quarta-feira, 18 de março de 2020

José Ventura de Almeida





José Ventura de Almeida

Filho de Manuel Bernardo de Almeida e de Guilhermina Boa Ventura, José Ventura de Almeida nasceu na freguesia do Pico da Pedra no dia 3 de junho de 1936 e faleceu na mesma freguesia no dia 18 de março de 2009.

Aprendeu as primeiras letras na Escola Primária do Pico da Pedra, tendo sido aprovado nas provas de exame do Ensino Primário Elementar no dia 1 de julho de 1947. Interessado em saber mais, voltou à escola, tendo concluído as provas de exame da sexta classe, do ciclo Complementar do Ensino Primário em 11 de junho de 1974.

Depois de ter trabalhado no campo com o pai, optou pela profissão de carpinteiro/marceneiro, tendo sido obrigado a filiar-se no Sindicato Nacional dos Operários da Construção Civil e Ofícios Correlativos do Distrito de Ponta Delgada, em 1953. Com efeito, de acordo com a legislação existente na altura, nenhuma entidade patronal podia admitir ou manter no seu serviço operários que não possuíssem o cartão do sindicato devidamente em dia, isto é, com as quotas pagas. Já depois da chamada revolução dos cravos, aderiu ao Sindicato dos Profissionais das Indústrias Transformadoras do Distrito de Ponta Delgada, sendo o sócio nº 2731, com a categoria profissional de carpinteiro.

Depois de ter trabalhado por conta de outrem, em 1958 montou a sua própria oficina manual e mecânica, na Rua Dr. Dinis Moreira da Mota, 40, no Pico da Pedra, onde fazia de tudo um pouco, dando especial preferência à recuperação de móveis antigos e à criação de novos que ele mesmo desenhava. Um trabalho que lhe deu um grande prazer executar foi a reconstrução, em 1974, do moinho de vento localizado na Abelheira no prédio do senhor Luís Agnelo Borges.

Desconhecemos o seu grau de envolvimento na política antes do 25 de abril de 1974, apenas poderemos registar que terá sido um dos picopedrenses que terá acreditado na abertura marcelista. Com efeito, a 14 de setembro de 1973, foi eleito para a comissão de freguesia do Pico da Pedra da Ação Nacional Popular, de que faziam parte as seguintes pessoas: Prof. José Carreiro de Almeida, Fernando Luís do Couto Alves, José Leonardo Bernardo Soares, Humberto Alves Botelho, Honorato da Cruz Avelino, João Faustino Pereira Ramos, João Carlos da Câmara Alves, Manuel Tavares Cordeiro Jr., Álvaro Manuel Tavares Labão, António Bairos Amaral e Isidro Gonçalves Fonseca.

Com a implantação da democracia, aderiu ao Partido Socialista, tendo nas suas listas sido eleito para a Junta de Freguesia do Pico da Pedra, onde foi tesoureiro entre 1982 e 1985, e para a Assembleia de Freguesia, sendo vogal da mesma entre 1986 e 1989.

Esteve ligado à Cooperativa de Consumo do Pico da Pedra, sendo o seu sócio nº 22, onde teve um papel ativo na fase de instalação da mesma. Com efeito, foi presidente da direção entre 14 de agosto de 1980 e 23 de novembro de 1983.

O número de abril de 2009, da Voz Popular, Boletim da Casa do Povo do Pico da Pedra, publicou uma nota dando conta do seu falecimento que retrata com rigor a maneira de ser e agir de José Ventura de Almeida Do referido boletim transcreve-se , abaixo, um longo extrato:

“Mestre Ventura, como todos o tratavam, mais do que um marceneiro era um verdadeiro artista na arte de trabalhar a madeira, pelo que a sua fama ultrapassou há muitos anos as fronteiras da nossa freguesia e, o seu nome era como uma marca de qualidade, pois simbolizava rigor e perfeição.

De entre muitas obras, destacamos a construção do nosso salão paroquial e a grande intervenção efetuada na nossa Igreja paroquial, ambas de grande envergadura, e que estiveram sobre a sua competente orientação.

É de realçar, que pela sua oficina passaram ao longo dos anos dezenas de jovens, que após terem aprendido com o mestre ventura, acabaram por se montar por sua conta, sendo hoje todos eles profissionais competentes.

