segunda-feira, 18 de março de 2024

Camarinha


Camarinha

A camarinha ou camarinheira (Corema azoricum (P.Silva) Rivas Mart., Lousã, Fern. Prieto, E. Dias, J.C. Costa & C. Aguilar) é uma planta endémica dos Açores que existe nas seguintes ilhas: Faial, Pico, São Jorge e Graciosa.

Ruy Telles Palhinha (1966), que a classifica como Corema album ssp. azoricum, refere que a camarinha dos Açores se distingue da do continente português por possuir folhas menores e mais estreitas e levanta a hipótese de os frutos também serem menores.

A camarinha, que pertence à família Ericaceae, é um pequeno arbusto dioico, perenifólio que pode medir até 1 m de altura. Os caules, muito ramificados, são eretos. As folhas são lineares e obtusas. As flores masculinas apresentam pétalas de cor rosa-pálido que habitualmente não existem nas flores femininas. Os frutos são carnudos, brancos e aproximadamente esféricos.

A camarinha, que é uma espécie bastante rara, surge geralmente nas costas rochosas, arribas e escoadas lávicas em geral até aos 50 metros de altitude. Na Graciosa pode ser vista no centro da ilha, em cones de escórias.

Ao descrever a ilha de São Miguel, Gaspar Frutuoso refere-se à planta e ao local onde se encontrava nos seguintes termos:

“Da Várzea ou freguesia de S. Sebastião a quatro tiros de besta para loeste, está o pico de Marcos Lopes Anriques, que chamam das Camarinhas, por ter árvores desta fruta no seu cume; chama- se também pico das Ferrarias, porque no tempo passado, antes de ser descoberta esta ilha, sendo tão alto junto com o mar que o fazia alcantilado, arrebentou (como parece claramente a quem agora o vê) e lançou de si para a parte do mar uma ribeira de fogo, que se meteu tanto pelo mesmo mar, que ocupou dele grande espaço, ficando onde dantes era mar um espaçoso e largo cais de biscoutos, ao longo da costa, tanto como três tiros de besta, que tem de largura, e dois de compridão, entrando na água salgada; ficando esta ponta de pedra baixa e rasa.”

Gabriel d’Almeida, no seu “Dicionário Histórico-geográfico dos Açores”, publicado em 1893, descreve a camarinha do seguinte modo: “Fructo édulo, utilizado na ilha do Pico”.

O Pico das Camarinhas, localizado na freguesia dos Ginetes, ilha de São Miguel, deve o seu nome à presença, no passado, da mencionada planta. Segundo Carlos Pavão de Medeiros, em artigo publicado no jornal Correio dos Açores, a 20 de agosto de 1943, na altura a planta já era bastante rara, existindo apenas muito poucos exemplares.

Ainda de acordo com o mencionado autor, a camarinha “frutificava em Outubro, sendo o seu pequeno fruto, no dizer de algumas pessoas que o têm provado, muitíssimo saboroso e de agradável paladar”.

A 6 de outubro de 2006, no jornal “Tribuna das Ilhas”, Faria de Castro, a propósito da presença de camarinhas na ilha do Faial, depois de mencionar que era no sítio do Tesouro, na Fajã da Praia do Norte onde se localizava a maior concentração daquela planta, escreveu o seguinte:

“A camarinha é uma planta endémica com a qual se fazia um muito apreciado licor, referido mesmo nas Memórias dos Dabney… Durante a minha meninice, muitas vezes apreciei o fruto daquela planta, pois a abundância era muita. Infelizmente, devido à implantação das britadeiras, a Camarinha quase desapareceu o que trouxe grande preocupação à AZORICA.”

Em Portugal continental, no passado, entre Nazaré e Aveiro, os frutos da Corema album (L.) D. Don eram vendidos ao longo das estradas. As bagas eram usadas para o fabrico de licores e compotas e com fins medicinais.

