domingo, 30 de junho de 2024

Virusaperiódico (14, 15, 16)

 


Virusaperiódico (14)

 

No dia 21 comecei a leitura do livro, de Pedro Marquês de Sousa, “Os números da Guerra de África”. Uma desgraça para os africanos e para os portugueses a guerra colonial que só beneficiou os do costume.

 

No dia 22 andei a trabalhar na Ribeira Nova e na Courela, tendo acabado a jornada mais cedo para poder assistir a um desafio de futebol da seleção portuguesa que acabou por vencer à Turquia por 3-0. Antes de regressar ao Pico da Pedra, passei na Ribeira Chã, onde observei um conjunto de dragoeiros plantados no dia 30 de outubro de 1994, alguns deles num pequeno terreno do Centro Social e Paroquial da Ribeira Chã que precisa de uma urgente limpeza, sobretudo de feitos ou fetos (Pteridium aquilinum).

 

Hoje, decidi matar saudades dos domingos da minha juventude em que ia ao Campo de Jogos da Mãe de Deus ver o Vasco da Gama jogar, indo ao campo de futebol no Pico da Pedra assistir a um jogo de crianças entre aquele clube e “Os Oliveirenses”, da Fajã de Cima.

 

23 de junho de 2024

 

 Virusaperiódico (15)

 

Em dois dias li “Bento de Goes: uma longa caminhada na Ásia Central”, romance de Henrique Levy que homenageia aquele missionário/explorador nascido em Vila Franca do Campo.

 

Vale a pena a leitura, bem como a do outro romance que também tem como cenário Vila Franca do Campo, editado em 2021, “Memórias de Madre Aliviada da Cruz”.

 

No dia 26, perdi-me na conversa com uma pessoa amiga e no pouco tempo que me restou visitei a exposição “Teófilo Braga – no centenário da sua morte” que se encontra no Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada. Vale a pena desde que não tenha alma pequena.

 

Ontem, dia 27, andei pela Ribeira Seca de Vila Franca do Campo. Continuo sem acesso à minha terra na Ribeira Nova, pois os trabalhos de levantamento de um muro estão a demorar mais do que o desejado. Bem sei que se trata de um trabalho duro, mas está a ser feito sem a continuidade que devia ser exigida numa empresa a funcionar bem. Enfim, é amanhar! (?)

 

28 de junho de 2024

 

 Virusaperiódico (16)

 

Para tentar compreender o que aconteceu no passado, para além do que tem sido publicado na imprensa, li “Elementos para a Compreensão do 25 de novembro”, livro da autoria do Capitão Duran Clemente. Não adiantou quase nada.

 

Ontem e hoje, para além de alguns trabalhos de jardinagem e da preparação de atividades a realizar na próxima semana, continuei um trabalho de pesquisa que levará alguns anos a ser concluído. Sem pressas, é para se ir fazendo…o mais importante não é a meta, mas os passos que for capaz de dar.

 

Hoje, voltei à leitura do libertário, naturista natural do Porto Ângelo Jorge que no início do século passado colaborou com o jornal de Ponta Delgada “Vida Nova”, de Francisco Soares Silva.,

 

Em nome da inviolável e da imprescritível liberdade humana, Ângelo Jorge escreveu: “Abaixo as coleiras, que o homem não é cão!

 

30 de junho de 2024

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Virusaperiódico (13)

 



Virusaperiódico (13)

 

No dia 15, estive na Courela onde trabalhei no duro, sobretudo na limpeza de bananas e bananeiras. Vi pela primeira vez abelhas a “trabalhar” nas flores das faias (Morella faya). Na Ribeira Chã vi, também pela primeira vez, num quintal a junça-mansa.  O cansaço era tanto que ao chegar a casa peguei no sono e quando acordei já era tarde para ir votar para a eleição dos órgãos sociais da CASERMEL.

 

Depois de um dia de quase descanso absoluto, o dia 17 foi dedicado à investigação histórica em casa e na Biblioteca Pública de Ponta Delgada. Foi também o dia em que li por completo o último livro, de Gabriel Garcia Márquez, “Vemo-nos em agosto”.

 

Nos últimos dois dias (19 e 20) passei muito tempo a tratar de burocracias. Sempre que os políticos falam em desburocratizar, já sei o que vai acontecer. Simplificam umas coisas e complicam outras. Já agora recordo que acabaram com o papel selado, menos uma despesa para o contribuinte que passou a pagar pela pesquisa que é feita pelo funcionário para emitir uma segunda via de um documento.

