terça-feira, 29 de dezembro de 2020
Estaturos dos Amigos dos Açores (Amigos da Terra Açores)
Apontamentos sobre a introdução de plantas exóticas em São Miguel
quinta-feira, 24 de dezembro de 2020
quarta-feira, 23 de dezembro de 2020
Podas de árvores ornamentais: fala quem sabe
terça-feira, 15 de dezembro de 2020
Apontamentos sobre António Feliciano de Castilho
sábado, 12 de dezembro de 2020
sexta-feira, 11 de dezembro de 2020
quarta-feira, 9 de dezembro de 2020
Aires Jácome Correia, Tolstói e a Educação
quinta-feira, 3 de dezembro de 2020
quarta-feira, 2 de dezembro de 2020
Aires Jácome Correia e a instrução popular
segunda-feira, 30 de novembro de 2020
quarta-feira, 25 de novembro de 2020
Em memória do meu professor Válter Soares Ferreira
quarta-feira, 18 de novembro de 2020
Mariana Belmira de Andrade e Alice Moderno
quarta-feira, 11 de novembro de 2020
Livros para os amantes das plantas
Livros
para os amantes das plantas
Depois de ter editado em novembro de 2019,
o livro “Árvores dos Açores - Ilha de São Miguel”, onde os interessados poderão
recolher informação sobre 175 árvores que se distinguem pela sua monumentalidade,
pelas suas flores vistosas ou por serem endémicas ou nativas, a editora Letras
Lavadas acaba de editar o livro “Flora Terrestre dos Açores”, da autoria de
Virgílio Vieira, Mónica Moura e Luís Silva.
De acordo com o professor convidado da Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Universidade dos Açores, José Batista, que é autor
do prefácio, o livro da autoria de três investigadores da Universidade dos
Açores “é uma valiosa obra de compilação para todos os que pretendam conhecer o
valor ornamental das árvores, plantas herbáceas, suas flores e frutos, o seu
potencial nutricional, assim como fitoterapêutico e sinergético de alguns dos
seus componentes que nos ajudam a desafiar a herança genética e a prolongar a
qualidade da longevidade”.
No livro cujo primeiro autor é Virgílio
Vieira, que para além de ser doutorado em Biologia é um poeta de mérito, os
leitores poderão ter acesso a informação sobre 284 das plantas conhecidas nos
Açores, colocadas por ordem alfabética do seu nome científico. Para além deste,
há também a indicação da família, do nome comum, o hábito, a época de floração,
o tipo fisionómico, o tipo de dispersão e a utilização de cada uma das plantas.
Para além da qualidade gráfica e da
preciosa informação disponibilizada, este livro vem preencher um vazio criado
pela não disponibilidade de outros, editados anteriormente, no mercado
livreiro, como “Plantas e Flores dos Açores”, da autoria de Erik Sjogren, e “Flora
of the Azores”, de Hanno Schafer.
Com duas edições, o Livro “Plantas e
Flores dos Açores” na sua segunda edição apresenta 95 plantas vasculares, sendo
17 da costa, 57 da floresta de louro-cedro e 21 introduzidas.
Na introdução o seu autor, o botânico
sueco, Erik Sjogren, chama a atenção para a diminuição da vegetação primitiva
dos Açores, nos seguintes termos: “O impacto da atividade humana nas florestas
da zona-de-nuvens fez diminuir consideravelmente as suas áreas, principalmente
durante o século XX. Houve uma contínua redução, em consequência da procura por
madeira para combustível e construção, bem como das arroteias para implantação
de novas pastagens.”
Profusamente ilustrado, tal como todos os
restantes livros já referidos, o livro “Flora of the Azores”, do botânico Hanno
Schafer, apresenta a descrição de 650 espécies da flora vascular. No livro é
dado destaque às espécies endémicas e não são esquecidas as espécies invasoras
que são uma grande ameaça para os ecossistemas do nosso arquipélago.
