quarta-feira, 26 de julho de 2023

MANUEL VICENTE: UM PADRE CULTO E HUMANISTA (3)


O Padre Manuel Vicente e a paixão pelas flores

Não se conhecendo qualquer escrito da sua autoria, este texto tem por base o livro de Breno de Vasconcelos, intitulado “Paz cinzenta …os Açores através de algumas figuras e episódios de uma época”, publicado em Lisboa, em 1979, e alguns jornais da época.

O Diário dos Açores de 17 de fevereiro de 1938 quando faz uma retrospetiva da vida do Padre Manuel Vicente recorda “as exposições de lindos crisântemos no Palácio Fonte Bela, atualmente Liceu Antero de Quental, e que marcaram duma forma bem vincante, com seu aspeto ao mesmo tempo de Jogos Florais”. De acordo com a mesma fonte, “eram certames a que acorria tudo quanto a Ilha tinha de mais distinto no campo intelectual e no meio social, sendo acolhidos com palpitante interesse pelo público”.

A paixão do padre Manuel Vicente pelas flores não foi esquecida no poema da autoria do poeta micaelense Francisco Espínola de Mendonça (1891-1944) escrito por ocasião do funeral daquele sacerdote e publicado no Correio dos Açores, do dia 17 de fevereiro de 1938. Abaixo transcreve-se um extrato:

Amou a Arte, as flores, a Poesia,

Votando-lhes profunda idolatria,

Um acendrado amor.

Sacerdote bondoso, tolerante.

Na família um exemplo edificante:

-Amigo e Protetor

Amarilis, crisântemos, as flores

A que mais consagrou os seus amores,

Cobriam-lhe o caixão.

E, curvadas, pendendo enternecidas,

Pareciam dizer-lhe agradecidas,

A sua gratidão.

Depois de referir que embora vivesse modestamente, sem fortuna própria, e que o padre Manuel Vicente “foi figura da alta sociedade micaelense, não propriamente pelos seus pergaminhos genealógicos, mas muito mais pelo seu espírito e afabilidade no trato”, Breno de Vasconcelos, no livro já mencionado, relata o seguinte:

“Não posso precisar em que local organizou uma primorosa exposição de flores, com entradas pagas.

Muitas pessoas afluíram a visitar a exposição e a admirar não só as raras espécies, como a elegância com que as mesmas se encontravam dispostas.

O Bispo da diocese, nessa altura, estava de visita em São Miguel. Convidado a visitar esta exposição, o Bispo apreciou devidamente o bom gosto do padre Vicente e também as espécies florícolas. Ao despedir-se perguntou a que se destinava o produto daquela exposição. O expositor, muito diplomaticamente e com um sorriso reverenciado, respondeu que a receita revertia exclusivamente a favor da cozinha económica do padre Manuel Vicente …da sua própria e bem necessitada cozinha”.

Num texto publicado no Diário dos Açores, no dia 18 de junho de 1945, o Dr. Urbano de Mendonça Dias recorda a dedicação do padre Vivente às flores e a sua predileção especial pelos crisântemos. Sobre esta, escreveu:

“Chegou mesmo a expor muitos que eram admirados pela sua grandeza, pelo brilho da sua cor, pelo desfolhado da flor, e, apresentando-os, fazia-lhes o elogio, com entusiasmo.

Não era raro ver o Padre Manuel Vicente de crisântemo ao peito, pelas ruas da Cidade, ou com um desses bonitos exemplares num vasinho, a mostrar a este e àquele, pois ia colocar na montra dum estabelecimento, fazendo-lhe a história de quantos botões tivera a haste, dos adubos que empregara, da temperatura da estufa, e toda a gente dizia com verdade:

- Ninguém tem melhores crisântemos do que o Padre Manuel Vicente!

E até lhe chamavam, à francesa, o Padre Chrysanthème. Mas ele não se ofendia, com isso, sorria até daquele nome, envaidecido, e um dia ele disse:

- Pierre Loti- conhece? Escreveu uma novela, Madame Chrysanthème- conhece? - Não me consta que ela se tivesse irritado pelo nome lindo que lhe haviam posto.

E depois de uma pequena pausa, em que parecia que o seu espírito estivera a considerar qualquer passagem, voltou-se para o amigo e disse-lhe:

25 de julho de 2023

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