 

Andei ontem na minha vila natal a observar o litoral, está demasiado artificializado para o meu gosto. Apreciei a plantação de um dragoeiro próximo da praia do Corpo Santo.

 

Também ontem dediquei parte do meu dia à luta contra a tortura de animais. Um combate difícil numa altura em que nem os humanos são respeitados.

 

Hoje, foi o dia mais longo e a noite mais curta deste ano. Bom solstício de Verão!

 

20 de junho de 2024

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Árvore-da-borracha-australiana

 


Árvore-da-borracha-australiana

  

A árvore-da-borracha-australiana, figueira-da-austrália ou figueira-estranguladora (Ficus macrophylla Desf.ex Pers.) é uma espécie, da família Moraceae, originária das florestas chuvosas da costa leste da Austrália.

 

A árvore-da-borracha-australiana pode atingir mais de 30 m de altura e possui um tronco acinzentado. “Do tronco principal saem junto ao solo “raízes tabulares” como que escoras que melhor prendem a árvore ao chão e que atingem grande desenvolvimento” (Saraiva, 2020).

 

As suas folhas são grandes, com cerca de 10 a 25 cm de comprimento e cerca de 7 a 12 cm de largura, coriáceas que são verde-escuras na página superior e ferrugíneas na página inferior.

 

Os seus frutos, os figos, que são pequenos, são oblongo-esféricos e atingem de 2 a 2,5 cm de diâmetro. À medida que amadurecem passam da cor verde para púrpura.

 

A árvore-da-borracha-australiana terá chegado a São Miguel em meados do século XIX, tendo os exemplares existentes no Jardim José do Canto uma idade aproximada de 170 anos, pois a sua presença naquele jardim está referenciada na “Enumeração das principais plantas existentes no meu Jardim de Sta. Anna na primavera de 1856”, elaborada por José do Canto.

 

O magnífico exemplar existente no Jardim António Borges, que terá uma idade próxima dos 160 anos, foi classificado por Despacho publicado no Diário do Governo, II Série, nº.238, de 14 de outubro de 1970.

 

De acordo com Albergaria (2021), “o exemplar do Jardim António Borges possuía em 2018, 22,6 m de altura e 24 m de diâmetro de copa. Apesar das grandes dimensões deste exemplar a espécie é mencionada pela primeira vez no Jardim em 1960 no caderno manuscrito do Professor João do Amaral Franco.”

 

O facto da espécie apenas ter sido referida em 1960 apenas significa que a mesma esteve durante muitos anos mal classificada, como terá acontecido no “Catálogo das Plantas” datado de 1865 ou no interessante livro, “Parques e Jardins dos Açores” de Isabel Albergaria, em que a espécie está identificada como Ficus elastica.

 

A espécie, segundo Saraiva (2020), poderá ter sido introduzida em Portugal continental por Edmond Goeze oferecida por José do Canto. O maior exemplar existente no país, ainda de acordo com o mesmo autor, encontra-se, em Coimbra, no Jardim Botânico da Universidade, onde trabalhou Goeze, e possui 11,5 m de PAP (Perímetro (do tronco) à Altura do Peito) e 32 m de DC (Diâmetro da Copa)

 

Na ilha de São Miguel existem exemplares notáveis da árvore-da-borracha-australiana no Jardim José do Canto, no Jardim do Palácio de Santana e no Jardim António Borges. O geógrafo madeirense Raimundo Quintal no texto “Árvores monumentais nos jardins, parques e matas de São Miguel – proposta de classificação”, publicado em 2019, sugeriu que que se mantivesse a classificação do exemplar existente no Jardim António Borges, que fossem classificados dois exemplares existentes no Jardim José do Canto e um exemplar existente no Jardim do Palácio de Santana.

 

Esta espécie que tem uma longevidade superior a 150 anos, é muito apreciada pelos visitantes dos jardins onde se encontra pelo espetáculo único das suas raízes tabulares que também fazem com que esta bonita planta ornamental não deva ser plantada junto de edifícios, sendo adequada apenas para parques e jardins e outros locais onde as suas raízes tenham espaço suficiente para se desenvolverem livremente.

 

Do mesmo género, para além das espécies já referidas (Ficus macrophylla e Ficus elastica) é possível encontrar na nossa ilha, entre outras, a Ficus carica (figueira), cultivada como árvore de fruto, e a ornamental figueira-da-índia (Ficus benjamina) que pode ser observada no Jardim António Borges, no Jardim José do Canto e no Jardim do Palácio de Santana.

