quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Alice Moderno em Exposição


Notas Zoófilas (9)

Alice Moderno em exposição

“ Dos seus sentimentos de bondade fala eloquentemente a sua ação não só dentro da benemérita Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, mas também na imprensa, onde frequentemente a pena elegante da srª D. Alice Moderno firmava artigos na defesa vigorosa e inteligente daqueles seres, amigos e companheiros do homem que este, na sua ignorância e ingratidão, tantas vezes maltrata” (João Anglin)

No passado dia 25 de setembro, na sala de exposições da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, foi inaugurada a exposição Alice Moderno (1867-1946): cidadania e intervenção.

A exposição, que surgiu na sequência de uma sugestão do Coletivo Alice Moderno, é uma iniciativa da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta, tendo sido realizada por Ana Cristina Pereira, Iva Matos e Rute Gregório, sendo esta última também responsável pela sua coordenação.

Conhecida pela sua dedicação à causa da defesa animal, Alice Moderno foi uma das fundadoras, em 1911, da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais e sua presidente e principal dinamizadora, desde 1914 até à data da sua morte, em 1946.

No seu labor em defesa dos animais, Alice Moderno não fazia distinções. Com efeito, para além de solicitar às autoridades a criação de legislação que proibisse determinadas práticas que causavam sofrimento e que cuidassem ou modificassem o piso das ruas para facilitar o trabalho dos animais de tiro, denunciou o uso e abuso de aguilhadas, a sobrecarga que vitimava principalmente bois e cavalos, o uso de cabras e ovelhas para puxar carroças, que acabou por ser proibido por lei, a venda por farmácias de estricnina que era usada para matar os cães abandonados, os maus tratos que sofriam os bovinos nas festas do Espírito Santo, o sofrimento dos touros e dos cavalos nas touradas, que ela abominava, e a morte à paulada dos ouriços-cacheiros por parte sobretudo dos rapazes mas também por adultos nas freguesias rurais que ela para os salvar comprava para depois soltar no quintal.

Mas, Alice Moderno não se dedicou apenas à causa animal. Ela, que para sobreviver teve de trabalhar arduamente, pois não herdou nenhuma fortuna, também abraçou outras causas, que estão mencionadas nos vários painéis que integram a exposição, a saber: a instrução/educação, as letras, onde se inclui a poesia, o teatro e o romance, o jornalismo, de que se destaca a fundação, direção e redação do jornal “A Folha”, onde ela dá voz a diversas correntes de pensamento inovadoras e progressistas, o feminismo, onde, para além da luta pela emancipação da mulher, defende a participação cívica da mesma na vida social, a participação política que a desencantou já que muitas das promessas da República não passaram disso mesmo e, por último, o apoio aos mais carenciados que ela, contrária à “caridadezinha”, sempre o fez.

A exposição, que merece a visita de todos os interessados em conhecer a vida e a obra de uma mulher que lutou incansavelmente por uns Açores melhores para todos os seus habitantes, humanos ou não, estará aberta ao público até ao dia 16 de abril de 2016.

Teófilo Braga

terça-feira, 22 de setembro de 2015

O Vegetariano


O Vegetariano

O texto de hoje é sobre uma revista, “O Vegetariano”, que durante alguns anos divulgou, em Portugal, o vegetarianismo, o qual segundo alguns não é mais do que uma modernice que, tal como as outras, tem os seus dias contados e segundo outros é um regime alimentar que existe desde sempre e que está em expansão em todo o mundo.

Embora não pretenda fazer a apologia de qualquer dieta alimentar, estou de acordo com quem considera que a dieta vegetariana continuará a expandir-se não só por questões relacionadas com a saúde, mas devido aos impactos que o regime alimentar dominante atualmente, que inclui carne em excesso, tem na destruição da natureza e às questões relacionadas com o bem-estar e direitos dos animais.

Um sinal inequívoco de que as coisas estão a mudar é a publicação, este ano, pelo Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, da Direção-Geral da Saúde das “Linhas de orientação para uma alimentação vegetariana saudável” que foi recebido com satisfação pelos praticantes do vegetarianismo em Portugal.

