sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Murta

 


MURTA

 

A murta ou murtinhos (Myrtus communis L.) é um arbusto oriundo do sul e oeste da Europa que pertence à família Myrtaceae, encontrando-se naturalizada em algumas ilhas dos Açores. De acordo com o Portal da Biodiversidade dos Açores a murta não está presente na Graciosa, nas Flores e no Corvo.

 

A murta é um arbusto, perene, que pode atingir 2 a 3 m de altura. Possui flores brancas muito perfumadas e as folhas são pequenas, coriáceas e lanceoladas. O fruto é uma pequena baga carnuda que quando madura apresenta uma coloração azul-escura.

 

A murta foi uma planta muito abundante nos Açores de tal modo que Gaspar Frutuoso, nas Saudades da Terra, faz referência à sua presença nas ilhas de São Miguel, Santa Maria, Terceira e Faial.

 

A abundância de murtas em Santa Maria era tal que no século XIX chegou a ser enviada em grandes quantidades para a ilha de São Miguel. Carreiro da Costa (1952) refere que “no ano económico de 1850-51, se colheram e exportaram, também para S. Miguel, 49 moios e meio de murta” que se destinava “à reexportação para Inglaterra, onde as folhas respetivas eram utilizadas na curtimenta de peles, dadas as magníficas propriedades que possui para esse efeito.”

 

Dado o seu uso na medicina popular, Armando Cortes Rodrigues, no “Cancioneiro Geral dos Açores”, dá a conhecer a seguinte quadra:

 

Aquele que estiver doente

Vá tomando chá de murta

Que os remédios de botica

Põem a vida mais curta

 

A murta é muito apreciada como planta ornamental, sendo também uma planta melífera.

 

Carreiro da Costa (1952) refere o uso da murta, nos Açores, “para enfeitar as casas e as ruas, pelos tempos em que os tronos do Espírito Santo são armados a cada passo e as procissões das freguesias rurais saem por entre músicas e foguetes.”

 

Mas não era só durante os festejos que a murta era utilizada, Carreiro da Costa menciona que a mesma é também usada em acontecimentos tristes, relacionados com a morte, como se prova através da quadra:

 

Meu ramo de murta fina,

Eu hei-de-te combater.

A murta dá-se a quem morre

E eu por ti quero morrer.

 

Em 1893, Gabriel de Almeida referia o facto de a murta ser uma “planta muito apreciada pela fragância das suas flores” e acrescentava “é muito usada em medicina”.

 

Carreiro da Costa (1952), depois de referir o uso da planta em perfumaria, refere que “são muito usadas pelo povo dos Açores as infusões de murta para os inchamentos dos pés, da cara, dos braços ou das mãos. As mesmas infusões são também empregadas na lavagem da cabeça como remédio contra as caspas.” O mesmo autor menciona o uso de um pó obtido a partir das folhas que era vendido nas lojas e nas farmácias “que se destinava a ser usado, como a linhaça, isto é, pondo-o num pequeno saco que, previamente aquecido se colocava sobre o ventre das crianças com o fim de as aliviarem de certas dores.”

 

Yolanda Corsépius (1997), depois de mencionar a sua abundância junto ao aeroporto de Santa Maria, refere as seguintes propriedades da murta: antissética e adstringente.

 

Tal como outras espécies, a murta marca presença na toponímia dos Açores. Assim, na freguesia de São Roque, concelho de Ponta Delgada, e nas Furnas, concelho da Povoação, encontram-se dois arruamentos designados por canada das murtas, o que deverá estar relacionado com a sua presença naqueles locais. No passado, o Jardim Beatriz do Canto, nas Furnas, era conhecido por Parque das Murtas.

 

Hoje, não é fácil encontrar a murta no seu estado “selvagem”. Na ilha de São Miguel, quem quiser observar murtas pode fazê-lo visitando o Parque Urbano, em Ponta Delgada.

 

11 de janeiro de 2025

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