terça-feira, 28 de julho de 2020

O Dr. Botelho e a agricultura





O Dr. Botelho e a agricultura

O Dr. José Pereira Botelho possuía terrenos na Rua Margarida de Chaves, em Ponta Delgada, na Carreira, na Fajã de Cima e nas Alminhas, na Lagoa, ocupados, essencialmente com laranjeiras e vinhas.
O cultivo das vinhas na ilha de São Miguel terá começado nos primeiros anos do povoamento da ilha, como se pode concluir do que escreveu Gaspar Frutuoso, nas Saudades da Terra: “Deu esta ilha, em ano de boa novidade, perto de duas mil pipas de vinho ,,,. Setecentas na cidade, outras tantas na Lagoa, quatrocentas na Ribeira Grande, e as mais no Nordeste e Povoação, e em toda a ilha.” De acordo com o cronista, os primeiros pés de vinha terão sido plantados em 1500, no Rosto do Cão, por João Gonçalves.
No século XIX, por volta de 1853, as primitivas vinhas foram destruídas pelo oídio e pela filoxera pelo que tiveram se ser substituídas pela vinha americana ou vinha de cheiro que terá sido introduzida por António Borges da Câmara Medeiros que mandou vir de Paris 1000 plantas.
O Dr. José Pereira Botelho, foi dos primeiros a optar pela vinha de cheiro, tendo feito as primeiras experiências no quintal da sua casa da Rua Margarida de Chaves, onde chegou a produzir 10 pipas. No seu tempo, o Dr. Botelho chegou a ser um dos maiores produtores, de São Miguel de vinho de cheiro.
Aos nomes de António Borges da Câmara de Medeiros, que instalou a primeira estufa de ferro e vidros e cultivou ananases, e José Bensaúde, que começou o cultivo com fins comerciais e é responsável pela primeira exportação para Inglaterra, em 1864, podemos associar o do dr. Botelho que foi também dos primeiros a fazer a experiência em estufas que possuía.
O Dr. Botelho também está associado à cultura da laranja que terá começado nos Açores no século XVI, sendo possuidor de algumas quintas. De acordo com Francisco Maria Supico, das diversas variedades de laranjeiras cultivadas em São Miguel, o Dr. Botelho possuía três: “Laranja do Dr. Botelho – Obtida por semente. É grande e belo fruto.”; Laranja dulcíssima – do sr. Dr. Botelho. Foi obtida por semente. É muito doce e temporã.  A árvore aos 17 anos ainda apresentava frutos de casca grossa.”; “Laranja prata- do sr. Dr. Botelho. É muito comum na Lagoa. Excelente, tardia, raríssima são as árvores que não dão frutos de primeira sorte.”
No dia 11 de janeiro de 1843, com a presença do Dr. Botelho, foi criada, em Ponta Delgada, a SPAM- Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense que publicou o jornal “O Agricultor Micaelense”, cuja segunda série contou com a redação de António Feliciano de Castilho.
O Dr. Botelho não foi apenas um dos primeiros sócios da SPAM, foi um sócio convicto e ativo, pois colaborou ativamente com as direções, quer em comissões por elas criadas, quer em preleções destinadas a sócios e a convidados.
O Dr. Botelho foi preletor em várias sessões sobre Química Agrícola que ocorreram às segundas-feiras e às quintas-feiras durante algumas semanas. Curioso é o facto de estas sessões não serem exclusivamente teóricas, como se pode constatar através do seguinte extrato transcrito de “O Agricultor Micaelense”: “Aqueles srs. que desejarem fazer mais completos estudos, ou pretenderem manipular no laboratório, deverão entender-se com o secretário da Sociedade ou com o Sr. Doutor José Pereira Botelho”. Devido a doença do Dr. Choque, o Dr. Botelho também se encarregou de dar lições de Botânica.
No que diz respeito a comissões, o Dr. Botelho fez parte de uma comissão destinada a fazer estudos comparativos das várias rocas mecânicas existentes em São Miguel. Também fez parte de uma comissão encarregada de verificar se uma preparação criada pelo sr. Domingos Monteiro Torres era eficaz no tratamento do “bicho das laranjeiras”, de outra destinada a examinar uma proposta de José Honorato Gago da Câmara  de criar na SPAM um Gabinete de Química e de outra com o  objetivo de analisar a eficácia do método do Dr. Choque no tratamento das laranjeiras.
Por último, embora não relacionada com a agricultura propriamente dita, o Dr. Botelho foi sócio fundador, com 5 ações de 5$000 réis cada, da Sociedade de Avicultura e Aclimatação Micaelense, criada em abril de 1891, com o fim de “criar aves e outros animais domésticos vendendo exemplares e ovos nesta ilha, ou fora dela, promovendo exposições, concedendo prémios, medalhas e menções honrosas, e propagação de raças puras neste distrito”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32193, 29 de julho de 2020, p.16)

