terça-feira, 27 de setembro de 2016

A Ulmeiro e os Açores


A Ulmeiro e os Açores

Tal com tem acontecido ultimamente, sempre que por algum motivo me desloco a Lisboa, visito a Livraria Espaço Ulmeiro que foi fundada em 1969.

Desta vez, para além da aquisição de revistas, que nunca tiveram circulação nos Açores ou que chegaram cá apenas para meia dúzia de interessados, e de livros de autores açorianos ou sobre a nossa terra que se encontram esgotados, procurava informações sobre o conceito de Escola Comunitária que terá sido implementado em Portugal na década de 60 do século passado.

Der acordo com informação colhida até ao momento, nos Açores, terão funcionado algumas Escolas Comunitárias no Faial, em São Jorge, na Terceira, em São Miguel e em Santa Maria. Do grupo central “dirigente” das Escolas Comunitárias fez parte a faialense Yolanda Corsépius e como colaborador figurava José Antunes Ribeiro então ligado à ITAU e hoje editor e livreiro da Livraria Espaço Ulmeiro.

No que diz respeito à ligação entre a Ulmeiro e os Açores tomei conhecimento de que a mesma editou, entre outras, algumas obras de Antero de Quental, como “O que é a internacional (1980), “Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX” (1982) e “Causas da decadência dos povos peninsulares” (1987), de Teófilo Braga editou “História do Romantismo em Portugal” (1984), de Álamo de Oliveira editou “Triste Vida Leva a Garça”(1984) e de Ivone Chinita editou “Peste Malina” (1983).

Durante a minha visita à Livraria descobri a revista “Pensamento” que, em 1932, no terceiro ano da sua publicação se apresentava como órgão do Instituto de Cultura Socialista, sendo propriedade do Grupo Editor “Pensamento” e mais tarde, em 1938, se anunciava como “revista quinzenal de divulgação social e científica, arte e literatura”, sendo seu proprietário António Martins., embora mantivesse a mesma linha editorial.

O número 27 da revista trazia, entre outros artigos, um extrato das Conferências do Casino, de Antero de Quental, e o número cento e quatro um texto de Júlio de Almeida Carrapato intitulado “Em torno da arte social de Antero”.

Neste texto, o autor escreve que, segundo Antero de Quental, “não é de Poesia que a humanidade precisa: é de ideias” e cita “Afinal, aquilo de que o mundo mais precisa, nesta fase de extraordinário obscurecimento da alma humana, é de ideias, é de filosofia”…”e a Poesia, voltando a adormecer nos recessos mais misteriosos do coração do homem, tem de ficar à espera até que o novo símbolo se desvende e novas Ideias lhe forneçam um novo alimento, lhe insuflem nova vida… e então voltará a cantar.”

Em Antero há quem queira destacar o santo. O autor referido escreve, citando o próprio Antero, que o grande homem vale mais do que o santo” e também refere: “Para a mocidade, creio-o profundamente, a faceta de mais interesse na complexa personalidade de Antero não é a do schopenhauriano pessimista mas outrossim a do revolucionário e herói altruísta e profundo”.

Nesta minha visita, que é quase uma peregrinação periódica, também fiquei a saber que a Ulmeiro manteve relações com a cooperativa Sextante. Esta foi fundada em 1970 por Eduardo Pontes, Jorge Lopes e Manuel Barbosa e foi extinta em 1971, segundo a historiadora Irene Pimentel, por decisão do Conselho Superior de Segurança Publica, por proposta da Direção Geral de Segurança, acusada, tal como as restantes que também foram obrigadas a fechar a porta, de “instigação a desobediência coletiva às leis”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31049, 28 de setembro de 2016, p.18)

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Thomaz Hickling e a proteção às aves (II)


Thomaz Hickling e a proteção às aves (II)

Neste texto, continuarei a apresentar as razões que levaram Thomaz Hickling a não estar de acordo com o combate aos chamados “pássaros daninhos”.

Depois de ter citado um autor norte-americano, Thomaz Hickling menciona o agrónomo
Bernardino de Saint Pierre que depois de referir que os insetos daninhos podem arruinar os grãos e os frutos e as próprias pessoas acrescenta que “os pássaros dos bosques são suficientes para limpar os campos, contanto que se proíba os passarinheiros apanhá-los”

Thomaz Hickling na segunda parte do seu texto, apresenta, por ordem decrescente as dez principais causas dos prejuízos agrícolas, na ilha de São Miguel, que são as seguintes:
1- O Homem, que corta e arranca e não replanta;
2- A alforra;
3- A seca;
4- As chuvas;
5- Os ventos;
6- O rocio;
7- Os bichos (insetos);
8- Os ratos;
9- A ignorância, considerada dez vezes mais prejudicial do que os pássaros;
10- Os pássaros.
Thomaz Hickling, não negando os danos causados pelos pássaros, não admite “a impropriedade d’eleger um mal maior para evitar um menor” e acrescenta que não conhece nenhum meio tão eficaz como os pássaros “para a extinção de bichos e insetos”.

