Verdades sobre a
nuclear e os imaginários S.M.R.s
Nos últimos
tempos os promotores da nuclear e os seus afiliados têm promovido muitas
estórias sobre os S.M.R.s, pequenos reactores modulares. Mas esse conceito é
uma fraude para criar a impressão que há algo de novo na indústria nuclear. Estes
são indiscerníveis dos reactores dos anos 50 e 60 muito antes desse conceito
ser usado. Não existem S.M.R.s nem sequer como conceito utilizável. Na actualidade há cerca de 70
desenhos pelo mundo, nenhum em construção e a profusão só aumenta a dificuldade
prática.
Por outro lado, a tecnologia nuclear tem cerca de
80 anos, e continua a não ser capaz de inovar de forma significativa.
Há de facto um pequeno número de
projectos de demonstração que se poderiam classificar como S.M.R.s. São e serão
demasiado caros e levarão muito tempo a construir, e de facto são simplesmente
novas versões de velhos reactores, com os seus fiascos, falhas e técnicas
falhadas. Não há qualquer economia de escala comparando com reactores maiores.
Já nos anos 60 a indústria nuclear descobriu que os projectados S.M.R.s não
eram económicos e continuou a desenvolver os maiores (as centrais de segunda
geração, a maioria das que ainda funcionam).
E embora se fale dessa alternativa que
seria milagrosa: a dos pequenos reactores nucleares (S.M.R.s) que são
apresentados como capazes de resolver pelo menos alguns dos problemas apontados
ao nuclear. Uma característica que se indica para eles é o de poderem vir a ser
fabricados em ambiente industrial e em série, algo que poderia reduzir custos
de produção, custos de funcionamento e tempo de implementação. Mas essa
massificação da produção não se compadeceria com o rigor que há que ter na
produção de equipamentos, nomeadamente os que obrigam a soldaduras sofisticadas
controladas a Raios X, com uma elevada taxa de rejeições.
Mas há muitas tecnologias diferentes que
estão a ser desenvolvidas e aí começa o seu problema. Os S.M.R.s que recorrem à
tecnologia convencional (neutrões lentos) das centrais convencionais de grande
dimensão de hoje, dificilmente se imaginam que possam reduzir custos, já que as
centrais convencionais são grandes precisamente para permitir reduzir custos! Por
outro lado, os que recorrem a outras tecnologias, de neutrões rápidos, por
exemplo, propõem soluções muito diferentes (com moderação a metais líquidos –
sódio por exemplo e outras, soluções para as quais a experiência existente é
baixíssima em comparação com a do nuclear convencional), com exigências de
segurança diferentes, produzindo lixo radioactivo diferente e a exigir rondas
morosas de licenciamento.
Reactores rápidos com sistema de
arrefecimento a sódio e altas temperaturas foram construídos como protótipos
nos anos 60 mas as tentativas para passar desse nível fracassaram totalmente e
tiveram de ser encerrados, como foi o caso do ruinoso Superfénix, em França
Hoje não é previsível que ressuscitem dados os fracos resultados de então.
Além de que os novos desenhos terão que
passar por licenciamentos e se aprovados levarão muitos anos até que sejam
construídos.
Neste domínio do licenciamento e da
fiscalização é necessário lembrar que os respectivos técnicos são de formação
muito demorada, de rigorosa selecção, inclusivé no domínio do perfil
psicológico e político. Semelhante para os técnicos de condução e os de
manutenção das centrais. A disseminação de reactores torna tudo muito mais
complicado e de difícil controlo.
Nos U.S.A. só uma tecnologia/tipo de
reactor foi licenciada até agora (NuScale Power), mas nenhum foi ainda
concluído, por ser muito caro. Entretanto, surgem interesses e vozes a querer
simplificar processos e saltar etapas nestes processos de certificação, inclusivé
estão a tentar reduzir as medidas de segurança e os Planos de Emergência. Algo
mesmo muito perigoso!