terça-feira, 21 de julho de 2020

Roteiro das Plantas de Ponta Delgada


O dr. José Pereira Botelho e Alice Moderno




O dr. José Pereira Botelho e Alice Moderno

No texto publicado a semana passada, referi que quando o Dr. José Pereira, ilustre médico natural da Lagoa que viveu em Ponta Delgada, na rua Margarida de Chaves, abandonou a sua atividade pública Alice Moderno dedicou-lhe um poema que reproduzi.

O poema de Alice Moderno não resultou de uma obrigação pelo facto de ela ser colaboradora do Diário dos Açores, pelo contrário foi a manifestação de um reconhecimento pela bondade do Dr. José Pereira Botelho e pela amizade que existia entre eles.

Para o Dr. Botelho, Alice Moderno não era uma mera paciente, era muito mais do que isso, pois era regularmente convidada para os seus aniversários. Segundo ela, o Dr. Botelho que fazia anos a 2 de outubro, celebrava o seu aniversário no segundo domingo daquele mês, através de um bodo aos pobres e um jantar oferecido a familiares e amigos, onde ela estava incluía, fazendo-a sentar-se a seu lado.

A amizade de Alice Moderno pelo Dr. Botelho era tanta que quando ela esteve para casar com o poeta Joaquim de Araújo, aquela, numa carta a este dirigida, escreveu o seguinte:

“Se o fizeres, faz aqui representar pelo Dr. José Pereira Botelho, e crê que ainda que se esquadrinhasse ao meio-dia e com vinte lanternas, se não encontraria aqui um homem mais digno de representar o meu querido Joaquim. Convidarei para meus padrinhos meu pai e minha mãe, isto no caso de casar-me por procuração, porque, no caso contrário o meu padrinho seria o Dr. Botelho.”

Já depois de ter deixado a vida pública, quando Alice Moderno “estava a naufragar no abismo da morte” foi o Dr. Botelho, já com 77 anos de idade, que a salvou.

Para ela, como se pode perceber através do texto abaixo, o Dr. Botelho não era apenas um profissional da medicina:
 “Era um amigo dedicado, que me distraía das minhas dores com a sua conversa admirável e afetuosa. Passou muitas horas à cabeceira do meu leito, e muitas vezes também, ao despertar de um sono repousado que, por um pouco interrompia o meu sofrer atroz, o via sentado junto de mim, olhando-me atento. Triste, às vezes, quando eu me inclinava para a morte, resplandeceu de alegria, quando me via respirar menos aflitamente.”

Por ocasião de um aniversário do Dr. Botelho, “a consciência mais reta, o carácter mais nobre e o melhor coração que eu tenho conhecido”, Alice Moderno enviou-lhe o seguinte soneto:

Eu seio que é sofrer! Por trinta e cinco dias,
No meu leito febril estive agonizante!
A morte estava ali, alegre, triunfante,
Com a luz do prazer nas pálpebras sombrias.

Que dias sem alvor! Que noites doentias!
Diminuía o vigor em cada novo instante!
E a morte, a atroz visão, a tétrica bacante,
Fitando alegremente as minhas agonias!

Mas eu pude, afinal, descer do meu calvário,
A morte sucumbira aos botes do adversário,
Tivera de fugir raivosa, entristecida…

Não posso ir aos seus pés em dia tão ditoso
Mas vai este Soneto- embaixador zeloso
Beijar por mim a mão que me salvou a vida!

