terça-feira, 18 de março de 2008

Anedota ou Talvez Não

Numa entrega de notas de final de período, um pai, ao ver as más classificações da filha,vira-se para esta e diz:

Minha filha, és tão burra que nem para professora serves.

domingo, 16 de março de 2008

Carta aberta aos encarregados de educação

Os professores e educadores estão em luta pela defesa da Escola Pública!
Neste momento delicado do ano escolar, quando a actividade lectiva está em pleno, quando decorre um processo de avaliação dos alunos em que a máxima serenidade deveria pontuar, os professores e educadores estão profundamente inquietos com o futuro da Escola Pública.
O Governo e os meios de Comunicação Social querem fazer crer à opinião pública que as recentes manifestações de professores e educadores visam reivindicações laborais egoístas e, muito concretamente, que os professores se recusam a ser avaliados.
TAL NÃO CORRESPONDE À VERDADE!
Efectivamente, os professores sempre têm sido avaliados: avaliados pelas provas prestadas, pelo trabalho diariamente desenvolvido e pelos resultados obtidos ; avaliados pelas acções de formação permanente que frequentam e as provas a que aí se sujeitam ; avaliados pelos colegas, pelos funcionários, pelas direcções das escolas e pelos serviços de inspecção do Ministério da Educação ; avaliados, ainda, pelos encarregados de educação que, em permanência, podem acompanhar a actividade desenvolvida pela escola junto dos seus educandos.
Para compreendermos a actual situação é necessário perceber que, mais do que um direito à educação e à instrução, a Escola Pública é um dever que envolve o Estado e os cidadãos.
O Estado tem, por esse motivo, a pesada obrigação de promover e manter uma Escola Pública com o máximo de ambição e qualidade. Por sua vez, os cidadãos - obrigados que são a frequentar a escola - têm todo o direito de exigir do Estado uma Escola onde as novas gerações possam beneficiar de uma vasta e segura formação que as capacite para o exercício pleno de uma vida adulta em sociedade.
Como profissionais do ensino - além de encarregados de educação e de cidadãos atentos que também são - os professores apercebem-se, em primeira linha, dos principais problemas que afectam a Escola e, desde sempre, têm vindo a alertar o Ministério para o tipo de mudanças que julgam ser as mais necessárias. O Ministério da Educação, para além de não ouvir os professores, tem vindo a pôr em prática, desde há muito, reformas que, apesar de terem alterado substancialmente a vida das escolas, nunca foram devidamente avaliadas.
Além disso, de há três anos para cá, o Ministério da Educação, confrontado com os fracos resultados obtidos pelos alunos, em comparação com os de outros países - e numa lógica baseada no cumprimento da agenda de Lisboa e dos prazos impostos pela União Europeia (2013) - achou por bem atribuir aos professores a responsabilidade pelo grave estado da educação em Portugal. É nesta linha que se insere uma avaliação do desempenho burocrática, penalizadora e hipócrita que apenas impede a progressão na carreira. O seu objectivo não é o verdadeiro sucesso escolar dos alunos, mas apenas produzir boas estatísticas em termos internacionais.
Estas medidas integram-se ainda num plano de contenção de despesas (encerramento de escolas, transferências de responsabilidades de gestão para os Municípios, medidas contra o ensino especial, etc.) de que só pode resultar a degradação da escola pública. As leis aprovadas (o Estatuto da Carreira Docente, o novo Estatuto do Aluno, as alterações ao regime do Ensino Especial, a alteração do modelo de gestão das escolas, o recurso a empresas para o fornecimento, em regime de trabalho precário, de monitores das Actividades de Enriquecimento Curricular no 1º Ciclo, a Escola a Tempo Inteiro, o programa Novas Oportunidades) apontam para a preparação de indivíduos para o mercado de trabalho precário, submissos e conformados a uma sociedade não democrática.
Os professores estão hoje unidos em defesa da Escola Pública, a única escola que, efectivamente, pode formar cidadãos emancipados e à qual todos, ricos ou pobres, têm garantido o acesso.
Apelamos assim aos encarregados de educação que juntem a sua voz à nossa para que, conjuntamente, saibamos definir os caminhos que levem à concretização de uma melhor escola para todos.
Esta carta aberta foi elaborada numa reunião de professores, educadores e encarregados de educação, realizada por iniciativa da Comissão de Defesa da Escola Pública, no passado dia 15 de Março, em Algés.