Por último, Thomaz Hickling lançou o seguinte desafio, que terá caído em saco roto:

“Á vista de todo o sobredito, quisera eu que se convocassem de dez até vinte lavradores de todos os pontos da ilha perante uma Comissão formada d’alguns Senhores Membros da Associação Agrícola Micaelense, para responderem separadamente, e sem uns ouvirem os outros, aos dez quesitos apontados, insistindo-se com especialidade no décimo, e exigindo d’eles que declarem em suas consciências, se entendem que o mal produzido pelos pássaros é ou não extenuado por alguma utilidade. Por este modo ou será confirmada a Sentença contra os pássaros, ou serão absolvidos, poupando-se tanto trabalho e tantas despesas.”


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31048, 27 de setembro de 2016, p.18)

Fotografia: Diogo Caetano

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

A ilha Verde de Maria Lamas


A ilha Verde de Maria Lamas

Acabei de ler o romance “A Ilha Verde” da autoria da escritora Maria Lamas, bem como extratos do seu livro “As mulheres do meu país”. Em ambas as obras a autora, que conheceu muito bem os Açores, onde foi sempre muito bem recebida, fala da nossa terra como uma açoriana que sente orgulho na sua terra, não ignorando aquilo que merece ser melhorado.

Antes de fazer algumas referências ao citado romance, apresento uma breve nota biográfica da autora.

Maria da Conceição Vassalo Lamas foi uma escritora, tradutora, jornalista e uma cidadã que interveio quer cívica quer politicamente tanto durante o Estado Novo quer após o derrube deste. Nasceu em Torres Novas, a 6 de outubro de 1893 e faleceu aos 90 anos, em Lisboa, a 6 de dezembro de 1983.

De acordo com João Mário Mascarenhas, antigo diretor da Biblioteca-Museu República e Resistência, Maria Lamas foi “uma Mulher que nunca vacilou na defesa dos direitos humanos e políticos em Portugal e se bateu – de forma energética – pela plena assumpção da igualdade de oportunidades – num Portugal retrógrado que penalizava os seus melhores e perseguia politicamente com o exílio, o desterro e a prisão aqueles que ousavam levantar a sua voz contra a guerra, as torturas, as indignidades, o analfabetismo e a discriminação social, sobretudo das mulheres”.

Tendo vivido intensamente o 25 de abril de 1974, depois daquela data aderiu ao PCP. Foi presidente honorária do Movimento Democrático das Mulheres, desde 1975, e dirigiu a revista “Mulheres”, criada em 1976. A 25 de abril de 1980 recebeu, das mãos do presidente da República, General Ramalho Eanes, a Ordem da Liberdade.


O livro “A Ilha Verde”, editado em 1938, pela Editorial “O Século”, para além de ser “um romance de amor intenso que decorre no cenário maravilhoso da ilha de S. Miguel” é um autêntico roteiro do património cultural e natural, onde a autora refere os principais pontos turísticos da ilha, menciona algumas tradições e aborda, ao de leve, alguns aspetos da sociedade micaelense, como a pobreza, a emigração, a relação entre os “senhores” da ilha e os restantes habitantes, etc.

Sobre os Açores, Maria Lamas escreve: “ilhas de fantástica beleza, adormecidas ainda na serenidade do mistério inicial, quási ignoradas do grande turismo que tudo vulgariza”.

Os romeiros são, segundo a autora, “figuras primitivas, arrancadas a velhos retábulos, evocações vivas dos peregrinos de antanho, a correr mundo em romagem de penitência e humildade”.

A procissão dos enfermos do Vale das Furnas é também descrita com pormenor. Sobre o assunto, Maria Lamas escreve: “Cada morador toma a seu cargo a extensão de rua correspondente à casa em que habita, e as azáleas de todas as cores, que mal desponta abril, transformam o Vale das Furnas em jardim magnífico, vêm, aos braçados, cobrir o chão por onde há-de passar Aquele que, um dia, ensinou aos homens o sentido universal da palavra irmão”.

