Bruno
Tavares Carreiro e a paixão pelas plantas
Bruno
Silvano Tavares Carreiro nasceu na freguesia de São Sebastião, a 6 de outubro
de 1857, e faleceu, na mesma freguesia, a 5 de outubro de 1911.
Formou-se em
Medicina na Universidade de Coimbra, em 1882, tendo sido médico em Vila Franca
do Campo e em Ponta Delgada. Foi diretor da Secção de Botânica do Museu Carlos
Machado, entre 1890 e 1911.
Na área da
medicina, foi autor de diversos textos divulgados em publicações da
especialidade, como o Arquivo Médico, de que foi um dos diretores, e o Correio
Médico. No âmbito da sua profissão, a 11 de setembro de 1891, tratou e assistiu
à morte do poeta Antero de Quental.
Fora do seu
âmbito profissional, Bruno Carreio foi um botânico que muito contribuiu para o
conhecimento da flora dos Açores, quer fazendo colheitas, classificando as
plantas ou fazendo um herbário, quer colaborando com especialistas. Sobre a sua
paixão, disse ele ao Dr. António Augusto Riley da Mota: “Nada como ter na vida
um entretenimento qualquer fora das ocupações profissionais e das maldades dos
homens e, como hobby, nenhum se avantaja ao gosto pelas coleções de história
natural…”
No mesmo
texto, publicado no Correio dos Açores de 24 de outubro de 1926, depois de
referir o contributo de José do Canto e de António Borges para o Jardim
Botânico de Coimbra, o Dr. Riley da Mota menciona que o famoso botânico,
criador do Museu Botânico de Coimbra, Dr. Júlio Henriques, sobre o Dr. Bruno
Carreiro, lhe terá dito: “ Sabe… nestes 50 anos só tive um discípulo, um único,
que não sendo profissional, nunca perdesse o sagrado amor às plantas:- foi o
Bruno!”
Ainda no
mesmo texto, o Dr. Riley da Mota refere que o Dr. Bruno Carreiro, estando já
retido no leito da morte, lhe incumbiu de levar ao Dr, Júlio Henriques “uns
exemplares de carvalho colhidos no Jardim José do Canto” que depois de enviados
a um especialista alemão “foram classificados como uma espécie nova…”. No ato
da entrega dos carvalhos aos Dr. Júlio Henriques este terá dito: “Ainda depois
de morto, está contribuindo para os progressos da botânica”.
Que espécie
seria?
Uma
interrogação que fica sem resposta, a aguardar que a pandemia seja vencida e
que tenha oportunidade para reiniciar as minhas pesquisas na Biblioteca Pública
de Ponta Delgada, no Museu Carlos Machado e, quem sabe, em Coimbra.
O Dr. Bruno
Carreiro na correspondência trocada com o Dr. Júlio Henriques pedia-lhe apoio
na identificação de algumas espécies. A título de exemplo, numa carta datada de
29 de junho de 1905, podemos ler o seguinte:
“Meto no correio … um pequeno pacote com um
Pelargónio. É muito vulgar nos quintais, por cultura é claro. É vulgarmente
conhecida como “malva-rosa”. Dinis Mota que se está interessando por essências
precisava saber que espécie é esta que é muito aromática. Por mim divaguei
entre Pel. odorantissimum e Pel. capitatum. Em suma não sei bem o que é.
Peço-lhe o favor a me determinar a espécie.”
Em
correspondência anterior, o Dr. Bruno Carreiro dá conta da presença em São
Miguel do botânico norte-americano William Trelease, que esteve nos Açores por
duas vezes, em 1894 e em 1896, e que publicou “Botanical Observations on the
Azores”.
Na mesma carta,
datada de 1896, o Dr. Bruno Carreiro, refere que mostrou a Trelease “o pequeno
herbário que aqui há de plantas da ilha, que ele gostou de ver. Um epilobium,
(o único que por cá existe, imagino) que já daqui lhe mandei …é julgado pelo
Trealease ser espécie diferente das conhecidas”.
Teófilo
Braga
(Correio dos
Açores, 32 112, 22 de abril de 2020, p.17)
Sem comentários:
Enviar um comentário