Sobre
Maria Mendonça
Já há
algum tempo havia pensado conhecer melhor a vida e a obra da escritora e
jornalista Maria Mendonça, mas só agora decidi fazê-lo, depois de uma pessoa
residente no Nordeste me ter chamado a atenção para o facto dela nas suas
conversas fazer referência à obra e vida da multifacetada Alice Moderno que
continuo a investigar.
Maria da
Trindade de Mendonça, natural de Nordeste, nasceu a 16 de fevereiro de 1916 e
faleceu na mesma localidade no dia 28 de fevereiro de 1997, depois de ter
vivido uma parte significativa da sua vida, 35 anos, na Ilha da Madeira.
Tal como
Alice Moderno, Maria Mendonça foi mulher que “tocou vários instrumentos” ou que
teve “sete ofícios”, pois para além de se dedicar ao jornalismo e à cultura,
foi também uma mulher de negócios.
Tendo
começado a escrever para os jornais aos 16 anos, Maria Mendonça foi
correspondente de vários jornais portugueses.
Na área do
jornalismo, destacamos a sua passagem pelo jornal “Eco do Funchal” de que foi
chefe de redação e depois diretora. Maria Mendonça introduziu alterações no
jornal, como a inclusão de novas seções culturais e recreativas o que levou a
que o mesmo passasse de semanal a trissemanal.
Sobre os
escritos de Maria Mendonça no “Eco do Funchal”, João Carlos Abreu, no Correio
dos Açores, de 7 de junho de 2020, escreveu o seguinte: “enfrentado a censura da altura, ela chamava a atenção dos
governos de Lisboa de sofrerem de amnésia em relação às duas ilhas atlânticas,
criando-lhes claustrofobia, promovendo-lhes o atraso.”
Maria
Mendonça esteve também ligada ao jornal o “Re-Nhau-Nhau” que, de acordo com
informação constante da página web da Direção Regional do Arquivo e Biblioteca
da Madeira, “marcou presença na imprensa
regional madeirense pelo seu carácter caricaturista e humorístico. As
caricaturas, bem como o conteúdo satírico, pretendiam denunciar as diferenças
existentes nas várias camadas sociais e o período político conturbado que se
vivia nessa altura”.
Na área
dos negócios Maria Mendonça foi sócia da escritora Natália Correia e do marido
Alfredo Machado numa empresa que explorava um estabelecimento comercial de nome
“Rodapé” que, na Rua do Salitre, em Lisboa, vendia móveis e antiguidades.
Na
Madeira, em 1972, Maria Mendonça comprou o estúdio de uma família de fotógrafos
que em 1979 foi adquirido pelo Governo Regional da Madeira que, em 1982, o transformou no Museu Vicentes.
No quintal
do estúdio referido, localizado na Rua da Carreira, durante alguns anos
funcionou o restaurante-esplanada “O Pátio”, onde Maria Mendonça promoveu
encontros literários e tertúlias que contaram com a presença de algumas
personalidades da oposição ao regime político da altura, não agradando à
Censura e à PIDE, como a escritora Maria Lamas que era próxima do Partido
Comunista Português ao qual aderiu depois de 25 de Abril de 1974, e da
escritora Etelvina Lopes de Almeida,
colaboradora de Maria Lamas em alguns projetos, opositora ao Estado Novo que
mais tarde foi deputada na Assembleia Constituinte e na Assembleia da República
pelo Partido Socialista.
Sobre o
papel de Maria Mendonça na promoção da literatura e dos livros, Thierry Proença
dos Santos escreveu o seguinte: “Depois de realizada a
“Semana do livro Açoriano”, no Funchal, em 1951, pelo impulso de Rogério
Correia e de Maria Mendonça, os mesmos organizam a “Semana do Livro
Madeirense”, em 1953. É também nesse período que é criada a primeira Casa
Editora na Madeira, a “Eco do Funchal” por iniciativa da açoriana Maria
Mendonça. A mesma agente ergue em Lisboa, em 1954, aquando da 24.ª Feira do
Livro, o pavilhão do “Livro Insular” que ocupou lugar de destaque”.
Autora de várias obras, destacamos “A
Madeira Vista por Intelectuais e Artistas Portugueses”, de 1954, e “Férias nos
Açores- Ligeiros Apontamentos”, sem data, “A Personalidade Multifacetada do Jornalista Manuel
Inácio de Melo”, de 1984, e “Os Açores através da Saudade”, de 1991,
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, 32257, 14 de outubro de 2020, p.17)
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