segunda-feira, 29 de março de 2010

Das Vacas para a Educação

Sindicato avança com providência cautelar para travar decisão da Educação
Regional | 2010-03-29 17:32
O Sindicato dos Professores da Região Açores (SPRA) decidiu avançar com uma providência cautelar para suspender a entrada em vigor do decreto regulamentar regional que estabelece as novas regras de funcionamento e organização da Escola Profissional das Capelas.

Esta segunda-feira, a secretaria regional fez saber, através do gabinete de apoio à comunicação social do Governo Regional, que, na sequência da entrada em vigor do novo decreto, André Viveiros, licenciado em História a presidir actualmente o Conselho de Administração do Instituto Regional do Ordenamento Agrário (IROA) foi nomeado, pela secretária regional da Educação e Formação, para exercer as funções de director executivo da Escola Profissional das Capelas a partir de 1 de Abril.

O Sindicato dos Professores da Região Açores (SPRA) sustenta que o decreto regulamentar regional que estabelece novas regras de organização e funcionamento da Escola Profissional de Capelas não cumpre a legislação em vigor, não só porque regula matérias que exigem negociação colectiva e deve ser legislada pelo parlamento regional, mas porque o sistema de nomeação atenta contra o regime de autonomia e gestão das escolas.
Paula Gouveia

Fonte: Açoriano Oriental

terça-feira, 16 de março de 2010

Em conversa com a Coordenadora do Dep. de Ciências Físicas e Naturais


De acordo com a coordenadora do Departamento de Ciências Físicas e Naturais, “foi cerca de 70.000 €” a quantia que o seu departamento já arranjou à nossa Escola através de candidaturas a projectos externos a nós, projectos do CITECA. Bèlina Balanco explica que aquele dinheiro “serviu para aquisição de material para os laboratórios e material informático”.
É este o forte dos professores deste departamento – as constantes candidaturas aos vários projectos relativos à sua área científica. Por outro lado, a coordenadora revela que o segredo está “no trabalho de grupo, na cooperação e numa boa relação interpessoal.” Acrescenta ainda outro projecto, de âmbito interno, que é fruto do ambiente de trabalho vivido no seio dos professores das ciências: “o trabalho de equipa de 3 professores em simultâneo, nos 10.ºs e 11.ºs anos. A componente teórica é leccionada em simultâneo às três turmas por um dos professores com o apoio dos restantes, o que permite uma melhor planificação da aula e uma uniformização na transmissão dos conhecimentos tal como um melhor acompanhamento dos alunos. Em complemento existe outra aula que é leccionada por um dos professores com o apoio de outro, a cada turma.”
Desde grupo de professores, iremos aproveitar muita da experiência que já têm neste campo da candidatura a projectos. No que toca a iniciativas inovadoras, no campo dos apoios, as mesmas serão também por nós estimuladas. Teremos, todavia, de fazer uma avaliação caso a caso para verificar a eficácia das iniciativas.
O aspecto mais urgente de ser resolvido é o espaço. A coordenadora considera que começa a faltar um espaço condigno para a arrumação do material, pelo que a própria catalogação dos materiais muitas vezes não é feita da forma mais eficaz/prática, inviabilizando esta lacuna outras questões: falta de funcionalidade dos laboratórios (ocupação por aulas não prático/experimentais, condições físicas deficientes), o que dificulta a actividade experimental. Também nós gostávamos de ter uma escola com mais espaços… mas não podemos tê-los de um dia para o outro. O nosso compromisso, neste momento, só poder ser o de trabalhar na reestruturação de alguns espaços da nossa Escola, no sentido de servir, de forma mais eficaz, a comunidade educativa.