Era possuidor de uma forte personalidade, com um apurado sentido de independência, pelo que dizia sempre aquilo que pensava, demonstrativo de um homem íntegro e frontal.”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32083, 18 de março de 2020, p. 15)

quarta-feira, 11 de março de 2020



Recordando Carlos Pato
Carlos António Gago de Bulhão Pato, nasceu a 7 de março de 1950 e faleceu no dia 11 de janeiro de 2020. Licenciado em Economia, pelo Instituto Superior de Economia, ao longo da sua vida teve várias atividades profissionais, não foi alheio à atividade política e teve uma participação cívica em associações formais e movimentos informais.

Carlos Pato, que ainda hoje é recordado positivamente por muitos dos seus alunos, foi durante muitos anos professor contratado em várias escolas da ilha de são Miguel, como a Escola Secundária das Laranjeiras, onde lecionou disciplinas da área da Economia e Organização de Empresas, a Escola Gaspar Frutuoso, onde lecionou matemática e a Escola Ruy Galvão de Carvalho, onde lecionou matemática e foi responsável pela dinamização da biblioteca e pelas novas pedagogias ligadas à introdução da informática.

Em Angola, Carlos Pato foi consultor do Ministério da Construção da República Popular de Angola e Diretor do Gabinete do Plano da SONANGOL, empresa do ramo petrolífero.

Em São Miguel, para além da docência já referida, Carlos Pato, entre outras ocupações profissionais, esteve ligado à Secretaria Regional da Economia, onde exerceu o cargo de coordenador do Gabinete de Apoio ao Turismo de Natureza e em Espaço Rural, foi assessor do Secretário Regional da Economia para o Turismo Rural e de Natureza. e foi assessor do Diretor Regional de Telecomunicações dos Açores (DRT-CTT).

No que diz respeito ao seu envolvimento em associações formais, Carlos Pato esteve ligado à Terra-Mar, Associação para o Desenvolvimento Local nos Açores, onde foi diretor e entre outras atividades prestou apoio ao desenvolvimento de iniciativas particulares na área do turismo de natureza.

Muito ligado ao mar, Carlos Pato, no Clube Naval de Ponta Delgada, foi Formador e Examinador em Náutica de Recreio. Foi, também, presidente da Associação para a Defesa do Património Marítimo dos Açores que pretendeu voltar a por a navegar o barco “Maria Eugénia”, uma das últimas memórias vivas da construção naval açoriana, e transformá-lo num barco-escola.

Carlos Pato, teve um envolvimento de destaque no movimento cívico, participando de vários grupos não formais, dando o seu generoso contributo em defesa de causas em que acreditava. Assim, ao contrário de outros que se juntam às iniciativas para ganhar visibilidade e as usar como trampolim, Carlos Pato, por amor à camisola, esteve presente no Movimento SOS- Lagoas que pugnou pela implementação de medidas para salvar da eutrofização as Lagoas das Furnas e das Sete Cidades.

Carlos Pato também esteve ligado ao movimento que contesta a construção de uma incineradora de resíduos sólidos na ilha de São Miguel.

Durante o Estado Novo, Carlos Pato foi um dos subscritores da Declaração de Ponta Delgada, a plataforma eleitoral apresentada, em 1969, por um grupo de candidatos independentes, opositores ao regime, às eleições para deputados à Assembleia Nacional.

Aquando da organização de um Festival da Canção por um grupo de jovens para o dia 5 de junho de 1969, a realizar num jardim particular em Ponta Delgada, que acabaria por não ser autorizado pelas entidades oficiais, Carlos Pato teve de ir, por três vezes, prestar declarações à PIDE, polícia política de então. Assim, Carlos Pato foi dos poucos açorianos que não se submeteu à paz podre da ditadura salazarista/marcelista, a qual no dizer de Natália Correia “nem mesmo ousou graduar-se fascista”.

Mais recentemente Carlos Pato, esteve ligado ao Movimento Tempo de Avançar, candidatura cidadã que se apresentou às eleições legislativas de 2015, no quadro legal do partido Livre.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32077, 11 de março de 2020, p.17)

quinta-feira, 5 de março de 2020

Batalhas de flores, limas ou plásticos?



