terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Sobre golfinhos


A propósito de golfinhos

No passado mês de Outubro, a comunicação social deu a conhecer que o pioneiro na observação de cetáceos nos Açores, Serge Viallelle, havia decidido que a sua empresa sediada no Pico iria acabar com a prática da natação dos seus clientes com os golfinhos.

Na ocasião, Serge Viallelle denunciou que diversas empresas de observação de cetáceos não cumprem a legislação em vigor e que as autoridades que tutelam a atividade não fazem qualquer fiscalização no mar.

A louvável decisão de Serge Viallelle, que terá sido bem acolhida por alguns dos seus clientes estrangeiros, surge numa altura em que algumas organizações internacionais, como a Fundação FAADA criou uma campanha que tem como objetivos, entre outros, expor as problemáticas relacionadas com o uso de animais no setor turístico e que pretende oferecer alternativas éticas para turistas e profissionais do sector que queiram melhor conhecer os animais de forma responsável.

Longe vão os tempos em que alguns deputados regionais, sempre a tentar impedir o progresso civilizacional, não mexiam uma palha para acabar com a caça de que eram alvo os golfinhos, quando não arranjavam argumentos para que aquela se perpetuasse.

Dos grupos que se reclamavam da defesa do ambiente, lembro-me de terem levantado a sua voz pelo fim da caça o grupo “Luta Ecológica”, da ilha Terceira, o Grupo de Ecologistas de Santa Maria, o Núcleo Português de Estudos e Proteção da Vida Selvagem- Delegação dos Açores, sediado em Vila Franca do Campo e os Amigos da Terra (hoje Amigos dos Açores).

No caso dos Amigos dos Açores, recordo-me da edição de um desdobrável com informação sobre golfinhos e de uma brochura destinada às crianças, com textos da doutora Leonor Galhardo, com várias edições, que no total terão atingido mais de dez mil exemplares.

Fora do fraquíssimo movimento de proteção do ambiente, poucas, muito poucas, pessoas tiveram a coragem de dar a cara pelo fim do abate injustificado de golfinhos para a alimentação humana. De entre estas vozes que defenderam a evolução, recordo-me a do Dr. Luís Miguel R. Martins que escreveu um texto intitulado “Baleias e golfinhos, morte certa?”, publicado no jornal “A Ilha”, no dia 25 de junho de 1984.

No seu artigo, que também abordava a caça ao cachalote, o Dr. Luís Rodrigues a dado passo escreveu: “acho ser demasiado perigoso isto sob uma perspectiva política, pôr-se os problemas referentes ao património natural da região numa concepção económica, pois não é autorizando o massacre de alguns golfinhos que se vai pensar em solucionar os problemas económicos e sociais dos pescadores”.

Infelizmente a lógica dos decisores políticos de hoje continua a ser a mesma, isto é, tudo o que não se traduza em euros de nada vale.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30798, 1 de dezembro de 2015, p.16)

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