terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Estaturos dos Amigos dos Açores (Amigos da Terra Açores)

Estive a digitalizar cópia da escritura de legalização dos Amigos dos Açores (antes Amigos da Terra/Açores) e curiosamente, ou não, já não me lembrava quem a tinha assinado. Aqui vão os nomes por ordem alfabética: Eduardo Lopes (falecido), Francisco Botelho, Gualter Cordeiro (falecido), Humberto Furtado Costa (falecido) Lúcia Ventura, Luís Cordeiro, Mário Melo, e Teófilo Braga.

Apontamentos sobre a introdução de plantas exóticas em São Miguel

Apontamentos sobre a introdução de plantas exóticas em São Miguel A introdução de plantas exóticas na ilha de São Miguel começou com o povoamento, pois aquela não possuía recursos que pudessem suprir a alimentação dos primeiros povoadores que começaram logo a trazer espécies agrícolas como cereais e legumes. A par das espécies referidas também vieram as árvores de fruto e com estas as de uso florestal e ornamental. De entre os responsáveis pelas diversas introduções, merece especial destaque José do Canto, no século XIX, que, em 1856, elaborou uma listagem das principais plantas existentes no seu jardim em Santana, onde registou a presença de “1028 géneros e aproximadamente 6000 espécies”. Hoje, é difícil afirmar se foi ele o introdutor em São Miguel de algumas das espécies por ele mencionadas, apenas com base nas suas listagens, pois é bem possível que algumas delas já por cá estivessem trazidas por outros. De qualquer modo não temos qualquer dúvida em afirmar que ele foi de todos os que o fizeram, quem mais espécies introduziu, tendo o grande mérito de registar o nome de todas elas. Neste texto, complementamos as informações apresentadas pelos autores do livro “Árvores dos Açores- Ilha de São Miguel”, lançado publicamente, na Biblioteca Pública de Ponta Delgada, no passado dia 15 de janeiro. A tamareira-do-Senegal (Phoenix reclinata) que pode ser observada nos três grandes jardins de Ponta Delgada, terá sido introduzida em 1793, sendo a primeira plantada em Ponta Delgada num pátio ajardinado onde hoje se localiza o Clube Micaelense. O cedro-do-Bussaco (Cupressus lusitanica) foi introduzido por Nicolau Maria Raposo no final do século XVIII, a partir de sementes que lhe foram enviadas por D. Rodrigo de Sousa Coutinho. De entre as inúmeras espécies introduzidas por José do Canto no seu jardim em Ponta Delgada, destacamos a bananeira-da-Abissínia (Ensete ventricosum), vinda do Jardim Botânico de Argel. Depois de se ter perdido, há poucos anos voltou a ser introduzida no referido jardim. A criptoméria (Cryptomeria japonica), hoje muito abundante em toda a ilha, terá sido introduzida, em 1848, por José do Canto. O botânico Rui Teles Palhinha escreve num Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores que ouviu falar pela primeira vez naquela espécie numa carta de José do Canto a José Jácome Correia, datada de novembro de 1863. A espadana (Phormium tenax), que havia chegado a Portugal em 1798 por intermédio do Abade José Correia da Serra, foi introduzida em São Miguel graças a Francisco Lopes Soares Amorim, em 1828. Em 1930, a espadana forneceu matéria-prima para sete fábricas de desfibração. Embora não haja referência à data da introdução do cafeeiro (Coffea sp.), sabe-se que por volta de 1844 alguns micaelenses já o cultivavam “deles colhendo os preciosos grãos com certa abundância”. O cipreste (Cupressus macrocarpa?) foi introduzido em São Miguel por Thomaz Anglin, tendo as primeiras plantas vindo da América. Em 1847, a mesma pessoa semeou, com sucesso, algumas sementes da mesma espécie. O freixo (Fraxinus sp.), de acordo com “O Agricultor Micaelense”, nº 19, de julho de 1849, foi introduzido na Grená, vindo de Inglaterra, por Eduardo Nourse Harvey que também introduziu outras espécies ainda não existentes em São Miguel. Francisco Alves Viana Serra, foi o responsável pela introdução da casuarina (Casuarina equisetifolia), nativa da Austrália, através de sementes que trouxe do Rio de Janeiro e as entregou ao sr. Jorge Nesbitt. Em Ponta Delgada é possível encontrá-la no Jardim do Palácio de Santana, no Jardim da Universidade e no Jardim Botânico José do Canto. Teófilo Braga (Correio dos Açores, 32321, 30 de dezembro de 2020, p. 19)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Podas de árvores ornamentais: fala quem sabe