O falecimento do Dr. Botelho foi noticiado no próprio dia, 6 de fevereiro de 1896, no Diário dos Açores pela mão, cremos, de Alice Moderno que sobre ele escreveu o seguinte: “Democrata convicto, inteligência lucidíssima, mente abeta aos grandes ideais, coração de ouro, sensível a todos os sofrimentos, a morte do Dr. José Pereira Botelho deixa um vazio impreenchível”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32187, 22 de julho de 2020, p. 16)

terça-feira, 14 de julho de 2020

José Pereira Botelho, médico dos desfavorecidos




José Pereira Botelho, médico dos desfavorecidos

Filho de José Jacinto Pereira Canejo e de Maria Máxima de Faria, José Pereira Botelho nasceu na Lagoa, no dia 2 de outubro de 1813, e faleceu, em Ponta Delgada, no dia 6 de fevereiro de 1896.

Depois de ter estudado em Ponta Delgada, em 1834, foi para Paris, onde estudou medicina. Terminado o curso, em 1940, regressou a Portugal, tendo feito um exame na Escola Médico-Cirúrgica para poder ficar legalmente habilitado a exercer a sua profissão, o que ocorreu no mesmo ano, em Ponta Delgada.

Em 1842, José Pereira Botelho casou com Maria Ermelinda de Medeiros, filha de Joaquim António de Paula Medeiros e Francisca Hickling de Medeiros.

Em 1847, fez parte da Junta Governativa do distrito, tendo a experiência não sido positiva o que fez com que desgostoso se ausentasse por seis meses da ilha, tendo rumado a França onde assistiu a preleções, contatou figuras eminentes da ciência e visitou hospitais.

Embora, segundo Francisco Maria Supico, não houvesse “democrata mais convicto, mais lúcido e mais sincero adepto das sãs ideias republicanas”, José Pereira Botelho não aceitou, em 1852, ser representante dos micaelenses nas cortes e “até de seus direitos de eleitor deixou absolutamente de fazer uso”.

Francisco Maria Supico, na biografia do Dr. José Pereira Botelho publicada, em 1885, no “Almanach para 1886”, brinde do “Diário de Annuncios” aos seus assinantes, depois de referir a desilusão daquele ilustre médico com a política, menciona a sua intensa participação cívica na sociedade micaelense nos seguintes termos:

“Às comissões de salvação pública nas crises económicas ou de calamidade epidémicas que esta ilha tem atravessado, às de beneficência e às de instrução, é que não recusou ainda o concurso da sua inteligência e da sua atividade.”


Aos 73 anos, o Dr. José Pereira Botelho abandonou a sua atividade pública e a propósito o “Novo Diário dos Açores”, de 2 de outubro de 1886, dedicou-lhe um número especial. Alice Moderno colaborou com o poema que abaixo se transcreve:
O Dr. José Pereira Botelho
Quando o vejo surgir aureolado
Pelos finos cabelos cor de prata,
Eu creio que a minha alma se desata
E ascende, vai ao céu em voo alado.

No seu olhar profundo se retrata
Um coração bondoso e dedicado;
Na sua alma-sacrário imaculado
Floresce a caridade- essência grata!

Quando às vezes me envolve a nostalgia,
Corro junto ao Doutor, brota a alegria
E recupero a fé- divina graça!

Quem me dera segui-lo com mil flores
Perfumadas, gentis, de várias cores,
Alcatifar as ruas em que passa! …

No final do século XIX, os promotores das comemorações do 1º de Maio, Dia do Trabalhador, não se esqueceram de recordar a solidariedade para com os mais desfavorecidos, através da realização de romagens à sua sepultura no Cemitério de São Joaquim.

Sobre o assunto, o jornal “O Repórter, de Alfredo da Câmara, anuncia, no dia 24 de abril de 1898, uma “visita aos túmulos dos grandes propagadores das ideias socialistas- dr. Antero de Quental e dr. José Pereira Botelho. É uma dívida de gratidão, que os artistas pagam aos dois ilustres micaelenses que pugnaram pela sua causa.” Num número especial do referido jornal publicado no 1º de maio daquele ano, “O Repórter” transcreve a biografia já citada da autoria de Francisco Maria Supico.

A propósito da sua última morada, no seu testamento, o Dr. José Pereira Botelho manifestou o seu desejo nos seguintes termos:

“Quero ser sepultado como são sepultados os nossos irmãos pobres, inválidos e desprotegidos, sem aparato, sem dobre de sinais, sem convites e sem lápide ou outro qualquer distintivo que assinale o local da minha sepultura: depois de morto não quero que as vaidades me sobrevivam.”

