Anarquistas
dos e nos Açores: a nossa homenagem
Há
anarquistas que nasceram nos Açores e pelos Açores passaram vários anarquistas,
em viagens de recreio ou profissionais. Contudo muitos deles, a maior parte, vieram para os Açores presos ou
deportados.
No
ano em que se comemoram 50 anos do golpe de estado militar, que acabou com a
ditadura fascista de Salazar e Caetano e que instaurou uma democracia formal,
os libertários recordam os 90 anos do 18 de Janeiro de 1934 data em que foi
tentada pela CGT (anarcossindicalista) uma greve geral revolucionária que
contou com o acordo da Comissão Inter-Sindical (comunista), da Federação dos
Transportes (unitária), da Federação das Associações Operárias (socialista) e
dos Sindicatos Autónomos. O motivo foi o protesto contra o Estatuto do
Trabalho Nacional e Organização dos Sindicatos Nacionais e o fim era o derrube
do regime salazarista.
Neste
texto, apresentamos uma primeira listagem de militantes anarquistas que lutaram
contra a ditadura e que aspiraram por uma Terra sem amos, mais livre e
solidária do que a resultante do 25 de Abril de 1974.
Abílio
Augusto Belchior
Marmorista, natural de Urros-Moncorvo, fez
parte da Confederação Geral do Trabalho. Esteve preso, em Angra do Heroísmo, de
23 de Março de 1935 a 23 de Outubro de 1936.
Abílio Gonçalves
Natural de Arganil, amassador, filiado na
Aliança Libertária Portuguesa, esteve envolvido nos preparativos da Greve Geral
de 18 de janeiro de 1934.
Esteve
preso, em Angra do Heroísmo, de 8 de Setembro de 1934 a 23 de Outubro de 1936.
Em
1936, fez parte da primeira leva de presos políticos enviada para o Campo de
Concentração do Tarrafal, de onde foi libertado em Janeiro de 1946.
Abílio
Gonçalves
Anarcossindicalista, natural de Silves,
corticeiro, esteve preso em Angra do Heroísmo de 8 de Setembro de 1934 a 23 de
Outubro de 1936, tendo depois seguido para o Tarrafal.
Acácio Tomás de Aquino
Pedreiro, natural de Alcântara-Lisboa,
militante e dirigente anarcossindicalista foi condenado ao degredo no Campo de
Concentração do Tarrafal, onde ficou 12 anos. Esteve preso em Angra do
Heroísmo, entre 8 de Setembro de 1934 a 23 de Outubro de 1936.
Foi um dos principais responsáveis pelo
movimento revolucionário do 18 de Janeiro de 1934. Escreveu O Segredo das Prisões Atlânticas, um
livro fundamental para o estudo da repressão durante o Estado Novo.
Adriano Botelho
Natural da ilha Terceira, fez parte do Conselho
Confederal da CGT antes e durante o Estado Novo. Em 1931 escreveu o folheto Da Conquista do Poder. Durante a
ditadura colaborou anonimamente no jornal A
Batalha.
Foi dos poucos libertários que se livrou das
prisões fascistas.
Antonino Francisco
Carpinteiro, natural de Ervedal da Beira,
pertenceu à Aliança Libertária de Lisboa. Foi preso várias vezes, tendo estado
na 1ª Esquadra, no Aljube, em Caxias, em Peniche e em Angra do Heroísmo, tendo
ficado preso em Angra entre 22 de Novembro de 1933 e 9 de Novembro de 1934.
António
Gato Pinto
Ferroviário, natural de Moura, participou nos
preparativos do 18 de Janeiro de 1934, esteve deportado em Angra do Heroísmo,
onde permaneceu de 23 de Setembro de 1934 a 23 de Outubro de 1936. Participou
na Organização Prisional Libertária no Tarrafal onde esteve cerca de 13 anos
preso.
António Gonçalves Correia
Vegetariano, humanista, defensor dos animais Gonçalves
Correia foi ensaísta e poeta. Fundou o jornal A questão social e publicou os opúsculos Estreia de um Crente (1917) e A
felicidade de todos os seres na Sociedade Futura (1923).
Por duas vezes, tentou pôr em prática os seus ideais
anarquistas através da criação de duas comunidades, a Comuna da Luz, sediada em
Vale de Santiago e a Comuna Clarão, em Albarraque.
Foi perseguido e preso pelo Estado Novo.
Esteve, em 1910, na ilha de São Miguel onde contactou o
pintor de construção civil, Francisco Soares Silva, director do jornal Vida Nova, órgão do operariado
micaelense e a professora primária Maria Evelina de Sousa, que foi fundadora e
directora da Revista Pedagógica.
António José de Ávila
Pintor de
profissão, nasceu em Angra do Heroísmo, ilha Terceira, por volta de 1853, tendo
falecido a 1 de Janeiro de 1923.
Esteve
preso, em 1908, por suspeita de regicídio, e em 1917 durante o sidonismo.
