Uma viagem pelo mundo das
plantas com Teófilo Braga
O autor do livro “As plantas na Medicina Popular dos Açores” sublinha a importância de se conhecer e identificar as plantas e os seus potenciais usos no dia a dia.
Por Sara Sousa Oliveira
Teófilo Braga, 66 anos, é professor de Física e Química aposentado e um
apaixonado pelo mundo natural. É autor do livro “As plantas na Medicina Popular
dos Açores” e foi convidado a liderar uma sessão explicativa no quintal
Etnográfico da Ribeira Chã para assinalar o Dia Internacional dos Museus, a 18
de maio. Esse foi o ponto de partida para uma conversa com o Diário da Lagoa
sobre aquilo que mais o interessa.
DL: Como
surgiu este gosto pelas plantas?
Sou natural da Ribeira Seca, Vila Franca do Campo. O meu pai era
agricultor. Desde criança habituei-me a cuidar das plantas e a ajudá-lo em
alguns trabalhos agrícolas, embora na altura, não gostasse muito, mas há
qualquer coisa que ficou cá dentro.
DL: Sabemos
que os nossos antepassados utilizavam muito as plantas para fins
medicinais.
Atualmente, esse uso ainda continua a ser feito nos Açores?
Ainda se faz, mas penso quecada vez se usa menos e cada vez as pessoas
sabem menos. É uma coisa que se vai perdendo, por isso é que decidi publicar um
livro, que tem a indicação de 100 plantas e os seus usos tradicionais,
sobretudo os usos medicinais.
DL: E são
plantas endémicas e nativas dos Açores?
Não. Quando os povoadores chegaram encontraram um mundo completamente
desconhecido para eles. Tiveram de trazer grande parte das plantas que são hoje
ainda usadas na medicina popular. Das endémicas dos Açores, só conheço um caso
de uma planta que é usada, que é um tomilho endémico. (1)
DL: As plantas têm muitos usos e podem servir para várias
coisas, mas é preciso ter cuidado, certo?
É preciso ter cuidado no uso das plantas, sobretudo porque as plantas têm
contraindicações e efeitos secundários. Mas além disso, o mais perigoso é o
facto de a mesma planta ter nomes diferentes em localidades diferentes. Uma
planta com determinado nome pode ser benéfica para a saúde, e noutra
localidade, com o mesmo nome, ser uma outra espécie completamente diferente e
ser muito prejudicial.
DL: Acha que o
facto de conhecermos mais as plantas evitaria recorrermos a determinado tipo de
fármacos?
Para casos
ligeiros isso pode acontecer. Numa dor pontual não é necessário recorrer
imediatamente à medicina, mas é sempre um risco. Convém sempre recorrer a um
profissional de saúde que seja apto para detetar o tipo de doença e a forma de
a tratar.
DL: Mas as
plantas podem fazer pequenos “milagres” ou não?
Claro que podem. Grande parte dos medicamentos são feitos à base de
plantas. Esse conhecimento é importantíssimo.
DL: Fez um questionário que envolveu 500 pessoas. Que
principais conclusões tirou daí?
O questionário foi procurar saber que plantas eram usadas pelas pessoas
entre 1988 e 1999. Fiz com a ajuda de alunos meus, da Escola da Ribeira Grande,
Escola Antero de Quental, Escola das Laranjeiras. O objetivo foi saber que
plantas eram usadas. Plantas com propriedades medicinais nos Açores há muitas.
DL: Quer
deixar alguma mensagem aos leitores?
Um apelo para se informarem e conhecerem mais. E também que outras
localidades façam o que é feito aqui na Ribeira Chã, que tem um quintal
etnográfico com 13 plantas aromáticas. Isto é pioneiro e é o único. Não conheço
outra freguesia que tenha um quintal etnográfico e um canteiro com plantas
aromáticas e medicinais.
(1) A
espécie referida é o Thymus caespititius que era considerado um
endemismo hispano-açórico-madeirense e agora é classificada como nativa.
Para saber mais sobre
o “Diário da Lagoa”:
https://www.facebook.com/diariodalagoa/?locale=pt_PT
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