http://groups.google.com/group/escola-publica

escola.publica.portuguesa@gmail.com

quarta-feira, 12 de março de 2008

Acabou-se

Maria de Lurdes Rodrigues não tem condições para continuar a gerir o sistema de educação em Portugal. Porque já não é eficaz nessa função. Porque é um facto insofismável que o pessoal que ela administra não aceita a sua administração. Isso esvazia de conteúdo as suas funções. Já não está em causa a eficácia da sua política. A questão é que ela não vai conseguir implementar as boas ideias que tem, nem impor as más. O argumento de a manter no cargo para não "desautorizar" o Primeiro-ministro é falso e perigoso. Mantendo-a nas funções que desempenha a desautorização do governo de Sócrates é constante. Chegou a altura de ver que isso é mau para os alunos. Só podem ser eles quem está em causa. Não pode haver razões de defesa de imagem política que justifiquem esta intransigência porque a manutenção de um percurso de imposição administrativa começa a ser um risco de segurança nacional. É péssimo para o quotidiano escolar ter um sistema totalmente desautorizado com professores a desafiarem o governo e o governo a desautorizar-se em frémitos de afirmação de voluntarismo vazio.

Da necessidade de reformas sabe-se com fundamento científico desde o traba-lho de Ana Benavente que denunciou que um quarto dos portugueses mal sabia ler e que só dez por cento da população é que entendia completamente aquilo que está escrito. Mas esse estudo tem década e meia e nada de substancial foi feito no entretanto. Por isso, o que está em questão não é a avaliação de profes-sores. Apreciações de desempenho são meros pormenores de gestão de pessoal. O que é preciso, como consta de uma lúcida reflexão dos docentes da Escola Rainha D. Amélia, é fazer a escola cumprir com as suas funções na socialização de crianças e jovens. É promover a criação de hábitos de disciplina interiorizados que se multipliquem depois na vida adulta. Entre Cavaco Silva, o governante confrontado com o estudo de Ana Benavente, e José Sócrates, este processo de calamitosa estupidificação do país não foi interrompido por um projecto lúcido. O governo actuou agora como se o problema estivesse nos docentes e não no sistema de docência e nos curricula. Actuou como se o problema único de Portugal fosse o do excesso de privilégios e não o do defeito de cultura.

E assim as frágeis construções da demagogia política trouxeram, mesmo com a intimidação de PSPs à paisana e processos disciplinares da DREN, uma cen-tena de milhar para as ruas de Lisboa. E o Primeiro-ministro mostrou a sua fibra assistindo em silêncio ao martírio de Maria de Lurdes Rodrigues que se desdobrou nas TVs a tentar demonstrar o indemonstrável axioma socrático que a sua política é infalível e o défice de compreensão é do país. A resposta de Sócrates foi a de marcar uma manifestação de desagravo para o Porto. Primeiro era para ser na rua, depois numa praça, depois num pavilhão e vai sempre soar a falso no clamor sem fim das turbas dos indignados. Foi um contra-ataque ridículo no meio de muito comportamento bizarro. O Professor Augusto Santos Silva protagonizou o momento de infelicidade quando em Chaves quis assinalar os três anos de governação numa espécie de estágio para o anunciado comício do desagravo. Foi vaiado. Ripostou tentando conjurar os seus Manes. Invocou os nomes dos pais fundadores, dos velhos companheiros que diz serem os seus da luta que diz ser a sua. Salgado Zenha, Mário Soares e Manuel Alegre. E nenhum lhe respondeu. Tentou depois o exorcismo, amaldiçoando os seus demónios pessoais, os grandes e os mais pequenos. Álvaro Cunhal e Mário Nogueira. E nenhum lhe respondeu. Ouviu vaias cada vez mais altas e a voz embargou-se e disse: "eu não me calo...eles calam-se primeiro que eu." Depois repetiu, baixinho como que a querer convencer-se "...eles calam-se primeiro que eu". E não se calaram. Ao ouvir na Antena 1 este terrível registo de desgovernação só me ocorreram as sábias palavras de Juan Carlos para o tiranete venezuelano: "por que no te callas".


Mário Crespo, escreve no JN, semanalmente, às segundas-feiras (10.3.08)

domingo, 9 de março de 2008

VIDEO DA MANIFESTAÇÃO DE 6 DE MARÇO

Não vou falar aqui nas inverdades proferidas pelo Prof. Álamo Menezes a propósito do Estatuto da Carreira Docente dos Açores.

Basta fazer referência à primeira: eu também sou professor. A verdade é que ele nuna foi professor dos ensinos básico e secundário, ele apenas deu aulas. Ele é professor universitário e como tal com estatuto diferente do nosso.

sábado, 8 de março de 2008

Manifestação em Ponta Delgada (II)




Hoje, dia 8 de Março, os professores de São Miguel voltaram a manifestar a sua discordância para com a política educativa do Governo Regional dos Açores.

Como era minha obrigação marquei presença em ambas as manifestações.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Eles sabem tudo...

Esta semana, uma aluna, depois de ter confessado que não tinha aberto o manual escolar para estudar para o teste e que apanhou no mesmo uma nota muito baixa, dizia para um colega meu:

- o professor não pode dar muitas negativas, nesta turma, porque vai ter de o justificar.

