sexta-feira, 5 de setembro de 2025

A propósito do jornal do Pico da Pedra

 


A propósito do jornal do Pico da Pedra

Como se está a comemorar o surgimento de um jornal no Pico da Pedra há 50 anos, que originalmente se chamou O Grito do Povo, decidi escrever alguns apontamentos sobre o período em que, em Portugal, houve maior participação das pessoas na vida social das suas terras: os anos de 1974 e 1975.

 

Depois do derrube de uma feroz e longa ditadura que oprimiu o povo português durante quase meio século, o golpe militar de 25 de Abril de 1974 foi saudado pela maioria do povo, que, logo no primeiro dia, não obedeceu ao MFA e veio para as ruas. Nos dias seguintes, a população decidiu tomar nas suas mãos os seus destinos e criou comissões de moradores, comissões de trabalhadores, comissões para resolver problemas com que se defrontavam as suas terras, associações informais de jovens, sindicatos e desalojou as direções fascistas que os dirigiam, fundou cooperativas para, em primeiro lugar, combater a carestia de vida, criou creches, etc.

 

Se é verdade que terão existido alguns “excessos” e manipulações partidárias — aos partidos interessa-lhes, em primeiro lugar, a conquista do poder —, foi no chamado PREC, o período mais democrático da história portuguesa, segundo a historiadora Raquel Varela, que alguns, infelizmente poucos, açorianos decidiram agir, sem intermediários, e contribuir para uma transformação social rumo a uma sociedade em que a democracia não se limitasse apenas ao voto, mas onde houvesse mais justiça e equidade social.

 

A criação de O Grito do Povo foi uma louvável iniciativa da juventude do Pico da Pedra que, através dele, entre outros assuntos, denunciou a prepotência de um padre, o desleixo de uma câmara municipal, a persistente falta de água na freguesia e deu a conhecer iniciativas dos jovens, entre as quais a do Juventude Futebol Clube.

 

Mas talvez a iniciativa que considero de maior importância — e que ainda hoje continua, em parte, viva — foi a da criação de um sindicato de trabalhadores rurais, que por sua vez esteve na fundação de uma cooperativa de consumo.

 

Numa altura em que o número dos assalariados correspondia a 65% da população rural do distrito de Ponta Delgada, e em que recebiam salários de miséria e muitos não tinham trabalho garantido, as gentes do Pico da Pedra foram pioneiras na defesa daquela classe profissional. Assim, a título de exemplo, regista-se uma reunião realizada no Pico da Pedra, a 1 de maio de 1975, com a presença de trabalhadores rurais de Santa Cruz e do Rosário, do Livramento, das Capelas, de São Vicente Ferreira e do Pico da Pedra, e outra, a 29 do mesmo mês, na Junta de Freguesia da Fajã de Baixo, que contou com a presença de “cerca de 50 camponeses representando à volta de 11 freguesias micaelenses”.

 

É bom recordar, numa altura em que neofascistas estão a deitar as garras de fora, que, mesmo depois do derrube da ditadura, os adeptos de Salazar e Caetano não ficaram de braços cruzados. Assim, alguns dos dirigentes dos sindicatos foram intimidados e alguns trabalhadores aconselhados a não aderirem aos mesmos por estarem, pretensamente, ligados ao Partido Comunista. No Pico da Pedra, o presidente do sindicato foi alvo de uma queixa em tribunal, por parte de duas entidades patronais, pelo facto de, segundo os queixosos, ser também sócio do Sindicato dos Estufeiros.

 

Embora com uma vida efémera, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Pico da Pedra teve a iniciativa de criar, já em 1977, a Cooperativa de Consumo do Pico da Pedra, que foi fundada para garantir o acesso a bens essenciais a preços justos e que, embora primeiramente destinada aos seus membros, ainda serve toda a freguesia.

 

Estamos a viver tempos difíceis, em que parte da população não está apetrechada com os meios capazes de distinguir a verdade da mentira; em que alguns políticos ou aspirantes a tal, para caçar votos, dizem o que mais agrada às pessoas; em que, com base em dados falsos, se criam artificialmente inimigos, como os imigrantes ou os mais frágeis socialmente; em que se desvaloriza ou mesmo ignora o conhecimento científico; e em que se insulta quem tem opiniões diferentes, mesmo que fundamentadas. Por isso, é importante a existência de um jornal isento e plural numa freguesia.

 

A Voz Popular pode e deve continuar a ser um exemplo inspirador para outras localidades e um elo entre gerações, ligando os seus habitantes atuais a todos os que foram obrigados a procurar uma vida melhor noutras paragens.

 

Pico da Pedra, 10 de agosto de 2025

Teófilo Braga

(Publicado em “Voz Popular”, 213, agosto de 2023)

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Virusaperiódico (124)

 



Virusaperiódico (124)

 

No primeiro dia de setembro recordei, sem saudades, o regresso à escola. Um bom ano letivo para todos os colegas que em breve voltarão às aulas ou às jaulas, para aqueles que não conseguirão desenvolver o seu trabalho em condições. Recebi um livro sobre Agostinho da Silva que passou a ficar em primeiro lugar na lista de livros a ler nos próximos dias.

 

O dia 2 foi dedicado às plantas, passei pelos principais espaços verdes do Pico da Pedra, o Jardim da Casa do Povo e o Parque Maria das Mercês.

 

No primeiro, encontrei um plátano um pouco maltratado e no segundo, encontrei uma sinalização em que a planta, um queiró, já morreu e voltei a observar várias faias mortas no labirinto. Era importante saber o que se está a passar, fazer os tratamentos possíveis e substituir as plantas quando tal for conveniente. À noite, também no Pico da Pedra, fui observar a flor de uma pitaia.

 

Comecei o dia 3 a vasculhar nos arquivos da PIDE, estive em Vila Franca do Campo a colher bananas e não só e acabei com a leitura de algumas páginas do livro sobre Agostinho da Silva. Dele, personagem que admiro, embora não concordo com alguns dos seus pensamentos, aqui deixo uma quadra:

 

E sou mestre de uma escola

Em que toda a gente cabe

Se depois de estudar tudo

Sentir bem que nada sabe.

 

3 de setembro de 2015

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Virusaperiódico (123)

 


Virusaperiódico (123)

 

No dia 25 fui visitar a minha “área de intervenção da reforma agrária” e regressei satisfeito. As bananeiras estão a recompor-se e algumas fruteiras prometem compensar o meu trabalho com algumas, mas infelizmente poucas, frutas. Verifiquei que as abelhas estão a trabalhar bem e se não houver nenhum azar irei colher algum mel.

 

Fiquei contente por saber que uma colega em breve irá ficar na situação de pré-reforma. Está de parabéns.

 

Dediquei o dia 26 ao ativismo ambiental, a limpar material apícola e a tirar apontamentos sobre a perseguição da PIDE a alguns açorianos.

 

Acabei de ler “A Vida de Tolstói”, de Daniel Gilles. Apesar de não ser o que esperava, isto é não fiquei satisfeito devido à pouca informação sobre o seu pensamento, valeu a pena.

 

Rei morto, rei posto, comecei a ler “A simbólica das Árvores e das Plantas”. Dele transcrevo o seguinte pensamento de Bernardo de Claraval: “Encontrarás mais nos bosques do que nos livros. As árvores e as pedras ensinar-te-ão coisas que nenhum homem poderá dizer-te”.

 

O final do mês de agosto foi para esquecer: a doença fez uma visita cá a casa.

 

No dia 30 andei pouco tempo por Vila Franca do Campo e no dia 31 retomei, algum trabalho no computador e alguma leitura sobre a ilha de São Miguel, em 1821.

 

30 de agosto de 2025

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Virusaperiódico (122)

 


Virusaperiódico (122)

 

Depois de um sábado em que o mau tempo me impediu de ir trabalhar na terra, em Vila Franca do Campo, comecei o domingo, dia 24 de agosto, a ler vários documentos dos arquivos da PIDE. Num deles há referência a Ernâni Pinto Basto. Não conhecendo nada da sua biografia fui pesquisar e encontrei um texto da sua autoria. Quase a terminar, li uma pérola sobre a antiga anarquista (?) que foi ministra da educação de um governo dito socialista, Maria de Lurdes Rodrigues. Segundo ele, a “Milu” estava para os professores como a filoxera para as videiras.

 

Raramente me alimento de poesia, mas algumas vezes vale a pena, como esta de Almeida Firmino:

 

Nós, na ilha

 

Falta-nos a terra,

Falta-nos o mar.

Falta-nos a voz

Com que protestar.

 

Sequestrados vamos

Adiando a viagem.

Nós, na ilha, ficamos

A ceifar coragem.

 

Grande parte do domingo foi passada a ler a biografia de Tolstói. A dado passo o autor menciona o grupo religioso “Dukhobors” que era pacifista e foi perseguido na Rússia. Meu pai que foi emigrante no Canadá durante 10 anos, a eles se referia, pois muitos dos seus membros foram bem acolhidos naquele país.

 

O livro dá conhecer o pensamento de Lenine, o chefe da Revolução Soviética sobre as ideias e práticas de Tolstoi e seus seguidores: “Um tolstoiano é um desses choramingas esgotado e histérico a quem chamam o intelectual russo, e que batendo no peito publicamente, exclama: “Sou mau, sou nojento, mas ocupo-me do aperfeiçoamento moral, não como carne e alimento-me de bolinhas de arroz”.

 

24 de agosto de 2025

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Virusaperiódico (121)

 


Virusaperiódico (121)

 

Depois de um sábado cansativo, seguiu-se um domingo, dia 17 de agosto, de muito descanso e alguma leitura, nomeadamente da biografia de Tolstói. Como as tradições, apenas as boas, são para continuar, foi dia de curtir cebolas.

 

No dia 18 retomei as pesquisas na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada e, em casa, estive a selecionar materiais para nela depositar.

 

No dia 19 continuei a seleção de materiais referida, continuei a leitura da biografia de Tolstói e fiz uma pequena caminhada no litoral da cidade da Lagoa. Do que observei registo a presença de abelhas nas flores da nossa endémica vidália.

 

No dia 21 andei pelo Pópulo, por Vila Franca e pelo Pico da Pedra a fotografar e a colher alguma fruta. Comecei a organizar ficheiros sobre o ano de 1974 e 1975.

 

O dia 22 foi quase todo dedicado a organizar ficheiros sobre o ano de 1974 e 1975 e a responder a várias questões colocadas por amigos e também por desconhecidos. Não tive tempo para leituras.

 

Li, com algum atraso, que uma associação recém-criada defende a separação de resíduos para valorização energética (para queimar). Esqueceram-se do Reduzir e do Reutilizar. Modernices ou "Business as usual".

 

22 de agosto de 2025

domingo, 17 de agosto de 2025

Virusaperiódico (120)

 


Virusaperiódico (120)

 

Depois de um período de ausência, mas não de inatividade, o Virusaperiódico volta com um ditado popular que desconhecia: “Uns nascem com a dita e outros com a caganita”.

 

No dia 13, li num jornal o seguinte título: “Café, mas simples, associado a menor risco de morte”. Concluí que se beber café fico imortal. Ler jornais é saber mais?

 

Ainda no dia 13 destaco um encontro, 9 anos depois, com uma colega minha da Universidade dos Açores que terá sido uma das últimas mulheres presas pela PIDE em Portugal durante o marcelismo. Foi das poucas açorianas que resistiu ao fascismo.

 

No dia 14 continuei a leitura de uma longa biografia de Tolstói, passei pela Praia do Pópulo e pelo Miradouro do Rosto do Cão onde fotografei muitas vidálias.

 

Registo no dia 15 o comentário de um emigrante, natural de Vila Franca do Campo, a chorar por Salazar. Esqueceu-se do modo como se vivia naquela altura e da principal razão que levou muitos açorianos a emigrar, a pobreza. Hoje, são contra os imigrantes, e apoiam fascistas. Lá diz o ditado: “Quem nunca teve e chega a ter, nem o diabo o pode sofrer”.

 

O dia 16 foi um grande dia de trabalho na Courelas (limpeza de bananas e bananeiras) e na Ribeira Nova e Ladeira (arranque de infestantes). As plantas estão a pedir água e não há maneira de cair alguma chuva. Lembrei-me que no passado se realizaram, em Portugal continental, missas a pedir chuva. Terá resultado?

 

16 de agosto de 2025

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

As plantas na medicina popular segundo Urbano de Mendonça Dias (1878-1951)

 


As plantas na medicina popular segundo Urbano de Mendonça Dias (1878-1951)

 

Numa consulta que fiz ao volume IV de “A Vila”, da autoria de Urbano de Mendonça Dias, encontrei um muito interessante capítulo intitulado “Medicina Popular”. A partir dele extrai apenas as informações relativas ao uso das plantas nos tratamentos de diversos problemas de saúde, tendo atualizado os nomes científicos.

 

Quem foi Urbano de Mendonça Dias?

 

Foi um jurista, pedagogo, escritor, etnógrafo e político conservador natural de Vila Franca do Campo.

 

Foi autor de diversos obras sobre a história dos Açores e cultura popular, de que destacamos “A vida dos nossos avós - Estudos etnográficos da vida açoriana através das suas leis gerais” e “A Vila - Publicação Histórica de Vila Franca do Campo”.

 

Talvez a sua maior obra terá sido a fundação do Instituto de Vila Franca, mais tarde designado Externato de Vila Franca do Campo, responsável pela instrução de muitos vila-franquenses depois da então denominada então escola primária.

 

As plantas na medicina popular

 

A casca da romã ou romãzeira (Punica granatum) quando tomada “em jejum, durante nove dias seguidos, cura as bronquites asmáticas.”

 

Para curar a tosse, são usadas várias plantas, como a salva (Salvia officinalis), em infusão, tal como o limão (Citrus limon), a perpétua [pode ser a perpétua-roxa (Gomphrena globosa)], a sempre-viva ou perpétua-silvestre (Helichrysum luteoalbum), o suspiro-branco (Cephalaria leucanta) e o xarope de agrião (Barbarea verna) [poderá ser o agrião-de-água (Nasturtium officinale)].

 

Com fins diuréticos, são usadas infusões de folhas de salsa (Petroselium crispum) ou de barbas de milho (Zea mays].

 

Para combater as dores de barriga são usadas infusões de poejo (Mentha pulegium), de canela (Cinnamomum verum), a casca da laranja-azeda (Citrus aurantium), urzela (Rocella fuciformis) ou usai-dela (Chenopodium ambrosioides).

 

Para curar a cobrela [herpes zóster] era usado o óleo obtido a partir da queima do trigo (Triticum aestivum) ou o limão.

 

Para curar as dores de cabeça, são enumeradas algumas partes de plantas ou frutos. Assim, um dos processos consiste “colocar uma casca de limão nas fontes e na testa ou friccionar estas mesmas partes com vinagre ou mostarda (Sinapis nigra) [Brassica nigra]”. Também pode ser, através da considerada “a mais típica medicina da Ilha”, do seguinte modo: dispõe-se “em cruz, sobre a cabeça, dous galhos de Arruda (Ructa bracteosa) [Ruta chalepensis], tostados em brazas vivas, atando-se por sobre isto um lenço, que pouco tempo depois as dores de cabeça terão desaparecido, graças a tão inofensivo medicamento.”

 

Para estancar o sangue do nariz, esmagam-se folhas de salsa e tapava-se a narina de onde provém a hemorragia.

 

No que diz respeito a problemas relacionados com o coração são usadas infusões de folhas de laranjeira ou cascas de laranjas ou cidreira (Melissa officinalis).

 

As dores de estômago são tratadas com infusões de flores de fel-da-terra (Centaurium erythraea), de macela (Chamaeamelum nobile), de agrimónia (Agrimonia eupatoria) ou de rainha-das-ervas (Tanacetum parthenium).

 

Para o tratamento de golpes, arranhões e eczemas é usada a goma da espadana (Phormium tenax) ou o suco das folhas pisadas do rabo-de-asno (Equisetum telmateia), do saião (Aeonium arboreum) e do fel-da-terra (Centaurium erythraea). No tratamento dos eczemas é usada a infusão de coquilho ou conteira (Canna indica).

 

Para a cura de hemorroidas e soltura [diarreia] é aconselhada a infusão de folhas de araçazeiro (Psidium cattleianum), de erva-do-bom-pastor (Capsella bursa-pastoris), de amoras, frutos da silva (Rubus ulmifolius) ou banhos de fava-da-cova (Parietaria judaica).

 

A colocação de um pedaço de folha de couve (Brassica oleracea) sobre um furúnculo faz com que ele rebente.

 

Para combater a solitária é polvilhada uma talhada de abóbora-menina (Cucurbita maxima) com açúcar, coloca-se no forno a assar e toma-se o suco que vai destilando. Outro processo consiste em usar o cozimento das folhas do feto-macho (Dryopteris filix-mas).

 

Entre os tratamentos para as dores de dentes, são referidos os seguintes: bochechar a infusão de papoulas (Papaver sp.) e receber vapores da infusão de alecrim (Rosmarinus officinalis).

 

No que diz respeito à inflamação da garganta um dos melhores remédios consiste no “cozimento de malvas [Malva multiflora] em água, ou melhor em leite, e gargarejado.

 

Contra as dores de ouvidos é aconselhado injetar no ouvido suco de alho (Allium sativum) assado.

 

Para debelar as febres é usada uma infusão de avenca (Adiantum capillus-veneris) ou de sabugueiro ou rosa-de-bem-fazer (Sambucus nigra).

 

A erva-molarinha (Fumaria muralis) é empregada, em infusão para amaciar a pele. Para tratar inflamações cutâneas usa-se o cozimento de violetas-roxas (Saintpaulia ionantha?)

 

Para fazer crescer o cabelo aplica-se o suco de urtiga (Urtica membranacea). Com mesmo fim, usa-se o cozimento de folhas de nogueira (Juglans regia) que também tira a caspa.

 

Os incómodos intestinais são tratados com o cozimento de folhas de nogueira ou com o cozimento de erva-piolha (Delphinium staphisagria). As bichas [lombrigas] são eliminadas usando um infuso de hortelã-pimenta (Mentha x piperita).

 

As hemorragias uterinas são tratadas com infusões de erva-do-bom-pastor (Capsella bursa-pastoris), de sempre-noiva (Polygonum aviculare), de losna (Artemisia absinthium) ou de erva-sabina (?)

 

Por último, para combater o reumatismo, são aconselhadas fricções dos infusos de folhas de gigante (Acanthus molis) ou de uma maceração de folhas de eucalipto (Eucalyptus globulus) em álcool.

 

Bibliografia

 

Braga, T. (2023). As plantas na Medicina Popular nos Açores. Ponta Delgada, Letras Lavadas.

 

Dias, U. (s/d). A Vila, volume IV. Ponta Delgada.

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Urbano_de_Mendon%C3%A7a_Dias

 

https://www.worldfloraonline.org/

 

domingo, 10 de agosto de 2025

Nos 158 anos do nascimento de Alice Moderno

 


Alice Moderno – Uma voz de coragem e compaixão

Hoje assinala-se o aniversário do nascimento de Alice Moderno (1867-1946), figura ímpar da cultura e da sociedade açoriana e portuguesa. Escritora, jornalista, educadora e ativista, Alice Moderno destacou-se pela sua visão progressista e pela coragem em defender causas que, à época, eram consideradas ousadas e disruptivas.

No campo dos direitos das mulheres, foi pioneira ao reivindicar a igualdade de acesso à educação, à participação política e à independência económica. A sua voz, firme e lúcida, ecoou em jornais e conferências, inspirando gerações de mulheres a questionar papéis impostos e a lutar por um lugar de plena cidadania.

Alice Moderno não se limitou, contudo, à esfera dos direitos humanos. A sua sensibilidade estendeu-se também ao mundo animal, tornando-se uma das primeiras defensoras da proteção e bem-estar dos animais em Portugal. Fundou e apoiou associações dedicadas a esta causa, alertando para a necessidade de tratar todos os seres vivos com respeito e compaixão.

O seu legado permanece vivo, lembrando-nos que a justiça social e o cuidado com todas as formas de vida são inseparáveis. Celebrar Alice Moderno é celebrar a coragem de agir, a força de pensar livremente e a ternura de proteger os mais vulneráveis — humanos ou animais.

Açores, 11 de agosto de 2025

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

8 de agosto- Dia Internacional do Gato

 



8 de agosto- Dia Internacional do Gato

 

O dia 8 de agosto de cada ano é dedicado a homenagear os gatos, estes animais fascinantes e a sensibilizar para a importância do seu bem-estar. Criado pelo International Fund for Animal Welfare (IFAW) em 2002, o objetivo é chamar a atenção para a relação histórica entre humanos e gatos, promover a adoção responsável e incentivar cuidados adequados, enquanto se alerta para questões ambientais e de proteção animal.

 

Com a criação deste dia, pretende-se valorizar o papel dos gatos como animais de companhia, promover campanhas de adoção e esterilização para evitar o abandono e a sobrepopulação, sensibilizar para os direitos e necessidades destes animais e alertar para os impactos ambientais de populações de gatos não controladas.

Ter um gato em casa traz inúmeros benefícios, como:

·         Companhia e afeto – Apesar da sua fama de independentes, muitos gatos são extremamente carinhosos.

·         Redução de stress – Estudos mostram que interagir com gatos pode diminuir a ansiedade e baixar a pressão arterial.

·         Controle de pragas – Caçam pequenos insetos e roedores.

 

Contudo, os gatos domésticos com acesso livre ao exterior podem representar uma ameaça significativa para aves, pequenos mamíferos e répteis. Em várias regiões do mundo, são considerados uma das espécies invasoras mais prejudiciais para a biodiversidade. Por isso, é essencial, esterilizá-los para controlar a população e mantê-los dentro de casa ou em espaços seguros.

 

O Coletivo Alice Moderno, alerta para o facto de o abandono de animais srt um problema grave e cruel. Um gato doméstico depende do seu tutor para alimentação, abrigo, cuidados veterinários e carinho. Ao adotar, assume-se um compromisso para toda a vida.

 

O Coletivo Alice Moderno considera que o Dia Internacional do Gato é, acima de tudo, um convite para amar, proteger e respeitar estes pequenos felinos – e lembrar que o seu bem-estar está nas mãos de todos nós.

 

Açores, 8 de agosto de 2025

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Cipreste-dos-cemitérios

 


Cipreste-dos-cemitérios

 

O cipreste, cipreste-mediterrânico, cipreste-dos-cemitérios ou cipreste-comum (Cupressus sempervirens L.) é uma conífera perene da família Cupressaceae oriunda da região mediterrânica, sendo amplamente cultivada pelo seu valor ornamental, histórico e simbólico.

 

De acordo com alguns autores terá sido introduzido em Portugal pelos romanos, segundo outros terão sido os navegadores fenícios a trazê-lo a partir do Chipre e de Creta. No território de Portugal continental o cipreste passou a ser comum nos cemitérios desde meados do século XIX, como substituto do teixo (Taxus baccata).

 

O cipreste é uma árvore que pode atingir alturas entre 20 e 35 m, em média, e uma longevidade que pode viver 500 anos, existindo alguns exemplares com mais de mil.

 

As folhas são pequenas, em forma de escamas, de cor verde-escura. Os ramos crescem densamente ao longo do tronco e das extremidades, conferindo à árvore o seu aspeto compacto e adelgaçado.

 

As flores, que surgem na Primavera, são muito pequenas e amareladas, apresentando uma forma semelhante a uma pinha.

 

Os frutos, primeiro verdes e depois acinzentados são lenhosos, arredondados, com cerca de 2 a 4 cm de diâmetro, contendo sementes que podem permanecer viáveis durante vários anos.

 

A madeira do cipreste é aromática, resistente à humidade e à decomposição, sendo utilizada, em carpintaria e marcenaria, na construção de móveis, portas e arte sacra. Sobre o assunto, Félix (2025) escreveu o seguinte:

 

“Consta que os fenícios construíram com a minha madeira a armada com que navegaram até à costa portuguesa. As portas da original Basílica de São Paulo em Roma tiveram o meu ADN, por ordem de Constantino, o Grande. O ataúde interior  da urna do Papa João Paulo II é de madeira de cipreste.”

 

De acordo com Cunha, Silva e Roque (2003), com fins medicinais são usadas as “gálbulas não maduras [infrutescência (ou fruto, para alguns autores) subesférica, pequena, em regra lenhosa, com escamas peltadas], por vezes os rebentos recentes”. Sobre os usos etnomédicos e médicos, os autores referidos escreveram o seguinte: “… É tradicionalmente usado nas insuficiências venosas (varizes, tromboflebites) e na sintomatologia hemorroidal; como expectorante nas bronquites. Externamente, em úlceras varicosas, inflamações e nevralgias cutâneas ou osteoarticulares; o óleo essencial é usado, pela sua acção queratolítica, na eliminação das verrugas.”

