domingo, 2 de junho de 2024

Ginjeira-do-mato

 


Ginjeira-do-mato

 

A Ginjeira-do-mato, ginjeira-brava ou ginja (Prunus azorica (Hort. ex Mouil.) Rivas Mart.) é uma espécie endémica dos Açores que pertencente à família Rosaceae. Não existe em Santa Maria, Graciosa e Corvo.

 

Vieira, Moura e Silva (2020) referem que “estudos recentes sugerem que não existe suficiente diferenciação para ser considerada uma espécie distinta de Prunus, mas sim a subespécie Prunus lusitânica subsp. azorica (Mouill.) Franco.”

 

A ginjeira-do-mato é uma árvore perenifólia que raramente ultrapassa os 6 metros de altura, com folhas de forma oval-elíptica, glabras e de cor verde-escuro. As suas flores, que se apresentam em cachos, são brancas e podem ser vistas nos meses de março, abril, maio, junho e julho. Os seus frutos são carnudos, ovoides e pretos quando maduros.

 

No estado selvagem é possível encontrar a ginja-do-mato, em florestas nativas normalmente entre os 500 m e os 700 m de altitude. Na ilha de São Miguel, para a observar aconselhamos uma visita à Serra da Tronqueira, no Nordeste.

 

Por pertencer à flora primitiva dos Açores a ginjeira-do-mato é referida, por várias vezes, por Gaspar Frutuoso, nas Saudades da Terra, ao descrever várias ilhas do nosso arquipélago. Numa das referências àquela espécie Gaspar Frutuoso, no Capítulo I, do Livro IV, escreveu o seguinte:

“Chegando aqui às ilhas os novos descobridores, tomaram terra no lugar, onde agora se chama a Povoação Velha, pela que ali fizeram depois, como adiante contarei, e desembarcando antre duas frescas ribeiras de claras, doces e frias águas, antre rochas e terras altas, todas cobertas de alto e espesso arvoredo de cedros, louros, ginjas e faias, e outras diversas árvores, deram todos, com muito contentamento e festa, graças a Deus, não as que por tão alta mercê se lhe deviam, senão as que podem dar uns corações contentes como bem tão grande que tinham presente, desejado por muitos dias e com tanto trabalho e enfadamento de importunas viagens por tantas vezes buscado.”

 

No relatório “A agricultura no distrito da Horta (subsídios para o seu estudo)”, citado por Carreiro da Costa (1989), sobre a presença de várias espécies vegetais na ilha do Pico, os autores, relativamente à ginjeira-do- mato escrevem: a sua “madeira [é] muito apreciada para obras de entalhamento e casca rica duma substância corante com que os pescadores tingem as redes”.

 

Ramos (1871) já havia escrito algo semelhante ao relatório citado por Carreiro da Costa. Segundo ele, “a madeira é muito apreciada pelos entalhadores; da sua casca fazem grande uso os curtidores, e também com ella tingem os pescadores as suas redes.”

 

Vieira, Moura e Silva (2020) escrevem que os frutos são comestíveis e são uma importante fonte de alimentação para o priolo, ave endémica dos Açores.

De acordo com o Dr. Francisco Carreiro da Costa, foi à ginjeira do mato que os açorianos foram buscar o nome para várias localidades, como por exemplo Ginjal, em São Miguel e na Terceira, e Canada da Ginja, em São Jorge.

 

Hoje, a ginjeira-do-mato é muito rara e praticamente deixou de ter qualquer uso, para além do ornamental. Assim, ainda em número muito reduzido, já se podem encontrar alguns exemplares em parques e jardins públicos e privados.

 

Quem quiser observar a ginjeira-do-mato, fora do seu ambiente natural, pode fazê-lo no Jardim da Universidade, no Jardim do Palácio de Santana, no Jardim Botânico José do Canto, no Parque Urbano, na Quinta da Torre-Capelas, na Quinta-Jardim da Ribeira Nova- Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, no Parque Terra Nostra e na Mata-Jardim José do Canto-Furnas.


Teófilo Braga

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