segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Lagoa do Congro

MEMÓRIA - Em defesa da Lagoa do Congro, A Vila nº 168, de 1 a 15 de março de 2000

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Em memória do meu professor Válter Soares Ferreira

Em memória do meu professor Válter Soares Ferreira No passado dia 20 de novembro, faleceu o meu professor da terceira e quarta classes Válter Soares Ferreira, filho de Manuel Soares Ferreira e de Aldina Laura Casimiro, um dos obreiros de uma escola, a da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, que no final da década de 60 e início da de 70 do século passado era considerada uma “escola modelo”. O professor Válter Ferreira, fez parte de uma equipa que tinha como “relações públicas”, o seu cunhado Eduardo Calisto Amaral e era composta pela sua irmã, Adelaide, pela sua mulher Ildebranda e pela professora Zulmira Teixeira e que promoveu alterações no edifício escolar, tornando-o mais aconchegante para os alunos e, talvez o mais relevante, dinamizou a comunidade de um pequeno lugar habitado por uma população com poucos recursos. A 15 de junho de 1992, a população da Ribeira Seca organizou-se para prestar homenagem aos seus professores pelo que muito fizeram pela instrução e educação dos seus filhos. Na ocasião, a antiga aluna daquela escola, Graça Soares Flor de Lima, num pequeno discurso, sobre o professor Válter disse: O sr. Válter, o homem da técnica que, com o seu dedo mágico consertava o mais velho e usado, pondo-o novinho em folha, como se de magia se tratasse. Muito lhe fica a dever este edifício.” Habilidoso com as mãos, a ele se devem os pendões e o guião de várias marchas de São João e o emolduramento de vários quadros com informação didática que se encontravam pendurados nas paredes da escola, entre os quais dois cujos temas eram as medidas de tempo e que foram projetados e realizados com perfeição. Sobre a sua quase obsessão por ver as coisas bem feitas, o que não é defeito, o professor Eduardo Calisto, no seu livro “Encontro com uma profissão”, depois de referir que “quem quisesse ver o Válter nos tempos livres das aulas, era ir à sala de Trabalhos Manuais e certamente ele lá estaria a reparar, melhorar, construir tudo e qualquer coisa que pudesse, de certo modo, melhorar o nível do ensino, no aspeto prático e visualizado” acrescentou que, por vezes, ao avaliar o resultado das ajudas que lhe dava ouvia o seguinte. “Meu compadre não se ofenda, mas eu prefiro levar mais tempo e fazê-lo com as minhas mãos”. O professor Válter não limitou a sua vida às atividades relacionadas com a instrução, também dedicou algum do seu tempo disponível a contribuir para a sua terra, através de atividades cívicas e políticas. A nível cívico, registo a sua participação no “Grupo de Amigos de Vila Franca do Campo”, de que foi vogal da sua direção eleita em 1972. Aquele grupo foi criado em 1968 para dinamizar a cultura no concelho e organizar as festas em honra de São João. O professor Válter Ferreira pertenceu também à Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo, tendo sido, de acordo com o ex-provedor Rui Melo “o responsável pela grande recuperação da Igreja da Misericórdia”. No que diz respeito à política, em 1973, fez parte da Comissão do Lugar da Ribeira Seca da ANP- Ação Nacional Popular, não sendo conhecida qualquer atividade da mesma pois aquela organização foi extinta com o 25 de Abril de 1974. Da mesma comissão, que era presidida por Arcádio Teixeira, também faziam parte Maria da Glória Furtado Carreiro, Floriano Manuel do Rego Silva, Teófilo de Braga, João Norberto Furtado Salema, José Furtado Braga e Manuel da Costa Escaler. Em 1982, foi o segundo candidato da lista apresentada pelo PS-Partido Socialista à Câmara Municipal de Vila Franca do Campo. Da lista em questão, liderada por Eduardo Calisto Amaral, também faziam parte Arsénio Puim, Eduardo Moniz Correia, Valdemar Esteves, José Santo Cristo Verdadeiro, António Cordeiro e José Alberto Medeiros Simas. Como vereador da Câmara Municipal de Vila Franca, foi um dos responsáveis pela organização das festas de São João, tendo, em conjunto com o seu cunhado Eduardo Calisto Amaral, sido responsável pela Marcha das Hortas. Teófilo Braga (Correio dos Açores, 32293, 25 de novembro de 2020, p. 14)

