quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sobre a Greve geral de amanhã




A greve geral possível, mas não a necessária

Amanhã, 24 de Novembro, uma greve geral sai de um parto difícil exigido pelas ruas e com as burocracias sindicais a resistirem até ao fim! Hoje, como há 100 anos, reclama-se contra a carestia de vida, mas, ao contrário do que aconteceu na emblemática e trágica greve geral de Novembro de 1918, as greves já não reivindicam direitos para os trabalhadores mas a não abolição dos direitos que ainda restam da guerra de classes que o Capital tem vindo a ganhar em toda a linha. Nesta em particular, as baterias estão apontadas para o aumento do IVA em bens essenciais, para o aumento dos transportes públicos, para o corte de 50% nos subsídios de natal deste ano, para o corte total dos subsídios da função pública nos dois próximos anos... Não se exige nada a não ser que o roubo seja parado, num registo que perdoa o que já foi roubado.

Para os trabalhadores que nunca viram subsídio de natal ou de férias algum, que sobrevivem à margem dos sindicatos, sem contrato de trabalho, trabalhadores por conta doutrém e que declaram rendimentos por conta própria e, mesmo para muitos dos que têm o tipo de emprego a que se chamava “seguro”, "greve" é, cada vez mais, uma palavra sem significado exequível. De repente, a dúvida sobre o amanhã, a ameaça de desemprego, estão tão presente entre todos que não há passo que seja dado sem a ter em conta. Urgem formas de integrar os protestos de quem “não pode” fazer greve.
Mas uma greve é uma greve, um dos instrumentos mais antigos e poderosos da classe trabalhadora e esta é apenas a terceira geral neste país a seguir a 1974, a primeira em que, mais do que uma luta de trabalhadores, se espera um adesão de cidadãos empobrecidos, em que os problemas do vizinho passaram a ser os nossos. Pela primeira vez, uma greve contará com o apoio concreto de movimentos sociais, nomeadamente os apelidados de indignados e, ao contrário do que aconteceu há um ano, terá concentrações em todas as capitais de distrito.

Neste contexto, a adesão é uma incógnita, apesar de se saber já, mais ou menos, o que ela significará em termos de vida concreta no dia de amanhã. Mas, independentemente de tudo isso, não será com uma greve que se destronará o governo ou que se conseguirá um novo 25 de Abril que volte a pôr o poder nas mãos de quem o deveria ter em democracia: o povo. Aliás, se a greve for semelhante ao que têm sido greves anteriores, não passará dum ritual domesticado de legitimação dos sindicatos, sendo a grande válvula de segurança do regime, porque contém os protestos em espaços ritualizados. A este respeito, Rui Ramos, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, diz que “se a CGTP não conseguir conter os protestos, isso será um sinal claro que há um descontentamento que transborda e que está para além deste aspecto ritual que as greves gerais costumam representar”.

Fonte: http://pt.indymedia.org/conteudo/editorial/6112

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