terça-feira, 19 de novembro de 2024

Amoreiras

 


Amoreiras

 

A amoreira ou amoreira-branca (Morus alba L.) é uma planta pertencente à família Moraceae oriunda da Ásia ocidental, mas que foi introduzida em várias regiões. Além da espécie referida, há muitas outras, como a amoreira-preta (Morus nigra L.).

 

As amoreiras terão sido introduzidas na Europa por volta do século VI e em Portugal no século XV. Nos Açores, as amoreiras terão sido introduzidas nos primeiros anos do povoamento, como prova Gaspar Frutuoso (1522-1591) que no seu livro “Saudades da Terra” regista a sua presença em São Miguel em São Roque e na Povoação. O mesmo autor ao descrever a “costa da ilha de Santa Maria, pela banda do norte, das Lagoinhas até ao Castelete, donde se começou e acaba”, escreveu o seguinte: “Nas quais há terras de pão, que poderão ser sete até oito moios, com muitas árvores de fruta e figueiras e amoreiras.”

 

As várias tentativas para incrementar a indústria da seda em São Miguel, nos séculos XIX e XX, não tiveram êxito.

 

A maior terá ocorrido no século XIX através da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense que incentivou o cultivo de amoreiras. A título de exemplo, no nº1, relativo a 1848, da sua publicação mensal “O Agricultor Michaelense” foi publicada a informação de que aquela sociedade possuía seis mil pés de amoreiras de 3 anos para distribuir.

 

No século XX, o micaelense Jaime Hintze, realizou várias experiências com amoreiras nas suas propriedades, tendo só na Gorreana plantado duzentas da variedade Moretti.

 

Sobre o assunto é muito interessante a comunicação que fez, em 1938, no Primeiro Congresso Açoreano, realizado em Lisboa. Da mesma, abaixo transcreve-se um extrato:

 

«Eu mesmo fiz experiência na Gorreana, neste caso simplesmente para ver de quanto era capaz, quanto à cultura da amoreira, o terreno de São Miguel, e obtive três colheitas. A amoreira vegeta de tal forma que poderá facilmente dar quantidades de folhas desde o mês de Abril a Setembro e o bastante para que se possam criar três culturas de sirgo, o que é muito importante. A planta em três anos está já em plena produção.

 

A sericicultura, é uma indústria caseira, o que tem demonstrado várias tentativas infrutíferas quando se desejou industrializar a educação do bicho-da-seda. Até isso convém, pois espalha-se a cultura por toda a parte, indo a remuneração a todos os recantos da ilha.

 

Seria ela uma forma de contrabalançar a falta de emigração que se vem notando na Ilha de São Miguel, em face do crescimento constante da sua população. Não esqueçamos que só São Miguel tem aproximadamente e a multiplicar-se sempre, cerca de metade da população das nove ilhas.”

 

A amoreira-branca é uma árvore de folha caduca que pode alcançar uma altura de 15 metros e atingir uma longevidade próxima dos 150 anos. As suas folhas são alternas, ovadas a cordiformes, podendo ou não ser lobadas, verde-escuras e brilhantes ficando amarelas no outono. As suas flores, tanto as masculinas como as femininas, são muito pequenas e esverdeadas, não tenho qualquer interesse ornamental. Os seus frutos são de cor creme (na amoreira-negra são negros ou muito escuros)

 

A multiplicação da amoreira pode ser feita por sementeira direta, por estacas, usando as semilenhosas e por alporquia.

 

Para além do interesse ornamental da amoreira, a planta é cultivada pelos seus frutos que são comestíveis e procurados pelas aves. As fibras da casca eram usadas para o fabrico de cordas, mas a principal razão para o seu cultivo deverá ser devido ao uso das suas folhas para a alimentação do bicho-da-seda.

 

No passado a amoreira foi utilizada na tinturaria vegetal. Com efeito, era a partir dos olhos da amoreira-preta que se obtinha o preto.

 

Tal como outras plantas a amoreira figura na toponímia micaelense. São exemplos a Amoreira, na Bretanha, e as Amoreiras, na Ribeira das Tainhas.

domingo, 17 de novembro de 2024

Virusaperiódico (52)

 


Virusaperiódico (52)

 

No dia 14 de manhã, estive nas minhas pesquisas sobre a resistência à ditadura. Estranho que muitos que foram seus servidores aparecem hoje como combatentes pela liberdade. De tarde, tive uma agradável conversa com três alunas da Universidade dos Açores que estão a fazer um trabalho sobre plantas usadas na medicina popular.