Ao longo
da sua vida foi membro dos grupos Anarquistas "O Norte" e "O
Semeador" e colaborou nos jornais A
Greve e A Batalha.
António
José de Ávila manteve relações próximas com Antero de Quental na altura em que
este se correspondia com anarquistas como Jean Grave, Anselmo Lorenzo, Elisée
Reclus e Kropótkine.
Arnaldo
Simões Januário
Barbeiro de profissão, natural de Coimbra, foi
militante da União Anarquista Portuguesa morreu no Campo de Concentração do
Tarrafal, depois de anos de luta e sofrimento, vitimado por uma biliose
anúrica. Esteve deportado em Angra do Heroísmo entre 8 de Setembro de 1934 e 23
de Outubro de 1936.
Aurélio Quintanilha
Aurélio
Pereira da Silva Quintanilha nasceu, em Angra do Heroísmo, em 1892 e faleceu,
em Lisboa, em 1987.
Concluiu
o Curso de Ciências Histórico-Naturais, por Coimbra, onde foi assistente de
Botânica da Faculdade de Ciências e se doutorou. Foi forçado a ir para França,
depois de, em 1935, ter sido demitido e reformado compulsivamente por razões
ideológicas. Depois do 25 de Abril de
1974, pediu a reintegração na Universidade de Coimbra, tendo aí proferido a
última lição.
Foi
uma das principais figuras do movimento libertário português, tendo sido o
redactor principal do jornal de expressão anarquista A Lanterna que se publicou, em 1915, na ilha Terceira.
Bernardo Casaleiro Pratas
Natural de Coimbra, serralheiro de
construção civil, militante da União Anarquista Portuguesa, foi acusado de
participar numa reunião preparatória da greve revolucionária de 18 de Janeiro
de 1934. Passou por várias prisões, entre elas o Tarrafal. Esteve preso em
Angra do Heroísmo, entre 8 de Setembro de 1934 e 23 de Outubro de 1936.
Custódio
da Costa
Natural da freguesia de Esgueira – Aveiro, padeiro,
anarcossindicalista, destacou-se na Greve Geral de 18 de Janeiro de 1934.
Antes de ter ido para o Tarrafal, esteve em Angra do
Heroísmo, de 8 de Setembro de 1934 a 23 de Outubro de 1936.
Emídio Santana
Destacado
dirigente anarcossindicalista, carpinteiro de moldes/desenhador, pertenceu ao
Sindicato dos Metalúrgicos, foi director do jornal A Batalha e foi responsável pelo nascimento de várias tipografias
clandestinas. Participou no atentado frustrado a Salazar.
Foi preso por várias vezes, tendo
estado na prisão de Angra do Heroísmo entre 22 de novembro de 1933 e 24 de agosto
de 1934.
Filipe José da Costa
Natural de Lisboa, pintor de
profissão, durante a República pertenceu às Juventudes Sindicalistas.
Preso por várias vezes, também
passou pelo Tarrafal. Esteve em Angra do Heroísmo entre 8 de Junho de 1935 e 23
de Outubro de 1936, integrando a primeira leva de deportados enviados para o
Campo de Concentração do Tarrafal.
Jaime Brasil
Artur Jaime Brasil Luquet Neto nasceu em Angra
do Heroísmo, em 1896, tendo sido um jornalista notável.
Em 1925, Jaime Brasil fundou o Sindicato dos
Profissionais de Imprensa de Lisboa. Foi colaborador do Suplemento Semanal do
jornal A Batalha, órgão da Central Confederação Geral do Trabalho, central
sindical anarcossindicalista.
Foi perseguido pelo salazarismo. Esteve exilado
em França e em Espanha, passou pela prisão e foi proibido de assinar os seus
escritos.
Jaime Rebelo
Nasceu em Setúbal, sendo
marítimo/pescador de profissão, libertário, foi activista ligado a vários
movimentos sociais de pescadores.
Foi preso por várias vezes, uma
das quais acusado de tomar parte nas reuniões preparatórias da
greve geral de 1934. Numa das prisões terá cortado a própria língua por temer
não conseguir resistir às torturas que sofreu e poder vir a denunciar os seus
camaradas.
Esteve na Fortaleza de S. João
Baptista, em Angra do Heroísmo, entre 23-09-1934 e 07-03-1936.
José dos Reis Sequeira
Natural de Silves, onde nasceu a
28 de junho de 1907, foi corticeiro de profissão.
Pertenceu às Juventudes
Sindicalistas e foi Secretário da Associação de Classe dos Corticeiros em 1929.
Em 1935, foi preso em Fero acusado
de ligação a grupos anarquistas. Esteve preso em Peniche, Caxias e Angra do
Heroísmo. Nesta prisão esteve entre 17 de outubro de 1936 e 8 de agosto de 1938
Esteve exilado em Paris nos anos
60/70
José Machado Melo
Sapateiro,
militante anarcossindicalista, de Ponta Delgada, morreu aos 45 anos, no
Hospital Militar de Angra do Heroísmo, quando se encontrava sob prisão.