Resposta do colega:

- Até sou capaz de justificar que a maior parte dos alunos desta turma não devia ter trânsitado o ano passado.

quarta-feira, 5 de março de 2008

MANIFESTAÇÃO EM PONTA DELGADA

Será que nos Açores estamos contentes com as reformas do sistema educativo?

Vamos lá acordar e manifestarmo-nos. Portas da Cidade!Dia 6 21 horas. Traz Apoiantes.

Reenvia.

(Recebido por telemóvel)

terça-feira, 4 de março de 2008

Açores- Uma Região de Pinheiros

Eu que pensava que era um "desperdício" o tempo que se dedicava a sensibilizar as pessoas para a importância da vegetação primitiva, ontém cheguei à conclusão que estava muito enganado.

De facto, depois de ouvir alguns alunos a dizer que as criptomérias eram pinheiros e que as acácias eram eucaliptos, acho que estamos a precisar de um currículo regional a sério e não para constar.

As associações de naturalistas e de defesa do património natural continuam a fazer falta.

sábado, 1 de março de 2008

Escolas, fábricas de precariedade do século XXI ??

Como prof. do ensino secundário, é triste para mim sentir que estou a entusiasmar alunos para estudarem, para serem aplicados nos estudos, mas com a certeza de que muitos, talvez os mais criativos (?), serão impiedosamente esmagados pela máquina de triturar do capitalismo, com as roupagens de hoje, através da chantagem do emprego precário.

Também é um sofrimento, evidentemente, como pai de três jovens (com 22,14 e 12 anos), que partilharão necessariamente as agruras da selvajaria de mercado, com os restantes da sua geração (e com os mais velhos).

Como revolucionário que participou anonimamente no «25 de Abril», apesar de derrotado (uma revolução que fica a meio caminho transforma-se sempre em contra-revolução), nunca me deixei adormecer no conforto relativo de uma situação «estabilizada» e
posso dizer que sinto enorme frustração/sofrimento: pensar que fizemos tantos esforços para derrubar o fascismo, para erguer um regime democrático e tentar dar corpo ao nosso sonho de um socialismo auto-gestionário... para chegarmos a «isto»...

Pois temos de aprender com as nossas próprias experiências e com as dos outros.

Temos de fazer vingar uma organização horizontal, flexível, democrática, com um modo assembleário de tomada de decisão, descentralizada, capaz de impulsionar as lutas onde elas surjam e de as sustentar, divulgar em todo o lado.

A luta contra a precariedade começa na escola? Não, ela começa em nós próprios. Temos de sacudir a canga de indiferença, de conformismo, de medo, de cobardia e pensar naquilo que está ao nosso alcance (ao meu, ao teu ao nosso) fazer para mudar uma situação.
Porque a precariedade já assume o papel de maior ameaça que paira sobre as cabeças das jovens gerações e portanto, sobre a das gerações mais velhas também, que olham para os jovens com amor e desespero ao vê-los quase desarmados, enfrentar a pior crise, que o capitalismo jamais fabricou.

Os profs precários são mantidos precários por vontade deliberada do ME, porque é ele que tem feito com que os lugares de quadros de zona sejam desviados do seu objectivo louvável inicial, o que explica porque cada novo ano lectivo haja cerca de 10% (é enorme!) dos professores colocados no INÍCIO do ano lectivo que são precários.
Isto significa que os quadros do ME são grosseiramente calculados abaixo das necessidades REAIS do sistema de ensino (cuja estimativa é fácil de fazer).
A mesma coisa se passa (ou pior ainda) com os auxiliares de acção educativa e com técnicos administrativos das escolas.
É preciso denunciar isto, com força.
É preciso explicar isto à sociedade civil em geral.

Mas apenas pela voz dos trabalhadores da educação (docentes e não-docentes) apenas pelo seu discurso directo se poderá compreender a dimensão humana desta tragédia, a repercussão gravíssima que tem na escola, na sua qualidade como um todo... por mais dedicados que sejam os nossos colegas com vínculo precário.
Se uma turma fica meses a fio sem prof., a culpa é do ME, não dos profs que desejam vir substituir um prof. com doença prolongada, ou uma prof. em licença de parto, ou outros casos.

A sociedade civil tem de compreender que o efeito da precariedade na escola é multiplicador, embora seja uma condição, infelizmente banalizada na sociedade em geral. Atrevo-me a considerar que na escola e na saúde, essa precariedade torna-se criminosa, pois é um ataque directo à qualidade dos referidos sistemas.

Manuel Baptista (a título individual)
Colectivo Luta Social


PS- Este é o depoimento de um colega de Lisboa, as minhas preocupações não seriam muito diferentes.