Muito mais poderia mencionar neste texto, como a procissão do Senhor Santo Cristo, um império do Espírito Santo em Rabo de Peixe ou uma subida à Lagoa do Fogo de burro, a partir de Água de Pau, mas por razões de espaço termino com a seguinte referência ao ilhéu de Vila Franca do Campo: “A caldeira circular, que lhe fica no interior e onde a água do mar tem a serenidade e a transparência de um lago, tudo suplanta. O entusiasmo foi geral. Mais bela piscina natural ninguém tinha visto”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31043, 21 de setembro de 2016, p.18)

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Thomaz Hickling e a proteção às aves (I)



Thomaz Hickling e a proteção às aves (I)

Em texto anterior fiz referência à iniciativa da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense (SPAM) de combater os “pássaros daninhos”. Na altura, o Padre João José do Amaral divulgou, no jornal daquela organização “O Agricultor Micaelense”, dois textos de publicações estrangeiras contra aquela prática.

No mesmo jornal, também, se manifestou contra Thomaz Hickling que apresentou vários argumentos para justificar a sua opinião baseada em reflexões pessoais “corroboradas com autoridades não suspeitas”.

Depois de afirmar que tinha “por indubitável que, em vez de deverem reputar-se “Praga” os habitantes do ar, a eles somos devedores da maior, e até da melhor parte de nossas colheitas”, Thomaz Hickling sintetiza as suas razões no texto seguinte:

“Os pássaros, além da deliciosa harmonia dos seus gorjeios, em que desde a primavera até certo tempo nos enlevam, e mimoseiam, parecendo proclamarem as obras maravilhosas da criação, e a glória excelsa do Criador, ocasionando ao homem a elevação da sua alma à contemplação das cousas Divinas, alimpam os campos da inumerabilidade d’insetos, e vermes, que os infestam; compensando d’esta arte, e mui abundantemente, o insignificante mal, que produzem, o qual nunca é tanto como o que d’ outras causas é proveniente”.

O primeiro perito na matéria citado por Thomaz Hicking é o americano Jorge Emerson que refere que os pássaros são aliados do homem, nos seguintes termo: “Há muitas espécies de pássaros, cujo auxílio é indispensável à subsistência humana, e aos quais, por nossa ignorância, e perversidade, fazemos guerra, como se fossem nossos inimigos”.


Outro autor norte-americano, cujo nome não é referido, depois de afirmar que “se não houvesse aves, que refreassem esses enxames d’insetos vorazes, que nos circundam, é crível que seria inabitável o nosso país”.
(continua)

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31042, 20 de setembro de 2016, p.18)

domingo, 18 de setembro de 2016

Eclipse parcial do Sol


Açoriano Oriental, 12 de agosto de 1999

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A propósito das pragas no século XIX

A propósito das pragas no século XIX

Há diferentes definições para o vocábulo praga. Caroline Faria na página brasileira InfoEscola escreve que “Praga biológica é um termo que pode ser utilizado para designar organismos que, quando se proliferam de forma desordenada ou fora de seu ambiente natural, podem causar algum tipo de dano ao ambiente, às pessoas ou à economia”.

Entre nós, no século XIX, o termo praga, segundo Francisco Maria Supico era usado para designar “as aves daninhas à agricultura”. Francisco Supico no jornal “Persuasão”, publicado no dia 4 de setembro de 1895, refere que a Câmara Municipal de Ponta Delgada, em 1839, “premiava com razoável quantia quem lhe apresentasse cada dúzia de bicos daquelas aves, que se inutilizavam cuidadosamente para evitar burlas”. Ainda de acordo com a mesma notícia, em 1895, a praga já não eram as aves mas os ratos.

Através da “Persuasão”, de 8 de julho de 1896, fica-se a saber que a perseguição às aves já se fazia no século XVIII, existindo uma postura em cuja certidão, passada a 13 de maio de 1792, obrigava a “que todos os lavradores hortelões, ou quaisquer outras pessoas sem exceção que cultivarem terras, quintas, vinhas ou matas, ou sejam próprias ou por arrendamento, tragam à Câmara duas cabeças de pássaros por cada um alqueire de propriedade que assim lavrarem ou cultivarem, até ao fim do mês de junho de cada um ano, com pena de pagarem 10 reis por cada uma das cabeças com que faltarem até à quantidade de dois moios de terra, ou de qualquer outra propriedade que tiverem por sua conta”.

Muitas posturas se seguiram até ao último ano em que a Câmara de Ponta Delgada cobrou o imposto de praga. De acordo com Supico, tal ocorreu no ano de 1875-1876, sendo o valor recebido de 296554 reis.

