MURTA
A
murta ou murtinhos (Myrtus communis L.) é um arbusto oriundo do sul e
oeste da Europa que pertence à família Myrtaceae, encontrando-se naturalizada
em algumas ilhas dos Açores. De acordo com o Portal da Biodiversidade dos
Açores a murta não está presente na Graciosa, nas Flores e no Corvo.
A
murta é um arbusto, perene, que pode atingir 2 a 3 m de altura. Possui flores
brancas muito perfumadas e as folhas são pequenas, coriáceas e lanceoladas. O
fruto é uma pequena baga carnuda que quando madura apresenta uma coloração azul-escura.
A murta foi uma planta muito abundante nos Açores de tal modo que
Gaspar Frutuoso, nas Saudades da Terra, faz referência à sua presença nas ilhas
de São Miguel, Santa Maria, Terceira e Faial.
A abundância
de murtas em Santa Maria era tal que no século XIX chegou a ser enviada em grandes
quantidades para a ilha de São Miguel. Carreiro da Costa (1952) refere que “no
ano económico de 1850-51, se colheram e exportaram, também para S. Miguel, 49
moios e meio de murta” que se destinava “à reexportação para Inglaterra, onde
as folhas respetivas eram utilizadas na curtimenta de peles, dadas as
magníficas propriedades que possui para esse efeito.”
Dado o
seu uso na medicina popular, Armando Cortes Rodrigues, no “Cancioneiro Geral
dos Açores”, dá a conhecer a seguinte quadra:
Aquele que estiver doente
Vá tomando chá de murta
Que os remédios de botica
Põem a vida mais curta
A murta é muito apreciada como planta ornamental, sendo também uma
planta melífera.
Carreiro
da Costa (1952) refere o uso da murta, nos Açores, “para enfeitar as casas e as
ruas, pelos tempos em que os tronos do Espírito Santo são armados a cada passo
e as procissões das freguesias rurais saem por entre músicas e foguetes.”
Mas
não era só durante os festejos que a murta era utilizada, Carreiro da Costa
menciona que a mesma é também usada em acontecimentos tristes, relacionados com
a morte, como se prova através da quadra:
Meu
ramo de murta fina,
Eu
hei-de-te combater.
A
murta dá-se a quem morre
E eu
por ti quero morrer.
Em 1893, Gabriel de Almeida referia o facto de a murta
ser uma “planta muito apreciada pela fragância das suas flores” e acrescentava
“é muito usada em medicina”.
Carreiro
da Costa (1952), depois de referir o uso da planta em perfumaria, refere que
“são muito usadas pelo povo dos Açores as infusões de murta para os inchamentos
dos pés, da cara, dos braços ou das mãos. As mesmas infusões são também
empregadas na lavagem da cabeça como remédio contra as caspas.” O mesmo autor
menciona o uso de um pó obtido a partir das folhas que era vendido nas lojas e
nas farmácias “que se destinava a ser usado, como a linhaça, isto é, pondo-o
num pequeno saco que, previamente aquecido se colocava sobre o ventre das
crianças com o fim de as aliviarem de certas dores.”
Yolanda
Corsépius (1997), depois de mencionar a sua abundância junto ao aeroporto de
Santa Maria, refere as seguintes propriedades da murta: antissética e
adstringente.
Tal como outras espécies, a murta marca presença na
toponímia dos Açores. Assim, na freguesia de São Roque, concelho de Ponta
Delgada, e nas Furnas, concelho da Povoação, encontram-se dois arruamentos
designados por canada das murtas, o que deverá estar relacionado com a sua
presença naqueles locais. No passado, o Jardim Beatriz do Canto, nas Furnas,
era conhecido por Parque das
Murtas.
Hoje, não é fácil encontrar a murta no seu estado
“selvagem”. Na ilha de São Miguel, quem quiser observar murtas pode fazê-lo
visitando o Parque Urbano, em Ponta Delgada.
11 de janeiro de 2025
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