domingo, 27 de janeiro de 2019

Pata Cega ou Cabra Cega


Pata Cega ou Cabra Cega

O Dr. Urbano de Mendonça Dias escreve que este jogo, sem regras, é muito aceite pelas crianças que lhe acham muito engraçado.

Segundo ele, tapam-se os olhos a uma criança com uma venda, normalmente um lenço, consistindo o jogo na tentativa de aquela apanhar um dos restantes jogadores que andam de um lado para o outro e lhe tocam no corpo, perguntando quem lhe “bateu”. O jogador que for apanhado passa a ser o cabra cega.

Na descrição do jogo da autoria de três alunos, do ano letivo 1992/93, da Escola Preparatória da Horta, compilada pelo professor César Barreira, surgem algumas “regras” e há um diálogo entre os alunos. Assim, é escolhido um chefe de equipa que tira sortes para saber quem é o primeiro cabra cega.

Depois de escolhido o cabra cega e de lhe terem vendado os olhos, os restantes colocam-se em círculo envolvendo os dois e estabelece-se o seguinte diálogo:

Chefe- Cabra cega, donde vens?
Cabra cega- Venho do moinho.
Chefe- O que trazes?
Cabra cega- Farinha e farelo.
Chefe- Dá-me dela
Cabra cega- Não dou
Chefe- Para que é?
Cabra cega- Para fazer um bolo à minha velha
Chefe- Então vai ter com ela

O jogo prossegue com um dos participantes a bater nas costas do cabra cega, perguntando-lhe quem havia batido. Os jogadores fogem espalhando-se por um espaço previamente escolhido. Quando o cabra cega apanha alguém e se o reconhece, o apanhado passa a ser o novo cabra cega e o jogo recomeça.

De acordo com alguns alunos da turma B, do 9º ano de escolaridade do letivo 2018-19, a única diferença em relação ao descrito pelos alunos do Faial está no diálogo que é o seguinte:

Chefe- Cabra cega, donde vens?
Cabra cega- Venho do moinho.
Chefe- O que trazes para comer?
Cabra cega- Pão e vinho.
Chefe- Dás-me um bocadinho?
Cabra cega- Não dou
Chefe- Dás-me um “bocadão”?
Cabra cega- Não
Chefe- Então levas um empurrão.

Teófilo Braga
27 de janeiro de 2019

Imagem: http://varievo.com/infantil/brincadeiras-de-crianca-cabra-cega

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

A Lanterna, um jornal anarquista da ilha Terceira


A Lanterna, um jornal anarquista da ilha Terceira

Em 1915, publicou-se na ilha Terceira um jornal de expressão anarquista, intitulado “A Lanterna., tendo como redator principal Aurélio Quintanilha e como editor João Ávila. O jornal que era propriedade do Grupo Editor de A Lanterna, foi impresso em Ponta Delgada, na Rua da Fonte Velha 34 e 36 e a redação e administração sediada na rua Visconde de Bruges, em Angra do Heroísmo.

O jornal apresentava como lema iluminar “corajosa e serenamente, uma nesga dessa estrada que há de conduzir à emancipação as multidões sedentas de justiça e liberdade”

Os responsáveis pelo jornal logo no primeiro número, publicado a 10 de julho de 1915, não tiveram ilusões quanto às dificuldades que o mesmo iria encontrar no meio terceirense, tendo a propósito escrito o seguinte: “… mas não se imagine que temos qualquer espécie de ilusões quanto à sua vida e situação. Um jornal desta natureza deve desagradar a muita gente que procurará sem dúvida fazê-lo desaparecer” e acrescentaram “A Lanterna publicar-se-á enquanto puder. Uma vez, porém, que não possa publicar-se com a orientação delineada preferimos suspendê-la, ou suprimi-la mesmo, a acomodarmo-nos ao meio.” Tal como previram, as dificuldades surgiram e apenas mais um número foi publicado, a 25 de julho de 1915.

Os responsáveis pelo jornal tentaram, em vão, que o mesmo fosse impresso na ilha Terceira, mas nenhuma das três tentativas teve êxito, havendo até o caso de um dos proprietários das tipografias ter recebido ameaças de perdas de fregueses e de ver a sua casa destruída por uma bomba de dinamite. A referida carta anónima também denunciava Aurélio Quintanilha nos seguintes termos: “um dos redatores do jornal é o Aurélio que foi expulso do país como anarquista”.