Mas, que aves eram incluídas na categoria de praga?

Ainda de acordo com a mesma fonte, no século XVIII todas as aves “eram condenadas ao extermínio”, na postura de 1824 não eram abrangidas “as codornizes, galinholas e perdizes, “para caça da mocidade que devesse dar-se a esse entretenimento nobre”” e na última, a de 1842, eram perseguidos o canário, o melro-negro e o tentilhão.

Em relação ao número de aves mortas, em Ponta Delgada, o Açoriano Oriental estimava que “para mais de 40 000 cabeças de praga daninha foram entregues às chamas”, em 1851. Em 1854, foram queimados, em Ponta Delgada mais de 100 000 “bicos de praga daninha” e no ano seguinte só entre 1 de janeiro e 23 de fevereiro foram queimados 39 067 bicos.

Mas os massacres não ocorreram só em Ponta Delgada, por exemplo em Vila Franca do Campo no ano de 1834 foram mortas 32 968 aves, em 1835, 18 109, e em 1836, 39 247.

Francisco Maria Supico, na Persuasão do dia 14 de setembro de 1898, menciona o “brutal e perigoso emprego de veneno”, arsénico, para ajudar no combate às aves durante alguns anos. Segundo ele “a selvajaria do emprego do arsénico para matar pássaros, não continuou. Desde logo se lhe reconheceriam os grandes perigos”.

A perseguição às aves não mereceu a unanimidade da sociedade micaelense, não tendo merecido a aceitação por parte do Padre João José do Amaral e de Tomaz Hickling.

A propósito da contestação ao combate à praga, Francisco Maria Supico escreveu:

“Tantos anos decorreram e tantas gerações se sucederam a praticar estes dois males: matar inocentes e cercear interesses agrícolas.

Porque afinal veio a conhecer-se que é menor o mal causado pelos pássaros do que o benefício que eles produzem nutrindo-se da bicharada que se desenvolve nos terrenos”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31037 de 14 de setembro de 2016, p. 16)

terça-feira, 13 de setembro de 2016

A Tração animal no século XIX


A Tração animal no século XIX

Durante séculos, algumas pessoas e associações lutaram contra o abuso de que eram vítimas os animais usados para puxar carroças, muitas vezes famintos e doentes.

Entre nós, a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais fundada, entre outros, por Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa, dedicou os primeiros anos da sua existência a procurar melhores condições para sobretudo bois e cavalos, quer alertando as autoridades para os maus tratos de que eram vítimas, quer combatendo o uso da aguilhada, quer propondo a melhoria dos caminhos por onde passavam os veículos de tração animal.

Hoje, apesar da evolução dos meios de transporte, os animais continuam a ser usados para transporte de cargas, muitas vezes superiores às suas forças, pelo que algumas organizações continuam o combate pela sua libertação da exploração e maus-tratos.

Outras entidades, entendem que os animais não-humanos não devem ser objeto de posse nem de propriedade pelo que, por princípio, recusam o seu uso para qualquer fim, como é o caso da tração animal, circos, touradas, etc.

No século XIX, a situação era um pouco diferente. Assim, se lermos “O Agricultor Micaelense”, de 1844, concluiremos que para além da questão dos caminhos também se defendia a construção de carros mais adequados. Assim, enquanto uns diziam que “carros d’outra qualidade…não podem resistir a caminhos tão maus; nem os bois tinham forças par os puxar por uns pisos tão descompostos e bravios”, outros argumentavam “que é um errado pressuposto o cuidar-se, que não se haveriam melhor com os caminhos ruins os carros bons do que os maus”.

A terminar, o autor do texto defende “que antes e primeiro de tudo, nós nos devemos arremessar aos carros e obriga-los por todo os modos, pela persuasão e pela força, a transformar-se e civilizar-se para interesse comum dos viandantes e transportes; e até para benefício dos bois, de seus condutores e de seus donos”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31036, 13 de setembro de 2016, p.16)

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

VegAçores na revista "NO"de Setembro de 2016


Mentiras e inverdades




O aficionado Vítor Rui Dores gosta da tortura de touros e cavalos

Um indivíduo que dá pelo nome de Vítor Rui Dores sempre que pode escreve ou fala em apoio da tortura de touros e de cavalos, isto é da tauromaquia, que anda a passar por maus bocados, pois cresce em todo o mundo o número daqueles que acham que tal prática não faz qualquer sentido nas sociedades do século XXI.

Mas, ao contrário do que seria de esperar, o individuo em questão sempre que fala sobre o assunto não acrescenta uma linha ao que qualquer aficionado de meia tijela é capaz de vomitar pela boca para fora.

