quarta-feira, 16 de março de 2016

A árvore na revista “O Vegetariano”


A árvore na revista “O Vegetariano”

“O naturismo tem por base o culto da árvore” (Celso Xavier)

Na passada segunda-feira, a Fundação do Jardim José do Canto organizou uma Festa da Árvore e na próxima semana teremos um dia a ela dedicado, o Dia Mundial da Floresta.

No texto de hoje vou socorrer-me da revista “O Vegetariano”, publicada em 1914, por parte da Sociedade Vegetariana de Portugal, para dar a conhecer a importância da árvore para os seguidores daquele regime alimentar.

A revista “O Vegetariano”, dirigida pelo Dr. Amílcar de Sousa (1876-1940), médico especialista em doenças de nutrição, licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, tinha como lema “Integrai-vos nas práticas salutares da Higiene Natural e gozareis cem anos de vida sã” e a Sociedade Vegetariana de Portugal tinha como fins “criar cursos de instrução popular e educação cívica, diurnos e noturnos, onde por meio de preleções se espalhem e vulgarizem os princípios da alimentação vegetal, suprimindo o morticínio antilógico e desnecessário de animais, favorecendo e enaltecendo a abnegação por amor da humanidade, da pátria, da família, do próximo e caridade para com os animais, combatendo o alcoolismo, o tabaco, os vícios e os erros, em geral, espelhando temperança nos hábitos e a morigeração dos costumes”.

Em janeiro, a revista “O Vegetariano”, através de um texto assinado por C. Brandão, saúda o surgimento, em Lisboa, da Associação do culto da árvore” que visava “tanto proteger a floresta como o pomar” e incita “ os naturistas a se inscreverem na associação, apresentando entre outros os seguintes argumentos: “É fora de dúvida que a árvore, pelas suas raízes, pela sua madeira, pelas suas folhas, exerce uma ação benéfica nas terras, nas indústrias, no clima. Porém, acima de tudo – para nós, naturistas- há o fruto que nos garante a saúde do corpo e da alma, a depuração do indivíduo e da raça.”

No mês de março, José Fontana da Silveira (1891-1974), escritor que se distinguiu pelos livros para crianças que publicou, traduziu um texto de André Fleuriet, onde este sobre a árvore escreveu o seguinte: “ Uma árvore bonita é um prazer para os olhos, e milhares de árvores constituem o bosque, manto de terra e riqueza dum país! Um país que não tem árvores é um país morto!...Quem planta uma árvore é um benfeitor da humanidade; quem as destrói inutilmente é um criminoso”.

No mês de outubro, a revista dedica um curto texto a elogiar o livro “O Culto da Árvore” da autoria de Manuel Vieira Natividade (1860-1918), historiador, arqueólogo, etnólogo e poeta de Alcobaça. Segundo o Dr. Amílcar de Sousa, o livro, “escrito para a festa das crianças da sua terra, é um dos mais perfeitos e úteis elogios à árvore que tenho lido”, onde o autor “esgotou o assunto sobre o valor comercial e cósmico, da árvore e do seu culto, felizmente posto em voga nos tempos de hoje como símbolo da alegria e fartura, de bondade e de bênçãos”.

Por último, no mês de novembro, o Dr., Amílcar de Sousa escreve um curioso texto intitulado “A única ginástica que convém aos homens é trepar às árvores”, onde confessa o seguinte: “Sei andar a pé, subir a árvores, encarrapitar-me nelas quando têm frutos e trepar cerros e penhascos abruptos. Sei qualquer coisa de ginástica natural e com ela tenho conseguido mais força e vigor que alguns sábios de afamados métodos.

Segundo o Dr. Amílcar de Sousa a “única ginástica valiosa e proveitosa é trepar ou subir às árvores” pois não fica nenhum músculo por ser exercitado, mas “para isso é preciso ter força e jeito, equilíbrio e mesmo ainda não ter perdido o feitio arborícola”.

Através do mesmo texto ficamos as saber que o autor não se ficava pelas palavras, como se pode confirmar através do texto seguinte: “Ainda ontem estive a comer figos numa figueira empoleirado. Que deliciosos eram…Com os pés sem sandálias, não escorregava dos ramos, com uma mão agarrava-me, com a outra levava os figos…à boca.”

Termino desejando boas plantações, a quem nunca o fez que experimente visitar um pomar e comer os frutos apanhados das árvores e, por último, que tenham muito cuidado com os trambolhões que poderão ocorrer com subidas às árvores.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30886, 16 de março de 2016, p. 12)

Sem comentários: