quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Virusaperiódico (145)

 


Virusaperiódico (145)

 

O dia 2 de dezembro foi um dos dias mais longos de 2025.

 

Comecei o dia a fazer trabalhos no computador, prossegui na Biblioteca Pública de Ponta Delgada, onde estive a fazer pesquisas sobre jardins e alguns acontecimentos ocorridos no mês de agosto de 1978, um mês em que o bombismo e a guerra das bandeiras não esteve de ferias na ilha de São Miguel. Passei pelo Jardim José do Canto, onde tive a oportunidade de apreciar o roseiral que está muito bem arranjado. Pela primeira vez provei os pedúnculos das frutas da uva-do-japão (Hovenia dulcis). O sabor não contradiz o nome, muito doces!

 

De tarde, depois de dar o habitual passeio com o Max e com o Rex, voltei ao computador e acabei de ler o livro sobre Otelo Saraiva de Carvalho.

 

À noite, estive presente em duas assembleias gerais da Associação Cultural Recreativa e Desportiva do Pico da Pedra que durou até quase às 23h 30 min. Hora a que habitualmente já estou em sono profundo.

 

Como os livros sobre política geralmente me deprimem, comecei o dia 3 a ler o livro “A Vida Secreta das Árvores”, de Peter Wohlleben e a rever um texto a propósito da Campanha “SOS Cagarro”, de 2025. O resto da manhã foi passado a fazer pesquisas em jornais de 1978. A tarde foi passada na terra, em Vila Franca do Campo, em colheitas e a limpar bananas e bananeiras.

 

O dia 4 foi totalmente preenchido com leituras no “Agricultor Michaelense” e no jornal “Luta Pela Democracia Popular” que se publicou em Ponta Delgada nos anos de 1975 e 1976, bem como com pesquisas no meu arquivo sobre o Verão Quente.

 

4 de dezembro de 2025

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Os autonomistas eram progressistas?

 


Os autonomistas eram progressistas?

 

Nos Açores foram três os movimentos autonomistas: o primeiro ocorreu no final do século XIX, em 1893-94; o segundo nos anos vinte do século passado; e o terceiro teve lugar após o golpe militar de 25 de Abril de 1974.

 

O primeiro movimento autonomista surgiu numa época de crise económica, de que é exemplo o declínio da produção e exportação da laranja, que foi acompanhado da procura de alternativas quer em termos de produção agrícola quer da criação de indústrias, o que só teria viabilidade com a redução de impostos e a eliminação de obstáculos burocráticos que se colocavam à criação de indústrias e à circulação de mercadorias.

 

De acordo com João (1991-92), “a gota de água que desencadeou o movimento autonomista, em Ponta Delgada, foram as imposições tributárias sobre a produção do álcool industrial e a perspetiva de um monopólio de venda e retificação do mesmo, a nível nacional. Nas outras ilhas, em particular na Terceira, tinha havido uma grande agitação contra a uniformização da moeda, porque elevava os impostos pagos pelos açorianos”.


Este movimento, tal como os que lhe sucederam, apresentava um cunho conservador e ligado às classes mais abastadas, sendo liderado por “eminentes representantes da oligarquia fundiária micaelense, um abastado comerciante e industrial, acionistas da indústria do álcool, quadros do funcionalismo e membros de profissões liberais. Além do advogado Aristides Moreira da Mota e do médico Mont'Alverne de Sequeira, pontificavam na Comissão de Propaganda e Promotora da Autonomia nomes das mais importantes famílias da ilha de S. Miguel, como Caetano d'Andrade Albuquerque, José Maria Raposo d'Amaral, chefe dos progressistas a nível local, Pedro Jácome Correia, líder dos regeneradores, Jacinto Silveira Gago da Câmara, conde de Fonte Bela” (João, 1991-92).

 

Por sua vez, Sacuntala Miranda (1995), sobre o primeiro movimento autonomista, escreveu o seguinte: “... é um fenómeno urbano, que tem como esteio principal uma burguesia letrada que, habilmente, consegue trazer para o seu campo a aristocracia terratenente, canalizando os ressentimentos e receios desta para a batalha autonomista. O povo trabalhador, esse, largamente marginalizado da arena política, continua a reger-se pelos cânones de uma deferência ou ‘solidariedade vertical’ de Antigo Regime e a cumprir o seu destino secular, abandonando a ilha em vagas cada vez mais volumosas”.

 

O segundo movimento autonomista teve início já durante a I República, também num período de problemas económicos e financeiros provocados pela participação portuguesa na Grande Guerra. Surgiu em 1919 e prosseguiu até 1925, com ponto alto nos anos de 1922 e 1923.