Em entrevista à TSF, transcrita no Açoriano Oriental, do passado dia 7 de agosto, o senhor Dores começa por afirmar que na Graciosa existe a única praça de touros no mundo situada na cratera de um vulcão. Ao contrário do que ele pensa tal facto não é orgulho para ninguém, pois no mundo de hoje o que se assiste é à demolição de praças de touros ou a sua adaptação para outros fins, como centros comerciais, centros desportivos ou centros culturais, onde a tortura de animais não é permitida.

Com vistas curtas ou com palas nos olhos, o senhor Dores conhece um estudo que afirma que as touradas à corda contribuem com 11% para o PIB da Terceira e desconhece outro da autoria de Tomaz Dentinho e de João Paes que afirmam que as touradas apenas representam 0,6% do PIB.

De acordo com o Açoriano Oriental o senhor Dores pensa “que 11% do PIB da Terceira está relacionado com as touradas, porque as pessoas compram muita cerveja e bifanas durante as touradas à corda”. Se o senhor em questão não tivesse a idade que tem diria que a afirmação não passava de “coisa de rapazes” como já devia ter idade para ter juízo nada temos a acrescentar.

Como já tivemos a oportunidade de escrever termino esta nota desnecessária, afirmando “que tal como acontece com qualquer tipo de espetáculo, as touradas não são uma atividade produtiva, não contribuindo em nada para a economia real. Será que contribuem para melhorar a vida das pessoas os seguintes contributos para o PIB mencionados no estudo: o dinheiro pago aos ganadeiros (transferência de dinheiro para particulares), o pagamento de licenças (transferência de dinheiro para as autarquias), o consumo de comidas e bebidas (na maioria a partir de produtos importados e que aconteceria na mesma se a tourada fosse substituída por outra atividade festiva) ou o combustível e o desgaste de veículos de quem se desloca para as touradas (que estarão associados a um aumento da importação de derivados do petróleo e de carros ou peças para os mesmos), despesas dos hospitais com os feridos (em média, 300 por ano) e com as funerárias em casos de mortes (em média, uma por ano).


José Ormonde
10 de setembro de 2016

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Maria Machado


Maria Machado uma açoriana resistente ao Estado Novo

Maria Machado (1890-1958), que usou o pseudónimo de Rubina, foi uma professora primária natural da ilha de São Jorge, tendo sido, de acordo com Pedro Benjamim, um dos mais destacados dirigentes do PCP – Partido Comunista Português, oriundo dos Açores, durante o Estado Novo.

Maria Machado nasceu na Vila da Calheta, a 25 de Fevereiro de 1890, tendo-se destacado, segundo o jornal Avante, de 26 de fevereiro de 2015, “desde muito cedo pelo seu empenhamento no combate contra a ignorância e o obscurantismo, que grassava não só nos Açores como por todo o País. Assumindo o ensino como ferramenta essencial para a aquisição de consciência social e cultura integral, Maria Machado funda uma biblioteca para os alunos da escola, que logo abre à restante população”

De São Jorge Maria Machado ruma a Lisboa onde nas escolas onde trabalhou utiliza os mesmos métodos inovadores baseados nos princípios da «Escola Activa» que já utilizava na sua terra.

Foi detida pela PVDE pela primeira vez a 1 de agosto de 1936 por ser professora de Português na Liga dos Esperantistas Ocidentais, que segundo as autoridades era “considerada um baluarte do PCP e das Juventudes Comunistas”. Esteve presa na Cadeia das Mónicas entre Setembro e Dezembro daquele ano.

Depois de ter viajado para os Açores em 1937, no ano seguinte instala-se em Paris onde desempenha tarefas no Comité da Frente Popular Portuguesa e foi delegada do PCP junto do PCF – Partido Comunista Francês.

Regressou a Portugal em 1942, tendo a partir de então ficado ligada às tipografias clandestinas do Avante.

Maria Machado é conhecida na história do PCP pelo facto de ter conseguido queimar toda a documentação existente na casa onde estava instalada uma tipografia clandestina do órgão oficial daquele partido, o jornal Avante, na localidade de Barqueiro, perto de Alvaiázere.

No assalto à tipografia que ocorreu em 1945, Maria Machado sacrificou-se, permitindo que, para além da destruição de documentos comprometedores, se salvassem outos dois militantes clandestinos.

De acordo com Ana Barradas, Maria Machado no seu percurso até ao posto da GNR aproveitou para informar as pessoas que não eram gatunos, mas gente amiga do povo e honrada. Durante o interrogatório, recusou-se a prestar declarações “por dever de comunista e por respeito à sua própria pessoa”.

