Texto de um colega professor dedicado a outro colega, após uma conversa a três em Ponta Delgada.
TB
(ao meu colega Rui Alcântara, à conta de uma conversa)
Como foi possível
a grande guerra?
Como foi possível
após dezoito
a barbaridade
de trinta e nove?
Como foi possível
Hitler, Franco, Salazar;
a delação instituída
e os assassínios da pide,
o garrote brutal
da brutal Espanha,
a morte cuidadosamente organizada
em regime industrial
das exterminações nazis?
Como foi possível?
Que classe social
é assim tão imune
ao sentir o que o outro sente;
que mancomunada parte
do tecido social
o próprio discurso tanto
reduz de sentido?
Como é possível?
Como é possível haver
colegas e colegas
a repetirem hoje
os mesmos gestos,
o mesmo egoísmo,
a mesma calculada indiferença,
a mesma fria exclusão?
Como é possível
depois de tanta evidência
dar corpo ainda à veste
remoçando a decrépita figura
do confisco burguês
actualizando-lhe
o capital instrumento
de intimação e saque?
Como é possível?
É que candeia
que vai à frente
ilumina duas vezes
e muito forte é o vento
por dentro e por fora
a soprar a luz
que mesmo assim
nem ela morre
nem soçobra
quem a produz.
Luz de um povo.
Luz de quem luta.
Luz de quem tem honra.
Luz de quem trabalha.
Luz ainda de quem lê
nas linhas e nas entrelinhas
da vida e do discurso;
mesmo daquele discurso
que é a menina dos olhos
de uma economia
e de tantos que em tal discurso
crêem o pão
uns,
outros
o luxo,
e o som sonegam
e isolam e calam
a nascente,
e à teoria lançam a infâmia,
e à prática o engano
a que há que ir fazendo
sem fraqueza o retrato
e a todos demonstrar
a par e passo
onde o logro faz casa
e como o ogro abater!
24/26 Nov 10
Pedro
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