Podas de árvores ornamentais: fala quem sabe Se qualquer árvore pode muito bem viver sem a intervenção humana, por que razão se podam as árvores? De acordo com o engenheiro florestal Rui Tujeira, num texto publicado na revista “Jardins”, nº 203, de novembro de 2020, as razões para as podas são várias, mas estão relacionadas com a necessidade de condicionar o desenvolvimento da planta, tendo em conta o espaço onde foi plantada, para a obtenção de uma frutificação mais abundante ou por motivos sanitários. No mesmo texto, Rui Tujeira explica que “sempre que se efetua uma poda, está-se a desequilibrar os fluxos energéticos que a planta criou e com os quais está a contar para o seguinte período vegetativo. Cumulativamente, reduz-se ainda a capacidade fotossintética da árvore por supressão da área folear disponível”. Podar uma árvore apenas para não ter de varrer as folhas ou porque é tradição anual é um erro que sai caro aos contribuintes e que prejudica grandemente as árvores. Num texto publicado no jornal “O Público” de 12 de janeiro de 2020, o paisagista Manuel de Carvalho e Sousa, depois de lamentar a incultura que continua a ser uma ameaça para as árvores afirma que uma árvore podada vive, em média, um terço do que viveria se não o fosse. Francisco Coimbra, Consultor em Arboricultura Ornamental e antigo vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Arboricultura, num texto publicado no “Jornal da Mealhada” a 27 de março de 2002, desmistifica um conjunto de “preconceitos que continuam arreigados na população” e que são responsáveis pelos “autênticos «massacres de motosserra» que destituem de dignidade e valor estético as árvores – ditas ornamentais – que marginam os nossos arruamentos e estradas.” De entre os preconceitos referidos o autor rebate os seguintes: as «rolagens» rejuvenescem e fortalecem as árvores” e as rolagens “são a única forma económica de controlar a sua altura e perigosidade” Os tão homenageados e citados, mas não ouvidos nem seguidos, arquitetos paisagistas Francisco Caldeira Cabral e Gonçalo Ribeiro Teles, no seu livro “A árvore em Portugal” afirmam perentoriamente que “A poda não é uma operação cultural normal das árvores de ornamento ou florestais. A poda só é uma operação normal em fruticultura. A poda de árvores de sombra ou de alinhamento, destina-se apenas a fazer face a situações de emergência…” Mas o grande mal é, de acordo com vários especialistas, entre os quais Francisco Coimbra a “ainda quase absoluta ausência de sensibilidade para o papel da Árvore em Meio Urbano” que anda intimamente associada à falta de planeamento e esta leva a podas aberrantes que acontecem um pouco por todo o lado e de que é exemplo uma ocorrida recentemente na Avenida da Paz, no Pico da Pedra, onde foram decapitadas várias Grevíleas (Grevillea robusta), árvores, oriundas da Austrália que podem atingir 35 metros de altura e que foram plantadas em local desadequado. Sobre o assunto referido no parágrafo anterior, Cadeira Cabral e Ribeiro Teles escreveram no já citado livro “… mas não vale a pena frisar senão que é indispensável no projeto atender às necessidades de cada coisa e saber prescindir do que se considera menos importante. Se não há espaço para a árvore é preferível plantar só o arbusto, ou mesmo só a flor e não contar depois com a tesoura para manter com proporções de criança o gigante que se escolheu impensadamente” Para terminar esta questão e para evitar más interpretações, afirmo que não estou contra todas as podas e muito menos defendo as árvores contra as pessoas, como alguém falho de argumentos e ignorante já tentou insinuar. No que a podas diz respeito, partilho a opinião de quem sabe, como a do Engenheiro Vieira Natividade que escreveu que «o podador domina porque enfraquece, vence porque suprime… em boa verdade a vitória não é brilhante»! E de facto, devia dizer-se de uma poda o mesmo que de um árbitro: tanto melhor quanto menos se der por ela!” ou a dos arquitetos Caldeira Cabral e Ribeiro Teles que escreveram que “o maior elogio que se pode fazer a um podador de árvores ornamentais é que não se perceba que a árvore foi podada”. Teófilo Braga (Correio dos Açores, 32315, 23 de dezembro de 2020, p. 19)