 

No dia 15, estive a divulgar nas redes sociais um texto sobre o trágico balanço de touradas à corda este ano. Pelo menos 3 mortes e um número não conhecido de feridos. Uma péssima prática do passado que teimam em preservar.

 

Comecei o dia 16 a ler uma aberrante proposta governamental para o orçamento de estado: IVA para cuidar dos animais- 23%; IVA para torturar animais (touradas) 6%. O mundo às avessas!

 

De manhã, participei numa atividade de voluntariado ambiental no Pinhal da Paz, iniciativa dos Amigos dos Açores. Foram poucos, mas bons, os participantes. Para uma árvore vingar não basta colocá-la na terra, é preciso cuidar dela ao longo de muitos anos. A defesa do ambiente não se faz de pantufas!

 

No dia 17, depois de passear com os cães estive a trabalhar num livro que verá a luz do dia em 2015 e a transplantar algumas pequenas plantas que havia obtido por sementeira. De tarde, voltei a ler William Morris e li o livro, de Luís Machado, “A última conversa- Agostinho da Silva”.

 

17 de novembro de 2024

sábado, 16 de novembro de 2024

Álamo

 


Álamo

 

O álamo ou choupo-branco (Populus alba L.) é uma planta da família Salicaceae originária do centro e sul da Europa, havendo alguns autores que levantam a hipótese de o ser também do norte de África e da Ásia Central.

 

O álamo é uma árvore caducifólia de crescimento rápido, que em média atinge uma altura de 12 a 15 metros.

 

O tronco apresenta uma casca lisa e esbranquiçada. As folhas são alternas e ovais, verdes na face superior e de cor branco-cinza na inferior, e as flores formam amentilhos, os masculinos acinzentados, com estames avermelhados e os femininos esverdeados. Os frutos são cápsulas ovoides.

 

Tudo indica que as duas espécies de álamo; a alba e a nigra, foram introduzidas, na ilha de São Miguel, no século XIX. Mas poderão ter sido antes, como terá ocorrida na ilha Terceira onde já estavam presentes no final do século XVIII.

 

Os dois irmãos Joseph e Henry Bullar, que nos anos 1838 e 1839 estavam nos Açores, ao descreverem no seu livro “Um inverno nos Açores e um verão no vale das Furnas”, Vila Franca do Campo, mencionaram a existência de uma pequena mata onde, entre outras árvores, encontraram álamos.

 

José do Canto, em 1856, já possuía várias espécies de álamos no seu jardim de Ponta Delgada e plantou-os em várias das suas vastas propriedades existentes no Porto Formoso, na Ribeirinha ou na Lagoa do Congro.

 

Nos Açores, os álamos, sobretudo a espécie nigra, foram usados para a divisão de propriedades e como sebes e os seus ramos mais finos eram utilizados para amarrações e para fazer cestos, constituindo também umas excelentes plantas ornamentais. O engenheiro agrónomo Arlindo Cabral, no nº 17do Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, relativo ao primeiro semestre de 1953, sobre o assunto menciona o seguinte:

 

“A ele [Populus nigra] se associa por vezes a hortênsia, a qual preenche a parte inferior mais despida […]. Não toma grande desenvolvimento, pelo que não é usado na defesa de pomares, mas apenas nas terras empregadas m culturas arvenses. Havendo o cuidado de cortar as raízes laterais, esta espécie pouco concorre com as plantas cultivadas sob a sua protecção.”

 

Em 1932, num relatório elaborado sobre o caso florestal do distrito da Horta, no que toca à ilha do Pico pode ler-se que o álamo (Populus alba) era “empregado na ornamentação de parques e na arborização das estradas” (Costa, 1989):

 

Ambas as espécies são usadas, também, na medicina popular, apresentando as mesmas indicações terapêuticas.

 

Augusto Gomes (1992) refere que, na ilha Terceira, “os seus rebentos, em infusão de aguardente ou álcool, servem para desinfectar feridas.”