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Mariana Belmira de Andrade e Alice Moderno

Mariana Belmira de Andrade e Alice Moderno A professora primária Mariana Belmira de Andrade foi uma romancista e poetisa que nasceu, em São Jorge, no dia 31 de dezembro de 1844 e faleceu na mesma ilha no dia 17 de fevereiro de 1921. Dotada de uma inteligência excecional, segundo Alice Moderno, Mariana de Andrade foi para aquela escritora “uma distinta mulher de letras, que foi uma das boas mentalidades do arquipélago açoriano, bem privilegiado, aliás, sob o ponto de vista da intelectualidade dos seus habitantes.” Mariana de Andrade, que não frequentou qualquer estabelecimento de ensino secundário ou superior, segundo Alice Moderno “aprendeu quase sozinha a tocar piano e a ler e traduzir a língua francesa”. A sua vasta cultura deve-se também ao convívio com outros intelectuais, como João Caetano de Sousa e Lacerda e com a senhora Delfina Vieira Caldas, que foi perceptora dos filhos do Conselheiro José Pereira Silveira e Cunha. Os seus conhecimentos são devidos também, segundo Ilda Soares de Abreu, às leituras que fez de Vítor Hugo, Michelet, Gomes Leal e Antero de Quental. Mariana Belmira de Andrade casou-se, aos 34 anos, com António Maria da Cunha, não tendo o casamento sido feliz o que levou à separação dos dois logo após o batizado do único filho do casal, Inocêncio, cujo nome foi motivo de discórdia entre os progenitores. Alice Moderno, sobre este assunto, escreveu o seguinte: “Contava a ilustre poetisa que entre os cônjuges se travara acesa discussão, que foi até à pia batismal, tendo sido a contenda finalizada pelo pároco, que acedeu aos desejos do pai, objetando à mãe do neófito que: onde há galo não canta galinha.” Depois da separação, Mariana de Andrade foi para a ilha Terceira, onde obteve o diploma de professora primária, o que lhe permitiu obter os recursos para a sua sobrevivência, bem como a do seu filho. Mariana de Andrade foi autora de muitos poemas, publicados em vários jornais e revistas, entre os quais o jornal “A Folha”, dirigido por Alice Moderno, de que era sua hóspede aquando das suas viagens de e para Lisboa. Panteísta, Mariana de Andrade, depois do romantismo inicial, entusiasmou-se com as ideias republicanas e socialistas, tendo escrito poemas a exaltar o trabalho e os trabalhadores, como se pode constatar através do seguinte extrato de A Sibila: “Levanta-te plebeu! … Tu, aviltado, pobre, Tu és igual ao grande, ao potentado, ao nobre! … Tombam por sobre o nada os absurdos preitos, As velhas tradições, os velhos preconceitos, Onde o século destrói, esmaga n’um sorriso De zombaria e dó … Razão! … luz peregrina! Ó imortal farol que as almas ilumina! Levanta-te, plebeu! Se o nobre tem a espada, Herança dos avós, tu tens a dura enxada, A picareta, o escopro, a serra, o rijo malho! Eis teus troféus de glória, ó filho do trabalho!” Indignada com o regicídio que vitimou D. Carlos e D. Luís Filipe, Mariana Belmira de Andrade abandonou as suas ideias revolucionárias e reconciliou-se com a igreja católica. Sobre a sua desilusão com os republicanos, mal que também atormentou Alice Moderno, esta escreveu o seguinte: “Sonhara a revolução pela evolução e o derramamento de sangue acordou nela a sensibilidade feminina de que fora a primeira a duvidar. Poupou-lhe a morte o desgosto de ver que a Revolução, como Saturno, devorava os próprios filhos!”. Teófilo Braga (Correio dos Açores, 32287, 18 de novembro de 2020, p.14)

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Livros para os amantes das plantas

 


Livros para os amantes das plantas

 

Depois de ter editado em novembro de 2019, o livro “Árvores dos Açores - Ilha de São Miguel”, onde os interessados poderão recolher informação sobre 175 árvores que se distinguem pela sua monumentalidade, pelas suas flores vistosas ou por serem endémicas ou nativas, a editora Letras Lavadas acaba de editar o livro “Flora Terrestre dos Açores”, da autoria de Virgílio Vieira, Mónica Moura e Luís Silva.

