quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Aires Jácome Correia e a instrução popular

Aires Jácome Correia e a instrução popular Aires Jácome Correia, 1º Marquês de Jácome Correia, nasceu, em Lisboa, a 9 de agosto de 1882 e faleceu, em Genebra, na Suíça, a 24 de outubro de 1937. Herdeiro de uma grande fortuna e rico proprietário da ilha de São Miguel, Aires Jácome Correia, para além de ter escrito uma vasta obra sobre a história dos Açores e um livro sobre o arquipélago irmão, intitulado “A ilha da Madeira, Impressões e Notas”, fundou e dirigiu uma publicação de grande qualidade, a Revista Micaelense que se publicou entre 1918 e 1921. O papel de destaque que teve na sociedade micaelense do seu tempo foi tal que Alice Moderno, que contou com a sua preciosa colaboração na Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, sobre ele escreveu que depois de ter regressado à terra de seus pais trabalhou “esforçadamente pelo adiantamento moral, intelectual e material da mesma, e sacrificando-lhe todo o seu tempo e o melhor da sua fortuna.” No mesmo texto, publicado na Revista Pedagógica, de Maria Evelina de Sousa, no dia 9 de abril de 1914, Alice Moderno, depois de referir que Aires Jácome Correia era doador de todos os estabelecimentos de caridade, sobre a sua dedicação ao ensino/educação escreveu: “E no mais impulsivo gesto, com uma espontaneidade verdadeiramente original, ocupando todas as horas do dia tão utilmente como se tivesse de ganhar o pão quotidiano, ei-lo sustentando quase exclusivamente a Liga Micaelense de Instrução Pública, criando prémios e bibliotecas paroquiais, visitando escolas, adquirindo livros e quadros, e semeando, enfim, pela terra bendita da pátria, o tesouro da sua inteligência culta, da sua incansável boa vontade…” Sobre a dedicação de Aires Jácome Correia à instrução, Francisco Faria e Maia corroborou as afirmações de Alice Moderno, tendo escrito, na revista citada, o seguinte: “Quando muitos, nas mesmas condições pecuniárias, se servem do dinheiro para criar dependências pessoais que lhes consolidem o domínio de senhores e mandões, o nosso homenageado despreza com rara nobreza essa orientação vaidosa e mesquinha e só procura a gratidão anónima e impessoal da coletividade vindoira, por cujo progresso e felicidade ele pugna e trabalha, vindo a colocar-se ao lado dos esforços oficiais para impulsionar a instrução popular”. Termino este texto, apresentando uma das ideias sobre o funcionamento das escolas, defendidas, em 1912, por Aires Jácome Correia. Para Aires Jácome Correia, nas escolas o trabalho intelectual deve estar associado ao manual. Assim, defendia a existência nas escolas primárias, à semelhança do que acontecia no estrangeiro, oficinas que agrupassem ofícios de carpinteiro, marceneiro ou entalhador, permitindo que fossem ensinadas profissões. Como as escolas não as possuíam e como seria muito dispendiosa a sua instalação, Aires Jácome Correia defendia que os pais não deviam impedir os filhos de frequentar as oficinas da sua preferência. A defesa do ensino teórico associado ao prático era justificada por Aires Jácome Correia, nos seguintes termos: Assim como para o indivíduo que trabalha manualmente é preciso a distração das ciências, quer elas sejam história, geografia, filosofia, sociologia, direito, etc. para os indivíduos que aprendem lendo é indispensável o exercício muscular seja ele moderado ou violento.” No mesmo texto, Aires Jácome Correia destacou o nome de homens notáveis que gostavam de realizar trabalhos manuais, como o do professor do liceu e astrónomo amador João de Morais Pereira que “lavava casas”, o do comerciante e industrial Clemente Joaquim da Costa que “rachava lenha” ou o de José Jácome Correia, um dos mais ricos proprietários de São Miguel, que “lustrava botas”. Teófilo Braga (Correio dos Açores, 32299, 3 de dezembro de 2020, p.15)

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