 

João (1991-92) apresenta duas justificações para o surgimento deste segundo movimento autonomista: por um lado, a oposição ao programa “socializante” da República que, apesar de não se concretizar na prática, não era bem acolhido pelos mais poderosos (capitalistas, proprietários rurais, Igreja, etc.); e, por outro, pelo facto de os republicanos democráticos não terem cumprido a promessa de criação de legislação descentralizadora.

 

Tal como o primeiro movimento, este apresenta um carácter conservador, liderado por monárquicos. Entre os seus líderes destacamos Aristides Moreira da Mota, Guilherme Fischer Berquó de Poças Falcão, o conde de Albuquerque, Luiz de Bettencourt Medeiros e Câmara, António José da Silva Cabral e Francisco Carvalhal. Estes, nas eleições de 1921, escolheram para candidato a deputado António Hintze Ribeiro, monárquico ativo, seguidor de Paiva Couceiro, que participou na “Monarquia do Norte” (1919), acabando por ser preso. Depois do golpe de 1926, em 1932, aderiu à União Nacional quando Salazar apelou aos monárquicos para que abandonassem as tentativas restauracionistas, tendo sido delegado da Comissão Distrital de Ponta Delgada da União Nacional junto da Comissão Executiva.

 

Em 1925, integraram a Comissão Executiva do Partido Regionalista Aristides Moreira da Mota, Luiz de Bettencourt de Medeiros Câmara, o Barão de Fonte Bela, Joaquim José Marques Moreira e Nicolau Maria Raposo d'Amaral (Menezes, 1995).

 

Nas eleições de 1925, foi eleito pelo círculo de Ponta Delgada Filomeno da Câmara Melo Cabral, que a partir de 1926 exerceu o cargo de presidente da Cruzada Nuno Álvares Pereira, movimento político nacionalista e conservador, e que participou no 28 de Maio de 1926, golpe militar que derrubou a Primeira República e levou à instauração do Estado Novo, tendo, em 17 de junho de 1926, sido nomeado ministro das Finanças.

 

Simpatizante de Mussolini e de Primo de Rivera, Filomeno da Câmara, por achar que a ditadura militar era pouco autoritária, em 1927, liderou uma intentona com o objetivo de implantar em Portugal um regime com características mais próximas do fascismo italiano.

Com a ascensão de Salazar ao poder, a contestação ao centralismo praticamente não se fez ouvir durante 48 anos, apesar de haver motivos para descontentamento, pois os velhos autonomistas foram morrendo e outros foram-se integrando no regime, como José Bruno Tavares Carreiro, que foi secretário do Governo Civil do Distrito de Ponta Delgada e chefe de gabinete do Coronel Silva Leal, Delegado Especial do Governo nos Açores, tendo sido militante da União Nacional.

 

Os movimentos autonomistas, segundo Menezes (1995), não tiveram âmbito regional, principalmente devido à desconfiança entre São Miguel e Terceira, e o segundo movimento “acreditou piamente que o aniquilamento do regime republicano seria o recurso estratégico mais adequado para a satisfação dos seus propósitos”.

 

Durante o Estado Novo, embora as ideias autonomistas se mantivessem, poucos ousaram defendê-las abertamente, pois a sua adesão ao regime sobrepunha-se. Assim, destacaram-se apenas os opositores ao salazarismo, que através da Declaração de Ponta Delgada defenderam a alteração do Estatuto dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes, traduzida na eleição democrática (sufrágio direto e universal) dos corpos diretivos das Juntas Gerais, na libertação de encargos e na obtenção de novas fontes de receita para fins de fomento.

 

Com a instauração da democracia voltam a surgir “os ideais autonomistas” e “os sonhos separatistas”. Assim, a 6 de junho de 1974 surge o MAPA que, através do Correio dos Açores, propriedade de um sócio da família Bensaude, Medeiros e Almeida, dirigido por pessoas afetadas ao antigo regime (António Gaspar Read Henriques, diretor, e Manuel Ferreira, redator), divulga o seu manifesto onde defende a autodeterminação dos Açores.

Pouco depois do golpe spinolista de 11 de março de 1975, a 18 de março (Açores: 19 de março), o MAPA suspende as suas atividades e, face ao temor da implantação de um regime comunista em Portugal, pouco depois das eleições para a Assembleia Constituinte, ganhas nos Açores pelo PSD, na semana de 28 de abril a 3 de maio, surgem as primeiras pichações da FLA em Ponta Delgada. Tanto a FLA como o MAPA eram organizações conservadoras que, da sua composição, faziam parte simpatizantes e servidores do Estado Novo e que, depois do 25 de Abril de 1974, militaram no Partido do Progresso e no Partido da Democracia Cristã.