Recordo que o primeiro livro que comprei
sobre botânica foi o “Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores”, editado, em
1966, pela Sociedade de Estudos Açorianos Afonso Chaves, com o apoio das Juntas
Gerais dos Distritos Autónomos de Ponta Delgada e Angra do Heroísmo, da autoria
de Rui Teles Palhinha (1871-1957), natural de Angra do Heroísmo. Ainda hoje a
ele recorro quando pretendo conhecer os nomes comuns de algumas plantas. O
segundo livro que adquiri foi a primeira edição do livro já referido de Erik
Sjogren, então com a descrição de 90 plantas, durante a minha presença na
semana do Mar, na Horta, em 1984.
Outra obra que consulto amiúde e que
também recomendo, é a “Iconographia Selecta Florae Azoricae”, com três
fascículos publicados na década de 80 do século passado pela Direção Regional
dos Assuntos Culturais da Secretaria Regional da Educação e Cultura da Região
Autónoma dos Açores, da autoria de Abílio Fernandes e Rosette Batarda
Fernandes.
Com estampas a preto e branco para cada
planta, o texto contém, entre outros aspetos, informação sobre o nome
científico, a família, uma descrição completa, informações relativas à
ecologia, a sua distribuição nos Açores e geográfica geral, processos de
disseminação, importância na flora açoriana e valor económico.
Boas leituras.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32281, 11 de novembro
de 2020, p.14)
terça-feira, 3 de novembro de 2020
O dr. Lúcio Miranda e o encanto dos números
O dr. Lúcio
Miranda e o encanto dos números
Em 2015, publiquei, neste jornal, um texto
sobre o professor de matemática do Liceu Nacional Antero de Quental, atualmente
Escola Secundária Antero de Quental, Lúcio Miranda, natural de Goa, que tinha uma predileção pelas artes,
nomeadamente pela música. Foi fundador e vice-presidente da Academia Musical de
Ponta Delgada e criou o “Centro de Estudos de Matemática e Física do Liceu
Nacional de Antero de Quental.
Recentemente
reli o seu texto “O encanto das Matemáticas”, publicado no Correio dos Açores,
de 8 de outubro de 1932 que não perdeu atualidade. No texto de hoje, partilho
com os leitores mais curiosos alguns dos conhecimentos que ele transmitiu e que
para mim foram novidade.
A dado
passo do seu texto, o Dr. Lúcio Miranda refere-se a Platão que manifestava tal
predileção pelas matemáticas puras que dizia ser a Geometria “um método próprio
de dirigir as almas para Deus”. E, querendo glorificar as harmonias da
Natureza, tem esta síntese magnífica: «Deus geometriza eternamente»”.
Ainda sobre Platão, o Dr. Lúcio Miranda
escreveu que tal foi a sua paixão pelos números que “levado pelo exagero da sua
imaginação fantasista, chegou a conceber o número nupcial - aquele que havia de
influenciar as consequências do matrimónio!”
Fomos
tentar saber que número seria aquele e apenas encontramos dois textos na
Internet. Segundo a resenha feita por Tassos Lycurgo a um trabalho de Glenn
Erickson e Johun Fossa intitulado “Estudos sobre o número nupcial”, “Platão
disse que o período de maior vigor do homem se dá dos 25 aos 35 anos de idade e
das mulheres, dos 20 aos 40”. Tasso Lycurgo acrescenta que os autores
mencionados concluem que “os filhos mais bem capacitados nasceriam, de acordo
com a interpretação da passagem de Platão …. quando o pai tivesse 40 anos e a
mãe, 30.”
De acordo
com o distinto professor de Matemática que vimos referindo, “os
números chegam a adquirir uma verdadeira personalidade aos olhos dos que lidam
com eles. E na Aritmética aparecem, por isso, designações como a dos números
amigos, primos entre si, perfeitos, abundantes e deficientes, exprimindo os laços
de afinidade que os ligam aos outros ou as propriedades que os caracterizam.”
Como os números primos entre si eram os
únicos que conhecia e que é do conhecimento da maioria dos alunos, pelos menos
dos meus que estão no 8º ano de escolaridade, com recurso à internet, abaixo
faço referência aos restantes.
Dois números são amigos quando um deles é
igual à soma dos divisores próprios do outro, como por exemplo 284 e 220.