Nos Açores para além do fabrico de licores, já mencionado, os frutos também eram usados no fabrico de compota, na ilha do Pico.

Teófilo Braga

sábado, 16 de março de 2024

Banksia


Banksia

A banksia, cigarrilha ou cigarrilheira (Banksia integrifolia L.) é uma espécie australiana pertencente à família Proteaceae que se adaptou bem nos Açores, encontrando-se já naturalizada em algumas ilhas, exceto na Terceira, no Pico e no Corvo.

Nos Açores, para além de aparecer em sebes, a banksia pode ser vista sobretudo nas zonas costeiras geralmente até aos 400 m de altitude.

A banksia é uma árvore de folha persistente que pode atingir 25 metros de altura, apresenta folhas verde-escuras por cima e brancas por baixo e flores cilíndricas que pela sua forma terão dado origem ao nome comum cigarrilheira por que é, também, conhecida nos Açores. O seu período de floração é de junho a outubro.

Na Austrália, a banksia é muito utilizada como planta ornamental, sendo muito comum em jardins e ruas. Também usada na estabilização de dunas.

Nos Açores, foi muito utilizada em sebes vivas por associar às vantagens das suas folhas persistentes o seu crescimento rápido e a sua resistência aos ventos provenientes do mar. Sobre este assunto, o engenheiro agrónomo Arlindo Cabral, escreveu, em 1953, que na ilha de São Miguel, juntamente com o incenso e a faia a banksia era uma das plantas mais usadas no abrigo de pomares.

Em 1985, José Norberto Brandão de Oliveira, num texto intitulado “Espécies vegetais usadas nos Açores na formação de sebes”, considera a banksia como a segunda espécie mais importante, depois do incenso (Pittosporum undulatum Vent.) na formação de sebes altas de proteção de frutícolas, referindo que é uma “espécie bastante resistente e de crescimento bastante rápido.”

Relativamente à sua propagação, Arlindo Cabral (1953) mencionou o seguinte:

“Pega com certa dificuldade, se não forem dedicados cuidados especiais à sua propagação. Devem ser escolhidas pequenas hastes, as quais deverão, segundo uns, apanhar uma unha de inserção no ramo a que pertencia e, segundo outros, ser cortada ao nível de um nó, para melhor enraizamento. Os raminhos escolhidos devem estar meio atempados e o comprimento das estacas deve regular por 0,2 m. Estas, podem ser dispostas em viveiro ou em lugar definitivo. Há, porém, quem afirme que pega mal por transplantação e se atrasa e que um excesso de estrume também dificulta o pegamento.”

No passado, nos Açores, a banksia também foi muito apreciada como planta ornamental, tendo existido, entre outros, no Jardim de Sebastião do Canto em Vila Franca do Campo, no Jardim José do Canto (existiam em 1856 e em 1868, havia banksias para oferta e permuta) e no Jardim António Borges (existiam em 1865).

Várias espécies do género Banksia foram assunto de diversas cartas trocadas entre José do Canto e o seu primo e amigo José Jácome Correia. Assim, numa carta enviada de Paris, datada de 24 de agosto de 1853, José do Canto escreveu o seguinte:

“As banksias mesmo forão duplicadas, e triplicadas e quasi todas não classificadas, mas não se encontrava nada, ou caríssimo, e tu tinhas-me dado a entender que sendo plantas boas que te não importava a repetição.

Se quisessem dar aqui em Pariz mil francos por uma dúzia de Banksias não as havia. Eu querendo algumas, tenho-as mandado vir d’Hamburgo, e Vienna d´Áustria, por um preço superior ao de Londres.”

Hoje, é possível encontrar banksias no Jardim do Palácio de Santana, em Ponta Delgada, na Quinta da Torre, nas Capelas, e na Mata do Dr. Fraga, na Maia.

Teófilo Braga

sexta-feira, 15 de março de 2024

quinta-feira, 14 de março de 2024

quarta-feira, 13 de março de 2024