A revista O Vegetariano- mensário naturista ilustrado foi o órgão da Sociedade Vegetariana de Portugal que terá sido fundada no Porto, em 1908, pelo médico Dr. Amílcar de Sousa, especialista em dietética e nutrição.

A Sociedade Vegetariana de Portugal cuja sede se localizou na Avenida Rodrigues de Freitas, nº 379, na cidade do Porto, a 20 de Novembro de 1914 possuía 3364 sócios, divididos pelas categorias de sócios efetivos (vegetarianos) e sócios protetores., espalhados pelas várias regiões do país, incluindo os arquipélagos dos Açores e da Madeira, pelas antigas colónias ultramarinas, pelo Brasil e por outros países, sobretudo da América Latina.

De acordo com os números da revista a que tivemos acesso, relativos ao ano de 1914, nos Açores existiam 12 membros da SVP, 2 efetivos, Pedro José Correia, do Faial, e João Batista Machado Bettencourt, do Pico e 10 protetores. Destes, em São Miguel viviam os associados António Medeiros Estrela Rego, João Pereira Abreu de Vasconcelos, Urbano Botelho do Rego, Joaquim Arruda e António de Medeiros Frazão, no Pico vivia Francisco Augusto Ramos da Silveira, na Terceira residia o Dr. Martiniano Dias da Silveira, na Graciosa residia Carlos Leão e no Faial, António Maria Martins e Joaquim Rocha Bettencourt.

Outra curiosidade muito interessante é que nos 11 números consultados do ano de 1914, entre a publicidade publicada figurava um anúncio da Água das Lombadas. Sobre a mesma pode-se ler o seguinte: “Água de mesa perfeitamente natural. O ácido carbónico que contém não é introduzido artificialmente. Nasce na Ilha de São Miguel num terreno vulcânico, no alto duma serra, longe do povoado, a 510 metros de altitude, onde o ar é puro”. Através do mesmo anúncio, é possível sabermos que a Água das Lombadas tinha um depósito geral na Avenida da Liberdade, em Lisboa, e estava à venda em todo o país, nas principais farmácias, drogarias, hotéis e restaurantes.

Para além da publicidade à Água das Lombadas, a revista recomendava a leitura de vários livros que eram vendidos com descontos para os membros da Sociedade. Entre eles, destacamos os seguintes: Vivamos de frutos, sobre o frugismo, O Naturismo, livro que versava “todos os assuntos relacionados com a vida humana. Análise e soluções naturistas às questões alimentares, higiénicas, médicas, educativas, sociais e humanitárias”, Partos sem dor, onde o autor faz uma “exposição clara e pormenorizada” e “demonstra e apresenta conselhos que a mulher deve seguir para dar à luz sem sofrimento” e Contra o Alcoolismo, onde são apresentadas “histórias verdadeiras e conselhos a toda a gente”.

Na revista nº12, relativa ao mês de Dezembro de 1914, também publicitava, entre outros, calçado higiénico, fruteiras, e plantas ornamentais, suco de uvas do Douro – Vinho sem Álcool, um hotel de descanso e de regímenes, um “Grande Hotel Fruti-vegetariano”, sabonetes naturistas ingleses, uma fábrica de guarda-sóis e um consultório médico naturista que oferecia “tratamento pelos regimes e métodos naturais: “vegetarismo, frugivorismo, fisioterapia e psicoterapia”. Este consultório, pertença do Dr. João de Vasconcelos, aceitava “chamadas a toda a hora” e disponibilizava “serviço gratuito às pessoas pobres”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30739 de 23 de setembro de 2015, p. 17)

Sentenças contra animais


Notas Zoófilas (8)

Sentenças contra animais

As atitudes e comportamentos humanos não evoluem ao ritmo do desenvolvimento da ciência e da técnica. Assim, muitos dos problemas que afligem a humanidade só não são debelados por não haver um envolvimento cívico por parte das populações e por não existir vontade política por parte dos governantes, a todos os níveis.

