quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Eduardo Pontes
Eduardo Pontes: um açoriano no coração da Cova da Moura
No passado dia 20 de Janeiro faleceu, em Lisboa, o açoriano Eduardo José Azeredo Pontes que havia nascido em Ponta Delgada a 10 de Março de 1936.
Eduardo Pontes viveu grande parte da sua vida em Lisboa, onde foi colaborador do CIDAC- Centro de Informação e Documentação Anticolonial (depois Centro de Informação e Documentação Amílcar Cabral e hoje Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral), organização criada em Maio de 1974 e nascida “da luta pela liberdade e pela justiça no tempo da ditadura do Estado Novo, atuando em particular através da produção e distribuição de informação clandestina contra a guerra colonial”.
Eduardo Pontes foi, também, um dos fundadores e o primeiro presidente da Associação Cultural Moinho da Juventude, criada em 1984, no bairro da Cova da Moura, na Amadora.
A associação Cultural Moinho da Juventude, que desenvolve atividades envolvendo crianças, jovens e adultos nas áreas sociais, culturais e económicas, surgiu com o empréstimo de livros às crianças, por parte de Eduardo Pontes, e tem tido um papel relevante nomeadamente para a população do bairro onde está instalada de tal modo que foi galardoada, em 2007, pela Assembleia da República com o prémio Direitos Humanos.
Eduardo Pontes, que teve uma intervenção política que começou nos tempos da ditadura de António de Oliveira Salazar e de Marcelo Caetano, após o 25 de Abril de 1974, foi um dos responsáveis pelo Movimento Democrático de Ponta Delgada e mais tarde um dos poucos funcionários do MES – Movimento de Esquerda Socialista, tendo feito parte do seu Comité Central, eleito no IIº Congresso, realizado em Fevereiro de 1976.
Na qualidade de membro do MES, encabeçou as listas daquele partido à Assembleia Constituinte, por Ponta Delgada, realizadas a 25 de Abril de 1975, tendo também sido candidatos o funcionário público Jorge Costa Dias e o engenheiro José Eduardo Martins Mota.
Já havia sido “expulso” dos Açores, na sequência dos ataques às sedes dos partidos de esquerda que ocorreram em todo o país durante o chamado Verão Quente, quando liderou a lista do MES às eleições para a Assembleia da República, realizadas em 1976.
A propósito e para memória futura, aqui fica um registo do que aconteceu ao MES e a algumas pessoas a ele ligadas, durante o período referido no parágrafo anterior: em São Miguel e na ilha Terceira foram destruídas as sedes e diversos haveres; foram “expulsos” vinte e seis militantes, um de Santa Maria, dez de São Miguel e quinze da ilha Terceira.
Mas a atividade cívica e política de Eduardo Pontes não começou com o advento da liberdade. Com efeito, Eduardo Pontes foi um dos poucos protagonistas da resistência ao Estado Novo, nos Açores.
Em prol da democracia, foram muitas as ações em que ele participou pelo que, por falta de espaço, apenas refiro algumas.
Em 1961, na sequência do assalto ao navio Santa Maria, por Henrique Galvão, Eduardo Pontes foi um dos participantes numa ação de rua que consistiu em fazer pinturas murais, saudando o autor do assalto e condenando o ditador Salazar. Como resultado foi condenado a 30 dias de prisão e igual tempo de multa a vinte escudos por dia.
Em Abril de 1970, Eduardo Pontes foi um dos subscritores de uma carta, dirigida aos deputados à Assembleia Nacional por São Miguel, a solicitar a libertação de Jaime Gama que havia sido preso pela PIDE-DGS.
No final de 1970, foi criada em Ponta Delgada a Cooperativa Sextante que, para além da venda de livros, também organizava sessões de convívio e conferências. Entre os principais dinamizadores figuravam Eduardo Pontes, Manuel Barbosa e Jorge Lopes.
Nas campanhas eleitorais de 1969 e de 1973, Eduardo Pontes desempenhou um papel de relevo na dinamização da candidatura da oposição democrática, tendo sido, em 1969, um dos subscritores da Declaração de Ponta Delgada.
Pela sua maneira de ser, pela sua dedicação desinteressada às causas que abraçou, Eduardo Pontes permanece no coração de todos os que com ele conviveram.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30560, de 19 de fevereiro de 2015, p.18)
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