quarta-feira, 12 de maio de 2021

Bruno da Ponte: um editor micaelense (quase) desconhecido

 


Com os pés na terra (504)

 

Bruno da Ponte: um editor micaelense (quase) desconhecido

 

Bruno Domingues da Ponte, formado em Economia pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, nasceu em Ponta Delgada a 28 de agosto de 1932 e faleceu na mesma cidade a 14 de dezembro de 2018.

 

Embora tenha exercido várias profissões ou trabalhado em diversas áreas, como tradutor, jornalista, professor universitário em Edinbourg, Escócia, diretor de uma escola de jornalismo, em Maputo, Moçambique, galerista, etc., destacamos a sua atividade como editor.

 

Para além de ter trabalhado, enquanto viveu no estrangeiro, na editora DEFA, o nome de Bruno da Ponte está ligado às seguintes editoras: Minotauro, Estampa, Teorema e Salamandra.

 

A editora Estampa foi criada, em 1960, por António Carlos Manso Pinheiro e segundo Flamarion Maués era de esquerda da área política do PCP e a Teorema surgiu em 1974 pelas mãos de Carlos Araújo e Carlos da Veiga Ferreira e, de acordo com o autor referido, não apresentava uma posição política definida.

 

Bruno da Ponte foi um dos fundadores da Editorial Minotauro que funcionou entre 1960 até ao final de 1966, altura em que foi encerrada pela PIDE e ele foi sujeito a longos interrogatórios por parte daquela polícia política.

 

De acordo com Bruno da Ponte, numa entrevista dada à revista “A Ideia”, a Minotauro nasceu com “dois propósitos: a publicação de obras importantes do passado que não haviam sido divulgadas entre nós e dar conhecimento de movimentos e obras inovadoras, já firmados no estrangeiro, mas de que permanecíamos alheados”.

 

De entre as obras publicadas, destacámos “Surrealismo/Abjeccionismo” e “Peças em um Acto”. A primeira pelo número de autores dado a conhecer e a segunda por ter levado ao fim da editora.

 

A antologia “Surrealismo/Abjecionismo” foi organizada por Mário Cesariny e contou com textos e ilustrações de trinta e dois autores, como Alexandre O’ Neill, António José Forte, António Maria Lisboa, Cruzeiro Seixas, José Sebag, Luiz Pacheco e Mário Henrique Leiria.

 

O livro “Peças em um Acto”, de Luís Sttau Monteiro, que, entre outras, incluía duas peças de teatro, “A Guerra Santa” e “A Estátua”, foi considerado pelo Ministério da Defesa Nacional uma afronta às tropas portuguesas que estavam a combater em África. O autor acabou por ser detido e a editora viu as suas instalações serem seladas e depois inundadas, pois os agentes da PIDE que lá se deslocaram esqueceram-se de fechar as torneiras da água, fazendo com que livros e quadros fossem destruídos.

 

Em 1985, Bruno da Ponte e Carlos Veiga Pereira criaram as “Edições Salamandra” que recuperam parte do legado da Editorial Minotauro, através da reedição de algumas das suas publicações, como “Surrealismo/Abjeccionismo” ou “O rapaz de bronze”, de Sofia de Mello Breyner.

 

Das muitas obras publicadas pelas “Edições Salamandra”, destaco os livros “Para Além da Revolução” da autoria do genial e visionário arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Teles, “Nacionalismo, Regionalismo e Autoritarismo nos Açores durante a Primeira República”, de Carlos Cordeiro e “Uma Mulher pioneira: Ideias, Intervenção e Ação de Alice Moderno”, de Maria da Conceição Vilhena.

 

A divulgação da obra de escritores açorianos também foi feita por Bruno da Ponte, através da Coleção Garajau, das Edições Salamandra. Com efeito, segundo Daniel Melo, naquela coleção foram publicados 121 títulos de 52 autores, entre os quais destacamos Daniel de Sá, Cristóvão de Aguiar, Borges Martins, José Martins Garcia, Onésimo Teotónio Almeida, Álamo Oliveira e Urbano Bettencourt.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32432, 12 de maio de 2021, p.12)

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