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Virusaperiódico (12)

 


Virusaperiódico (12)

 

No dia 12, de manhã estive na Biblioteca Pública de Ponta Delgada à procura de um texto de António Borges Coutinho sobre as eleições à Presidência da República em que um dos candidatos foi o general Humberto Delgado. Não encontrei, mas, por acaso, encontrei outras informações inesperadas, entre elas um texto da autoria de vários padres, um dos quais o padre António Pimentel Cassiano, sobre eleições publicado, em 1979, no jornal “Farol das Ilhas”.

 

No mesmo dia, de tarde estive, em Vila Franca do campo numa singela homenagem ao Padre Cassiano, tendo encontrado entre o público assistente alguns que o trataram mal aquando da sua chegada ao concelho. Entre eles, marcou presença um dirigente do Movimento Separatista Estudantil /FLA que em 1975 se achava mais açoriano do que eu e pensava que não eu não tinha lugar na minha terra e que devia fazer as malas e “exilar-me” em Lisboa. Para ele, bom servidor de Salazar e Caetano, o que era bom era o fascismo.

 

Ontem, o dia foi excessivamente curto para os meus afazeres que foram a colheita e a limpeza de bananas na Courela, o ativismo animal, contra a tortura de animais, o envio de informações sobre plantas a solicitação de algumas pessoas, a pesquisa que estou a fazer sobre o Estado Novo que de novo só tinha o nome, etc.

 

14 de junho de 2024

 

 

Virusaperiódico (11)

 


Virusaperiódico (11)

 

Passados mais de um ano e um mês da minha passagem à reforma continuo a dar aulas em várias escolas por onde passei. Felizmente apenas em sonhos.

 

Acabei a leitura do livro “Nem obedecer nem comandar”, de Francesco Codello, editado pela Barricada de Livros. Vale a pena a leitura, qualquer que sejam as ideias ou ideologias dos leitores.

 

Do livro, deixo aqui duas pequenas citações que merecem uma reflexão:

 

“Viver é a coisa mais rara do mundo. A maior parte das pessoas existe, nada mais.” (Óscar Wilde)

 

“Olho por olho, e todo o mundo acabará cego” (Gandhi)

 

Parece-me que ontem foi dia de eleições para o Parlamento Europeu. Foi dia de estar a conversar com as plantas no quintal e de reler algumas cartas de José do Canto ao seu primo José Jácome Correia.

 

Numa das cartas, li o seguinte a propósito da política e dos políticos: “com arte e engano se vive uma parte do anno, e com engano e arte a outra parte”

 

Hoje, de manhã visitei o Jardim António Borges, fotografei algumas plantas, com destaque para a árvore-da-borracha-da austrália cujo acesso está vedado ao público por ter caído um ramo. Também fotografei algumas placas de identificação de plantas vandalizadas.

 

10 de junho de 2024

Uma viagem pelo mundo das plantas

 




Uma viagem pelo mundo das plantas com Teófilo Braga

O autor do livro “As plantas na Medicina Popular dos Açores” sublinha a importância de se conhecer e identificar as plantas e os seus potenciais usos no dia a dia.

 

Por Sara Sousa Oliveira

 

Teófilo Braga, 66 anos, é professor de Física e Química aposentado e um apaixonado pelo mundo natural. É autor do livro “As plantas na Medicina Popular dos Açores” e foi convidado a liderar uma sessão explicativa no quintal Etnográfico da Ribeira Chã para assinalar o Dia Internacional dos Museus, a 18 de maio. Esse foi o ponto de partida para uma conversa com o Diário da Lagoa sobre aquilo que mais o interessa.

 

DL: Como surgiu este gosto pelas plantas?

 

Sou natural da Ribeira Seca, Vila Franca do Campo. O meu pai era agricultor. Desde criança habituei-me a cuidar das plantas e a ajudá-lo em alguns trabalhos agrícolas, embora na altura, não gostasse muito, mas há qualquer coisa que ficou cá dentro.

 

DL: Sabemos que os nossos antepassados utilizavam muito as plantas para fins

medicinais. Atualmente, esse uso ainda continua a ser feito nos Açores?

 

Ainda se faz, mas penso quecada vez se usa menos e cada vez as pessoas sabem menos. É uma coisa que se vai perdendo, por isso é que decidi publicar um livro, que tem a indicação de 100 plantas e os seus usos tradicionais, sobretudo os usos medicinais.

 

DL: E são plantas endémicas e nativas dos Açores?