 

Nos anos de 1974 e 1975, várias organizações políticas (MAPA, PPD, Grupo dos Onze) apresentaram projetos de estatutos para a autonomia dos Açores, que vieram a culminar no Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores (Lei n.º 39/80, de 5 de agosto).

 

Ao contrário do que havia ocorrido com os primeiros dois movimentos autonomistas, que foram liderados por representantes das oligarquias locais, este terceiro movimento foi encabeçado por pessoas da classe média (João, 1991-92).

 

Bibliografia

 

João, I. (1991-92). Origem e causas dos movimentos autonomistas açorianos. Boletim do Núcleo Cultural da Horta. p.3-33.

 

Miranda, S. (1995). O Primeiro movimento Autonomista Açoriano e a Conjuntura Económica Internacional. In A Autonomia no Plano Histórico-I Centenário da Autonomia dos Açores. Ponta Delgada, Jornal de Cultura. 243-260 pp.

 

Menezes, L. (1995). A I República e o movimento autonómico. In “A Autonomia no Plano Histórico- I Centenário da Autonomia dos Açores. Ponta Delgada, Jornal de Cultura. 243-260 pp.

 

 

domingo, 30 de novembro de 2025

Virusaperiódico (144)

 


Virusaperiódico (144)

 

O dia 28 de novembro foi dedicado às flores e jardins e a muito trabalho doméstico. Comecei a leitura do livro “Otelo, o Herético”, de Carlos Matos Gomes e li algumas páginas da “Revista de História das Ideias”, sobre António Sérgio.

 

Toda a manhã do dia 29 foi passada no Pico da Pedra a cuidar do jardim, onde colhi curcuma e batata yacon. Aqui fica o que me informou a IA sobre ela: “A batata yacon é um tubérculo originário dos Andes, com sabor adocicado e textura refrescante, semelhante a uma pera ou maçã. É consumida crua ou cozida e pode ser usada em diversas receitas, como saladas, sucos, bolos e farinhas. Rica em fibras, minerais e antioxidantes, a batata yacon possui baixo índice glicêmico e pode beneficiar a saúde intestinal e o controle do açúcar no sangue.” De tarde, andei por Vila Franca onde visitei as colmeias, tendo substituído o fundo de algumas delas, e fiz algumas plantações e colheitas.

 

Pessoa amiga mandou-me a seguinte notícia: “ZERO alerta que incineração de resíduos urbanos é uma das fontes de energia mais inimigas do clima na produção de eletricidade”. Os Açores que estão na vanguarda a nível mundial no combate às alterações climáticas, no dizer dos seus governantes, fazem-no com incineradoras e com os touros da raça brava, segundo o Ventura regional. Vergonha na cara? Não há!

(https://zero.ong/noticias/zero-alerta-que-incineracao-de-residuos-urbanos-e-uma-das-fontes-de-energia-mais-inimigas-do-clima-na-producao-de-eletricidade/)

 

Terminei o dia, a investigar sobre flores e jardins e a trabalhar num projeto sobre o Verão Quente nos Açores, nomeadamente através da consulta de dois jornais: Farol da Ilhas e O Trabalhador.

 

29 de novembro de 2025

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Virusaperiódico (143)

 



Virusaperiódico (143)

 

O dia 24 de novembro foi dedicado, de manhã, a pesquisas nas atas da Junta de Freguesia e da Assembleia de Freguesia do Pico da Pedra e à conclusão da escrita de um curto texto sobre acontecimentos ocorridos na freguesia em 1975. Naquele tempo havia mais participação popular e, portanto, mais democracia. De tarde, para além de algumas limpezas no jardim, estive a escrever sobre pessoas que nos Açores foram apaixonadas por plantas, tendo criado e ou mantido jardins, em São Miguel e no Faial.

 

Comecei o dia 25 de novembro a trabalhar sobre o Verão Quente na ilha de São Miguel que se prolongou até 1979, com muita violência gratuita sobre alguns açorianos progressistas.

 

De manhã, passei pelo Jardim José do Canto, onde observei algumas plantas que produzem frutos comestíveis e verifiquei que duas espécies desapareceram. Na Biblioteca Pública estive a fazer pesquisas sobre Carlos Dabney e sobre um relatório sobre a ilha de São Miguel, elaborado por Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque.

 

De tarde, alterei um pouco um texto sobre o Pico da Pedra em 1975, resultado de uma pesquisa feita durante a manhã, estive a conversar com uma pessoa que está a viver na Suécia sobre jardins na ilha Terceira e soube que em breve será impressa a 3ª edição do meu livro “Plantas Usadas na Medicina Popular nos Açores”.

 

No dia 26, andei por Vila Franca do Campo, onde fui devolver algum mel às abelhas, o que restou nos quadros após a extração e plantei algumas plantas ornamentais, como massarocos e rainha-das-ervas. Também coloquei na terra alguns galhos de pera-melão.