No que diz respeito ao relacionamento dos (ditos) humanos com os animais a sensação que se tem é que hoje não há grandes diferenças em relação ao que se passava no passado. Assim, no que diz respeito aos maus tratos, a luta dos nossos antepassados continua a fazer sentido hoje pois aqueles continuam.

O combate de Alice Moderno e de outros, em São Miguel, contra o abandono de animais, pela criação de um hospital veterinário para tratar animais vítimas de abandono e de cuidadores sem posses e contra as abomináveis touradas, ainda faz todo o sentido.

Contudo, se pesquisarmos o passado, verificamos que houve alguma evolução, muito lenta para o nosso gosto. A título de exemplo, apresenta-se a seguir algumas sentenças proferidas contra os animais, que possivelmente faziam sentido na época e no contexto em que foram proferidas, publicadas a 25 de abril de 1840, no jornal Panorama, do distrito de Aveiro:

1120- Toupeiras e lagartas excomungadas por um bispo

1386- Porca mutilada e depois enforcada em virtude de ter despedaçado um menino;

1394- Porco enforcado por ter morto uma criança;

1488- Os vigários de uma determinada localidade ordenaram aos curas das freguesias para notificarem os gorgulhos para que deixassem de fazer estragos durante as missas e procissões, sob pena de excomunhão;

1499- Touro condenado à forca por ter morto um mancebo;

1554- Sanguessugas excomungadas por um bispo porque destruíam os peixes.

Hoje, sem qualquer condenação os touros das touradas de praça, depois de divertirem os assistentes, são mortos e também acabam por ser mortos a maioria dos cães que atacam e ou matam crianças.

Neste último caso, tal como em muitos da vida em sociedade, nunca se combatem as causas. Assim, permite-se que pessoas sem quaisquer condições, aqui não está em causa o estrato social, possuam animais que são mantidos em condições deploráveis, tolera-se e nada se faz para acabar com a reprodução de animais que vão acabar nos canis de abate, certificados ou não, e fecha-se os olhos ou fomentam-se algumas formas de maus tratos a animais.

Teófilo Braga
Correio dos Açores, 30738, 22 de setembro de 2015, p.13)

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (4)



Apontamentos para a história da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (4)