 

De acordo com o professor convidado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade dos Açores, José Batista, que é autor do prefácio, o livro da autoria de três investigadores da Universidade dos Açores “é uma valiosa obra de compilação para todos os que pretendam conhecer o valor ornamental das árvores, plantas herbáceas, suas flores e frutos, o seu potencial nutricional, assim como fitoterapêutico e sinergético de alguns dos seus componentes que nos ajudam a desafiar a herança genética e a prolongar a qualidade da longevidade”.

 

No livro cujo primeiro autor é Virgílio Vieira, que para além de ser doutorado em Biologia é um poeta de mérito, os leitores poderão ter acesso a informação sobre 284 das plantas conhecidas nos Açores, colocadas por ordem alfabética do seu nome científico. Para além deste, há também a indicação da família, do nome comum, o hábito, a época de floração, o tipo fisionómico, o tipo de dispersão e a utilização de cada uma das plantas.

 

Para além da qualidade gráfica e da preciosa informação disponibilizada, este livro vem preencher um vazio criado pela não disponibilidade de outros, editados anteriormente, no mercado livreiro, como “Plantas e Flores dos Açores”, da autoria de Erik Sjogren, e “Flora of the Azores”, de Hanno Schafer.

 

Com duas edições, o Livro “Plantas e Flores dos Açores” na sua segunda edição apresenta 95 plantas vasculares, sendo 17 da costa, 57 da floresta de louro-cedro e 21 introduzidas. 

Na introdução o seu autor, o botânico sueco, Erik Sjogren, chama a atenção para a diminuição da vegetação primitiva dos Açores, nos seguintes termos: “O impacto da atividade humana nas florestas da zona-de-nuvens fez diminuir consideravelmente as suas áreas, principalmente durante o século XX. Houve uma contínua redução, em consequência da procura por madeira para combustível e construção, bem como das arroteias para implantação de novas pastagens.”

 

Profusamente ilustrado, tal como todos os restantes livros já referidos, o livro “Flora of the Azores”, do botânico Hanno Schafer, apresenta a descrição de 650 espécies da flora vascular. No livro é dado destaque às espécies endémicas e não são esquecidas as espécies invasoras que são uma grande ameaça para os ecossistemas do nosso arquipélago.

 

Recordo que o primeiro livro que comprei sobre botânica foi o “Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores”, editado, em 1966, pela Sociedade de Estudos Açorianos Afonso Chaves, com o apoio das Juntas Gerais dos Distritos Autónomos de Ponta Delgada e Angra do Heroísmo, da autoria de Rui Teles Palhinha (1871-1957), natural de Angra do Heroísmo. Ainda hoje a ele recorro quando pretendo conhecer os nomes comuns de algumas plantas. O segundo livro que adquiri foi a primeira edição do livro já referido de Erik Sjogren, então com a descrição de 90 plantas, durante a minha presença na semana do Mar, na Horta, em 1984.

 

Outra obra que consulto amiúde e que também recomendo, é a “Iconographia Selecta Florae Azoricae”, com três fascículos publicados na década de 80 do século passado pela Direção Regional dos Assuntos Culturais da Secretaria Regional da Educação e Cultura da Região Autónoma dos Açores, da autoria de Abílio Fernandes e Rosette Batarda Fernandes.

 

Com estampas a preto e branco para cada planta, o texto contém, entre outros aspetos, informação sobre o nome científico, a família, uma descrição completa, informações relativas à ecologia, a sua distribuição nos Açores e geográfica geral, processos de disseminação, importância na flora açoriana e valor económico.