 

Hoje, recebi a confirmação de que o escritor Dias de Melo havia sido militante do PCP. Sobre o assunto, apenas tenho a dizer que não percebo a razão de haver quem queira esconder esta sua opção. Tal como considero condenável reescrever a História, acho lamentável truncar a biografia de quem quer se seja.

 

26 de novembro de 2025

domingo, 23 de novembro de 2025

Virusaperiódico (142)

 


Virusaperiódico (142)

 

Depois de um domingo também cansativo quase todo dedicado à extração do mel recolhido no dia anterior, no dia 17 de novembro participei no colóquio “Macaronésia 1975” iniciativa da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. Gostei imenso e desde já dou os meus parabéns à Diretora daquela instituição e a toda a equipa responsável pela organização.

 

No dia 18 estive a assistir à segunda sessão do colóquio referido e passei pelo Jardim Botânico José do Canto, onde confirmei a ausência de algumas endémicas que haviam sido plantadas, bem como a presença de algumas fruteiras. Comecei a fazer pesquisas num manuscrito de José do Canto anterior a 1856.

 

O dia 19 foi dedicado a pesquisas (infrutíferas) na Biblioteca Pública de Ponta Delgada e a conversar sobre possíveis projetos futuros relacionadas com o 6 de junho de 1975.

 

Depois de dois dias de muito trabalho, estive no computador a fazer uma síntese de um longo texto e de algumas pesquisas sobre o que terá ocorrido no Pico da Pedra em 1975. Pretendo esclarecer algumas dúvidas em relação ao facto de na freguesia haver grandes opositores ao salazarismo. Penso que não há qualquer fundamento, mas poderei estar redondamente enganado.

 

O sábado, dia 22, foi um dia de muito trabalho que durou cerca de 12 horas. Escrita, trabalhos domésticos diversos e um regresso ao quintal, onde estive a mondar algumas ervas e a transplantar algumas plantas ornamentais.

 

Depois de muitos anos, verifiquei que a ameixeira-natal (Carissa macrocarpa) frutificou pela primeira vez. A ameixeira-de-natal é um arbusto nativo da África do Sul, cujos frutos podem ser comidos frescos ou então em tortas, doces, geleias e molhos.

 

22 de novembro de 2025

sábado, 15 de novembro de 2025

Apontamentos sobre a escravatura nos Açores

 




Apontamentos sobre a escravatura nos Açores

 

O tema da escravatura nos Açores, ou mesmo no todo nacional, é quase tabu. Na sociedade quase não se fala no assunto e ainda não foi devidamente tratado nas nossas escolas. Com efeito ao longo de 11 anos de escolaridade, primária, segundo ciclo, terceiro ciclo e ensino secundário, nunca ouvi falar no assunto e este ano tendo perguntado aos meus alunos do 9º ano de escolaridade da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, a resposta foi a de que não tinham conhecimento da existência de escravos nos Açores.

 

Pelos vistos, o silêncio mantinha-se apesar da legislação que proibia que se falasse em escravos, referida por Ana Barradas, no seu livro “Ministros da noite- Livro negro da Expansão Portuguesa”, que abaixo se transcreve, ser muito antiga e não estar em vigor:

 

“Todo o português como todo o indivíduo de outra nacionalidade residente no território português que intencionalmente, por discursos pronunciados em reuniões públicas ou por manifestos, brochuras, livros, jornais, ou outras publicações destinadas a ser vendidas ou distribuídas gratuitamente ao público, difundam falsas informações a fim de demonstrar a existência da escravatura ou do tráfico de escravos nas colónias portuguesas, será punido com multa de 2 000$ a 20 000$ ou com prisão maior até dois anos, e poderá ainda se expulso do território português. (Código de Trabalho dos Indígenas das Colónias Portuguesas da África, 6 de dezembro de 1928)”

 

Na qualidade de professor da disciplina referida, onde um dos temas a abordar é o dos direitos humanos, comecei a pesquisar sobre o assunto, tendo no passado mês de dezembro assistido à gravação do 7º Encontro com História, promovido pela Históriasábias-Associação Cultural, sobre a “Escravatura nos Açores (séculos XV-XIX).

 

Ao ouvir a Professora Doutora Margarida Vaz do Rego Machado falar sobre o testamento de um dos maiores negociantes dos Açores do seu tempo, NMRA-Nicolau Maria Raposo do Amaral (1737-1816), onde este pedia que uma sua escrava fosse mantida e bem tratada pelos seus filhos nas suas enfermidades, lembrei-me que possuía alguns documentos que me foram cedidos para consulta por um descendente daquele homem de negócios.