Em janeiro de 1934, realizou-se uma Assembleia Geral da SMPA- Sociedade Micaelense Protetora dos Animais onde foram eleitos os corpos sociais, tendo a sua composição sido a seguinte:
Direção- Presidente, D. Alice Moderno; tesoureiro, João Leocádio Oliveira; secretário, Gil Afonso de Andrade Botelho; vogais, Amâncio Joaquim da Rocha, Dr. Aires S. d’Albergaria Tavares Silva, Cícero de Medeiros, Dr. José Jacinto Pereira da Câmara, José Rebelo Bettencourt e Dr. Manuel da Silva Carreiro.
Direção (substitutos) – Presidente, D. Maria Evelina de Sousa; tesoureiro, Dr. Victor Machado Faria e Maia, secretário, Dr. Alberto Paula de Oliveira; vogais, Francisco Carlos da Silveira Martins, João Bento S. Silva, José da Câmara Velho Melo Cabral, Manuel Ferreira de Almeida, Dra. D. Maria Macedo e D. Olga Amélia Lima.
Assembleia Geral – Presidente, Aires Jácome Correia; vice-presidente, Ruy Tavares do Canto; 1º secretário, Horácio Teves; 2º secretário, Luís Quintino Berquó de Aguiar; 1º vice-secretário, José Joaquim do Couto Santiago; 2º vice-secretário, Francisco de Araújo.
Conselho Fiscal- Presidente, Urbano Carreiro; secretário, José da Silva Alves; vogais, Artur Frederico Silva, Dinis José da Silva e João da Costa Benevides.
Júri- Presidente, Eduardo Soares de Albergaria; Secretário, João Cândido Borges; Relatores, Alfredo da Câmara, Eugénio Botelho da Câmara, Dr. Fernando Marques Moreira, José Peres Maldonado Jr., João Maria Sequeira e Manuel Joaquim de Matos.
Na mesma reunião foram aprovados votos de louvor a Alice Moderno, a Gil Afonso Botelho e ao Marquês de Jácome Correia.
A 25 de agosto de 1934, o Correio dos Açores regista “a justíssima homenagem prestada à sra. D. Alice Moderno” por parte da Direção da Sociedade Protetora dos Animais, de Lisboa, ao conferir-lhe a medalha de prata daquela instituição. Tal facto deveu-se “não só à sua exemplaríssima dedicação pelos animais, mas também pela propaganda jornalística” a favor da causa zoófila.
No dia 22 de outubro de 1934, faleceu João Cândido Borges, agricultor e “negociante honesto e perfeito homem de bem”. Segundo Alice Moderno foi “sócio fundador da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, a cujas sessões ordinariamente assistia”.
No final de 1934, o senhor Agostinho Machado Bicudo Correia legou à SMPA 758$02 que foram depositados na Caixa de Crédito Micaelense. Com aquele legado o saldo da associação passou a ser de 2458$02, destinando-se à manutenção de um posto veterinário “quando o permitirem os respetivos juros”.
Em 31 de dezembro de 1934, de acordo com Alice Moderno, as contas da SMPA apresentavam um saldo positivo de 3055$79. Num texto publicado no Correio dos Açores de 15 de Maio de 1935, Alice Moderno explica que os principais contribuintes naquele ano foram “a menina D. Margarida da Cunha Álvares Cabral e o sr. Dr. Guilherme Poças Falcão que entregaram 100$00 cada um, a primeira para o fundo da Sociedade e o segundo como quota anual”.
Em 1935, a SMPA tinha 43 sócios contribuintes, variando o valor das quotas entre os 5$00 e os 200$. No ano mencionado, foram os seguintes os sócios que contribuíram com quotas superiores ou iguais a 50$00: Alice Moderno, Guilherme Berquó Poças Falcão, Marquês de Jácome Correia, Engº. E. Smith e Maria Luísa Leite de Ataíde.
A 5 de maio de 1935 reuniu a Assembleia Geral da SMPA sob a presidência do Marquês de Jácome Correia, sendo secretários Gil Afonso Botelho e Breno Dias de Vasconcelos.
Na reunião referida foi debatida a necessidade da implementação de uma “larga” campanha, na imprensa, em defesa dos animais, bem como aventada a necessidade da angariação de fundos com vista à criação de um posto de socorros.
(Continua)
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30733, 16 de setembro de 2015, p12)

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Acabar com os canis de abate no dia de São Nunca


Notas Zoófilas (7)

Acabar com os canis de abate no dia de São Nunca

No passado mês de Junho, a Assembleia da República aprovou um Projeto de Resolução, apresentado pelo Partido Ecologista "Os Verdes", que estabelece, em Portugal, o princípio de não abate de animais de companhia.

Entre os pontos aprovados na resolução constam os seguintes:

1- Estudar a formação de uma rede de canis municipais, com regras comuns, com o intuito de promover e facilitar a adoção de animais e de promover a esterilização como prática de controlo da população de animais de companhia, comunitários ou errantes;

2- Incentivar a adoção responsável de animais, por parte de, para além de pessoas singulares, pessoas coletivas, escolas, associações de moradores e empresas;

3- Assegurar o cumprimento do sistema SIFACE (Sistema de Identificação e Informação de Cães e Gatos) para identificação dos animais;

4– Promover campanhas de sensibilização à população para os cuidados a ter com os animais;

5- Estabelecer o princípio do não abate de animais, com exceções muito restritas, designadamente permitindo a prática de eutanásia em caso de irremediável sofrimento do animal ou por razões de saúde pública, sempre devidamente comprovados por veterinário.

Também no passado mês de junho, a Assembleia Legislativa da Madeira, por proposta do PCP, aprovou um decreto-lei que proíbe o abate de animais de companhia.

