quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
O metro
A propósito do anunciado desaparecimento do metro
No jornal Correio dos Açores, de 14 de Setembro de 1934, lemos um texto intitulado “O metro - unidade de comprimento - vai desaparecer”, onde o autor para além de se debruçar sobre a história daquela unidade de medida refere “que o sistema métrico não se generalizou no continente europeu até 1850”.
Antes de prosseguirmos, vamos tentar esclarecer o que se entende por sistema de unidades e por grandeza física.
De acordo com manuais escolares consultados, podemos denominar sistema de unidades “ao conjunto de unidades escolhidas para a totalidade das grandezas físicas”, sendo, por sua vez, grandeza física “toda a propriedade que é suscetível de ser medida e, portanto, de se lhe atribuir um valor numérico”. A título de exemplo, comprimento e massa são grandezas físicas, sendo unidades daquelas o metro e o quilograma.
De acordo com o Prof. Jorge Luiz Moretti de Souza, “a existência de um único sistema de unidades que internacionalmente permita um diálogo técnico uniforme onde se fale de dimensões sem recurso a conversões mais ou menos complexas, continua a ser um objetivo ainda não alcançado”.
O primeiro sistema de unidades surgiu no século XVIII, tendo após este surgido outros sempre tendo por critério a escolha para base dos mesmos “certas unidades que possam ser definidas sem necessidade de recorrer a quaisquer relações com outras unidades e que, tanto quanto possível, se possam concretizar em padrões”
Quando frequentamos as aulas de Física, na década de setenta do século passado, tanto no que hoje é denominado de terceiro ciclo como nos antigos sexto e sétimos anos (hoje, décimo e décimo primeiros anos do ensino secundário), ensinaram-nos que, entre outros, existiam dois sistemas de unidades o CGS (centímetro, grama e segundo) e o Sistema Internacional, que para a grandeza comprimento tem como unidade fundamental o metro (m), para a grandeza massa o quilograma (kg) e para a grandeza tempo o segundo (s).
Já há alguns anos, o sistema CGS deixou de merecer qualquer menção e o Sistema Internacional passou a ser o único a ser estudado, numa primeira fase de um modo sistemático, num capítulo denominado “Grandezas e Unidades Físicas” ou designado “Medições e Grandezas” e hoje as unidades são estudadas à medida que se vão ensinando conceitos e vão sendo abordadas as diferentes grandezas físicas.
No que diz respeito à unidade de comprimento, em 1791, a Assembleia Nacional de Franca decidiu que: “A fim de atingirmos a uniformidade de pesos e medidas, é necessário que estabeleçamos uma unidade natural e invariável de medida. O único meio de estendermos essa uniformidade para países estrangeiros e de comprometê-los com o uso de um novo sistema de medidas é escolher uma unidade que não tenha nada arbitrário ou peculiar à situação de uma pessoa no mundo. A Assembleia adota o comprimento de um quarto de um meridiano terrestre como a base para o novo sistema de medidas.”
O comprimento de um metro foi calculado com base nas medições do arco do meridiano que passa por Paris, realizadas entre Dunquerque e Barcelona, dividindo-se o comprimento do meridiano terrestre em quarenta milhões de partes iguais.
A partir da referida medição foi construído um protótipo com a forma de um X, feito de uma liga de platina e irídio que está depositado em Sevres, França, no Instituto Internacional de Pesos e Medidas.
Todos os países que aderiram à Convenção do Metro, em 1875, possuem cópias do padrão internacional, estando a portuguesa depositada no Instituto Geográfico e Cadastral de Lisboa.
Hoje, o metro não está relacionado com a medida do meridiano terrestre mas com “o comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo durante um intervalo de tempo de 1/299.792.458 s”.
Ao contrário do que previu o Correio dos Açores, embora ainda não haja um sistema de unidades único, o metro não desapareceu e o Sistema Internacional de Unidades, criado em 1960, pela 11ª Conferência Geral de Pesos e Medidas, é usado, de acordo com o Prof. Jorge Luiz Moretti de Souza, na “maior parte de negócios e atividades técnicas em todo o mundo”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30526, 7 de Janeiro de 2015, p.14)
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