 

Não. Quando os povoadores chegaram encontraram um mundo completamente desconhecido para eles. Tiveram de trazer grande parte das plantas que são hoje ainda usadas na medicina popular. Das endémicas dos Açores, só conheço um caso de uma planta que é usada, que é um tomilho endémico. (1)

 

DL: As plantas têm muitos usos e podem servir para várias coisas, mas é preciso ter cuidado, certo?

 

É preciso ter cuidado no uso das plantas, sobretudo porque as plantas têm contraindicações e efeitos secundários. Mas além disso, o mais perigoso é o facto de a mesma planta ter nomes diferentes em localidades diferentes. Uma planta com determinado nome pode ser benéfica para a saúde, e noutra localidade, com o mesmo nome, ser uma outra espécie completamente diferente e ser muito prejudicial.

DL: Acha que o facto de conhecermos mais as plantas evitaria recorrermos a determinado tipo de fármacos?

 

Para casos ligeiros isso pode acontecer. Numa dor pontual não é necessário recorrer imediatamente à medicina, mas é sempre um risco. Convém sempre recorrer a um profissional de saúde que seja apto para detetar o tipo de doença e a forma de a tratar.

 

DL: Mas as plantas podem fazer pequenos “milagres” ou não?

 

Claro que podem. Grande parte dos medicamentos são feitos à base de plantas. Esse conhecimento é importantíssimo.

 

DL: Fez um questionário que envolveu 500 pessoas. Que principais conclusões tirou daí?

 

O questionário foi procurar saber que plantas eram usadas pelas pessoas entre 1988 e 1999. Fiz com a ajuda de alunos meus, da Escola da Ribeira Grande, Escola Antero de Quental, Escola das Laranjeiras. O objetivo foi saber que plantas eram usadas. Plantas com propriedades medicinais nos Açores há muitas.

 

DL: Quer deixar alguma mensagem aos leitores?

 

Um apelo para se informarem e conhecerem mais. E também que outras localidades façam o que é feito aqui na Ribeira Chã, que tem um quintal etnográfico com 13 plantas aromáticas. Isto é pioneiro e é o único. Não conheço outra freguesia que tenha um quintal etnográfico e um canteiro com plantas aromáticas e medicinais.

 

(1)     A espécie referida é o Thymus caespititius que era considerado um endemismo hispano-açórico-madeirense e agora é classificada como nativa.

 

Para saber mais sobre o “Diário da Lagoa”:

 

https://www.facebook.com/diariodalagoa/?locale=pt_PT

 

https://diariodalagoa.pt/

 

quinta-feira, 6 de junho de 2024

Virusaperiódico (10)

 




Virusaperiódico (10)

 

Nestes dias a vida tem estado atrapalhada devido a doenças de familiares, mas nada há a fazer.

 

O meu vício pela leitura obrigou-me a comprar dois romances do escritor Henrique Levy: “Bento de Goes” e “O Drama de Afonso VII de Portugal”.  A título de oferta, recebi o livro “Presos Políticos-do Estado Novo na Madeira”, de Élvio Passos e João Palla Lizardo,

 

Voltei à leitura de textos de Agostinho da Silva, desta vez sobre cooperativas que, entre nós, já tiveram melhores dias. Hoje o que está na moda é competir, espezinhar o outro e não colaborar e cooperar.

 

Sempre muito interessado pela política e sobretudo pelos profissionais da política, cito um texto de um livrinho que estou a ler muito devagar para melhor o saborear: “Eu, se fosse Deus, naturalmente fecharia a boca a muita gente. No reino dos céus não quereria ministros, nem gente de partido, porque a política é asquerosa e faz mal à pele.” (Giorgio Gaber)

 

Não suporto pessoas que confundem alhos com bugalhos (não me estou a referir a candidatos). Por isso saí de um “grupo do WatsApp” criado por uma organização não governamental de ambiente por haver quem o usava e abusava para fazer propaganda do seu partido. Bati com a porta, dizendo que não estava interessado em receber informação partidária, mesmo que fosse do meu partido (se tivesse).

 

7 de junho de 2024

terça-feira, 4 de junho de 2024

Faia-europeia

 


Faia-europeia

 

A faia-europeia ou faia (Fagus sylvatica L.) é uma espécie, da família Fagaceae, oriunda de uma vasta área da Europa que abrange o norte de Espanha, França, sul de Inglaterra e sul dos países escandinavos, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha, Polónia, Itália e Países Balcânicos.