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32181, 15 de julho de 2020, p.16)

terça-feira, 7 de julho de 2020

O Primeiro de Maio em São Miguel no início do século XX





O Primeiro de Maio em São Miguel no início do século XX

Em 1901, no dia 28 de abril, o jornal “O Repórter” ao mesmo tempo que divulga o programa das comemorações do 1º de Maio, em Ponta Delgada, marca bem a sua posição em relação ao porvir das sociedades: “Não será pela revolução, flagelo horrível que arruína os povos, que o operário obterá o que pede e que de justiça lhe compete: mas pela evolução, pelo cultivo de inteligência do operário futuro que, abertos os olhos à luz da Razão, enérgica e altivamente caminharão na conquista das suas reivindicações”.

Naquele ano, o programa foi semelhante ao dos anos anteriores. Uma alvorada, pela manhã, oferta de jantar aos presos e aos pobres e espetáculo, à noite, no Cine-Teatro.

Em 1902, voltou a ser “O Repórter”, com Alfredo da Câmara à cabeça, a organizar o 1º de Maio, com um programa semelhante aos dos anteriores.

Naquele ano, “O Repórter”, de 27 de abril, dedicou muito do seu espaço ao primeiro de maio. Com efeito, há textos de F. d’Oliveira, Xavier de Paiva, Gomes Leal e Antero de Quental. Este, começa o seu texto assim: “O capital, por si, é estéril: a terra, as máquinas, o dinheiro, por si, nada produzem: só o trabalho, lançando mão desses instrumentos, lhe dá valor, poder, vida, fecundidade”.

Alfredo da Câmara, de tendência socialista, mas membro do partido regenerador, organizou as comemorações do 1º de Maio até ao ano de 1904. Depois dele, em 1905, as comemorações foram do “socialista libertário”, pintor da construção civil, Francisco Soares da Silva.

Sobre o ocorrido em 1906, no jornal, de Alice Moderno, “A Folha”, de 6 de maio daquele ano, podemos ler o seguinte: “Realizaram-se nesse dia os costumados festejos em que a classe operária afirma a sua solidariedade mundial. Foi promotor das mesmas o hábil pintor sr. Francisco Soares da Silva. Por ocasião da sua passagem por esta redação, teve o cortejo a amabilidade de lhe fazer os seus cumprimentos o que sinceramente agradecemos.”

Não sabemos se o 1º de Maio foi comemorado em 1907, mas se o foi, não contou com a organização de Francisco Soares Silva que naquele ano deslocou-se a Lisboa para assistir ao que lá se fazia.

Numa carta, publicada no jornal A Plebe, no dia 1 de junho de 1907, Francisco Soares Silva justifica a sua ausência nos seguintes termos:

“Não pensem os operários micaelenses que fugi ao dia 1º de Maio, com medo dos meus adversários.
Tenho já perto de 60 folhetos de propaganda socialista e adquiri já muitos estatutos de várias associações de classe, para ver se nós operários nos erguemos do marasmo em que vivemos.
O 1º de Maio daqui para o futuro será um dia de luta e não um dia de festas.
Não julguem os operários de Ponta Delgada que se acabou o glorioso dia do 1º de Maio.
Acabou-se sim, o dia 1º de Maio das festas com carros alegóricos, bandeiras e foguetes, mas começou o primeiro de maio de luta pelas reivindicações operárias.”

Em 1908, Francisco Soares Silva organizou as comemorações do 1º de Maio com uma romagem de operários, da Rua do Gaspar até ao cemitério, onde foi “depositada uma coroa de flores sobre o túmulo do primeiro filósofo português, do poeta dos sonetos, do socialista imaculado e do livre pensador Antero de Quental”. À noite houve uma conferência na escola União dos Operários. No mesmo dia, foi distribuído o primeiro número do jornal “Vida Nova” que se publicou até setembro de 1912.