Fernando Gouveia, no seu livro “Memórias de um inspector da PIDE 1. A organização clandestina do PCP”, que desvaloriza a importância de Maria Machado, afirmando a dado passo que era uma “senhora já com boa idade para ter juízo”, não nega que ela enganou o cabo da GNR, permitindo assim a fuga de dois militantes.

Na sequência deste caso, Maria Machado foi no ano seguinte, 1946, condenada a vinte e dois meses de prisão.

Para além desta prisão, Maria Machado voltou a ser presa em dezembro de 1953, sendo libertada em janeiro de 1954, tendo ocorrido o mesmo em Abril de 1954, tendo sido libertada em outubro do mesmo ano.

Proibida de ensinar, para sobreviver teve de se empregar como governanta numa casa particular e bordar tapetes de Arraiolos.

Faleceu a 4 outubro de 1956, depois de ter visto a sua saúde muito debilitada como resultado de privações e torturas.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31031 de 7 de setembro de 2016, p.16)

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Abate zero


Depois de inaugurado, a 27 de abril de 2007, e de ter sido licenciado como Centro de Recolha Oficial de Animais de Companhia de Ponta Delgada, o Canil Municipal de Ponta Delgada, segundo um dos seus responsáveis irá comemorar os 10 anos de existência com a implementação de uma política de abate zero.

Embora ache que o que se tem feito, ou melhor a política que tem sido seguida até aqui, na esmagadora maioria dos canis de todo o país, não deve ser orgulho para ninguém, não havendo, portanto, razões para comemorar seja o que for, considero que os amigos dos animais devem, por um lado aplaudir a medida que vai ser implementada pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, que vai ser pioneira nos Açores e uma das primeiras a nível nacional e, por outro lado, contribuir na medida das suas possibilidades para que aquela meritória intenção se torne uma realidade que orgulhe toda a região.

Mas, conhecendo a irresponsabilidade que grassa pela ilha, o modo desumano como são tratados os animais e a distância muito longa que muitas vezes separa as intenções dos atos, a medida anunciada só terá sucesso se for precedida e acompanhada de outras que façam com que os animais, sobretudo cães e gatos, em vez de irem parar ao canil sejam abandonados nas ruas, nos caminhos, nos miradouros, nos caixotes de lixo, etc.

Que medidas devem ser essas?

Entre outras, as seguintes:

- Tornar efetivos a identificação e registo obrigatórios;
- Implementar uma continuada educação do público em vez de recorrer a campanhas pontuais como foi a “Campanha Alice Moderno”;
- Reforçar as campanhas de esterilização;
- Estabelecer parcerias com as associações legalmente constituídas e criar mecanismos que incentivem a colaboração das dezenas de voluntários com os serviços oficiais;
- Punir, sem dó nem piedade, todos os prevaricadores.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31030, 6 de setembro de 2016, p.12)
Fotografia: Ilha dos Bichos

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

O priolo: de praga a jóia da coroa


O priolo: de praga a jóia da coroa

Penso que hoje ninguém põe em causa o trabalho que tem sido feito em prol da conservação do priolo, ave única no mundo, que vive na zona montanhosa situada a leste da ilha de São Miguel nem os milhões de euros já investidos nos vários projetos que têm sido implementados nos concelhos do Nordeste e da Povoação.

Se hoje o priolo é classificado como uma espécie em perigo, no passado foi, a par com outras aves, considerado uma praga agrícola e como tal foi combatido pelas entidades oficiais, que incentivavam o seu abate, e foi perseguido pelos agricultores.

Embora a principal causa para o seu quase desaparecimento tenha sido a destruição e redução do seu habitat, sobretudo para a plantação de criptomérias e para a criação de pastagens, a perseguição movida pelos agricultores, que recebiam incentivos para os matar, a sua captura e morte por parte de colecionadores também contribuíram para que o seu número se reduzisse drasticamente.

Segundo uma nota publicada no Correio dos Açores, no dia 18 de novembro de 1971, chegou-se a duvidar da sua existência como se pode ler: “Nos últimos anos tem sido por mais de uma vez discutida ou posta em dúvida, nos sectores mais diretamente ligados aos estudos de ornitologia, a presença em S. Miguel de uma ave rara, que segundo parece, hoje só existe nesta ilha”.

Na mesma notícia, é mencionado o aparecimento de um priolo “na Lagoa das Furnas, na propriedade ao lado do antigo Jardim José do Canto”, tendo o exemplar sido apanhado e ido para o Museu Carlos Machado, “onde se encontra a enriquecer a coleção ali existente”.