Todos os exemplos referidos abaixo, foram extraídos da documentação referida.

 

Em carta de 7 de fevereiro de 1777, dirigida a Manuel Correia Branco, NMRA lamenta não poder ser útil porque não existe na ilha uma mulata como a pretendida, mas que fará as diligências para “comprar alguma que não eceda (?) de 14 anos, e que não seja feia, e se a puder comprar a mandarei ensinar nesta sua Casa de forma que fosse servir a Fidalga Minha Senhora.”

 

Num documento intitulado “Do 4º Copiador de NICOLAU MARIA RAPOSO DO AMARAL (PAI) cópia em 25 de Julho de 1782) a propósito das instalações do “Colégio que foi dos denominados Jesuítas da ilha de São Miguel”, aquele homem de negócios queixava-se de que “vem a ficar dos sobreditos 18 cubículos, 12 para acomodação da minha família”.

 

E para ele o que era a família?

 

Aqui fica a resposta: “minha mulher, cinco filhas, quatro filhos, uma ama, duas criadas, quatro escravas, e criados e três escravos…”

 

A 12 de maio de 1784, em carta dirigida a João Filipe da Fonseca, NMRA escreve que poderá mandar um navio de Angola para o Rio de Janeiro com escravos.

 

No dia 6 de agosto de 1785 NMRA, em carta dirigida ao mesmo destinatário, depois de escrever que sentia “que o espírito da lei deve ser conservado nestas Ilhas para a liberdade dos Negros conduzidos da nossa América” acrescenta o seguinte: “É incomparável o incómodo que aqui se padece com a falta dos Escravos: a minha casa não pode servir-se doutro modo, e visto que V.M. me diz, parece que estou na rigorosa obrigação de dar a liberdade a uns poucos que me acompanharam do Brasil há anos debaixo da boa fé.”

 

Numa carta datada de 6 de agosto de 1785, dirigida a João Filipe da Fonseca, NMRA volta a referir-se à escravatura na ilha de São Miguel, do seguinte modo:

 

“Sinto a notícia que V.M. me deu, que o espírito da Lei deve ser conservado nestas Ilhas para a liberdade dos Negros conduzidos da nossa América.

 

É incomparável o incómodo que aqui se padece com a falta dos Escravos: a minha casa não pode servir-se doutro modo, e visto que V.M. me diz, parece que estou na rigorosa obrigação de dar liberdade a uns poucos que me acompanharam do Brasil há 17 anos debaixo de boa fé.”

 

Numa carta datada de 20 de março de 1796, dirigida a José Inácio de Sousa Melo, da ilha da Madeira, a dado passo pode-se ler o seguinte:

 

“Remeto mais a V.M. uma Negra minha escrava, por nome Rosa, que se criou de pequena nesta Casa donde aprendeu todo o serviço, cuja Negra comprei a uma filha de Dionísio da Costa o Marchante, como consta da Escritura que remeto a V.M.  com a certidão da sua idade, e Procuração para que faça esta Venda, ou na Praça, ou por ajuste particular o mais breve que V.M. puder, e logo que ela chegar.

 

Esta escrava não teve vício algum até agora: mas eu a mando vender porque me consta que ela se desonestou com um escravo desta Casa de que penso vai pejada, e a não lhe acontecer esta desgraça, eu a não venderia por todo o dinheiro que, por ela me oferecessem, e seria forra por minha morte, e de minha Mulher.

 

O que eu digo a V.M. é a mesma verdade, e estimarei que ela ache uma boa Casa que a compre.

 

O seu líquido rendimento empregará V.M. na receita que peço, podendo mandar-me tudo por este Navio, ou por outro que fique a partir para esta Ilha: aliás: o remeterá V.M. em letras para Lisboa como lhe recomendo. Se V.M. quiser ficar com esta Escrava, o pode fazer por menos dez mil reis do maior preço que por ela lhe oferecerem: isto é, no caso que ela lhe agrade.”

 

A 6 de outubro de 1797, em carta dirigida a Jerónimo José Carvalho, menciona que possui três escravos. Caso contrário seria ele obrigado a varrer a cavalariça e a carregar água para a sua casa.

 

A 8 de março de 1800, em carta dirigida a João Filipe, NMRA menciona a libertação de escravos “pelo indulto da Lei não obstante algumas Sentenças do Tribunal da Relação que os obriga à escravidão, fundadas em que a Lei se não estende para estas ilhas, mas só sim para o reino” e prossegue afirmando que ninguém se arrisca a mandar vir negros do Brasil pois correm o risco de os perder.

 

Em 1802, em carta de 8 de agosto, dirigida a Manuel Tomás, escreve que “pensa mandar a Lisboa um escravo pardo para aprender a boleeiro.”