José Severino de Melo Bandeira
Empregado
de escritório, natural da Campanhã, Porto, esteve envolvido no 18 de Janeiro de
1934. Esteve deportado em Timor e no Tarrafal. Esteve na prisão em Angra do
Heroísmo, entre 23/4/1935 e 23/10/1936.
José Ventura
Natural de São Martinho do Bispo,
Coimbra, pedreiro, participou no 18 de Janeiro de 1934.
Depois
de passar pela Fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo (8/9/1934 -
23/10/1936), esteve no Tarrafal tendo integrado a Organização Libertária
Prisional.
Júlio Ferreira
Pedreiro, sindicalista, natural de
Coimbra participou activamente nos preparativos da Greve Geral Revolucionária
de 18 de Janeiro.de 1934.
Depois
de passar pela Fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo (8/9/1934 -
23/10/1936), esteve preso no Tarrafal.
Manuel Augusto da Costa
Servente de pedreiro, natural de
Sabrosa, foi preso a 30 de Janeiro de 1934 pela sua participação na greve
revolucionária do 18 de Janeiro de 1934.
Depois
de passar pela Fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo (8/9/1934 -
23/10/1936), esteve preso no Tarrafal.
Morreu
no dia 3 de Junho de 1945, poucos dias depois de ter cumprido 30 dias de
castigo na “frigideira” naquele campo de concentração.
Manuel
Henriques Rijo
Empregado de Escritório, nasceu em
Arruda dos Vinhos.
A sua militância anarquista
destacou-se na Confederação Geral do Trabalho, no jornal A Batalha e na preparação da greve
de 18 de Janeiro de 1934.
Esteve com residência fixa na ilha
do Pico e envolveu-se na Revolta das Ilhas, em 1931. Esteve preso em Angra do
Heroísmo entre 23/4/1935 e 23/10/1936, antes de ser enviado para o Campo de
Concentração do Tarrafal.
Manuel Pessanha
Natural
de Silves, corticeiro de profissão, na sua qualidade de anarcosindicalista
participou na organização da greve local de 18 de Janeiro de 1934.
Antes de ser enviado para o
Tarrafal, esteve preso na fortaleza de S. João Batista, em Angra do Heroísmo de
23 de Setembro de 1934 a 23 de Outubro de 1936.
Mário Castelhano
Natural
de Lisboa, empregado de escritório, foi dirigente da CGT e redactor principal
do jornal A Batalha.
Em Outubro
de 1930, Mário Castelhano e outros catorze deportados chegaram à ilha do Pico
onde permaneceram algum tempo. Depois da saída do Pico, que emocionou muitos
dos seus habitantes, foi para a ilha da Madeira, onde voltou a participar numa
revolta que se iniciou a 4 de Abril de 1931 e que, a 8 de Abril, se estendeu a
algumas ilhas dos Açores.
Na
sequência dos acontecimentos de 18 de Janeiro de 1934, Mário Castelhano foi
condenado a 16 anos de degredo, tendo em Setembro de 1934 partido para a ilha
Terceira, onde esteve, na Fortaleza de São João Batista, até Outubro de 1936,
ano em que foi enviado para o Tarrafal, onde viria a morrer, a 12 de Outubro de
1940, aos 44 anos, vítima de deficiente alimentação e de falta de medicação
adequada por parte do médico Esmeraldo Pratas.
Pedro de Matos Filipe
Natural de Almada, descarregador de profissão
foi preso por envolvimento na greve revolucionária do
18 de Janeiro de 1934.
Depois de passar pela
Fortaleza de São João Batista, em Angra do Heroísmo, entre 8 de Setembro de
1934 e 23 de Outubro de 1936, foi transferido para o Campo de Concentração do
Tarrafal, tendo falecido neste campo da morte lenta.
Considerações finais
Este é o primeiro esboço
de um trabalho necessariamente incompleto, não só devido a eventuais falhas
ocorridas durante a pesquisa, mas também causada por falta de informações ou
mesmo de informações não coincidentes existentes nas fontes consultadas.
Continuaremos o nosso
trabalho de aperfeiçoamento do texto agora apresentado, pois a luta empreendida
pelos militantes anarquistas não pode cair no esquecimento.
Bibliografia
Braga, T.
(2014). A Greve de 18 de Janeiro de 1934 e os Açores. Correio dos Açores, 26 de
fevereiro.
Rato,
R., Ruivo, F. (coord.) (2023). Ficaram pelo Caminho 1926-1974. Lisboa, Museu do
Aljube Resistência e Liberdade. 317 pp.
URAP.
(2022). Os presos e as prisões políticas em Angra do Heroísmo. Lisboa, União de
Resistentes Antifascistas Portugueses. 347 pp.
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