quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Virusaperiódico (127)

 



Virusaperiódico (127)

 

O dia 13 foi de visita às Lagoas do Congro e dos Nenúfares. O seu estado é lastimável, graças à incúria humana.

 

No dia 14, estive pelo Porto Formoso, onde fui apreciar as ruas enfeitadas com urtigas. Uma tradição que merece ser reconhecida como património imaterial. Uma população que devia ser acarinhada. Está de parabéns.

 

O dia 15 foi dedicado às plantas e à história dos Açores, tendo ocupado mais de 12 horas. O cansaço foi atenuado com alguns pequenos intervalos de jardinagem.

 

No dia 16, repeti o que havia feito no dia anterior, tendo algum tempo dedicado às plantas sido preenchido com trabalho de campo, nomeadamente com contatos com pessoas para me esclarecerem algumas dúvidas relativamente aos nomes comuns de algumas flores usadas nos tapetes das procissões.

 

No dia 17, estive em Vila Franca do Campo, apenas na Courela, onde colhi alguma fruta. Limpei bananeiras e alguns cachos de banana. Continuei o meu trabalho sobre plantas e li um texto sobre o 2º Movimento Autonómista dos Açores. Confirmei o que já sabia, os autonomistas eram mais conservadores do que os republicanos e eram tão democratas que a esmagadora maioria aderiu ao Estado Novo de Salazar.

 

17 de setembro de 2015

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Virusaperiódico (126)

 


Virusaperiódico (126)

 

A 9 de setembro, mal acordei, deparei-me com uma reivindicação da Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada: creches abertas ao sábado. Por que não aos domingos, dias santos e feriados?

 

No resto do dia dediquei-me à história da PIDE em São Miguel e às plantas. Estas, pelo menos, não exigem nada, nem dizem disparates.

 

No dia 10 de setembro, continuei as minhas pesquisas sobre o ano de 1975 e sobre flores existentes nos Açores. Acabei a leitura do livro “A Simbólica das Árvores e das Plantas” e comecei a ler tudo o que existe sobre apicultura no Almanaque das Aldeias para 1933. Passei por Vila Franca do Campo, tendo estado na Ribeira Nova e na Courela.

 

No dia 11, recordei que fez anos que Pinochet acabou com a democracia no Chile e que faleceu Antero de Quental. Continuei as minhas pesquisas sobre o ano de 1975 e sobre a PIDE.

 

Com saudades da minha infância e juventude, foi a Santana à feira agrícola e comprei uvas de cheiro e vinho doce.

 

O dia 12 foi dedicado às plantas e à literatura. De tarde, visitei o Parque Terra Nostra e fiquei surpreendido por lá se encontrar à venda os livros “Plantas Usadas na Medicina Popular dos Açores e Árvores dos Açores”. À noite estive presente na sessão de lançamento do livro “Casa-Mãe”, de Paula Cabral.

 

12 de setembro de 2025

domingo, 7 de setembro de 2025

Virusaperiódico (125)

 


Virusaperiódico (125)

 

No dia 4 de setembro, voltei aos arquivos da PIDE e fiquei a saber que esta até seguia quem ia ao cemitério colocar flores na campa de uma pessoas de família. Que lindo regime? Deixa saudades a quem?

 

De manhã, fui contatado por pessoa amiga porque tinha sido encontrada uma ave, uma Ibis-preta (Plegadis falcinellus), que estava debilitada ou mesmo doente. Foram feitos vários telefonemas com nenhum sucesso: as entidades não estavam disponíveis ou ninguém atendia. Para que serve o Centro de Reabilitação de Aves de São Miguel? Para propaganda? (https://www.facebook.com/groups/FOTOSDEAVESNOSACORES/posts/3607941916017961/)

 

No fim do dia voltei às plantas e retomei o trabalho que ando a fazer sobre flores e sua utilização ao longo dos tempos.

 

O dia 6 foi passado em Vila Franca. Primeiro, na Courela (Boca da Canada) a limpar bananeiras e bananas. Destaco o surgimento das primeiras goiavas (araçás) maduras. Depois, na Ribeira Nova e na Ladeira, a roçar silvas, a arrancar algumas ervas ditas daninhas e a fazer alguma (muito pouca) poda em verde.

 

A minha grande surpresa ao chegar à Ribeira Nova foi encontrar, no meu terreno, um coelho “doméstico”, muito bonito. Como terá ido lá parara?

 

Depois de cerca de 60 anos, voltei a saborear os frutos do barrileiro, que conhecíamos na Ribeira Seca pelo nome de magnólia. Verifiquei, também, que algumas nogueiras frutificaram pela primeira vez.