 

Em carta enviada para João do Rego Falcão, de Pernambuco, escreve sobre dois escravos que comprou na Ribeira Grande pedindo que os venda, porque “degeneraram no vício de amancebados com diversas concubinas” e porque passaram a querer revoltar-se contra ele.

 

Em carta dirigida ao já referido João do Rego Falcão, datada de 14 de novembro de 1804,  faz uma série de encomendas, como mel, algodão, paus de jacarandá, etc. e “um escravo Molecão bem feito de pé, e perna , e que possa carregar já um barril de água: sendo de boa Nação, que não seja Cabondá, Moxecongo ou Mujólo e outras Nações reprovadas, mas sim das melhores Nações, bem como “três negras moleconas de boa cara, raparigas de doze a quinze anos de idade pouco mais ou menos, para que possam amassar pão, e servir bem uma casa, sendo de boas Nações como levo recomendado, e nada das raças reprovadas.”

 

A 6 de outubro de 1805, NMRA escreve a João do Rego Falcão acusando a receção dos escravos pedidos. Assim, segundo ele “o Moleque, e Negrinhas chegaram vivos. O Moleque não se sabe da sua pátria, e só sim que é da Costa da Malagueta ou Cafraria. Uma Negrinha Cabondá, sendo das mais péssimas nações, e duas com efeito Benguelas”.

 

Em 1807, continuava o tráfico de escravos. Com efeito, NMRA em carta dirigida a Joaquim José da Fonseca, escreve que “quer vender uma escrava negra porque desatendeu a uma neta”. Não quer que a mesma fique na ilha e pede que aquele “a venda para casa caridosa ainda que seja por menos do seu valor”.

 

Quando se aborda a questão da abolição da escravatura, o primeiro passo terá sido dado em Portugal, em 1761, através de um alvará que ordenava a libertação de todos os escravos negros que chegassem à metrópole. A abolição completa, em todo o território controlado por Portugal, pelo menos no papel, só ocorreria a 25 de fevereiro de 1869.

 

Apesar da legislação aprovada, na prática a exploração extrema da força de trabalho humana continuou de tal modo que num livro publicado em 1944, Norton de Matos que foi governador de Angola, escreveu o seguinte: “Manteve-se (…) a escravatura em Angola e noutras colónias africanas, quase até aos presentes dias. Encoberta, camuflada, sofismada, ela continuava a existir, e por certo, desmereceria se não afirmasse que a fui encontrar sob diversos nomes ou disfarces na província do Ultramar português que, em 1912 e anos seguintes, governei”.

 

A história não pode ser apagada, nem julgada com os olhos de hoje, tanto mais que a escravatura continua existindo, havendo nos nossos dias mais pessoas em situação de escravidão do que no passado. De acordo com a associação ACEGIS-Associação para a Cidadania, Empreendedorismo, Género e Inovação Social, no mundo existem 40,3 milhões de pessoas vítimas da escravatura moderna, sendo um quarto delas crianças.

 

Se não podemos corrigir os erros do passado, podemos agir de modo a impedir que os mesmos se perpetuem no presente e evitar que continuem no futuro, o primeiro passo a dar é estudar a história, não esconder nada às novas gerações e denunciar todas as situações de escravidão mais ou menos camufladas.

 

Para saber mais:

 

Barradas, A. (1991). Ministros da noite-Livro Negro da Expensão Portuguesa. Lisboa: Antígona.

 

Casas, B. (1990). Brevíssima Relação da Destruição das Índias. Lisboa: Antígona.

 

Mendes, L. (1977). Memória a respeito dos escravos e tráfico da escravatura entre a Costa d´África e o Brasil. Porto: Publicações Escorpião.

 Teófilo Braga

Imagem: https://ensina.rtp.pt/explicador/a-escravatura-nos-seculos-xv-e-xvi-h47/

Virusaperiódico (141)

 


Virusaperiódico (141)

 

No dia 10, continuei os meus trabalhos sobre o ano de 1975 e li mais umas páginas do livro “Histórias da PIDE- Volume 1: Quando Salazar mandava”.

 

Entre as 2 h e as 4 h da madrugada do dia 11, acabei um PowerPoint sobre as minhas memórias do ano de 1975. Espero dar a conhecer algo muito pouco conhecido ou mesmo desconhecido da maioria das pessoas na próxima segunda-feira. De manhã, encontrei-me com um amigo que os “fachos” da Terceira queriam que fosse expulso da sua terra (C.R.). De tarde, continuei a leitura do livro mencionado e recebi a triste notícia da morte de uma antiga colega professora da Escola Secundária das Laranjeiras (T.V.).