 

Corsépius (1997), para o choupo-negro, menciona as seguintes propriedades e indicações: “antissética e expectorante- bronquite; febrífuga e sudorífica – febre; digestiva; analgésica-reumatismo; vulnerária-caspa.”

 

Saraiva (2020) refere a presença de exemplares notáveis na Estrada de Circunvalação, no Porto, e na mesma cidade na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação.

 

Na Madeira, Raimundo Quintal (2022), regista a presença de álamos na Quinta Jardins do Lago, no Jardim da Universidade e no Solar dos Esmeraldos, na Lombada da Ponta do Sol.

 

Em São Miguel há álamos em várias localidades, de que destacamos o Pinhal da Paz, o Jardim de Infância, na Rua Prof. Luciano Mota Vieira, em Ponta Delgada, e a Mata-Jardim José do Canto, nas margens da Lagoa das Furnas.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Virusaperiódico (51)

 


Virusaperiódico (51)

 

Comecei o dia de São Martinho, com atividades relacionadas com o ativismo animalista e com pesquisas sobre Lúcio Miranda.

 

Recordo aqui a quadra dedicada àquele Santo que foi transcrita por Manuel Ernesto Ferreira no seu livro “Ao Espelho da Tradição”:

 

São Martinho, meu patrão,

Feito de pau de sanguinho,

Consolai-me esta goela,

C´uma pinguinha de vinho.

 

Acabei o dia com a leitura do romance de William Morris.

 

No dia 12, de manhã, comecei a compilação de textos que darão origem a um novo livro no próximo ano. De tarde, andei por Vila Franca na colheita de bananas e de goiabas.

 

Comecei o dia 13 a alinhavar um texto a ser publicado no próximo número do jornal “Voz Popular”, da Casa do Povo do Pico da Pedra, e a pôr em dia a minha correspondência. De tarde, voltei a ler mais umas páginas da “Seara Nova” e fui a uma consulta médica para análise do motor que de vez em quando dá sinas de velhice.

 

13 de novembro de 2024

domingo, 10 de novembro de 2024

Virusaperiódico (50)

 




Virusaperiódico (50)

 

No dia 9 de novembro, estive em Vila Franca do Campo, na Ribeira Nova. Logo de manhã, tive um encontro não amistoso com as abelhas. Uma ferroada numa mão impediu-me de ajudar nos trabalhos de limpeza de uma área que será plantada nos próximos meses.

 

Com muito prazer recebi a visita de duas irmãs muito interessadas em plantas que recolheram algumas para plantar nas suas terras.

 

No fim do dia, continuei as minhas pesquisas sobre a família Miranda, nomeadamente sobre Lúcio de Miranda.

 

No domingo, depois dos passeios com os cães, voltei a Vila Franca, onde visitei na companhia de um casal estive na Ribeira Nova e na Courela. Verifiquei que começaram a surgir as primeiras goiabas maduras e constatei que tenho na Ribeira Nova plantio de nogueiras e jambeiros disponível para oferecer.

 

No fim do dia, comecei a leitura do último número da revista Seara Nova e voltei a ler algumas páginas do livro “Notícias de Lugares Nenhum”, de William Morris.

 

Umas pessoa amiga enviou-me algumas citações de William Morris. Aqui transcrevo duas:

 

“Não há uma milha quadrada da superfície habitável da Terra que não seja bela à sua maneira, se nós, homens, nos abstivermos de destruir voluntariamente essa beleza”

 

“Não tenham em vossas casas nada que não saibam ser útil ou que não acreditem ser belo”.

 

10 de novembro de 2024

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Virusaperiódico (49)

 


Virusaperiódico (49)

 

Depois de um domingo, sem missa, mas de descanso, a segunda-feira (dia 4) foi passada a realizar trabalhos domésticos e a derreter cera das abelhas. Li algumas páginas do livro de Onésimo Almeida intitulado “Diálogos Lusitanos”. O assunto não me seduz muito, mas aproveitarei as suas sugestões de leitura, nomeadamente de um romance de José Rodrigues Miguéis.

 

Num dia em que queria ir para Vila Franca do Campo e não fui devido ao mau tempo, acabei de derreter a cera das abelhas e estive a consultar vários ficheiros existentes na Torre do Tombo. Voltei a deparar com o nome de António Guilherme Francisco que em 1949 apoiou o General Norton de Matos contra o candidato salazarista. Quase de certeza foi caso único em Vila Franca.