O decreto aprovado que mereceu a concordância das associações de defesa dos animais locais, por “uma questão de ética… por se tratar de uma matança indiscriminada e um péssimo cartaz turístico para a Madeira”, prevê a criação de um centro de esterilização e a obrigação municipal de recolha de animais errantes”.

Nos Açores, existe uma proposta de decreto-legislativo regional do PCP para que seja aprovada legislação semelhante que, tal como as anteriores, propõe como alternativa ao abate a esterilização e campanhas de sensibilização.

Embora as aprovações no parlamento nacional e no da Madeira signifiquem muito pouco, pois o que interessa efetivamente é a sua implementação, acabam por ser um primeiro passo extremamente positivo. Nos Açores, pelo contrário, o senhor Secretário Regional da Agricultura e do Ambiente, falando em nome das autarquias, no passado dia 1 de setembro, disse “não ser possível proibir de imediato o abate de animais” e acrescentou que era preciso dar tempo às autarquias para se prepararem para a nova prática”. Por último, não fixou ou sugeriu qualquer prazo, o que significa que poderá ser no dia de São Nunca.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30732 de 15 de setembro de 2015, p.12)

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Livrarias e livros


Livrarias e livros

Todos os anos no Verão, sempre que é possível, saio da ilha e durante um curto período de férias visito alguns locais desconhecidos, mas nunca me esqueço de visitar livrarias e alfarrabistas.

Depois de ter assistido ao desaparecimento de três livrarias, a do Diário de Notícias, localizada no Rossio, que havia sido fundada em 1938, a Portugal, localizada na rua do Carmo, fundada em 1941, e a Barateira, situada na rua Nova da Trindade, fundada em 1914, este ano pude constatar com satisfação que o espaço anteriormente ocupado pela Livraria Sá da Costa, localizada na Rua Garrett, no Chiado, que havia encerrado a sua atividade comercial a 20 de julho de 2013, 100 anos e quarenta dias após ter sido criada, continua aberto e a vender livros.

No ano passado, para contentamento de todos os que valorizam a leitura e os livros, a Livraria Sá da Costa reabriu como alfarrabista, possuindo no seu espólio uma grande quantidade de livros e revistas à disposição de todos os interessados.

Durante a visita ao espaço, pudemos constatar o referido anteriormente e verificar que há também espaço para muitas publicações sobre os Açores. A título de exemplo, vi, entre outros, os livros “O arcano da Ribeira Grande”, sobre a vida e a obra de Madre Margarida Isabel do Apocalipse, e “Moinhos da ribeira Grande”, ambos da autoria do Dr. Mário Moura.

Aproveitei a visita para adquirir um livrinho sobre a Greve Geral de 18 de Janeiro de 1934, editado em Agosto de 1974, pelo Grupo Autónomo do Partido Socialista, e o número 17 da revista História, relativa ao mês de março de 1980, a qual, entre outros textos, traz um intitulado “Vulcões e sismos nos Açores, da autoria de Luciano R. Mota Vieira.

Este ano, pela primeira vez, visitei o “Espaço Ulmeiro”, localizado na avenida do Uruguai, que é uma livraria alfarrabista criada em 1969 e que possui um acervo generalista. O Espaço Ulmeiro é também muito conhecido pela sua mascote, o gato Salvador que “é figura pública na zona de Benfica”.

Na livraria é possível encontrar um pouco de quase tudo, tendo chamado a minha atenção jornais e revistas bem como alguns livros editados nos primeiros anos a seguir ao 25 de abril de 1974 cuja existência era para mim desconhecida.

No Espaço Ulmeiro adquiri a História de Portugal de Oliveira Martins e “Um ilustre penafidelense”, editado pela Câmara Municipal de Penafiel, em 1982. A aquisição deste último livro deveu-se ao facto de continuar a investigar a vida e a obra de Alice Moderno e, como é sabido, Joaquim de Araújo foi seu namorado, tendo também mantido correspondência com outros dois ilustres açorianos, Teófilo Braga, escritor e presidente da República Portuguesa e Antero de Quental, filósofo e poeta.