 

No dia 12 voltei à Biblioteca Pública de Ponta Delgada e estive a pesquisar no Diário dos Açores. Verifiquei a parcialidade dos seus redatores quando descrevem acontecimentos do ano de 1975. São sempre populares a confrontar elementos de partidos de esquerda (essencialmente PCP ou MES) e nunca mencionam que são elementos de partidos da direita ou membros do MAPA ou da FLA. Depois aparecem pessoas a dizer que o problema da desinformação ou das informações distorcidas surgiram com as redes sociais. É preciso recordar que muitas vezes ler jornais é também saber menos.

 

No dia 14 estive a contatar várias pessoas que viveram alguns acontecimentos ocorridos em 1975 para confrontar com as minhas memórias.  De tarde, estive em Vila Franca e voltei a verificar que fui roubado. É triste esperar um por algumas frutas e verificar que há gente canalha que se limita a comer o que é trabalho dos outros. Mas são gente do bem que vai à missa e vota em partidos do bem ou próximos.

 

O dia 15 foi muito proveitoso, mas também muito cansativo, de tal modo que tive de cancelar uma visita a uma quinta que tinha muito gosto em visitar no dia seguinte. Comecei a fazer alterações no Powerpoint já referido, depois ajudei a plantação de meninas-para-a-escola, ajudei estive a fazer a cresta e acabei por iniciar a extração do mel. Foi trabalho das 6 às 17 horas.

 

Continuam as boas podas…Haja paciência, pois formação aos podadores não há.

 

15 de novembro de 2025

domingo, 9 de novembro de 2025

Virusaperiódico (140)

 


Virusaperiódico (140)

 

No dia 5, voltei à Biblioteca Pública de Ponta Delgada, desta vez para consultar o Correio dos Açores sobre as manifestações de 13 e 19 de março de 1975, de apoio ao MFA e contra o golpe falhado de 11 de março dirigido pelo general António Spínola. De tarde fiquei a saber que o meu livro “As plantas na medicina popular nos Açores” está esgotado e fui desafiado a fazer uma revisão com vista à impressão da 3ª edição.

 

Comecei muito cedo o dia 6, isto é, pelas 3h 30 min estive a fazer uma leitura do livro referido, tendo sinalizado algumas gralhas e tirado algumas notas sobre alterações que pretendo fazer. De tarde, depois de um período de descanso, estive algum tempo a preparar um texto que servirá de base a uma apresentação oral.

 

No dia 7, andei por Vila Franca do Campo, a pesquisar imagens para uma apresentação e a ler sobre a atuação de algumas forças partidárias açorianas durante o PREC.

 

Comecei o dia 8 e estive quase todo o dia a fazer um resumo de um texto de 40 páginas. Numa saída que fiz a Ponta Delgada, um amigo meu ligado ao Conservatório de Ponta Delgada perguntou-me se sabia a razão da substituição do maestro da FAP-Filarmónica Aliança dos Prazeres. Respondi-lhe que nada sabia, que apenas tinha visto uma publicação numa rede social a comunicar a sua saída e a elogiar o seu desempenho. A direção da FAP terá conseguido outro de qualidade semelhante e menos oneroso para os cofres da associação?

 

No domingo, dia 9, passei grande parte da manhã numa reunião onde se falou sobre um projeto da Câmara Municipal da Ribeira Grande que poderá destruir cerca de 1/3 da Praia do Monte Verde. De tarde, para além de trabalhos domésticos, li uma parte do livro “Histórias da PIDE- Volume 1: Quando Salazar mandava”. Fiquei a conhecer melhor a vida de três presos políticos, um dos quais tive o prazer de com ele falar um pouco.

 

9 de novembro de 2025

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Virusaperiódico (139)

 


Virusaperiódico (139)

 

De madrugada, li, no livro “A Contra-revolução no 25 de Abril”, de Maria José Tíscar, que “no movimento independentista dos Açores, entre 1975 e 1976, houve também intervenção de antigos elementos ligados à OT-OACI e à Aginter Presse”. A sigla OT significa Ordre et Tradition e OACI, Organization Armée contre le Communisme International e “Aginter Presse” tratava-se de uma falsa agência de notícias ligada à PIDE que “era na realidade uma organização de mercenários anti-comunista, com subsidiárias por todo o mundo. Treinava os seus membros em técnicas de operações clandestinas, incluindo ataques à bomba, eliminação de personalidades, guerra psicológica, comunicação e infiltração clandestinas e contra-insurreição (Wikipédia).

 

A manhã do dia 4 de novembro foi passada na Ribeira Grande, na Praia de Santa Bárbara e no litoral do Bandejo, acompanhado de um amigo biólogo.