Para o nº 220 –
1+2+4+5+10+11+20+22+44+55+110= 284
Para o nº 284 –
1+2+4+71+142 =220
Um número é perfeito quando a soma dos
seus divisores próprios é igual ao próprio número, como 28.
Para o nº 28 – 1+2+4+7+14
= 28
Um número é abundante quando é menor do
que a soma dos seus divisores próprios, por exemplo o número 12
Para o nº 12 – 1+2+3+4+6
= 16
Por último, um número é deficiente se for
maior do que a soma dos seus divisores próprios, como o número 10
Para o nº 10 – 1+2+5 = 8
No final do seu artigo o Dr. Lúcio Miranda
referiu que havia duas disciplinas que inspiravam o terror aos alunos: o Latim
e a Matemática. Hoje talvez seja a Físico-química e a Matemática.
Será que o modo como é ensinada a
Matemática deste a mais tenra idade leva os alunos a se aperceberem da sua
Perfeição, Harmonia e Beleza” ou faz com ao longo dos anos cresça a sua aversão
à mesma?
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32275, 4 de
novembro de 2020, p.14)
quinta-feira, 29 de outubro de 2020
O Padre Manuel Vicente e a paixão pelas flores
O Padre Manuel Vicente e a paixão pelas flores
Em textos anteriores associamos o padre
Manuel Vicente à recuperação do Jardim António Borges, em 1922. O tema de hoje
é a sua paixão pelas flores.
Não conhecendo qualquer escrito da sua
autoria, este texto tem por base o livro de Breno de Vasconcelos, intitulado
“Paz cinzenta …os Açores através de algumas figuras e episódios de uma época”,
publicado em Lisboa, em 1979, e alguns jornais da época.
O Diário dos Açores de 17 de fevereiro de
1938 quando faz uma retrospetiva da vida do Padre Manuel Vicente recorda “as
exposições de lindos crisântemos no Palácio Fonte Bela, atualmente Liceu Antero
de Quental, e que marcaram duma forma bem vincante, com seu aspeto ao mesmo
tempo de Jogos Florais”. De acordo com a mesma fonte, “eram certames a que
acorria tudo quanto a Ilha tinha de mais distinto no campo intelectual e no
meio social, sendo acolhidos com palpitante interesse pelo público”.
A paixão do padre Manuel Vicente pelas
flores não foi esquecida no poema da autoria do poeta micaelense Francisco
Espínola de Mendonça (1891-1944) escrito por ocasião do funeral daquele
sacerdote e publicado no Correio dos Açores, do dia 17 de fevereiro de 1938.
Abaixo transcreve-se um extrato:
Amou a Arte, as flores, a
Poesia,
Votando-lhes profunda
idolatria,
Um acendrado amor.
Sacerdote bondoso,
tolerante.
Na família um exemplo
edificante:
-Amigo e Protetor
…
Amarilis, crisântemos, as
flores
A que mais consagrou os
seus amores,
Cobriam-lhe o caixão.
E, curvadas, pendendo
enternecidas,
Pareciam dizer-lhe
agradecidas,
A sua gratidão.
Depois de referir que embora vivesse
modestamente, sem fortuna própria, e que o padre Manuel Vicente “foi figura da
alta sociedade micaelense, não propriamente pelos seus pergaminhos
genealógicos, mas muito mais pelo seu espírito e afabilidade no trato”, Breno
de Vasconcelos, no livro já mencionado, relata o seguinte:
“Não
posso precisar em que local organizou uma primorosa exposição de flores, com entradas
pagas.
Muitas
pessoas afluíram a visitar a exposição e a admirar não só as raras espécies,
como a elegância com que as mesmas se encontravam dispostas.
O
Bispo da diocese, nessa altura, estava de visita em São Miguel. Convidado a
visitar esta exposição, o Bispo apreciou devidamente o bom gosto do padre
Vicente e também as espécies florícolas. Ao despedir-se perguntou a que se
destinava o produto daquela exposição. O expositor, muito diplomaticamente e
com um sorriso reverenciado, respondeu que a receita revertia exclusivamente a
favor da cozinha económica do padre Manuel Vicente …da sua própria e bem
necessitada cozinha”.