 

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

A propósito do jornal do Pico da Pedra

 


A propósito do jornal do Pico da Pedra

Como se está a comemorar o surgimento de um jornal no Pico da Pedra há 50 anos, que originalmente se chamou O Grito do Povo, decidi escrever alguns apontamentos sobre o período em que, em Portugal, houve maior participação das pessoas na vida social das suas terras: os anos de 1974 e 1975.

 

Depois do derrube de uma feroz e longa ditadura que oprimiu o povo português durante quase meio século, o golpe militar de 25 de Abril de 1974 foi saudado pela maioria do povo, que, logo no primeiro dia, não obedeceu ao MFA e veio para as ruas. Nos dias seguintes, a população decidiu tomar nas suas mãos os seus destinos e criou comissões de moradores, comissões de trabalhadores, comissões para resolver problemas com que se defrontavam as suas terras, associações informais de jovens, sindicatos e desalojou as direções fascistas que os dirigiam, fundou cooperativas para, em primeiro lugar, combater a carestia de vida, criou creches, etc.

 

Se é verdade que terão existido alguns “excessos” e manipulações partidárias — aos partidos interessa-lhes, em primeiro lugar, a conquista do poder —, foi no chamado PREC, o período mais democrático da história portuguesa, segundo a historiadora Raquel Varela, que alguns, infelizmente poucos, açorianos decidiram agir, sem intermediários, e contribuir para uma transformação social rumo a uma sociedade em que a democracia não se limitasse apenas ao voto, mas onde houvesse mais justiça e equidade social.

 

A criação de O Grito do Povo foi uma louvável iniciativa da juventude do Pico da Pedra que, através dele, entre outros assuntos, denunciou a prepotência de um padre, o desleixo de uma câmara municipal, a persistente falta de água na freguesia e deu a conhecer iniciativas dos jovens, entre as quais a do Juventude Futebol Clube.

 

Mas talvez a iniciativa que considero de maior importância — e que ainda hoje continua, em parte, viva — foi a da criação de um sindicato de trabalhadores rurais, que por sua vez esteve na fundação de uma cooperativa de consumo.

 

Numa altura em que o número dos assalariados correspondia a 65% da população rural do distrito de Ponta Delgada, e em que recebiam salários de miséria e muitos não tinham trabalho garantido, as gentes do Pico da Pedra foram pioneiras na defesa daquela classe profissional. Assim, a título de exemplo, regista-se uma reunião realizada no Pico da Pedra, a 1 de maio de 1975, com a presença de trabalhadores rurais de Santa Cruz e do Rosário, do Livramento, das Capelas, de São Vicente Ferreira e do Pico da Pedra, e outra, a 29 do mesmo mês, na Junta de Freguesia da Fajã de Baixo, que contou com a presença de “cerca de 50 camponeses representando à volta de 11 freguesias micaelenses”.

 

É bom recordar, numa altura em que neofascistas estão a deitar as garras de fora, que, mesmo depois do derrube da ditadura, os adeptos de Salazar e Caetano não ficaram de braços cruzados. Assim, alguns dos dirigentes dos sindicatos foram intimidados e alguns trabalhadores aconselhados a não aderirem aos mesmos por estarem, pretensamente, ligados ao Partido Comunista. No Pico da Pedra, o presidente do sindicato foi alvo de uma queixa em tribunal, por parte de duas entidades patronais, pelo facto de, segundo os queixosos, ser também sócio do Sindicato dos Estufeiros.

 

Embora com uma vida efémera, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Pico da Pedra teve a iniciativa de criar, já em 1977, a Cooperativa de Consumo do Pico da Pedra, que foi fundada para garantir o acesso a bens essenciais a preços justos e que, embora primeiramente destinada aos seus membros, ainda serve toda a freguesia.

 

Estamos a viver tempos difíceis, em que parte da população não está apetrechada com os meios capazes de distinguir a verdade da mentira; em que alguns políticos ou aspirantes a tal, para caçar votos, dizem o que mais agrada às pessoas; em que, com base em dados falsos, se criam artificialmente inimigos, como os imigrantes ou os mais frágeis socialmente; em que se desvaloriza ou mesmo ignora o conhecimento científico; e em que se insulta quem tem opiniões diferentes, mesmo que fundamentadas. Por isso, é importante a existência de um jornal isento e plural numa freguesia.

 

A Voz Popular pode e deve continuar a ser um exemplo inspirador para outras localidades e um elo entre gerações, ligando os seus habitantes atuais a todos os que foram obrigados a procurar uma vida melhor noutras paragens.