 

O nome científico Fagus, conserva a denominação latina que, por sua vez, deriva do grego fagos ou phagos, que significa comilão, uma referência ao facto dos frutos serem muito nutritivos e sylvatica, que indica dos bosques ou selvagem.

 

A faia-europeia á uma árvore caducifólia, de copa ovada ou arredondada que pode atingir 30 m de altura ou mais. O seu tronco apresenta casca lisa e cinzenta. As folhas, de margens ondeadas, são ovadas ou elíticas, apresentando nas margens uma penugem. As flores, tanto as masculinas como as femininas, que são pouco notórias, estão dispostas em amentos. Os frutos (aquénios) são normalmente constituídos por duas nozes lustrosas de forma triangular.

 

Em Portugal continental, a faia é uma espécie exótica que tem sido plantada pelos Serviços Florestais, sobretudo na Serra da Estrela, no perímetro florestal de Manteigas, e nalgumas serras do Norte. Também é cultivada como espécie ornamental, em parques e jardins, existindo exemplares notáveis em Ponte de Lima, Lamego, Porto (no Parque de Serralves), em Lisboa e em Sintra.

 

Sobre a presença da faia-europeia na ilha de São Miguel, há um excelente texto, intitulado “Matas”, publicado no nº 21, de 1849, de “O Agricultor Michaelense”.

 

Para alem da menção à utilidade da planta e do modo de propagação da mesma, que era por semente, sobre a sua chegada a São Miguel, podemos ler o seguinte: “Sabemos que nos últimos sete anos várias pessoas fizeram sementeiras de Faia, importada a sua semente de Inglaterra.”

 

Mas tudo leva a crer que a presença da faia-europeia é mais antiga, pois no mesmo texto é afirmado que:

 

“No logar das Socas, em prédio pertencente ao Sr. Guilherme Scholtz há um grupo de magestosas faias; ni sitio do Botelho, na auinta do Sr. Barão de Fonte Bella, há tambémuma avenida de belas faias, na servidão que dirige à cascata; e finalmente na Grimaneza, n’uma matta que pertence ao fallecido Sr. Annio José de Vasconcellos, campeam á margem da estrada, e como que pregando o exemplo, duas frondosíssimas árvores.”

 

Na atualidade, na ilha de São Miguel, a faia-europeia é usada como planta ornamental, podendo ser observada no Jardim do Palácio de Santana, no Jardim do Pico Salomão, no Parque Terra Nostra, no Viveiro Florestal das Furnas e na Mata-Jardim José do Canto-Lagoa das Furnas.

 

A madeira da faia, branca ou acastanhada, por vezes com tons rosados, é bonita, sendo por isso muito usada em carpintaria e marcenaria, para o fabrico de elementos torneados, mobiliários e instrumentos musicais. Também pode ser usada para pasta de papel e como combustível, já que apresenta uma elevada capacidade calorífica.

 

Segundo Pio Font Quer (1988) o carvão vegetal proveniente da madeira de faia-europeia é:

 

“usado em Medicina sempre que convém absorver gases pútridos, sobretudo em fermentações intestinais de tipo anormal, no chamado meteorismo, nas disenterias flatulentas e em todos os casos em que não só é aconselhável desinfetar moderadamente, mas também absorver gases produzidos em excesso. Na higiene oral o mesmo carvão macio e ligeiramente desinfetante constitui um excelente dentífrico. Também se usa em certos casos de envenenamento, como primeira providência para parar o mal.”

 

O mesmo autor refere que por destilação seca da madeira se obtém o breu de faia que foi muito usado para combater a tuberculose.

https://sig.serralves.pt/pt/flora/detalhe.php?id=1010

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Fagus_sylvatica

 

Teófilo Braga

domingo, 2 de junho de 2024

Virusaperiódico 9

 


Virusaperiódico (9)

 

No dia 31 de maio assisti a uma homenagem a António Borges Coutinho no Museu Carlos Machado com intervenções de Pedro Pacheco e Francisco Nunes. Apreciei as duas intervenções.

 

Tenho continuado a investigar o pensamento de António Borges Coutinho, agora recorrendo ao jornal que ele dirigiu intitulado “Farol das Ilhas”.

 

No Dia da Criança andei pela Ribeira Nova onde, para além das mondas, estive a tentar reforçar um enxame com ovos de uma outra colmeia. Espero ser bem-sucedido. Também estive na Courela onde continuei a mondar as bananeiras e a limpar bananas.

