O dr. Lúcio
Miranda e o encanto dos números
Em 2015, publiquei, neste jornal, um texto
sobre o professor de matemática do Liceu Nacional Antero de Quental, atualmente
Escola Secundária Antero de Quental, Lúcio Miranda, natural de Goa, que tinha uma predileção pelas artes,
nomeadamente pela música. Foi fundador e vice-presidente da Academia Musical de
Ponta Delgada e criou o “Centro de Estudos de Matemática e Física do Liceu
Nacional de Antero de Quental.
Recentemente
reli o seu texto “O encanto das Matemáticas”, publicado no Correio dos Açores,
de 8 de outubro de 1932 que não perdeu atualidade. No texto de hoje, partilho
com os leitores mais curiosos alguns dos conhecimentos que ele transmitiu e que
para mim foram novidade.
A dado
passo do seu texto, o Dr. Lúcio Miranda refere-se a Platão que manifestava tal
predileção pelas matemáticas puras que dizia ser a Geometria “um método próprio
de dirigir as almas para Deus”. E, querendo glorificar as harmonias da
Natureza, tem esta síntese magnífica: «Deus geometriza eternamente»”.
Ainda sobre Platão, o Dr. Lúcio Miranda
escreveu que tal foi a sua paixão pelos números que “levado pelo exagero da sua
imaginação fantasista, chegou a conceber o número nupcial - aquele que havia de
influenciar as consequências do matrimónio!”
Fomos
tentar saber que número seria aquele e apenas encontramos dois textos na
Internet. Segundo a resenha feita por Tassos Lycurgo a um trabalho de Glenn
Erickson e Johun Fossa intitulado “Estudos sobre o número nupcial”, “Platão
disse que o período de maior vigor do homem se dá dos 25 aos 35 anos de idade e
das mulheres, dos 20 aos 40”. Tasso Lycurgo acrescenta que os autores
mencionados concluem que “os filhos mais bem capacitados nasceriam, de acordo
com a interpretação da passagem de Platão …. quando o pai tivesse 40 anos e a
mãe, 30.”
De acordo
com o distinto professor de Matemática que vimos referindo, “os
números chegam a adquirir uma verdadeira personalidade aos olhos dos que lidam
com eles. E na Aritmética aparecem, por isso, designações como a dos números
amigos, primos entre si, perfeitos, abundantes e deficientes, exprimindo os laços
de afinidade que os ligam aos outros ou as propriedades que os caracterizam.”
Como os números primos entre si eram os
únicos que conhecia e que é do conhecimento da maioria dos alunos, pelos menos
dos meus que estão no 8º ano de escolaridade, com recurso à internet, abaixo
faço referência aos restantes.
Dois números são amigos quando um deles é
igual à soma dos divisores próprios do outro, como por exemplo 284 e 220.
Para o nº 220 –
1+2+4+5+10+11+20+22+44+55+110= 284
Para o nº 284 –
1+2+4+71+142 =220
Um número é perfeito quando a soma dos
seus divisores próprios é igual ao próprio número, como 28.
Para o nº 28 – 1+2+4+7+14
= 28
Um número é abundante quando é menor do
que a soma dos seus divisores próprios, por exemplo o número 12
Para o nº 12 – 1+2+3+4+6
= 16
Por último, um número é deficiente se for
maior do que a soma dos seus divisores próprios, como o número 10
Para o nº 10 – 1+2+5 = 8
No final do seu artigo o Dr. Lúcio Miranda
referiu que havia duas disciplinas que inspiravam o terror aos alunos: o Latim
e a Matemática. Hoje talvez seja a Físico-química e a Matemática.
Será que o modo como é ensinada a
Matemática deste a mais tenra idade leva os alunos a se aperceberem da sua
Perfeição, Harmonia e Beleza” ou faz com ao longo dos anos cresça a sua aversão
à mesma?
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32275, 4 de
novembro de 2020, p.14)
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