Joaquim de Araújo foi também um estudioso e divulgador da obra de Luís de Camões, tendo, em 1896, sido o editor de um soneto de Gaspar Frutuoso sobre o autor dos Lusíadas, cuja publicação foi “dedicada” ao casamento de D. Maria Guilhermina do Canto Brum, filha de José do Canto, com o Dr. Guilherme Poças Falcão.

Outra livraria/alfarrabista que visito sempre que me desloco a Lisboa é a Letra Livre, situada na calçada do Combro, que se define como uma “ pequena livraria, de livros novos e usados… especializada em literaturas de língua portuguesa e ciências humanas” e que dá destaque a diversas pequenas editoras independentes.

Este ano, entre outras aquisições, comprei “O movimento socialista em Portugal (1875-1934) de Maria Filomena Mónica, o número 67 da revista “Ler História” que inclui um dossier sobre as transformações culturais no pós 25 de abril de 1974 e uma coleção da revista “O Vegetariano”, mensário da Sociedade Vegetariana de Portugal, editado no Porto, que em todos os números relativos ao ano de 1914, publica um anúncio da, agora desprezada, Água da Lombadas, “água de mesa perfeitamente natural”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30727, 9 de setembro de 2015, p.13)

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A Resolução nº 43/2015, de 24 de março


Notas Zoófilas (6)

A Resolução nº 43/2015, de 24 de março

No meio da quase completa escuridão que é toda a legislação que permite o apoio a uma atividade, a tauromaquia, que vive do fomento de maus tratos aos animais, os quais inevitavelmente estão associados ao sofrimento e morte de seres humanos que consciente ou inconscientemente se divertem com práticas anacrónicas, há a luz no fim do túnel que é a Resolução do Conselho de Governo nº 43/2015, de 24 de março.

De acordo com a resolução, a Secretaria Regional da Agricultura e Ambiente fica autorizada a conceder apoios financeiros nos domínios da promoção da saúde e bem-estar animal e da proteção dos animais de companhia.

Segundo o ponto dois, os apoios financeiros destinam-se à realização de ações e projetos de desenvolvimento que prossigam, entre outros objetivos, a promoção de campanhas de sensibilização; o desenvolvimento de campanhas de vacinação e de controlo da reprodução de animais de companhia e errantes e, por último, a divulgação de informação técnica e científica.

Ainda segundo os pontos seis e sete, podem beneficiar dos apoios previstos “as associações sem fins lucrativos, cujos fins estatutários principais se enquadrem nos objetivos previstos no ponto 1da presente resolução, ou que, no âmbito da sua atividade, se proponham desenvolver ações enquadráveis no ponto 2 da presente resolução”. Para tal têm de estar legalmente constituídas, possuir a situação regularizada perante a administração fiscal e a segurança social, cumprir as condições legais necessárias ao exercício da respetiva atividade, nomeadamente em matéria de licenciamentos e dispor de contabilidade adequada.

Face ao exposto no parágrafo anterior, e se for exigida uma contabilidade consentânea com as (pequenas) dimensões das diversas organizações, estão em condições de se candidatarem aos apoios, entre outras, na ilha de São Miguel, as seguintes associações: AVIPAA- Associação Vilafranquense de Proteção dos Animais e do Ambiente, APA- Associação Açoreana de Proteção dos Animais, Cantinho dos Animais dos Açores e Animais de Rua-Núcleo de São Miguel

Para os interessados na apresentação de candidaturas convém estar a par do máximo de informação possível pelo que é importante a leitura da Portaria nº41/2015, de 7 de abril que determina os prazos de candidatura e procede à definição da tramitação dos processos.

Por último, não menos importante é a leitura do Despacho nº 804/2015, de 8 de abril que define os critérios de seleção e avaliação, bem como estabelece as prioridades das ações e projetos a desenvolver.

