segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
A perseguição aos milhafres
A perseguição aos milhafres
O milhafre ou queimado, a nossa única ave de rapina diurna, pode ser considerado como um predador oportunista já que alimenta-se das presas mais abundantes e ou mais frágeis e fáceis de serem apanhadas. De acordo com alguns estudos, alimenta-se, essencialmente, de insetos, de pequenas aves e de ratos e coelhos.
Apesar de serem de grande utilidade para os agricultores, sempre foram sobrevalorizados os estragos e esquecidos os benefícios, daí serem alvo de perseguição e morte.
Através de um texto publicado, em 1983, no jornal “O Baluarte”, ficamos a saber que, na ilha de Santa Maria, na década de cinquenta do século passado, os milhafres eram fortemente perseguidos por matarem galinhas e por se atirarem a cordeiros e cabritos recém- nascidos.
O autor do texto mencionado relata as barbaridades cometidas por um vizinho a quem um milhafre arrebanhou uns frangos. Segundo ele, o referido vizinho conseguiu apanhar o meliante e fez o seguinte:
“Amarrou-o, arrancou-lhe as penas da cauda e depois, sem pressas, aqueceu uma verga nas brasas da lareira e, mordendo os beiços, furou-lhe os olhos. Eu e a malta assistíamos ali de cócoras ao espetáculo, ficamos todos ajudando a gozar a judiaria, tentando enfiar uma cana no bico do miserável do bicho. Ao atirá-lo por uma ribanceira abaixo, disse o vizinho satisfeito: anda maldito, vai agora matar galinhas!”
Em 1972, segundo um texto da autoria de Eduardo Rebelo, publicado no jornal “A Ilha”, o milhafre era “considerado como prejudicial à caça, tendo sido votado à morte pela nossa atual Comissão Venatória, que dá por cada bico 2$50.”
Naquela altura e até há alguns anos, os milhafres eram também odiados pela população que vivia nas zonas rurais por atacar os seus animais de capoeira, principalmente os pintainhos.
A seguir ao 25 de abril de 1974, durante o chamado Verão Quente, por cá assistiu-se à morte de alguns milhafres para os embalsamar. Nunca entendi tal atitude que apenas reflete a falta de bom gosto e de bom senso, pois se a ave era (é) o símbolo dos Açores este deveria estar vivo e bem vivo.
Hoje, por mais educação dita ambiental que se diz fazer, a maioria dos mais novos quando se fala em milhafre não faz a mínima ideia do que seja e os mais idosos, embora não tenham capoeiras e só comam alimentos provenientes dos mais diversos estabelecimentos comerciais, continuam a falar nos milhafres como aves altamente prejudiciais. Esta atitude só vem confirmar a atualidade do pensamento de Albert Einstein quando afirmou que era mais fácil destruir um átomo do que um preconceito.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30830, 12 de janeiro de 2916, p.13)
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