Não se fique com a ideia de que todas as
iniciativas do Padre Vicente eram realizadas para benefício do próprio. Com efeito,
entre outras ações, organizou com fins caritativos “A Coroação da Menina do
Asilo” para apoio ao Asilo da Infância Desvalida.
Com os seus projetos, o Padre Vicente
conseguia mobilizar a comunidade para ajudar os mais necessitados, tendo sido a
Cozinha Económica, de que foi secretário, a instituição que mais beneficiou da
sua dedicação.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32269, 28 de
outubro de 2020, p.14)
terça-feira, 20 de outubro de 2020
José Henrique Borges Martins, o Ferreirinha das Bicas e o Bravo
José
Henrique Borges Martins, o Ferreirinha das Bicas e o Bravo
Hoje, faço uma singela homenagem ao poeta
terceirense José Henrique Borges Martins e a dois improvisadores da ilha
Terceira que ele tão sabiamente acarinhou e de algum modo os imortalizou,
Francisco Ferreira dos Santos (o Ferreirinha das Bicas) e Manuel Borges Pêcego
(o Bravo).
José Henrique Borges Martins que comigo
esteve presente em diversas reuniões, onde um grupo de cidadãos preparou a
criação, em Angra do Heroísmo, de um jornal independente dos poderes
instalados, o “Directo”, que foi dirigido pelo meu colega da Escola Secundária
Padre Jerónimo Emiliano de Andrade, António Neves Leal, foi um poeta de mérito
e um destacado investigador da cultura popular, tendo, entre outos, publicado
trabalhos sobre os cantadores e improvisadores populares e sobre crendices e
feitiçarias.
Para além de dar o seu contributo ao
“Directo”, Borges Martins, que combateu o Estado Novo com a sua poesia, colaborou
com o extinto jornal “A União” e com o “Jornal da Praia”.
Com os livros “Cantadores e improvisadores
da ilha Terceira”, de 1984, e “Improvisadores
da Ilha Terceira. suas vidas e cantorias”, de 1993, Borges Martins homenageou
alguns heróis do povo, os cantadores populares.
De entre eles, destacamos o Ferreirinha
das Bicas que terá sido, segundo alguns, o maior de todos e o Bravo que foi um
homem livre e que por isso teve problemas com as autoridades por dizer verdades
que as incomodavam.
Sobre o Ferreirinha das Bicos, existe uma
brochura que foi editada pela Cooperativa Semente, em agosto de 1978, no âmbito
de uma homenagem que lhe foi prestada. Segundo aquela organização, a “cultura
popular está em perigo” por isso “é necessário e urgente não deixar esquecer,
não deixar que matem, que apaguem o que de mais belo temos. O que é
verdadeiramente nosso património.”
O Ferreirinha das Bicas nos seus
improvisos mostrou preocupações sociais e denunciou as desigualdades e a
sociedade hipócrita onde vivia.
As duas quadras abaixo ilustram bem o
pensamento do seu autor:
Vai preso quem rouba um pão
Por sua necessidade,
Mas quem rouba meio milhão
Passeia pela cidade
Eu conheço falsos sábios
Que pregam religião
Que mostram Cristo nos lábios
E o diabo no coração
A temática das desigualdades sociais
também foi por diversas vezes abordada por Manuel Borges Pêcego. Para além de
ilustrar a sua condição social, a quadra abaixo revela o seu espírito crítico:
Fui pagar a contribuição,
Mas não foi com dinheiro falso,
P’ra calçar tanto ladrão
Que por mim, ando descalço
O Bravo teve problemas com a polícia que o
mandou internar na casa de saúde de São Rafael. A causa terá sido uma quadra dita
em frente à cadeia, onde denunciou as injustiças existentes neste mundo:
Oh, como esta vida é feia
Presos, meditai a fundo.
Só nunca vão à cadeia
Os maiores ladrões do mundo.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32263, 21 de
outubro de 2020, p.17)