No âmbito das atividades das associações de proteção dos animais é considerado prioritário o “desenvolvimento de campanhas de vacinação e de controlo da reprodução de animais de companhia e errantes”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30726, 8 de setembro 2015, p.12)

sábado, 5 de setembro de 2015

Contra as touradas


Açoriano Oriental 21 de agosto de 2015

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Aires Jácome Correia


Aires Jácome Correia

A SMPA-Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, tal como infelizmente todas as outras instituições, deveu a sua vida pelo menos nos primeiros anos a um número restrito de associados de que se destacaram Alice Moderno, Maria Evelina de Sousa e Aires Jácome Correia.

Aires Jácome Correia (Lisboa, 9 de agosto de 1882 – Genebra, 21 de outubro de 1937) foi um rico proprietário e um grande filantropo tendo abraçado várias causas, de que destacamos o fomento da instrução dos mais desfavorecidos, o desenvolvimento cultural e económico dos Açores e a proteção dos animais.

No que diz respeito à proteção dos animais, Aires Jácome Correia (Marquês de Jácome Correia) foi durante muitos anos Presidente da Assembleia Geral da SMPA, tendo colaborado nos jornais locais com textos relativos ao assunto.

A título de exemplo, recorda-se um texto seu, datado de 18 de agosto de 1935, publicado no Correio dos Açores, onde elogiou a criação de “uma comissão local de vigilância na freguesia de Rabo de Peixe” e enumerou alguns exemplos positivos que eram dignos de serem divulgados, como o surgimento de “resguardos contra o calor e contra os insetos nos animais de tiro e de montada”, a “adoção de animais vadios” e os “cuidados extremos para aliviar os pesos ou as opressões causadas pelos veículos e arreios”.

No mesmo texto, o Marquês de Jácome Correia torna pública a sua preocupação pelo combate à mosca que, para além de prejudicar a economia, era também transmissora de infeções entre os animais”

A 5 de abril de 1936, o Correio dos Açores, publicou um texto de Aires Jácome Correia intitulado “O carácter dos animais”. Nele o autor dá a conhecer, com algum pormenor, o Sul, um cão que lhe fora oferecido por um caseiro e que lhe era extremamente fiel.

A razão para ter adotado o animal é digna de ser divulgada, pois hoje muitas vezes não se quer um animal de companhia, exige-se um de uma determinada raça para exibir um estatuto (social) que não se tem perante os outros. O Marquês foi bem claro quando escreveu que se afeiçoou ao cão, não “pela sua beleza ou aspeto físico” (não via, sendo o olho “ uma massa vítrea sem expressão, fosca e ensanguentada”), mas pelo seu instinto moral”.

Num outro texto, datado de 26 de maio de 1936, o marquês Jácome de Correia escreveu sobre a missão da SMPA, referindo a indiferença manifestada pela maioria da população em relação a ela. Por último, apelou à participação nos seguintes termos: “As pessoas que se interessam por eles nas suas conveniências caseiras dariam um grande exemplo inscrevendo-se na Sociedade que precisa de Capital, trabalhando n’essa grande obra de zoofilia e que indiretamente procura exercer uma influência positiva na proteção dessas espécies domésticas”.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30720, 1 de setembro de 2015, p.12)

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Apontamentos sobre a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (3)


Apontamentos sobre a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (3)

