terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Apontamentos sobre António Feliciano de Castilho

Apontamentos sobre António Feliciano de Castilho Nascido em Lisboa, em 28 de janeiro 1800, António Feliciano de Castilho, em consequência de ter adoecido com sarampo cegou aos 6 anos de idade. Com o apoio dos irmãos, sobretudo de Augusto fez os seus estudos, tendo-se licenciado aos 26 anos na Universidade de Coimbra. Faleceu, em Lisboa, no dia 18 de junho de 1875. Desgostoso com o ambiente político nacional, Castilho decidiu vir para São Miguel, no dizer do dr. Agnelo Casimiro, “menos por convite de bons amigos, do que por necessidade de voluntária emigração política”. António Feliciano de Castilho chegou a São Miguel, na escuna “Micaelense”, acompanhado da mulher e dos filhos, em agosto de 1847 e regressou definitivamente ao continente português em julho de 1850, tendo-se ausentado da ilha três meses, de fevereiro a maio de 1849, por ter ido a Lisboa tratar de assuntos relacionados com a associação que havia fundado, a SALA- Sociedade de Amigos das Letras e Artes. A SALA, que teve uma atividade notável enquanto Castilho esteve em São Miguel e depois dele, sob a presidência do Dr. José Pereira Botelho, organizou, no Natal de 1848, uma grande exposição de artefactos micaelenses que durou mais de 15 dias. Durante o período em que a exposição esteve aberta, a SALA promoveu diversos serões artísticos e literários. Para além de outras iniciativas que estavam previstas, como uma aula de música, uma de caligrafia e uma de história, uma de torno, etc., de acordo com o dr. Agnelo Casimiro a SALA “abriu e manteve escolas: três de leitura; uma de doutrina cristã; uma de aritmética; uma de geometria aplicada às artes; uma de desenho de figura e paisagem; uma de poética e declamação; uma de higiene; uma de francês para senhoras e outra de inglês para homens; uma de geografia; uma de encadernação”. Mas a principal razão da vinda de Castilho para São Miguel, pelo menos para quem o convidou, foi para colaborar na redação da revista da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, “O Agricultor Micaelense”. Na referida revista, Castilho publicou um conjunto de crónicas em que, de acordo com Cecília Barreira, é transmitida uma ideia base: a aversão à política., como se pode ver através da frase: “Só quando deixarmos de ser políticos, principiaremos a ser bons”. Para aquela autora, “Castilho constrói um paraíso terrestre baseado na lavoura. Protagoniza, em primeiro lugar a constituição de sociedades agrícolas. […] Essas sociedades existiriam em cada capital administrativa ou sede episcopal. O governador civil ou o bispo dignificavam com o seu cargo, cada uma das coletividades. Com elas desapareceriam a mendicidade e o desemprego…”. Vale a pena a leitura completa para percebermos as propostas de Castilho para a informação e formação técnica dos agricultores e como seria feito o financiamento das coletividades Outro assunto, abordado por Castilho é o do exército que “é um mal, complexo de males sem número, e que só por uma necessidade absoluta se pode tolerar”. Vejamos as razões apresentadas por Castilho para a sua inutilidade: “Podemos nós ser conquistadores? Não. Logo se temos Exército, não é para a conquista. Temos que nos defender de estranhos? Não. Razões de mais alta política são as que por si nos defendem, e hão-de defender; e, quando elas cessassem, ou fossem vencidas, não haviam de ser estas nossas fileiras que nos salvassem, mas sim o Povo todo; os fortes, os fracos, os decrépitos, as crianças, as mulheres…. Será, portanto, para obviar a tumultos? Para coibir sedições? Para conservar boa ordem e regimento no Estado? A esta pergunta não precisamos de responder; bem respondida que ela está numa página de cinquenta léguas de largo e cem de alto, que há cinquenta anos temos cem vezes escrito, respançado e tornado a escrever com sangue de irmãos. Logo, se com um Exército nos consumimos, não é para bem da paz doméstica.” Teófilo Braga (Correio dos Açores, 32309, 16 de dezembro de 2020, p. 14)

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