 

Desconhece-se a data da chegada aos Açores nem o responsável pela sua introdução. Hoje, na ilha de São Miguel é possível encontrar ciprestes em vários jardins públicos e privados e em cemitérios, de que são exemplos o Jardim do Palácio de Santana e o Cemitério de São Joaquim, em Ponta Delgada.

 

Na ilha de São Miguel existem várias plantas da família Cupressaceae, que possui mais de 20 géneros e de 140 espécies. Do género Cupressus, no Jardim António Borges, em Ponta Delgada, pode ser encontrado o cedro-de-goa (Cupressus lusitanica Mill.), oriundo de uma região que vai do México até às Honduras, e o cedro-de-monterrey (Cupressus macrocarpa Hartw. X Gordon), nativo da Califórnia (EUA).

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Tipuana

 


Tipuana

 

A tipuana ou amendoim-acácia (Tipuana tipu (Benth.) Kuntze)) é uma árvore, da família Fabacae, oriunda da América do Sul (Argentina, Uruguai, Paraguai, Brasil e Bolívia), sendo comum nos Andes em altitudes que podem atingir 2 900 metros.

 

Desconhecemos quando e quem introduziu a tipuana nos Açores, não constando das listas elaboradas, quer por José do Canto, quer por António Borges, no século XIX. Não excluímos a hipótese de ter sido introduzida muito mais tarde, já no século XX.

 

A tipuana é uma árvore de folha caduca, sendo por vezes semipersistente, com copa larga em forma de guarda-chuva, que pode atingir uma altura de 40 m, sendo em geral um pouco mais baixa. Apresenta folhas compostas, com folíolos ovais, verde-claros. As flores amarelo-alaranjadas, muito apreciadas pelas abelhas, apresentam-se enrugadas. Os frutos são vagens com apenas uma semente avermelhada.

 

A árvore fixa o nitrogénio atmosférico e as suas folhas e flores ao caírem melhoram a textura do solo e o seu teor em nutrientes o que aliado ao seu crescimento rápido fazem com que seja muito útil em projetos de reflorestação. A tipuana pode ser plantada para fornecer abrigo contra o vento, mas como apresenta raízes superficiais, há o risco do seu derrube por ventos fortes.

 

A tipuana reproduz-se muito bem por sementes que depois de secas, podem manter a sua viabilidade por vários anos mantidas à temperatura ambiente. As sementes devem ser colocadas em viveiro e cobertas com uma camada de substrato ou areia, com espessura máxima de 3 mm, levando a germinação de 10 a 30 dias.

 

A resina vermelha exsudada da casca é rica em taninos, podendo ser usada como corante. A sua madeira é resistente e fácil de trabalhar, podendo ser utilizada, em carpintaria, no fabrico de móveis diversos e também como combustível e no fabrico de carvão.

 

De acordo com Saraiva (2020), em Portugal continental, existem vários exemplares notáveis em jardins, como o Jardim Botânico e Jardim Vasco da Gama, bem como em algumas praças, de que são exemplo a Praça de São Bento e a Praça Duque de Saldanha, em Lisboa.

 

Na ilha da Madeira, segundo Raimundo Quintal (2022) a tipuana pode ser encontrada na Avenida de Zarco, na Avenida do Mar, na Rua Pedro José Ornelas, na Estrada Monumental, no Jardim Municipal do Funchal, na Quinta das Cruzes, no Parque de Santa Catarina, na Mata da Nazaré, no Jardim da Universidade, no Passeio Público Marítimo- Funchal, no Jardim de Santa Luzia, no Miradouro da Vila Guida e no Jardim Botânico Eng.º Rui Vieira.

 

Nos Açores, nomeadamente em São Miguel, não se conhece qualquer uso da tipuana, para além do ornamental.

 

Na ilha de São Miguel é possível encontrar alguns exemplares no Jardim da Universidade dos Açores e no Jardim Botânico José do Canto, ambos em Ponta Delgada, bem como na Avenida da Liberdade, em Vila Franca do Campo e na Radial do Pico de Funcho, na Fajã de Baixo.

 

Teófilo Braga

 

1 de agosto de 2025