 

Boas leituras.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32281, 11 de novembro de 2020, p.14)

terça-feira, 3 de novembro de 2020

O dr. Lúcio Miranda e o encanto dos números

 



O dr. Lúcio Miranda e o encanto dos números

 

Em 2015, publiquei, neste jornal, um texto sobre o professor de matemática do Liceu Nacional Antero de Quental, atualmente Escola Secundária Antero de Quental, Lúcio Miranda, natural de Goa, que tinha uma predileção pelas artes, nomeadamente pela música. Foi fundador e vice-presidente da Academia Musical de Ponta Delgada e criou o “Centro de Estudos de Matemática e Física do Liceu Nacional de Antero de Quental.

 

Recentemente reli o seu texto “O encanto das Matemáticas”, publicado no Correio dos Açores, de 8 de outubro de 1932 que não perdeu atualidade. No texto de hoje, partilho com os leitores mais curiosos alguns dos conhecimentos que ele transmitiu e que para mim foram novidade.

 

A dado passo do seu texto, o Dr. Lúcio Miranda refere-se a Platão que manifestava tal predileção pelas matemáticas puras que dizia ser a Geometria “um método próprio de dirigir as almas para Deus”. E, querendo glorificar as harmonias da Natureza, tem esta síntese magnífica: «Deus geometriza eternamente»”.

 

Ainda sobre Platão, o Dr. Lúcio Miranda escreveu que tal foi a sua paixão pelos números que “levado pelo exagero da sua imaginação fantasista, chegou a conceber o número nupcial - aquele que havia de influenciar as consequências do matrimónio!”

 

Fomos tentar saber que número seria aquele e apenas encontramos dois textos na Internet. Segundo a resenha feita por Tassos Lycurgo a um trabalho de Glenn Erickson e Johun Fossa intitulado “Estudos sobre o número nupcial”, “Platão disse que o período de maior vigor do homem se dá dos 25 aos 35 anos de idade e das mulheres, dos 20 aos 40”. Tasso Lycurgo acrescenta que os autores mencionados concluem que “os filhos mais bem capacitados nasceriam, de acordo com a interpretação da passagem de Platão …. quando o pai tivesse 40 anos e a mãe, 30.”

 

De acordo com o distinto professor de Matemática que vimos referindo, “os números chegam a adquirir uma verdadeira personalidade aos olhos dos que lidam com eles. E na Aritmética aparecem, por isso, designações como a dos números amigos, primos entre si, perfeitos, abundantes e deficientes, exprimindo os laços de afinidade que os ligam aos outros ou as propriedades que os caracterizam.”

 

Como os números primos entre si eram os únicos que conhecia e que é do conhecimento da maioria dos alunos, pelos menos dos meus que estão no 8º ano de escolaridade, com recurso à internet, abaixo faço referência aos restantes.

 

Dois números são amigos quando um deles é igual à soma dos divisores próprios do outro, como por exemplo 284 e 220.

 

Para o nº 220 – 1+2+4+5+10+11+20+22+44+55+110= 284

Para o nº 284 – 1+2+4+71+142 =220

 

Um número é perfeito quando a soma dos seus divisores próprios é igual ao próprio número, como 28.

 

Para o nº 28 – 1+2+4+7+14 = 28

 

Um número é abundante quando é menor do que a soma dos seus divisores próprios, por exemplo o número 12

 

Para o nº 12 – 1+2+3+4+6 = 16

 

Por último, um número é deficiente se for maior do que a soma dos seus divisores próprios, como o número 10

 

Para o nº 10 – 1+2+5 = 8

 

No final do seu artigo o Dr. Lúcio Miranda referiu que havia duas disciplinas que inspiravam o terror aos alunos: o Latim e a Matemática. Hoje talvez seja a Físico-química e a Matemática.

 

Será que o modo como é ensinada a Matemática deste a mais tenra idade leva os alunos a se aperceberem da sua Perfeição, Harmonia e Beleza” ou faz com ao longo dos anos cresça a sua aversão à mesma?

 

Teófilo Braga

 

(Correio dos Açores, 32275, 4 de novembro de 2020, p.14)