Batalhas de flores, limas ou plásticos?
Nos últimos anos, parece-nos que tem crescido a oposição à denominada Batalha das Limas que na verdade é uma Batalha de Plásticos. Este ano houve mesmo uma associação de proteção do ambiente e um partido político que manifestaram a sua oposição à sua realização, sobretudo devido à utilização de sacos de plástico.
Nas redes sociais, as opiniões dividem-se entre os que apresentam como principal argumento a proteção do ambiente, onde incluem o desperdício de água e o uso dos plásticos e os que apresentam como grande argumento, e talvez único, o da tradição.
Neste texto, não vou esgrimir argumentos a favor ou contra a referida batalha. Vou limitar-me a provar, com alguns exemplos, que estão errados aqueles que defendem a batalha das limas, em detrimento das de flores, argumentando que apenas terá existido uma batalha de flores.
Em 1915, realizou-se uma Batalha de Flores, promovida pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, no Domingo Gordo, 14 de fevereiro, pelas 12 horas, no Largo 5 de Outubro (Campo de São Francisco). A referida batalha, para além do divertimento das pessoas, apresentava fins humanitários, neste caso as receitas obtidas foram distribuídas pela Cruz Vermelha e pela Federação Operária.
De entre os carros presentes, destacaram-se um alusivo à conflagração europeia e outro da Federação Operária “alusivo à crise que, segundo consta, é também interessante, embora menos jocoso, visto a alusão não se prestar, pelo seu simbolismo, à charge carnavalesca”.
Não sabemos se chegou a haver Batalha de Flores em 1918, pois de acordo com os jornais da altura, a dois dias do Carnaval ainda não se falava na tradicional batalha que se realizava anualmente.
O jornal “Diário dos Açores” sugeriu que naquele ano as receitas da batalha revertessem para a “Cruz Vermelha Portuguesa e Comissão Suíça para os soldados portugueses prisioneiros dos alemães…”
O Açoriano Oriental, estranhando a falta de notícias defendeu o seguinte: “Agora mais do que nunca se impunha uma confraternização com os nossos benquistos hóspedes americanos, que presentemente guardam a nossa ilha…”.
O mesmo jornal que reprovava “os folguedos carnavalescos pelas ruas”, apoiava uma “Batalha de Flores, decente e sem mascaradas, assim como os bailes nos teatros e festas de flores, porque serão festas civilizadoras e altruístas”. O que escreveriam os redatores do referido jornal se assistissem à atual batalha de plásticos?
Em 1920, coube aos alunos do liceu a organização de “batalhas de flores”, na Praça 5 de Outubro. Sobre as mesmas o Diário dos Açores publicou uma nota onde a dado passo pode ler-se: “São dois dias de folia carnavalesca e a ninguém ficará mal divertir-se um bocado, quer tomando parte direta nas batalhas, quer vendo os seus efeitos sobre os combatentes, ao longe.”
Em 1950, no domingo, 19 de fevereiro, cerca de 10 mil pessoas assistiram à Batalha de Flores que se realizou, uma vez mais, na Praça 5 de Outubro, em Ponta Delgada.
No ano referido, o cortejo abriu com a Filarmónica Rival das Musas a que se seguiram carros representando várias empresas da ilha, como a fábrica de Tabaco Micaelense, os “adubos Labor”, a casa de modas Eliela, a empresa Azevedo e Ca. Sucrs., a Fábrica de Tabaco da Maia e a Casa Africana. A presença de danças de cadarços também foi muito bem acolhida pelos assistentes não só devido ao colorido das suas roupas, mas também pelas suas músicas e cantigas populares.
No mesmo ano, na terça-feira, dia de Carnaval, o Governador Civil do Distrito entregou prémios. Para além de taças aos carros que se distinguiram, foram entregues prémios pecuniários às danças dos cadarços, a que se seguiu um desfile dos premiados pelas ruas da cidade de Ponta Delgada.
Tal como era tradição, as receitas da Batalha reverteram para uma instituição, neste caso o Albergue Distrital.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32071, 4 de março de 2020, p.17)
Imagem: Instituto Cultural de Ponta Delgada -PT/ICPD/CFD.01505