Terminamos com um extrato do discurso de Soares da Silva:

“Qual seria a ideia de Antero de Quental, fazendo-se operário em Paris, depois da sua formatura em Direito? Que necessidades levaram este ilustre filósofo a fazer-se operário? Ah! Camaradas, este ponto é de grande responsabilidade e neste caso calar-me-ei. E sabeis porque é grande responsabilidade? Porque eu tinha de ser imparcial ao demonstrar o carácter de Antero, comparando-o com muitos que no inicio da sua vida politica, vêm enrolados na sua capa académica, com o pseudónimo de democratas, defendendo com muita retórica os direitos do povo, e depois de conseguirem o que desejam, vendem as suas ideias e convicções (se algum dia possuíram!) para se tornarem inimigos acérrimos das classes que defendiam com tanta verbosidade.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32175, 8 de julho de 2020, p.16)

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Apontamentos sobre a peste bubónica em Vila Franca do Campo




Apontamentos sobre a peste bubónica em Vila Franca do Campo

A peste negra  ou peste bubónica é uma doença causada pelo bactéria Yersinia pestis, que desencadeou uma pandemia, na segunda metade do século XIV,  matando um terço da população europeia.

Com origem na Ásia central, a infeção é transmitida pelas pulgas de roedores que com a morte destes, os seus hospedeiros naturais, procuram outros entre os quais os humanos, originando assim as epidemias.

Alguns autores, põem a hipótese de fatores climáticos estarem associados ao aumento das populações de roedores e de pulgas numa dada região, em épocas determinadas.

Em Portugal Continental o último surto de peste bubónica ocorreu em 1899, o arquipélago da Madeira foi atingido pela doença em 1905 e os Açores em 1908, tendo persistido neste arquipélago durante cinco décadas.

Sobre os primeiros anos da peste bubónica nos Açores, recomenda-se a leitura da «Terceira Parte “Peste nos Açores – A campanha da Ilha Terceira (1908-1909) e a desratização do Arquipélago Açoriano”», do livro “Peste Bubónica”, da autoria de Carlos Maciel Ribeiro Fortes.

No estudo e no combate à doença, na Ilha Terceira, notabilizou-se António de Sousa Júnior, Doutor em Medicina e futuro Ministro da Instrução, que para tal voltou à sua terra natal, tendo estado em São Miguel onde realizou algumas conferências sobre o assunto.

De acordo com J.A. David de Morais, nos Açores, os anos mais castigados foram o de 1931, onde se registaram 151 óbitos e o de 1932, em que ocorreram 102 óbitos. Ainda segundo o autor referido, entre 1930 e 1949, ocorreram 732 mortes por peste bubónica, o que corresponde a uma média de 37 óbitos por ano.

O jornal “Correio dos Açores”, de 3 de janeiro de1923, noticia o que terão sido os primeiros casos de peste bubónica, pelo menos naquele ano, no concelho de Vila Franca do Campo. Com efeito, a nota referida menciona que os três primeiros casos ocorreram na freguesia de Água d’Alto e que as autoridades administrativas e sanitárias se reuniram para tomar “as mais rigorosas providências para que a horrível doença não se alastre ao resto do Concelho”.

Com a leitura da mesma notícia fica-se a saber “que antes do aparecimento d’estes 3 casos foram encontrados bastantes ratos e alguns gatos mortos, o que denota que a epizootia da peste está ali bastante adiantada”.

A 28 de março de 1923, o Correio dos Açores publica um texto do seu correspondente em Vila Franca do Campo, onde este refere o aparecimento de um presumível caso de peste bubónica na Rua Direita.

Para além de dar conta do aparecimento de “mais ratos pestosos”, a notícia refere que a Câmara Municipal fornece “desinfetantes para uso de todas as Repartições Públicas, escolas, Igrejas e casas de pessoas reconhecidamente pobres”.

Em 1932, no dia 9 de janeiro, o Correio dos Açores publica um texto do seu correspondente em Vila Franca do Campo, onde este dá a conhecer vários casos de peste bubónica no concelho. Assim, segundo ele, foi detetado um caso na freguesia de São Pedro e 11 casos na freguesia de Água d’Alto, tendo nesta morrido 2 pessoas.

Para o combate à doença a Câmara Municipal tinha marcado uma reunião aberta às autoridades de saúde do concelho com vista a tomar medidas, como a aquisição de desinfetantes para desinfeções tanto públicas como particulares, soro e vacina ati-pestosa”.

A Igreja, outrora um dos meios mais importantes para divulgação de informações, também não ficou alheia. Com efeito, os párocos das duas freguesias referidas durante as missas fizeram “a leitura das prescrições médicas aconselhadas pela autoridade sanitária, acompanhando essa leitura de avisos salutares para que todos se compenetrem da gravidade da doença”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32 169, 1 de julho de 2020, p.13)