Fonte: http://todospelaesrg.blogspot.com/2010/03/em-conversa-com-coordenadora-do-dep-de.html

segunda-feira, 15 de março de 2010

Memórias esparsas do Luís

O Luís era uma daquelas pessoas já raras, porque digna, guiado por princípios e valores, exigente consigo próprio, tímido e muito metido com ele (era difícil arrancar-lhe um sorriso). Aos 51 anos, "solteirão", ainda contratado - o professorado é a única profissão em Portugal onde isto ainda acontece! - veio até nós, no decurso da luta pela Profissionalização, contexto onde convivi com ele directamente durante cerca de três anos.

Portador de Habilitação Própria, foi eleito em Lisboa, em Plenário para a Comissão de Contratados, em 2004. Participou activamente em todos os protestos e acções reivindicativas da nossa Frente de Trabalho do SPGL, que levaram à conquista do Despacho nº 6365/2205 (profissionalização em serviço em ESE's e Faculdades).

Era conhecido entre nós pelo ”freelancer" (alusão à sua segunda ocupação de jornalista eventual). Dotado de forte sensibilidade em relação ao mundo da informação e da comunicação social, propôs e pedia frequentemente, nas nossas reuniões, que os sindicatos encarassem esta frente (relações públicas) com outros olhos, mais eficazmente. A partir de 2006, não se recandidatou mais à nossa comissão de contratados.

Encontrei-o mais tarde nas mega-manifestações de professores: estava na Escola EB 2,3 Ruy Belo, e achei-o disposto a não entregar os Objectivos Individuais, um verdadeiro problema de consciência moral, para ele.

Depois disso, mais uma ou duas vezes, espaçadamente. Soube que tinha sido colocado na EB2,3 de Fitares, mas pouco mais.

No passado dia 11 de Fevereiro, revi-o pela última vez, em Oeiras, já deitado no caixão na capela mortuária. Conversei longamente com a mãe, a irmã, a empregada doméstica. Vêm-me à memória as palavras do pai, militar aposentado: "o Luís era bom moço, quis ser bom até ao fim, só que não aguentou o inferno das escolas de hoje... Vocês têm que fazer qualquer coisa!"

O Luís nos, últimos tempos, já tinha tomado friamente a decisão, inabalável. Por isso, não creio que nesse período, tenha pedido ajuda a ninguém. Segundo me disseram familiares, no velório, pela consulta do histórico do seu PC, ele, um mês antes e se lançar da ponte, consultava sites sobre suicídio, na internet. Escolheu o dia da sua morte coincidindo com a data de aniversário do pai, com o qual, aliás, se dava bem.

O ambiente no velório foi impressionante, pela dignidade, revolta interior e tristeza da cerimónia, com alguns professores presentes, num silêncio de cortar à faca, só rasgado por frases em surdina, de justo ódio, visando os políticos responsáveis pela situação a que nos últimos anos chegou o Ensino Público. Foi, sem dúvida, dos velórios mais tocantes em que estive até hoje, mesmo estando já habituado a duras perdas, e tendo estado na semana anterior, noutro, de um familiar directo. Quando escrevi no livro de condolências o que me ia no espírito, tive dificuldade em o fazer, a cortina de lágrimas teimava em desfocar-me as letras.

Pessoalmente, decidi manter silêncio durante um mês, por respeito ao pesado luto da família, só o quebrando depois da irmã dele (nossa colega, também) o ter feito, decorridos cerca de trinta dias, com a divulgação da notícia à comunicação social, para assim tentar evitar que outros casos se repitam, colocar toda a verdadeira dimensão das depressões e suicídios profissionais à luz do dia, rasgar o manto hipócrita dos silêncios assassinos e abalar as consciências de toda a sociedade.


Paulo Ambrósio
- membro da Comissão de Professores Contratados e da Frente de Professores e Educadores Desempregados do SPGL desde 1999

(recebido por mail)

PS- Por cá nas salas dos professores das nossas escolas, o(a)s colegas da idade do Luís e com mais anos só falam na aposentação e no cada vez mais insuportável que é dar aulas a quem não as quer.