suas memórias.

Depois de, por duas vezes, ter lutado para que o professor Eduardo Calisto Soares de Amaral fosse homenageado por tudo o que fez pela sua terra, destacando a obra realizada na minha freguesia, a Ribeira Seca, termino, reafirmando a minha profunda admiração pelo cidadão, pelo educador e pelo humanista que estará sempre entre nós.

Teófilo Braga

sábado, 3 de novembro de 2018

Jogos da minha infância (3)


Ferro Quente

É um jogo de um contra todos os outros, em número que pode variar.

Depois de escolhida um marco ou base que podia ser uma árvore, uma parte de uma parede que passa a chamar-se ferro quente um dos participantes que também passa a designar-se por ferro quente fica encostado e conta até um número combinado previamente.

Terminada a contagem o ferro quente corre com o objetivo de apanhar os outros que por sua vez tentam chegar ao marco sem serem apanhados, ganhando assim a imunidade. Quando um deles é apanhado vai substituir o ferro quente, prosseguindo assim o jogo.

Na Ribeira Seca um dos locais escolhidos para ferro quente era o Arco.