No dia 5 de novembro de 1914, em reunião de direção da SMPA foi deliberado elevar o Marquês de Jácome Correia, à categoria de sócio protetor pelo facto de haver concedido à Associação o subsídio anual de cem escudos”. Na mesma reunião foi decidido “mandar imprimir os diplomas, cujo modelo desenhado pelo sr. Constâncio Gabriel da Silva é do mais artístico que no género temos visto”.
Num texto publicado no Correio dos Açores, nodia 24 de junho de 1920, Luís Arruda escreve sobre a necessidade de ser criada em Ponta Delgada uma Sociedade Protetora dos Animais porque a que existiu terá morrido. Segundo ele, os principais problemas eram os maus tratos que eram infligidos aos cães vadios, “os abusos dos aguilhões que não são próprios da época que atravessamos” e o espicaçar de burros com navalhas, os quais mostram que “se o mundo civilizado avança dia-a-dia velozmente no campo da Sciencia…não avança a civilização humana”.
A 8 de julho de 1920, o Correio dos Açores noticiou que vários alunos do Liceu inscreveram-se na SMPA e que os mesmos pretendiam organizar festas públicas para angariar fundos para a criação de um asilo e posto veterinário.
No mesmo texto, a SMPA para além de apelar à entrada de novos associados, refere os locais onde as inscrições podiam ser feitas: Estabelecimentos dos senhores José Cláudio de Sousa e Cª, Ernesto Augusto Xavier, Viriato Manuel Pereira, Jacinto Botelho Moniz e José Inácio Ferreira e nos escritórios de Alice Moderno, Augusto da Silva Moreira, Fernando d’Alcântara, António Agreli Teves e Carlos d’Assis Toucedo.
A 7 de Julho de 1931, reuniu a Comissão Reorganizadora da SMPA composta pelo Dr. Aires Tavares da Silva, D. Alice Moderno, Gil Afonso Andrade Botelho, Dr. José Jacinto Pereira da Câmara, Dr. Manuel da Silva Carreiro, D. Maria Evelina de Sousa, Marquês de Jácome Correia e Dr. Victor Machado Faria e Maia com o objetivo de eleger uma nova direção e estudar os meios a usar para intensificar a proteção aos animais.
Na mesma reunião foram trocadas impressões sobre a reorganização da SMPA e foi prestada homenagem aos sócios instaladores, em especial a Alice Moderno.
No dia 23 de Abril de 1933, reuniu, na casa de Alice Moderno, a direção da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais para “deliberar sobre assuntos urgentes”. De acordo com o jornal Correio dos Açores, do dia 25 do mesmo mês, um dos assuntos eram as touradas com touros de morte. Na ocasião foi lido um ofício da Sociedade Protetora dos Animais de Lisboa a solicitar a colaboração da SMPA no sentido de pedir ao governo para que “não permita o estabelecimento neste país dos touros de morte. Ficou acordado enviar um telegrama “ao sr. Presidente do Ministério, manifestando a S. Exa o quanto magoaria a sensibilidade dos amigos dos animais a introdução de tão bárbaro divertimento, e quão deprimente seria para a civilização portuguesa o conhecimento do mesmo perante o mundo culto”.
Na mesma reunião foi decidido nomear, a título póstumo, o sr. Agostinho Machado Bicudo Correia como sócio honorário. O senhor Agostinho Correia, falecido a 30 de março de 1933, havia legado à SMPA a importância de 1000$00 (escudos insulanos).
Por último, foi também decidido solicitar à Junta Geral de Ponta Delgada, a cedência de uma dependência do Posto Zootécnico desta cidade em que pudessem ser alojados o mobiliário da Sociedade e respetivo arquivo, e também do local onde pudesse ser instalado o Posto Zootécnico”.
A SMPA denunciou, através do Correio dos Açores de 15 de Setembro de 1933, o caso de dois mendigos, um deles muito míope que se faz passar por cego e uma cega que por vezes se apresentava embriagada, que se fazem acompanhar por um cão que puxa uma carroça. O animal “não raras vezes, cai, esfalfado, por não poder, como é natural, com a carga!”
De acordo com a nota as pessoas em questão só não entram na cidade de Ponta Delgada por causa da vigilância da SMPA. Face a esta situação, a SMPA interroga-se se “não existem, nas vilas e freguesias rurais, autoridades que olhem pelo cumprimento das posturas municipais?” e apela “a todas as pessoas de coração, pedindo-lhes que, sempre que pelas localidades onde residem, passe o cão martirizado e os seus algozes, se dirijam à autoridade local, a fim de serem punidos, como merecem, os delinquentes”

(continua)
Teófilo Braga
Correio dos Açores, 1 de setembro de 2015