 

Há dias ofereceram-me uma planta (Asclepias curassavica) com o nome comum oficial-de-sala. Depois de um pesquisa na internet verifiquei que é uma espécie invasora em alguns locais.

 

Uma parte significativa do dia 6 foi passada na Biblioteca Pública de Ponta Delgada a conversar com pessoas amigas, tendo as pesquisas ficado a aguardar por melhores dias. Foi dia de receber prendas, uma das quais um guia infantil sobre Cavidades Vulcânicas dos Açores e a outra ilustrada com gatos. Fiquei a conhecer os dotes artísticos do Paulo Garcia.

 

Hoje, 7 de novembro, acabei a leitura do livro de Onésimo Almeida. Leiam o que ele diz sobre um presidente recentemente eleito. O mundo está assim, cada vez se elege o pior de entre os maus candidatos disponíveis.

 

7 de novembro de 2024

 

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Nogão

 



Nogão

 

O nogão ou nogueira-preta (Juglans nigra L.) é uma árvore da família Juglandaceae oriunda do este da América do Norte.

 

De acordo com Saraiva (2020), o termo Juglans deriva de jovis glans – noz de Júpiter e o nigra, negra deve-se à cor da casca e dos frutos. O nigra, segundo um texto publicado no jornal “Agricultor Michaelense”, nº 23, de novembro de 1849, “vem-lhe de que o cerne de cor violeta, se torna preto, exposto ao ar.”

 

O nogão é uma árvore de folha caduca, de tronco cinzento perfurado que pode atingir uma altura de 15 metros e possui uma longevidade próxima dos 75 anos. As suas folhas são grandes e compostas, podendo atingir 60 cm de comprimento, sendo os folíolos de margens serradas e de cor verde baça. Cada árvore possui flores dos dois sexos, sendo as masculinas de cor verde, sendo o período de floração nos meses de abril, maio e junho. Os frutos são globosos, com um diâmetro de 4 a 5 cm.

 

O nogão foi introduzido em Inglaterra em 1629 e daí terá passado para outros países, como Portugal.

 

À nossa ilha, tudo leva a crer que terá sido introduzido em 1849, como se pode depreender do texto já mencionado publicado no órgão da Sociedade Promotora da Agricultura Michaelense:

 

“Apenas tem decorrido alguns mezes depois que possuímos em S. Miguel uma destas plantas; a sua vegetação ressentiu-se da viagem: na futura primavera informaremos os nossos leitores do seu andamento: mas bom seria que outros experimentassem a sua cultura, porque ensaios desacompanhados não dão resultado em que ninguém se fie.”

 

Sobre os usos do nogão, ainda no texto que vimos citando pode-se ler o seguinte:

 

“A madeira é rigissima, não racha, pule-se bem, e não é atacada de bicho algum. Fazem-se d’ ella forro para cazas, excelentes cubos para rodas; nos tapumes das terras fincam ás vezes estacas desta madeira, que duram mais de 25 annos sem apodrecer:  e em toda a architectura civil e naval d’ella fazem grande uso. É co, a casca verde das nozes que esta nogueira produz, que se tingem estofos de lan.”

 

Para além do mencionado, regista-se que as nozes são comestíveis e também são usadas para a extração de um óleo.

 

Embora pouco usado entre nós, o nogão pode ser utilizado como planta ornamental.

 

Em Portugal continental há alguns exemplares notáveis, nomeadamente na cidade do Porto, nos arruamentos da cidade universitária, e em Ponte de Lima, no Parque da Lapa (Saraiva, 2020).

 

Na ilha da Madeira, pode-se encontrar o nogão em vários jardins, como a Quinta do Palheiro Ferreiro, a Quinta Monte Palace, a Quinta do Santo da Serra e o Campo de Educação Ambiental do Santo da Serra, este propriedade e gerido pela Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal (Quintal, 2022).

 

Na ilha de São Miguel, pode-se observar alguns exemplares, nas Furnas, no Parque Terra Nostra, e na Mata-Jardim José do Canto e na freguesia da Fajã de Cima, concelho de Ponta Delgada, no Pinhal da Paz.

 

7 de novembro de 2024