Nas minhas persistentes pesquisas sobre a vida e a obra de Alice Moderno,
que venho fazendo há algum tempo na Biblioteca Pública de Ponta Delgada, encontrei
alguns textos sobre a execução, no mesmo dia, 23 de agosto de 1927, de Nicola Sacco, Bartolomeo Vanzetti e Celestino Medeiros.
Em comum os três tinham o facto de serem emigrantes, nos
Estados Unidos da América e de serem acusados de homicídio. Os dois primeiros
eram italianos e o último português, natural de Água d’Alto, uma das freguesias
do concelho de Vila Franca do Campo.
Os dois emigrantes italianos, militantes anarquistas,
foram presos na sequência da morte de dois homens, ocorrida durante um assalto
a uma fábrica de sapatos de Massachusetts, em 15 de abril de 1920. Por seu
lado, o vila-franquense fazia parte de uma quadrilha que cometeu vários
assassinatos.
Enquanto o vila-franquense confessou a sua
participação nos crimes, os dois italianos sempre juraram a sua inocência e não
conseguiram a absolvição, mesmo após outra pessoa ter confessado a autoria dos
crimes.
De acordo com o Correio dos Açores, de 18 de Setembro de
1927, os três prisioneiros portaram-se de modo diferente nos momentos que
antecederam a execução. Enquanto Celestino Medeiros nada disse os dois italianos
não se remeteram ao silêncio.
Celestino Medeiros “apresentou-se impassível”. “Os seus
olhos, sem expressão, vagueavam pelo pequeno grupo de testemunhas enquanto o
ligavam à cadeira, mas não proferiu uma única palavra”.
Sacco, enquanto os guardas o amarravam à cadeira, exclamou:
Viva a Anarquia” e acrescentou: Adeus, minha esposa e filhos, e todos os meus
amigos” e, por último “Adeus, minha mãe!”
Vanzetti, que não manifestou qualquer sinal de nervosismo ou
hesitação, por seu lado, proferiu as seguintes palavras: “Agradeço tudo o que
têm feito a meu favor. Estou inocente de todo e qualquer crime, não só deste,
mas de todos. Sou um homem inocente” e acrescentou: “Perdoo a algumas pessoas
pelo que me estão fazendo agora!”.
Celestino Medeiros, filho de José Medeiros e de Maria da
Conceição, chegou aos Estados Unidos da América em Novembro de 1905, com os
pais e os seus seis irmãos, aos três anos de idade. O seu pai, homem honrado,
tudo fez para dar uma boa vida à família mas acabou por morrer deixando “os
seus entes queridos na miséria”.
Vivendo “num meio de privações, de desconforto e de
necessidades”, Celestino Medeiros frequentou a escola de forma irregular não
conseguindo obter uma escolaridade elevada e padecendo de “insuficiência mental
e física” acabou por enveredar pelo caminho do crime.
Os dois italianos, por seu turno, foram vítimas de
perseguição política já que, não tendo anteriormente sido acusados de qualquer
crime, eram conhecidos pelas autoridades pelo facto de participarem em greves e
terem atividades de agitação política e fazerem propaganda antiguerra, para
além de serem assíduos leitores do jornal anarquista, com mais influência da
América, “Cronaca Sovversiva”.
O processo de Sacco e Vanzetti foi estudado por vários
juristas, tendo um deles, Edmund Morgan, da Universidade de Harvard, em 1948,
chegado à conclusão de que a sentença havia sido um erro judicial.
Por último, em 1977, Michael Dukakis, governador do Estado de
Massachusetts, reconheceu que o tribunal havia cometido uma injustiça e
reabilitou o nome dos dois emigrantes italianos executados 50 anos antes.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30571, 4 de
março de 2015, p.14)
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