 

Na Courela observei um ninho de melro-negro com quatro ovos. Penso que o máximo que tinha visto era de três ovos por ninho. Consultando a bibliografia chega-se à conclusão de que aquele número é normal. Rui Martins, Armindo Rodrigues e Regina Cunha, no livro “Aves Nativas dos Açores”, escrevem que a postura é de 3 a 5 ovos e pedro Rodrigues e Gerbrand Michielsen, no livro “Observação de Aves nos Açores”, referem que a postura é geralmente quatro ovos azuis sarapintados de castanho.

 

2 de junho de 2024

Ginjeira-do-mato

 


Ginjeira-do-mato

 

A Ginjeira-do-mato, ginjeira-brava ou ginja (Prunus azorica (Hort. ex Mouil.) Rivas Mart.) é uma espécie endémica dos Açores que pertencente à família Rosaceae. Não existe em Santa Maria, Graciosa e Corvo.

 

Vieira, Moura e Silva (2020) referem que “estudos recentes sugerem que não existe suficiente diferenciação para ser considerada uma espécie distinta de Prunus, mas sim a subespécie Prunus lusitânica subsp. azorica (Mouill.) Franco.”

 

A ginjeira-do-mato é uma árvore perenifólia que raramente ultrapassa os 6 metros de altura, com folhas de forma oval-elíptica, glabras e de cor verde-escuro. As suas flores, que se apresentam em cachos, são brancas e podem ser vistas nos meses de março, abril, maio, junho e julho. Os seus frutos são carnudos, ovoides e pretos quando maduros.

 

No estado selvagem é possível encontrar a ginja-do-mato, em florestas nativas normalmente entre os 500 m e os 700 m de altitude. Na ilha de São Miguel, para a observar aconselhamos uma visita à Serra da Tronqueira, no Nordeste.

 

Por pertencer à flora primitiva dos Açores a ginjeira-do-mato é referida, por várias vezes, por Gaspar Frutuoso, nas Saudades da Terra, ao descrever várias ilhas do nosso arquipélago. Numa das referências àquela espécie Gaspar Frutuoso, no Capítulo I, do Livro IV, escreveu o seguinte:

“Chegando aqui às ilhas os novos descobridores, tomaram terra no lugar, onde agora se chama a Povoação Velha, pela que ali fizeram depois, como adiante contarei, e desembarcando antre duas frescas ribeiras de claras, doces e frias águas, antre rochas e terras altas, todas cobertas de alto e espesso arvoredo de cedros, louros, ginjas e faias, e outras diversas árvores, deram todos, com muito contentamento e festa, graças a Deus, não as que por tão alta mercê se lhe deviam, senão as que podem dar uns corações contentes como bem tão grande que tinham presente, desejado por muitos dias e com tanto trabalho e enfadamento de importunas viagens por tantas vezes buscado.”

 

No relatório “A agricultura no distrito da Horta (subsídios para o seu estudo)”, citado por Carreiro da Costa (1989), sobre a presença de várias espécies vegetais na ilha do Pico, os autores, relativamente à ginjeira-do- mato escrevem: a sua “madeira [é] muito apreciada para obras de entalhamento e casca rica duma substância corante com que os pescadores tingem as redes”.

 

Ramos (1871) já havia escrito algo semelhante ao relatório citado por Carreiro da Costa. Segundo ele, “a madeira é muito apreciada pelos entalhadores; da sua casca fazem grande uso os curtidores, e também com ella tingem os pescadores as suas redes.”

 

Vieira, Moura e Silva (2020) escrevem que os frutos são comestíveis e são uma importante fonte de alimentação para o priolo, ave endémica dos Açores.

De acordo com o Dr. Francisco Carreiro da Costa, foi à ginjeira do mato que os açorianos foram buscar o nome para várias localidades, como por exemplo Ginjal, em São Miguel e na Terceira, e Canada da Ginja, em São Jorge.

 

Hoje, a ginjeira-do-mato é muito rara e praticamente deixou de ter qualquer uso, para além do ornamental. Assim, ainda em número muito reduzido, já se podem encontrar alguns exemplares em parques e jardins públicos e privados.

 

Quem quiser observar a ginjeira-do-mato, fora do seu ambiente natural, pode fazê-lo no Jardim da Universidade, no Jardim do Palácio de Santana, no Jardim Botânico José do Canto, no Parque Urbano, na Quinta da Torre-Capelas, na Quinta-Jardim da Ribeira Nova- Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, no Parque Terra Nostra e na Mata-Jardim José do Canto-Furnas.


Teófilo Braga