Se relativamente à expulsão de Aurélio Quintanilha a afirmação não é verdadeira, no que diz respeito à sua militância em organizações revolucionárias não há qualquer dúvida. Com efeito, em 1915, Aurélio Quintanilha estava a estudar em Lisboa, primeiro na Faculdade de Medicina e depois na Faculdade de Ciências de Lisboa, tendo representado as Juventudes Sindicalistas num congresso internacional contra a guerra realizado em Ferrol, onde no dia 30 de abril terá sido detido e conduzido à fronteira com os restantes portugueses presentes.


Embora não haja referência explícita, sabemos que na rua da Fonte Velha, 34 e 36 localizava-se a residência e a Tipografia de Alice Moderno, ativista do movimento de defesa dos direitos das mulheres e dos direitos dos animais, tendo sido uma das fundadoras e principal dirigente da SMPA- Sociedade Micaelense Protetora dos Animais. Assim sendo, os dois números do jornal só foram possíveis devido ao espírito de abertura e tolerância de Alice Moderno.

No primeiro número, destacamos, para além de uma crónica internacional, uma seção literária, uma rubrica intitulada Lira Revolucionária, onde é transcrito o poema “O Pão” de João de Barros, outra denominada Feixes de Luz, que dá a conhecer várias citações e um apelo do grupo editor de “A Sementeira” e uma Revista de Jornais..

Assinado por AC (Aurélio Quintanilha?) há um pequeno texto sobre o Esperanto que é apresentado como uma língua que é um dos “meios de propaganda para conseguir o aniquilamento das fronteiras e a consequente fraternidade dos povos”.

Como textos principais, destacamos um, assinado por um caixeiro, intitulado “Os caixeiros e a regulamentação das horas de trabalho”, outro da responsabilidade do Comandante Peary sobre “Os esquimós do Polo Norte” e “A criança de mama”, da responsabilidade de Michel Petit.

No texto sobre a duração do horário de trabalho, depois da apresentação de vários argumentos a defender a sua redução sob o ponto de vista moral, intelectual e de saúde, o articulista denunciou a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo por não ter regulamentado a legislação nacional, o que fazia com que os caixeiros estivessem a ser “roubados em duas horas de trabalho por dia”. O artigo termina com um apelo à união da classe dos caixeiros nos seguintes termos: “Temos pelo nosso lado a Razão e a lei. Mas isto como se vê não basta. É necessária pois, que nos unamos para termos também a força”.

No texto sobre os esquimós, o autor descreve uma sociedade que poderia ser modelo para as ditas civilizadas. Sobre o assunto, podemos ler o seguinte: “são selvagens, mas não são brutos; não têm nenhuma forma de governo, e no entanto, não são desordenados, nem licenciosos, se se julgarmos pela nossa maneira de entender a educação, não são educados, mas são dotados d’uma inteligência desenvolvida em alto grau ….Sem religião, e sem a menor ideia de um Deus, repartem a sua comida com qualquer faminto. Considera-se, entre eles, uma coisa natural, o auxílio aos desvalidos e aos anciãos”.

Por fim, no texto sobre as crianças, são abordados temas como os maus tratos às que são indesejadas, a alimentação e a mortalidade infantil.

O segundo, que também foi o último, número do jornal, apresenta como temas principais, o parlamentarismo, o ensino, a regulamentação do trabalho no comércio e a guerra/paz.

A questão do parlamentarismo foi abordada por Aurélio Quintanilha que denunciou as guerras partidárias, a farsa das eleições e a incompetência dos parlamentares e apontou como caminho a aposta nas associações de classe.

Sobre a (in)competência dos parlamentares, Aurélio Quintanilha escreveu: “Assim é que, sobre qualquer medida apresentada no parlamento, votam, conscientemente, uma meia dúzia de deputados, apenas os que têm conhecimentos específicos sobre esse ramo da atividade humana. De facto, quem resolve, quem aprova ou reprova é sempre – e será sempre enquanto houver parlamento – uma maioria esmagadora de incompetentes. Verdade à primeira vista paradoxal, mas perfeitamente demonstrada, teórica … e praticamente.

Por cima de tudo isso há ainda a acrescentar que, na prática, a representação da soberania popular é uma comédia. A maioria é sempre do governo, e os deputados em vez de representarem a vontade do povo, representam, mas é a vontade dos chefes dos partidos ou das comissões políticas que os fizeram eleger.”

