segunda-feira, 22 de abril de 2024

Dia da Terra 2024


22 de abril- Dia da Terra, dia de reflexão e ação

Desde 1970, comemora-se em vários países do mundo o Dia da Terra. Naquele ano, por iniciativa do senador Gaylord Nelson, ocorreu um grande protesto nos Estados Unidos da América que juntou cerca de 20 milhões de pessoas preocupadas com os impactos negativos das atividades humanas na Terra.

Hoje, a situação no Planeta não é nada favorável aos seus habitantes, pois o sistema económico e social dominante continua a promover a desigualdade, a discriminação e a injustiça social, traduzida no facto de apenas 1% da população mundial ter mais de metade da riqueza de todo o Planeta, e a degradação do ambiente.

Neste dia, propomos uma reflexão sobre o que se passa na nossa Terra, nomeadamente no que diz respeito à educação ambiental, aos resíduos, ao património natural e às alterações climáticas

A (des)educação ambiental

O grande, o maior, problema dos Açores e não só é o da ausência da educação ambiental que não seja a muito pouca que temos tido, isto é, a que sofre um desvio naturalista e conservacionista cuja única preocupação é “salvar” o ambiente, como recurso que é necessário para manter a maquinaria produtivista. O que precisamos é nunca esquecer que os problemas ambientais são problemas sociais e que a sua resolução só será possível através de uma mudança nos meios de produção e de consumo, bem como da nossa organização social e das nossas vidas pessoais.

Mas, pior do que a ausência de educação ambiental é a deseducação que é feita através da deturpação de conceitos ou a transmissão de ideias erróneas e o uso e abuso do “greenwashing” (lavagem verde).

Os Resíduos

Sobretudo nas escolas, mas também através das mais diversas autarquias há atividades onde se apresentam materiais reciclados que não o são. Recordamos os desfiles de moda em que se diz que as roupas são recicladas quando o que se faz é a reutilização de alguns materiais. Nos desfiles que tenho visto, o vestuário usado de papel ou de plástico é ridículo e deseduca, pois nunca poderá ser um exemplo do que poderá ser usado no dia a dia.

Além disso, creio que voluntariamente se inverte a política dos 3 R’s, colocando em primeiro lugar a reciclagem quando devia ser a redução.

O que têm feito as várias entidades em prol da redução da produção de resíduos? Que eu saiba nada ou muito pouco.

A lógica é uma só, desresponsabilizar os cidadãos pela gestão dos resíduos que produzem, dando a entender que os mesmos poderão ser valorizados através da sua queima. Nada mais errado, o melhor resíduo é o que não se produz. Não se combate as alterações climáticas queimando materiais que deviam ser reutilizados ou reciclados.

O Combate ao aquecimento global com touros

Se não é com o fomento de combustões que se reduz a produção de gases com efeito de estufa, como o dióxido de carbono, o metano, etc. muito menos é com a ajuda de uma parte do gado bovino.

É inadmissível que um governante para defender uma prática cada vez mais contestada, as touradas, tenha demostrado falta de preparação para o exercício do cargo. Aqui ficam as suas hilariantes declarações: “O touro é um animal que combate as alterações climáticas. É um animal que pela sua alimentação. É um animal que pelo seu pastoreio. É um animal que pela sua libertação de dióxido de carbono permite estar dentro das raças que combatem as alterações climáticas para o futuro.”

Ainda a propósito das alterações climáticas (juntamos aqui a proteção das nossas lagoas), Stefano Mancuso, professor na Universidade de Florença, defende que “sem um número suficiente de florestas não existe nenhuma possibilidade real de inverter a tendência de crescimento do CO2.” Assim, a grande aposta governamental devia ser um investimento na plantação massiva de espécies nativas em todas as ilhas e o que tem sido feito é muito insuficiente. Preocupante foi o falhanço na reflorestação da Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas que havia sido iniciada pela Azorina.

A desvalorização do património natural e o desrespeito pelos cidadãos

Desrespeitando centenas de cidadãos que subscreveram uma petição, não respeitando uma legislação aprovada por unanimidade na Assembleia Regional dos Açores, o Governo Regional, mais propriamente a Secretaria Regional da Agricultura e Florestas continua sem proceder à regulamentação do DLR nº 27/2022, diploma estabelece o regime jurídico de classificação de arvoredo de interesse público na Região Autónoma dos Açores, o que devia ter acontecido 60 dias após a sua publicação.

Como podemos confiar num governo que tem impedido que “povoamentos florestais, bosques ou bosquetes, arboretos, alamedas e jardins de interesse botânico, histórico, paisagístico ou artístico, bem como aos exemplares isolados de espécies vegetais que, pela sua representatividade, raridade, porte, idade, historial, significado cultural ou enquadramento paisagístico, possam ser considerados de relevante interesse público e se recomende a sua cuidadosa conservação”?

Pelo contrário, não tem razão de ser uma proposta que se encontra na ALRA que pretende classificar como de interesse público uma espécie exótica que, embora marque a paisagem das nossas ilhas, de modo nenhum se encontra ameaçada ou em vias de o estar, como é a ornamental hortência.

A proposta em causa, é feita sem ter em conta anos de observação e de pareceres científicos que a consideram invasora em alguns habitats mais sensíveis pelo que nestes deve ser controlada ou mesmo erradicada.

Muito grave é o facto da referida proposta apresentada por um partido político seja acompanhada de insultos a quem, respeitando os estudos científicos, considera que faz todo o sentido o controlo das hortências nas áreas protegidas e não nas bordaduras das estradas onde embelezam as paisagens.

O mar

Consideramos que faz todo o sentido proteger e preservar os ecossistemas marinhos e a biodiversidade do mar que nos rodeia, criando Áreas Marinhas Protegidas oceânicas em 30% da sua extensão. Se é verdade que os pescadores deverão ser compensados, caso tal afete os seus rendimentos, também é verdade que os governos não podem ficar reféns de um determinado grupo económico. Como se sabe o desenvolvimento sustentável tem três pilares, o económico, que é sobrevalorizado, o social e o ambienta que são eternamente esquecidos.

Para proteger a biodiversidade e para garantir os recursos para os próprios pescadores é importante avançar com a máxima urgência possível com a implementação das Áreas Marinhas Protegidas costeiras.

Açores, 22 de abril de 2022

O Núcleo Regional da IRIS- Associação Nacional de Ambiente

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