 

Pico da Pedra, 10 de agosto de 2025

Teófilo Braga

(Publicado em “Voz Popular”, 213, agosto de 2023)

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Virusaperiódico (124)

 



Virusaperiódico (124)

 

No primeiro dia de setembro recordei, sem saudades, o regresso à escola. Um bom ano letivo para todos os colegas que em breve voltarão às aulas ou às jaulas, para aqueles que não conseguirão desenvolver o seu trabalho em condições. Recebi um livro sobre Agostinho da Silva que passou a ficar em primeiro lugar na lista de livros a ler nos próximos dias.

 

O dia 2 foi dedicado às plantas, passei pelos principais espaços verdes do Pico da Pedra, o Jardim da Casa do Povo e o Parque Maria das Mercês.

 

No primeiro, encontrei um plátano um pouco maltratado e no segundo, encontrei uma sinalização em que a planta, um queiró, já morreu e voltei a observar várias faias mortas no labirinto. Era importante saber o que se está a passar, fazer os tratamentos possíveis e substituir as plantas quando tal for conveniente. À noite, também no Pico da Pedra, fui observar a flor de uma pitaia.

 

Comecei o dia 3 a vasculhar nos arquivos da PIDE, estive em Vila Franca do Campo a colher bananas e não só e acabei com a leitura de algumas páginas do livro sobre Agostinho da Silva. Dele, personagem que admiro, embora não concordo com alguns dos seus pensamentos, aqui deixo uma quadra:

 

E sou mestre de uma escola

Em que toda a gente cabe

Se depois de estudar tudo

Sentir bem que nada sabe.

 

3 de setembro de 2015

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Virusaperiódico (123)

 


Virusaperiódico (123)

 

No dia 25 fui visitar a minha “área de intervenção da reforma agrária” e regressei satisfeito. As bananeiras estão a recompor-se e algumas fruteiras prometem compensar o meu trabalho com algumas, mas infelizmente poucas, frutas. Verifiquei que as abelhas estão a trabalhar bem e se não houver nenhum azar irei colher algum mel.

 

Fiquei contente por saber que uma colega em breve irá ficar na situação de pré-reforma. Está de parabéns.

 

Dediquei o dia 26 ao ativismo ambiental, a limpar material apícola e a tirar apontamentos sobre a perseguição da PIDE a alguns açorianos.

 

Acabei de ler “A Vida de Tolstói”, de Daniel Gilles. Apesar de não ser o que esperava, isto é não fiquei satisfeito devido à pouca informação sobre o seu pensamento, valeu a pena.

 

Rei morto, rei posto, comecei a ler “A simbólica das Árvores e das Plantas”. Dele transcrevo o seguinte pensamento de Bernardo de Claraval: “Encontrarás mais nos bosques do que nos livros. As árvores e as pedras ensinar-te-ão coisas que nenhum homem poderá dizer-te”.

 

O final do mês de agosto foi para esquecer: a doença fez uma visita cá a casa.

 

No dia 30 andei pouco tempo por Vila Franca do Campo e no dia 31 retomei, algum trabalho no computador e alguma leitura sobre a ilha de São Miguel, em 1821.

 

30 de agosto de 2025

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Virusaperiódico (122)

 


Virusaperiódico (122)

 

Depois de um sábado em que o mau tempo me impediu de ir trabalhar na terra, em Vila Franca do Campo, comecei o domingo, dia 24 de agosto, a ler vários documentos dos arquivos da PIDE. Num deles há referência a Ernâni Pinto Basto. Não conhecendo nada da sua biografia fui pesquisar e encontrei um texto da sua autoria. Quase a terminar, li uma pérola sobre a antiga anarquista (?) que foi ministra da educação de um governo dito socialista, Maria de Lurdes Rodrigues. Segundo ele, a “Milu” estava para os professores como a filoxera para as videiras.

 

Raramente me alimento de poesia, mas algumas vezes vale a pena, como esta de Almeida Firmino:

 

Nós, na ilha

 

Falta-nos a terra,

Falta-nos o mar.

Falta-nos a voz

Com que protestar.

 

Sequestrados vamos

Adiando a viagem.

Nós, na ilha, ficamos

A ceifar coragem.

 

Grande parte do domingo foi passada a ler a biografia de Tolstói. A dado passo o autor menciona o grupo religioso “Dukhobors” que era pacifista e foi perseguido na Rússia. Meu pai que foi emigrante no Canadá durante 10 anos, a eles se referia, pois muitos dos seus membros foram bem acolhidos naquele país.

 

O livro dá conhecer o pensamento de Lenine, o chefe da Revolução Soviética sobre as ideias e práticas de Tolstoi e seus seguidores: “Um tolstoiano é um desses choramingas esgotado e histérico a quem chamam o intelectual russo, e que batendo no peito publicamente, exclama: “Sou mau, sou nojento, mas ocupo-me do aperfeiçoamento moral, não como carne e alimento-me de bolinhas de arroz”.

 

24 de agosto de 2025