quarta-feira, 25 de novembro de 2020
Em memória do meu professor Válter Soares Ferreira
Em memória do meu professor Válter Soares Ferreira
No passado dia 20 de novembro, faleceu o meu professor da terceira e quarta classes Válter Soares Ferreira, filho de Manuel Soares Ferreira e de Aldina Laura Casimiro, um dos obreiros de uma escola, a da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, que no final da década de 60 e início da de 70 do século passado era considerada uma “escola modelo”.
O professor Válter Ferreira, fez parte de uma equipa que tinha como “relações públicas”, o seu cunhado Eduardo Calisto Amaral e era composta pela sua irmã, Adelaide, pela sua mulher Ildebranda e pela professora Zulmira Teixeira e que promoveu alterações no edifício escolar, tornando-o mais aconchegante para os alunos e, talvez o mais relevante, dinamizou a comunidade de um pequeno lugar habitado por uma população com poucos recursos.
A 15 de junho de 1992, a população da Ribeira Seca organizou-se para prestar homenagem aos seus professores pelo que muito fizeram pela instrução e educação dos seus filhos. Na ocasião, a antiga aluna daquela escola, Graça Soares Flor de Lima, num pequeno discurso, sobre o professor Válter disse: O sr. Válter, o homem da técnica que, com o seu dedo mágico consertava o mais velho e usado, pondo-o novinho em folha, como se de magia se tratasse. Muito lhe fica a dever este edifício.”
Habilidoso com as mãos, a ele se devem os pendões e o guião de várias marchas de São João e o emolduramento de vários quadros com informação didática que se encontravam pendurados nas paredes da escola, entre os quais dois cujos temas eram as medidas de tempo e que foram projetados e realizados com perfeição.
Sobre a sua quase obsessão por ver as coisas bem feitas, o que não é defeito, o professor Eduardo Calisto, no seu livro “Encontro com uma profissão”, depois de referir que “quem quisesse ver o Válter nos tempos livres das aulas, era ir à sala de Trabalhos Manuais e certamente ele lá estaria a reparar, melhorar, construir tudo e qualquer coisa que pudesse, de certo modo, melhorar o nível do ensino, no aspeto prático e visualizado” acrescentou que, por vezes, ao avaliar o resultado das ajudas que lhe dava ouvia o seguinte. “Meu compadre não se ofenda, mas eu prefiro levar mais tempo e fazê-lo com as minhas mãos”.
O professor Válter não limitou a sua vida às atividades relacionadas com a instrução, também dedicou algum do seu tempo disponível a contribuir para a sua terra, através de atividades cívicas e políticas.
A nível cívico, registo a sua participação no “Grupo de Amigos de Vila Franca do Campo”, de que foi vogal da sua direção eleita em 1972. Aquele grupo foi criado em 1968 para dinamizar a cultura no concelho e organizar as festas em honra de São João.
O professor Válter Ferreira pertenceu também à Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo, tendo sido, de acordo com o ex-provedor Rui Melo “o responsável pela grande recuperação da Igreja da Misericórdia”.
No que diz respeito à política, em 1973, fez parte da Comissão do Lugar da Ribeira Seca da ANP- Ação Nacional Popular, não sendo conhecida qualquer atividade da mesma pois aquela organização foi extinta com o 25 de Abril de 1974. Da mesma comissão, que era presidida por Arcádio Teixeira, também faziam parte Maria da Glória Furtado Carreiro, Floriano Manuel do Rego Silva, Teófilo de Braga, João Norberto Furtado Salema, José Furtado Braga e Manuel da Costa Escaler.
Em 1982, foi o segundo candidato da lista apresentada pelo PS-Partido Socialista à Câmara Municipal de Vila Franca do Campo. Da lista em questão, liderada por Eduardo Calisto Amaral, também faziam parte Arsénio Puim, Eduardo Moniz Correia, Valdemar Esteves, José Santo Cristo Verdadeiro, António Cordeiro e José Alberto Medeiros Simas.
Como vereador da Câmara Municipal de Vila Franca, foi um dos responsáveis pela organização das festas de São João, tendo, em conjunto com o seu cunhado Eduardo Calisto Amaral, sido responsável pela Marcha das Hortas.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32293, 25 de novembro de 2020, p. 14)
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