Sobre o estafado argumento de que é preciso votar, não deixando a decisão nas mãos dos outros Aurélio Quintanilha escreveu:

“Se se entende por coisa pública a maior ou menor probabilidade que cada um tem de se alimentar, segundo as suas necessidades, de habitar uma casa higiénica, de poder educar e dar uma profissão aos seus filhos, então estamos de acordo - ninguém se deve alhear da coisa pública.

No que discordamos com certeza é quanto à maneira porque cada um se deve interessar pela coisa pública, ao passo que eles entendem que é votando neste ou naquele cavalheiro, que depois ainda se ri dos parvos que o elegeram, eu sou de parecer que esse interesse deve manifestar-se por intermédio das associações de classe, organizadas para a luta pelo bem estar moral e material dos seus associados, para a criação de consciências retas e vontades firmes, que possam ir desde já abrindo caminho a uma organização social mais justa, mais humana e igualitária.”

Sobre a questão do horário de trabalho dos caixeiros, o autor do texto lamentou que a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo não tenha feito nada, continuando os trabalhadores do comércio a serem prejudicados em relação aos seus colegas de outras localidades. Sobre o assunto podemos ler:

“Quando qualquer pobre diabo rouba um pão, para matar a fome, vai para a cadeia; mas os snrs. do município de Angra continuam à solta depois de terem roubado à nossa classe centenas de horas de trabalho – e trabalho é dinheiro.”

Relativamente ao ensino, o jornal contrapõe ao ensino neutro estabelecido pelo República em 1911, o ensino racionalista proposto por Ferrer, “que tem como meio a razão, e como guia a ciência”.

O texto sobre a guerra é um Manifesto da Conferência Internacional das Mulheres Socialistas que denuncia quem ganhava com a guerra, como os fabricantes de armamento, alertando para o facto de com ela os trabalhadores nada terem a ganhar, arriscando-se “a perder tudo o que lhes era querido.

O texto referido termina com um apelo às mulheres nos seguintes termos:
“Toda a humanidade tem os olhos em vós, trabalhadoras dos países em guerra. Deveis ser vós as heroínas, as libertadoras.
Uni-vos numa só vontade, numa só ação!

Proclamai incessantemente: Os trabalhadores de todos os países são um povo de irmãos. Só a vontade unida desse povo pode por termo à guerra. Só o socialismo poderá trazer à humanidade uma paz duradoira!”

Teófilo Braga
(A Batalha, VI Série- Ano XLV- n~282, Nov/Dez 2018)

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Jogo da Barca ou do Barqueiro


Jogo da Barca ou do Barqueiro

Para este jogo recomenda-se a participação de mais do que dez jogadores.
Dois deles, os barqueiros, combinam entre si um nome para cada um (prenda), que pode ser uma fruta, por exemplo, ananás e maçã, o nome de uma planta, de uma freguesia, etc. Os restantes colocam-se, em fila, atrás uns dos outros, cada um com as mãos nos ombros do da frente.
Os barqueiros ficam em frente um do outro com os braços levantados, formando um arco por onde os demais passam, cantando o seguinte:

Que linda barquinha que lá vem
É uma barquinha que vem de Belém

Vou pedir ao senhor barqueiro
Que me deixe passar,
Tenho filhos pequeninos,
Não os posso sustentar.

Os barqueiros respondem:

Passará, passará
Mas algum deixará
Se não for o da frente,
Há-de ser o de trás.

Em determinado momento os barqueiros baixam os braços e um dos participantes fica dentro da barca. Quando isto acontece, aqueles perguntam qual das prendas prefere. Depois da escolha, este vai para trás do barqueiro correspondente.

O jogo continua até que acabem os participantes que estavam na fila. Quando isto acontece todos dão as mãos e cada grupo puxa para o seu lado até que um solte a mão, perdendo a sua equipa que vai para o “inferno”. A equipa ganhadora vai para a “barca de Nossa Senhora”.

A descrição deste jogo baseou-se na feita pelos alunos Dora Gaspar, Alexandra Teixeira e Mónica Silva, da Escola do Ciclo Preparatório da Horta e por alunos do 9º ano, turma B, da Escola Secundária das Laranjeiras, do ano letivo 2018-2019.

Para os alunos da Escola das Laranjeiras a primeira quadra é difere um pouco da apresentada acima, sendo:

Senhores passageiros
Deixem-nos passar
Tenho muitos filhos
Para sustentar

22 de janeiro de 2019

Bibliografia
Barreira, C. (1993). Jogos Tradicionais. Horta: Edição do organizador.

Imagem daqui: https://www.youtube.com/watch?v=EB_7JBk2-BM