Cletra
A cletra, verdenaz, (folhado ou folhadeiro, na Madeira) (Clethra
arborea Aiton) é uma espécie, da família Clethraceae, oriunda da Madeira,
que nos Açores apenas existe na ilha de São Miguel, onde se encontra
naturalizada e apresenta um carácter invasivo, isto é, afeta de forma negativa
os ecossistemas naturais e seminaturais.
Na Madeira, a cletra existe na sua Laurissilva do til (Ocotea
foetens) e é considerada extinta nas ilhas Canárias. De acordo com Quintal
(2022), como cultivada é possível encontrar a cletra em vários espaços, como o
Campo de Educação Ambiental do Santo da Serra, a Quinta do Santo da Serra, o
Parque Florestal do Ribeiro Frio, a Quinta Monte Palace e a Quinta Jardins do
Imperador.
Atualmente, segundo Vieira, Moura e Silva (2020), nos Açores, a
cletra é “muito comum na floresta da Laurissilva, ravinas, taludes das estradas
e zonas perturbadas; geralmente entre 500-1000 m de altitude.”
A cletra é uma árvore pequena que pode alcançar 8 a 10 m de altura,
com ritidoma liso, acastanhado ou acinzentado. As folhas apresentam uma
coloração verde-pálido, são serradas, glabras na página superior e pubescentes
na inferior. As flores, que surgem de agosto a outubro, são brancas, muito
aromáticas e dispostas em cachos. Os frutos são cápsulas acastanhadas muito
pequenas e felpudas.
Como terá chegado a cletra a São Miguel e com que objetivo?
Tal como muitas outras plantas, a cletra foi introduzida, na nossa
ilha, intencionalmente como ornamental em jardins.
Antes de responder à questão, regista-se que segundo Gabriel (2019)
os primeiros registos da presença da cletra fora dos jardins foram efetuados
por João do Amaral Franco, em 1960, no Espigão dos Bois, no Nordestinho.
Sobre a introdução propriamente dita, o botânico sueco Erik Sjögren (1984), escreveu o seguinte:
“Foi
provavelmente introduzida em São Miguel há cerca de 20 a 25 anos. Alguns
exemplares escapados foram encontrados em 1965 pelo autor na Região do Pico da
Vara. Em 1982 encontravam-se perfeitamente estabelecidos na Laurissilva e em
grandes extensões. É o mais recente exemplo nos Açores das consequências,
muitas vezes inesperadas, da introdução de plantas exóticas.”
Embora sem qualquer documentação que confirme a data mencionada por
Erik Sjögren, conheço um relato onde é afirmado que chegaram em data aproximada
à referida plantas vindas da ilha da Madeira para os Serviços Florestais.
Apesar do afirmado acima, a verdade é que a presença da cletra a
São Miguel já ocorria no século XIX. Com efeito, em 1856, numa lista das
principais plantas existentes no jardim de José do Canto já constavam 4
espécies do género Clethra, entre as quais a arborea.
De acordo com Jardim, Sequeira e Capelo (2007) para além de ser
cultivada em jardins, na ilha da Madeira, “a madeira foi no passado utilizada
em embutidos, carpintaria, marcenaria, utensílios domésticos, bem como para
lenha. Dos seus caules a população madeirense obtinha bordões, cabos para
ferramentas agrícolas e varas para pesca.”
Na ilha de São Miguel, a cletra expandiu-se de tal modo que já é
possível encontrá-la em quase toda a ilha, não sendo muito comum em jardins e
espaços ajardinados.
Mas nem tudo é negativo relativamente à presença da cletra em São
Miguel. Com efeito, de acordo com Jaime Ramos (2005), a cletra é uma importante
fonte de alimento para o priolo (Pyrrhula murina), ave endémica da ilha
de São Miguel, durante o inverno, pois as suas sementes são consumidas entre
outubro e março.
25 de novembro de 2024
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