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Apontamentos sobre António Feliciano de Castilho

Apontamentos sobre António Feliciano de Castilho Nascido em Lisboa, em 28 de janeiro 1800, António Feliciano de Castilho, em consequência de ter adoecido com sarampo cegou aos 6 anos de idade. Com o apoio dos irmãos, sobretudo de Augusto fez os seus estudos, tendo-se licenciado aos 26 anos na Universidade de Coimbra. Faleceu, em Lisboa, no dia 18 de junho de 1875. Desgostoso com o ambiente político nacional, Castilho decidiu vir para São Miguel, no dizer do dr. Agnelo Casimiro, “menos por convite de bons amigos, do que por necessidade de voluntária emigração política”. António Feliciano de Castilho chegou a São Miguel, na escuna “Micaelense”, acompanhado da mulher e dos filhos, em agosto de 1847 e regressou definitivamente ao continente português em julho de 1850, tendo-se ausentado da ilha três meses, de fevereiro a maio de 1849, por ter ido a Lisboa tratar de assuntos relacionados com a associação que havia fundado, a SALA- Sociedade de Amigos das Letras e Artes. A SALA, que teve uma atividade notável enquanto Castilho esteve em São Miguel e depois dele, sob a presidência do Dr. José Pereira Botelho, organizou, no Natal de 1848, uma grande exposição de artefactos micaelenses que durou mais de 15 dias. Durante o período em que a exposição esteve aberta, a SALA promoveu diversos serões artísticos e literários. Para além de outras iniciativas que estavam previstas, como uma aula de música, uma de caligrafia e uma de história, uma de torno, etc., de acordo com o dr. Agnelo Casimiro a SALA “abriu e manteve escolas: três de leitura; uma de doutrina cristã; uma de aritmética; uma de geometria aplicada às artes; uma de desenho de figura e paisagem; uma de poética e declamação; uma de higiene; uma de francês para senhoras e outra de inglês para homens; uma de geografia; uma de encadernação”. Mas a principal razão da vinda de Castilho para São Miguel, pelo menos para quem o convidou, foi para colaborar na redação da revista da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, “O Agricultor Micaelense”. Na referida revista, Castilho publicou um conjunto de crónicas em que, de acordo com Cecília Barreira, é transmitida uma ideia base: a aversão à política., como se pode ver através da frase: “Só quando deixarmos de ser políticos, principiaremos a ser bons”. Para aquela autora, “Castilho constrói um paraíso terrestre baseado na lavoura. Protagoniza, em primeiro lugar a constituição de sociedades agrícolas. […] Essas sociedades existiriam em cada capital administrativa ou sede episcopal. O governador civil ou o bispo dignificavam com o seu cargo, cada uma das coletividades. Com elas desapareceriam a mendicidade e o desemprego…”. Vale a pena a leitura completa para percebermos as propostas de Castilho para a informação e formação técnica dos agricultores e como seria feito o financiamento das coletividades Outro assunto, abordado por Castilho é o do exército que “é um mal, complexo de males sem número, e que só por uma necessidade absoluta se pode tolerar”. Vejamos as razões apresentadas por Castilho para a sua inutilidade: “Podemos nós ser conquistadores? Não. Logo se temos Exército, não é para a conquista. Temos que nos defender de estranhos? Não. Razões de mais alta política são as que por si nos defendem, e hão-de defender; e, quando elas cessassem, ou fossem vencidas, não haviam de ser estas nossas fileiras que nos salvassem, mas sim o Povo todo; os fortes, os fracos, os decrépitos, as crianças, as mulheres…. Será, portanto, para obviar a tumultos? Para coibir sedições? Para conservar boa ordem e regimento no Estado? A esta pergunta não precisamos de responder; bem respondida que ela está numa página de cinquenta léguas de largo e cem de alto, que há cinquenta anos temos cem vezes escrito, respançado e tornado a escrever com sangue de irmãos. Logo, se com um Exército nos consumimos, não é para bem da paz doméstica.” Teófilo Braga (Correio dos Açores, 32309, 16 de dezembro de 2020, p. 14)

sábado, 12 de dezembro de 2020

No tempo em que as vacas comiam erva

A Vila 1-15 de julho de 2010

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Os Maios na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo

A Vila, 1 de maio de 2010

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Aires Jácome Correia, Tolstói e a Educação

Aires Jácome Correia, Tolstói e a Educação De acordo com vários autores, entre os quais Gustavo Ramus, o escritor russo Liev Tolstói (1828-1910) ao defender o cristianismo primitivo, que se caracterizava pelo facto de os cristãos viverem à margem do estado romano, praticando a divisão de bens e partilhando alimentos, foi o precursor do anarquismo cristão. Para poder viver segundo os princípios que adotou, Tolstói fundou, em 1859, uma escola destinada aos filhos dos camponeses. Na referida escola, segundo Ramus, “adotou um sistema de ensino horizontal de livre experimentação, fechado pelo regime czarista alguns anos depois”. Edmond-Marc Lipiansky corrobora as afirmações de Ramus dizendo que na escola criada por Tolstói o único critério da pedagogia era a liberdade e o único método era a experiência. Tal como escrevemos em texto anterior, Aires Jácome Correia valorizava o ensino de uma profissão desde a mais tenra idade, isto é, defendia que o trabalho manual e o intelectual deviam ser ensinados paralelamente. Sobre a questão do trabalho manual, em carta escrita em outubro de 1887 a Romain Rolland, Tolstói também dava grande importância ao mesmo, tendo a propósito escrito que “na nossa sociedade viciada (na chamada sociedade civilizada) tem de se falar antes de tudo do trabalho manual, porque a falta principal da nossa sociedade foi e continua a ser hoje o desejo de se libertar do trabalho manual e de utilizar, sem o intercâmbio mútuo, o trabalho das classes pobres, ignorantes e deserdadas”. Aires Jácome Correia escreveu em várias publicações periódicas sobre o tema da instrução/educação, como “O Autonómico” ou a “Revista Pedagógica”. Nesta, manteve durante algum tempo uma rubrica com o título “Educar”, tendo dedicado, no número 202, de 11 de janeiro de 1912, o seu texto a Tolstói. Logo a iniciar o seu escrito, Aires Jácome Correia recorda que Tolstói foi obrigado a fechar a sua escola devido aos “princípios anárquicos que nela eram mantidos, como liberdade de aprender, de trabalho, de exatidão, de assistência à escola”. Tolstói, segundo Aires Jácome Correia, respeitava a individualidade de cada criança e defendia que “incutir uma maneira de ver, a nossa vontade, às crianças, é roubar-lhes uma parte da sua individualidade, falseando o seu gosto próprio, a sua apreciação.” Jácome Correia, depois de ter recordado que Tolstói “deixava as crianças resolver as suas questões conscienciosamente, segundo os seus instintos e os seus temperamentos” e que “não havia programas, os professores eram chamados a ensinar o que sabiam, como as crianças escolhiam o trabalho que preferiam”, escreveu o seguinte: “Tolstói, quanto ao meu espírito, está na verdade pedagógica, num ambiente de trabalho, desde o momento em que se tenha feito a abstração de tudo quanto não está submetido a esse trabalho e aos meios de o elaborar, as tendências dos indivíduos mais ou menos tarde, modificam-se e adaptam-se, submetendo-se às correntes sugestivas desse ambiente, dirigidas pela vontade imponente do mestre. Raciocinando sobre o seu princípio do respeito da liberdade individual, chega-se realmente a notar que os factos, as ações, as coisas, que para nós nos parecem fúteis ou inúteis, para uma outra inteligência que as veja e aprecie por uma forma diversa possam por elas ser transformadas em proveito da vida útil e da produtibilidade.” Aires Jácome Correia, depois de referir que Tolstói se baseou nas ideias libertárias e “na moral de Cristo, como Cristo a pregou e a expôs”, mencionou que se os resultados da escola por ele criada não foram muitos, as suas ideias espalharam-se por toda a parte e os seus livros e panfletos foram bem aceites. Por último, Aires Jácome Correia menciona o facto de Tolstói ter combatido o progresso, que sobrevaloriza o bem-estar material em detrimento das necessidades morais dos homens e para responder “aos seus desejos rústicos e simples, criou as regras da educação natural”. Teófilo Braga (Correio dos Açores, 32304, 10 de dezembro de 2020)

