quarta-feira, 22 de outubro de 2014
Ferrer i Guardia
Francisco Ferrer i Guardia
Francisco Ferrer i Guàrdia (1859-1909) foi um pedagogo catalão que criou a Escola Moderna que funcionava tendo por base uma pedagogia libertária.
As ideias do anarquista Ferrer, sobretudo após a sua morte, influenciaram a abertura de outras escolas em diversos países, como a Voz do Operário, em Lisboa, e serviram de inspiração a diversos pedagogos, como o brasileiro Paulo Freire.
Num texto datado de 1 de Junho de 1907, transcrito na “Vida Nova”, revista quinzenal – órgão do Operariado Micaelense, Francisco Ferrer afirma que o sistema de ensino da Escola Moderna “combate as guerras fratricidas”, “combate a exploração do homem pelo homem, combate a relegação em que tem a mulher e combate todos os inimigos da harmonia humana como são a ignorância, a maldade, a soberba e outros vícios e defeitos que têm dividido os homens em tiranos e em tiranizados”.
Francisco Ferrer foi condenado à morte e fuzilado, a 13 de Outubro de 1909, por ter sido, injustamente, acusado de ser o instigador da revolta popular da Semana Trágica, em Barcelona.
Em todo o mundo foram inúmeras as reações à sua morte. Na ilha de São Miguel, surgiram artigos a condenar o seu fuzilamento, nos jornais “Vida Nova”, “A Folha” e “O Repórter”.
A 10 de Novembro de 1909, João Anglin, então estudante, escreveu no jornal “Vida Nova” o seguinte:
“Não foi em vão que Cristo regou com o seu sangue as urzes do Calvário, porque a sua doutrina sublime, apesar de deturpada e adulterada pelos que se dizem seus ministros, tem atravessado os séculos; não foi debalde que Giordano Bruno, Lourenço de Gusmão, Galileu e tantos outros sofreram horrorosos tormentos, porque a ciência que tanto amavam e por quem deram a vida, tem defendido radiosa Luz entre a espécie humana.
Assim também Francisco Ferrer, a infeliz vítima da malta reaccionária, dessa horda de facínoras que para vergonha nossa ainda campeia infrene, acaba de ser cobardemente assassinado em Barcelona. A reacção desde há muito tramava contra a existência desse grande vulto, desde há muito tentava perdê-lo. Buscou a ocasião propícia e achou-a.
Estão saciados os ódios, estão satisfeitas as feras!!”
Num texto não assinado publicado no Jornal A Folha nº 366, de 24 de Outubro de 1909, a dada altura o autor ou autora (Alice Moderno?) escreveu o seguinte:
“Ferrer foi um brasseur d’idées, foi um desses indivíduos excecionais que, nesta época de egoísmo, em que se entrechocam os mais sórdidos e desmedidos interesses pessoais, sacrificou toda a sua fortuna particular, toda a segurança individual, toda a sua tranquilidade espiritual, por uma ideia- combatendo por ela até ao ponto de ver correr, pelos furos das balas reais, o seu sangue generoso”.
Por último, no jornal “O Repórter”, cujo proprietário e diretor era Alfredo da Câmara, no dia 24 de Outubro de 1909, pode ler-se que “ não é impunemente que se mata ou manda matar um Ferrer, entidade de destaque no campo das lutas pelas reivindicações sociais; não é impunemente que se arremessa um cartel de desafio aos explorados, para regalo dos exploradores, aos pobres e aos humildes para tranquilidade dos argentários poderosos…”.
No dia 31 de Outubro do mesmo ano, o articulista de “O Repórter” escreveu que “a execução de Ferrer foi um assassínio monstruoso, levado a cabo pelos jesuítas e congreganistas espanhóis de cumplicidade com um governo de camândulas e de punhal”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30467, 22 de Outubro de 2014)
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