 

Comecei por ir à PSP levar um cagarro que o meu amigo havia recolhido na Praia do Monte Verde. Na Praia de Santa Bárbara apenas encontramos dois cagarros mortos e vivos vários pilritos (Calidris alba) e gaivotas (Larus michahellis atlantis). No que diz a plantas não observei nada de especial, para além da vidália (Azorina vidalii).

 

No litoral do Bandejo, observei as entradas para as casamatas, duas delas sem qualquer proteção e algumas plantas endémicas, como o bracel (Festuca petraea) e a erva-leiteira (Euphorbia azorica). Nunca tinha visto uma área tão grande coberta de perrexil (Crithmum maritimum), planta usada na alimentação, em saladas e em curtume.

 

De tarde, passei muitas horas no computador a selecionar textos para uma comunicação a fazer na segunda quinzena deste mês. A grande dificuldade será sintetizar informação para a poder transmitir em 20 minutos.

 

No início da noite, comecei a rever alguns textos de uma revista que sairá no próximo mês e que será distribuída no final do ano ou no início de 2026.  Talvez seja o último número a ser publicado, o que será uma pena.

 

4 de novembro de 2025

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Virusaperiódico (138)

 


Virusaperiódico (138)

 

No dia 31 de outubro, estive pela primeira vez no Cemitério do Pico da Pedra, onde está sepultada a minha tia Rosa de Jesus Soares, natural da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo. Se o meu avô Manuel Soares, que trazia vacas de Vila Franca para o Pico da Pedra, no inverno, soubesse o que diria?

 

Acabei de ler a revista Avenida Marginal, com a leitura do texto da autoria do psiquiatra João Mendes Coelho. Muito bom.

 

No dia de todos os santos, 1 de novembro, estive na Ribeira Seca de Vila Franca, onde fiz as primeiras plantações deste outono, nomeadamente pitangueiras, um abacateiro e uma orelha-de-elefante e colhi alguma fruta. O meu amigo G.A. esteve a fazer enxertos em alguns abacateiros. Se vingarem tal como outro que fez anteriormente para o ano terei mais abacates.

 

No fim do dia estive a organizar ficheiros relacionados com acontecimentos ocorridos no ano de 1975, entre os quais umas estúpidas guerras de bandeiras e vários atentados bombistas.

 

No domingo dia 2, voltei à organização de ficheiros sobre 1975 e estive a comparar notícias sobre os mesmos acontecimentos em dois jornais diferentes, “Açores” e “Diário dos Açores”. Confirmei que o “Açores”, dirigido por Gustavo Moura, distorcia a realidade, apresentando uma versão favorável às organizações mais conservadoras da sociedade ou às separatistas.

 

Para desanuviar um pouco estive a ler sobre plantas e transplantei algumas urtigas (cóleo).

 

2 de novembro de 2025

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Virusaperiódico (137)

 


Virusaperiódico (137)

 

O dia 25 foi de muita chuva e de algumas cheias em algumas localidades da ilha de São Miguel. Impedido de ir trabalhar na terra em Vila Franca do Campo, estive por casa a ler o livro sobre o Chega, já mencionado, a trabalhar sobre alguns acontecimentos ocorridos em 1975 e a selecionar fotografias de flores para um livro que há-de vir.

 

No dia 26, ainda devido ao mau tempo, continuei a selecionar fotografias e prossegui as minhas leituras que, para além do livro referido, incidiram sobre depoimentos acerca do ano de 1975, um deles de um militar da marinha que esteve em serviço numa fragata nos Açores. Recebi, a título de oferta o livro “O meu nome é Emília del Valle” de uma das minhas escritoras favoritas, Isabel Allende.

 

Dediquei algumas horas do dia 27 ao ativismo ambiental, nomeadamente ao combate às espécies vegetais invasores e à destruição do litoral por parte de obras que se fazem apenas para aumentar o gasto de betão, um dos indicadores de progresso para os ambientalistas governamentais, autárquicos e outros da nossa praça.

 

No dia 28, de manhã continuei a dedicar-me à identificação de plantas e acabei a leitura do livro sobre um partido saudosista do salazarismo. De tarde, estive durante algum tempo na Biblioteca Pública de Ponta Delgada e dediquei algum tempo ao associativismo ambiental.

 

Comecei o dia 29 a fazer as últimas pesquisas, no jornal “Açores”, na Biblioteca Pública de Ponta Delgada sobre o ano de 1975. Aquele jornal dirigido por Gustavo Moura estava longe, muito longe, de ser isento.

 

De tarde, assisti a uma sessão comemorativa dos 100 anos do nascimento do escritor José Dias de Melo promovida pelo Clube de Leitura da Associação de Solidariedade Social dos Professores- Delegação dos Açores. Valeu a pena, tudo vale a pena …

 

29 de outubro de 2025