Espírito Santo

A Vila, 15 de maio de 2010

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

São João

A Vila, 1-15 de dezembro de 2010

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Aires Jácome Correia e a instrução popular

Aires Jácome Correia e a instrução popular Aires Jácome Correia, 1º Marquês de Jácome Correia, nasceu, em Lisboa, a 9 de agosto de 1882 e faleceu, em Genebra, na Suíça, a 24 de outubro de 1937. Herdeiro de uma grande fortuna e rico proprietário da ilha de São Miguel, Aires Jácome Correia, para além de ter escrito uma vasta obra sobre a história dos Açores e um livro sobre o arquipélago irmão, intitulado “A ilha da Madeira, Impressões e Notas”, fundou e dirigiu uma publicação de grande qualidade, a Revista Micaelense que se publicou entre 1918 e 1921. O papel de destaque que teve na sociedade micaelense do seu tempo foi tal que Alice Moderno, que contou com a sua preciosa colaboração na Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, sobre ele escreveu que depois de ter regressado à terra de seus pais trabalhou “esforçadamente pelo adiantamento moral, intelectual e material da mesma, e sacrificando-lhe todo o seu tempo e o melhor da sua fortuna.” No mesmo texto, publicado na Revista Pedagógica, de Maria Evelina de Sousa, no dia 9 de abril de 1914, Alice Moderno, depois de referir que Aires Jácome Correia era doador de todos os estabelecimentos de caridade, sobre a sua dedicação ao ensino/educação escreveu: “E no mais impulsivo gesto, com uma espontaneidade verdadeiramente original, ocupando todas as horas do dia tão utilmente como se tivesse de ganhar o pão quotidiano, ei-lo sustentando quase exclusivamente a Liga Micaelense de Instrução Pública, criando prémios e bibliotecas paroquiais, visitando escolas, adquirindo livros e quadros, e semeando, enfim, pela terra bendita da pátria, o tesouro da sua inteligência culta, da sua incansável boa vontade…” Sobre a dedicação de Aires Jácome Correia à instrução, Francisco Faria e Maia corroborou as afirmações de Alice Moderno, tendo escrito, na revista citada, o seguinte: “Quando muitos, nas mesmas condições pecuniárias, se servem do dinheiro para criar dependências pessoais que lhes consolidem o domínio de senhores e mandões, o nosso homenageado despreza com rara nobreza essa orientação vaidosa e mesquinha e só procura a gratidão anónima e impessoal da coletividade vindoira, por cujo progresso e felicidade ele pugna e trabalha, vindo a colocar-se ao lado dos esforços oficiais para impulsionar a instrução popular”. Termino este texto, apresentando uma das ideias sobre o funcionamento das escolas, defendidas, em 1912, por Aires Jácome Correia. Para Aires Jácome Correia, nas escolas o trabalho intelectual deve estar associado ao manual. Assim, defendia a existência nas escolas primárias, à semelhança do que acontecia no estrangeiro, oficinas que agrupassem ofícios de carpinteiro, marceneiro ou entalhador, permitindo que fossem ensinadas profissões. Como as escolas não as possuíam e como seria muito dispendiosa a sua instalação, Aires Jácome Correia defendia que os pais não deviam impedir os filhos de frequentar as oficinas da sua preferência. A defesa do ensino teórico associado ao prático era justificada por Aires Jácome Correia, nos seguintes termos: Assim como para o indivíduo que trabalha manualmente é preciso a distração das ciências, quer elas sejam história, geografia, filosofia, sociologia, direito, etc. para os indivíduos que aprendem lendo é indispensável o exercício muscular seja ele moderado ou violento.” No mesmo texto, Aires Jácome Correia destacou o nome de homens notáveis que gostavam de realizar trabalhos manuais, como o do professor do liceu e astrónomo amador João de Morais Pereira que “lavava casas”, o do comerciante e industrial Clemente Joaquim da Costa que “rachava lenha” ou o de José Jácome Correia, um dos mais ricos proprietários de São Miguel, que “lustrava botas”. Teófilo Braga (Correio dos Açores, 32299, 3 de dezembro de 2020, p.15)