Hoje, embora a evolução das mentalidades não tenha acompanhado a evolução da tecnologia, ninguém de bom senso considera mais importante uma ave empalhada num museu do que uma ave viva e em liberdade.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31017, 23 de agosto de 2016, p.16)

Imagem daqui: https://pt.wikipedia.org/wiki/Priolo

Alice Moderno, a política e os políticos (2)


Alice Moderno, a política e os políticos (2)

Hoje, dá-se continuidade ao texto publicado na semana passada sobre a ação política de Alice Moderno que foi muito mais modesta do que a sua amiga, a professora Maria Evelina de Sousa.

Sobre os políticos, a propósito de José Bensaúde (1835-1922), distinto e culto industrial e lavrador de origem judaica, que ensinava as operárias da sua fábrica a ler, Alice Moderno escreveu: “alheio à bisca política de nacionalistas, regeneradores e progressistas, todos eles muito boas pessoas na oposição”.
´
Alice Moderno, que nasceu em 1867, teve a oportunidade de viver e assistir à queda da monarquia, saudar o advento da República e “aderir de alma e coração ao partido republicano”, segundo Maria da Conceição Vilhena, e passar os últimos anos da sua vida, primeiro sob a Ditadura Militar e depois sob o Estado Novo.

Como já referimos na primeira parte deste texto, até ao momento, não encontramos qualquer informação ou documento que confirme a participação de Alice Moderno na vida interna de qualquer partido, o que é público é a sua defesa do regime republicano no seu jornal “A Folha”, mesmo após algumas deceções que lhe causaram algumas medidas tomadas pelos republicanos no poder.

Entre Junho de 1918 e Maio de 1925, publicou-se em Ponta Delgada o semanário republicano “A Pátria” que, entre outros, teve como diretores José da Mota Vieira e António Medeiros Franco. De entre os colaboradores do jornal contaram-se Alice Moderno e a professora Maria Evelina de Sousa, também republicana convicta.

Através dos números do jornal a que tivemos acesso, desde o primeiro até ao publicado a 16 de junho de 1924, concluímos que o contributo de Alice Moderno foi bastante modesto, tendo-se limitado à publicação de dois poemas, “4 de Julho”, no número 6, datado de 11 de julho de 1918, e “Resposta de Roosevelt”, no número 10, datado de 8 de agosto de 1918, que abaixo se transcreve:

Quando foram dizer ao grande ex-presidente
Que o seu filho mais novo, ainda adolescente,
Tenente-aviador do exército da América,
Recebera no front a morte heroica e épica
Que consagra os heróis, no solo o mais sagrado,
Lutando em prol do Ideal, agora espezinhado
Pelo militarismo, a contrapor afeito
O direito da força à força do Direito,
Roosevelt respondeu, com voz que não tremia:
“Minha mulher e eu sentimos alegria
Ao ver que o nosso filho, única e simplesmente,
Cumprindo o seu dever, honrou a pátria ausente!”

Sem comentário algum, dobremos o joelho,
E ó pais de Portugal, vede-vos neste espelho!


Defensora da autonomia, Alice Moderno defendia que os deputados deviam ser naturais de cada círculo por conhecerem melhor as realidades locais e os governadores civis deviam ser estranhos às ilhas para não se deixarem influenciar e dominar pelos senhores locais.

Após a queda da Primeira República, em 1926, não conhecemos qualquer intervenção política de Alice Moderno que, a 4 de março de 1927, numa carta a Ana Castro Osório, escreveu o seguinte: “Eu, pela minha parte, estou absolutamente desinteressada da política”

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 31018, 24 de agosto de 2016, p.16)

Foto: Por FDR Presidential Library & Museum - CT 09-109(1), CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=47600299

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Abandono de animais ontem e hoje


Abandono de animais ontem e hoje

Nos últimos tempos muito se tem falado sobre o abandono de animais e sobre o seu abate nos canis que estão sempre cheios apesar de nalguns casos ter aumentado o número de adoções e do trabalho incansável das associações e de muitos voluntários.

É verdade que tem havido excessos verbais por parte de algumas pessoas, mas não é menos verdade que todos têm o direito à indignação, sobretudo os que dão o que podem e às vezes mais do que podem para salvar animais.