Quanto ao fabrico em série e o impacte
potencial sobre os custos, nada aconteceu até agora. Seriam necessárias series
de pelo menos uma ou duas dezenas de reactores e isso não está em nenhum
horizonte concreto, com licenças e planeamento adequados.
Os pequenos reactores e o recurso a
tecnologias muito diferentes entre si, tem consequências sobre os resíduos
radioactivos e a sua gestão/armazenamento (incluindo o desmantelamento). Esta é
uma questão que está muito
longe de estar cabalmente abordada, nem no contexto das grandes centrais,
quanto mais no contexto dos S.M.R.s E o armazenamento definitivo dos resíduos
altamente radioactivos continua por resolver, com a disseminação dos ditos ainda
mais agravado.
Ora segundo a Agência Internacional de
Energia Atômica em 2024 só havia dois reactores que se poderiam chamar assim a
funcionar no mundo. E apoiados directamente pelo Estado ou fundos de
investigação. Em lado nenhum estão em linha de se tornarem comerciais ou de
estar disponíveis para empréstimos bancários ou fundos de investimento. A
Agência pede que sejam os Estados a financiar os primeiros reactores (foak,
first of a kind), o risco passa para o público, nós.
Além de que se eventualmente se viessem
a desenvolver implicariam riscos muito maiores de acidentes além dos problemas
da proliferação.
E estas variações das velhas técnicas de
fissão nuclear não resolvem os problemas básicos dos custos nem os sérios
problemas de segurança e ambientais, ou sequer o dos resíduos da produção ou da
extracção. E também dado envolverem demasiado cimento e betão não estão em
linha com lógicas de produção em série.
Outro tema muito preocupante é o da proliferação nuclear
e das questões de insegurança ligadas ao nuclear, com S.M.R.s a poderem ser
espalhados e utilizados em todo o mundo e em qualquer lado. E quando se coloca
a hipótese de modelos transportáveis e susceptíveis de navegar os problemas de
segurança e controle disparam.
Os S.M.R.s têm obtido uma “boa imprensa” porque são
apresentados como um novo nuclear, livre de problemas e capaz de produzir
energia eléctrica a baixo custo, algo que é uma pura ilusão, como se explicou,
mas que estimula a imaginação dos consumidores em todo o mundo, já que energia
barata, abundante e segura é o que todos querem. Mas, para além de partilhar
com os grandes reactores muitos dos problemas referidos no início, vem
acrescentar outros, próprios, agora noutra escala.
Os
S.M.R.s são uma fantasia que, na melhor das hipóteses, aparece apenas
alicerçada em avanços marginais da tecnologia nuclear. E como
conceito os S.M.R.s não têm existência fora da fantasia pós-modernista da indústria
nuclear.
Acácio Pires, acivista climático, membro de diversas
associações cívicas
António Eloy, escritor, coordenador do Observatório
Ibérico Energia
António Mota Redol, ex-técnico da Junta de
Energia Nuclear, especialista em planeamento energético na EDP
José González Mason (Chema), engenheiro coordenador do
grupo trabalho sobre energia da ADENEX
Henri Baguenier, professor universitário especialista em
economia de energia
Manuel Collares Pereira, professor universitário
especialista em renováveis e conservação de energia
E
António
Cândido Franco, Professor do ensino público
Carlos
Pessoa, jornalista
Carlos
Pimenta, engenheiro ex. SEARN
Fernando
Santos Pessoa, Arquitecto Paisagista
Jorge
Leandro, filosofo, livreiro
Jorge Paiva, Biólogo.
José
Carlos Costa Marques, Tradutor e editor
Mara Rosa, artista
plástica
Paulo Eduardo Guimarães,
professor universitário
Pedro Soares, geografo,
Ex Pr. da C.P.Ambiente
Teófilo
Braga, mestre em educação ambiental, ex-diretor da ARENA. da R.A.A.
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