terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Exames


Exames

1- Estamos mal

É verdade que todos os “rankings” valem o que valem e ainda não se percebeu bem para que servem os elaborados anualmente com os resultados dos exames nacionais.

O seu objetivo é permitir o reconhecimento do trabalho das escolas que ficam bem posicionadas e fazer o ponto da situação para quem não está bem, estimulando a trabalhar melhor com vista a superar as dificuldades ou, pelo contrário, é apenas apontar o dedo e ostracizar quem está nos últimos lugares?
O que é certo, independentemente dos critérios usados, é que as escolas dos Açores uma vez mais ficaram muito mal posicionadas, obtendo as piores médias em diversos exames nacionais da maioria dos anos de escolaridade em que esses se realizam.
A título de exemplo, apresentam-se a seguir alguns dados relativos ao sexto e ao nono ano de escolaridade.
No nono ano de escolaridade, a ilha de São Miguel apresenta quatro escolas, entre as dez piores do país, posicionando-se a Escola Básica Integrada de Rabo de Peixe em penúltimo lugar e a Escola Básica Integrada de Água de Pau em último.
No sexto ano de escolaridade, a situação é semelhante, isto é, a ilha de São Miguel volta a estar, através de duas escolas, uma delas em penúltimo lugar, entre as dez piores do país.
Os resultados dos exames, nada bons para os Açores, que se vêm repetindo, com ligeiras alterações, ano após ano mereciam uma reflexão profunda e uma ação eficaz no sentido da melhoria de uma efetiva aprendizagem dos jovens açorianos.
Do nosso ponto de vista, procurar as causas apenas na escola, que é o que se tem feito até aqui, é um erro gravíssimo, já que esta não é mais do que o reflexo da sociedade onde está inserida.
Além disso, se não se altera nada, nem na escola nem, sobretudo, na sociedade, leva-nos a pensar que há gente interessada em que a pobreza cresça e a ignorância se generalize.
2- Sempre estivemos mal?

Em 1935, o Dr. Lúcio Miranda, professor de matemática do Liceu de Ponta Delgada, num texto intitulado “Malhando em ferro frio”, publicado no Correio dos Açores, a propósito do elevado número de reprovações em alunos que foram propostos a exame, reflete sobre o assunto e apresenta algumas razões para tal. A dado passo escreve ele “àparte as causas externas” que foram apresentadas noutro texto pelo Dr. Riley da Motta, “a culpa da catástrofe é bastante nossa: dos professores, dos alunos e das famílias”.

No que diz respeito aos professores, o Dr. Lúcio Miranda defende que o professor deve abandonar “toda a atitude de exagerada benevolência”, devendo colocar “primeiro o culto intransigente do dever; depois, se for possível, a conquista da popularidade”.

O aluno, por seu turno, deve dedicar-se à escola em “full-time” e acrescenta que “Infelizmente o nosso estudante português tem um sem número de distrações alheias à vida escolar, que dispensam a sua atenção, neutralizam os efeitos do estudo e entorpecem o vigor discente”. Se era assim em 1935, o que dizer da situação atual!

Quanto aos pais, o Dr. Lúcio Miranda escreve: “Todos os dias, com regularidade e desvelo, o pai zeloso deve cuidar das obrigações do filho. A tarefa é por vezes ingrata, mas é benéfica – e toda a rotina se torna suave, se tivemos bem presente que os fartotes de ciência, em vésperas de exame ou no último ano do curso, não compensam o “deficit” de anos sucessivos de cabulice, vencidos à custa de inconfessáveis malabarismos ou da criminosa tolerância dos mestres”.

Com a degradação social que vimos assistindo, nos últimos anos, quantos pais têm condições em termos de conhecimentos, de tempo ou motivação para acompanhar os filhos?
Por que se insiste, ainda hoje, no facilitismo que é o de deixar transitar de ano um aluno com várias classificações negativas no ensino básico?
Para adiar o problema ou para adornar as estatísticas?
Teófilo Braga
(Correio dos Açores nº 30501, de 3 de Dezembro de 2014, p.14)

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