Incompreensível é a atitude de afronta e o desrespeito por parte de quem está a falar em nome de uma entidade oficial face a comentários sensatos de quem abraçou a causa animal mas que espera sempre mais de quem tem por obrigação fazer mais do que tem feito. A pessoa (ou pessoas?) em questão não é digna de estar a trabalhar num serviço público por não ser capaz de ouvir e ter compreensão para com quem apresenta pontos de vista diferentes dos seus e por colocar em causa uma entidade e as pessoas que neste momento são seus legítimos representantes e que apesar de tudo querem fazer melhor.

Sobre a quantidade de animais abandonados, sobretudo de cães e gatos, um pouco por todo o lado e nos vários canis, não temos números mas é tal que é incompreensível em pleno século XXI.

Esta situação não é nada diferente da que se verificava no início do século XX e que levou à criação, por Alice Moderno, da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais e da que existia em 1972, que foi denunciada pela comunicação social de São Miguel, sobretudo pelo Correio dos Açores, no dia 11 de março, nestes termos:

“Há, todavia, seres humanos com piores sentimentos do que o mais pobre e humilde rafeiro e assim se compreende o abandono a que, muitas vezes, depois de um período de entusiasmo e de encantamento, votam os tristes animais, matando-os à fome ou atirando-os à rua, sacudidos a ponta pé ou a cabo de vassoura, num testemunho de desumanidade e vilania incapaz de se albergar por detrás de uma submissa e dura coleira”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31023, 30 de agosto de 2016, p.16)

Quem foi Marta Milanes Fernandez?


Quem foi Marta Milanes Fernandez?

Através do meu colega Tito Pires Coelho (1952-2009), que foi professor de Geografia na Escola Secundária das Laranjeiras, tomei conhecimento de que uma jovem cubana tinha fugido do seu país e que viveu durante algum tempo em Ponta Delgada.

Passados seis anos, através de uma publicação da, também, minha colega, Maria António Fraga, que foi professora de Física e Química, fiquei a saber que por mero acaso, estando ela em Ponta Delgada, conheceu a jovem cubana Marta Fernandez, que tal como ela estava hospedada no Convento da Esperança.

Marta Fernandez estabeleceu amizade com várias jovens micaelenses, entre as quais Maria Antónia Fraga que fez com que esta assistisse e acabasse por ser a fotógrafa do batizado daquela, nos primeiros meses de 1972.

Já este ano, através de pesquisas no “facebook”, Maria Antónia Fraga encontrou a página de Martha Fernandez, mas o reencontro não foi possível pois esta havia falecido, em 2015, nos Estados Unidos da América.

Estando a fazer pesquisas sobre a oposição nos últimos anos do Estado Novo no livro “História dos Açores, 1935-1974”, da autoria do Dr. Carlos Melo Bento, encontrei uma pequena referência a Marta Fernandez. Assim, referindo-se ao senhor Gentil Coelho o referido autor escreveu: “foi sempre um dirigente policial muito correcto ...tendo até protegido uma jovem refugiada e bela cubana, nos anos setenta, de que recebera ordem para recambiar para Fidel de Castro. Aquela foi por ele entregue aos americanos que lhe deram o estatuto de exilada”.

Não satisfeito com o que havia encontrado até então, decidi, nos primeiros dias de férias, investigar nos jornais de São Miguel, dos anos de 1971, 1972 e 1973, tendo encontrado mais informações que, a seguir, apresento.

Marta Milanes Fernandez, estudante liceal de 16 anos de idade, natural de Havana, Cuba, chegou a São Miguel a bordo de um cargueiro cipriota com tripulação grega.

De acordo com o jornal Correio dos Açores, de 6 de novembro de 1971, a jovem cubana antes de chegar a Ponta Delgada pediu a proteção do Bispo D. Manuel Afonso de Carvalho que “imediatamente acedeu em a receber e Martha ficou ontem alojada no Lar das Irmãs de Maria Imaculada, no Convento da Esperança”.

O mesmo jornal refere que “as autoridades portuguesas, através dos serviços da “Direção Geral de Segurança”, em Ponta Delgada, comunicaram a Martha Milanes Fernandez que poderá ficar no nosso país”. Esta decisão foi comunicada a Martha, ainda a bordo pelo “Inspector da “Direção Geral de Segurança” Sr. Gentil Garcia Coelho que para lá se deslocou para o efeito.

Marta Fernadez que chegou a Ponta Delgada depois de ter fugido de Cuba com a colaboração do seu namorado, Cristos Patrones, tripulante do cargueiro já referido, partiu para os Estados Unidos da América no dia 23 de março de 1973, mais propriamente para Nova Iorque, para onde foi residir com o tio Carlos Milanes.

Para os leitores interessados em conhecer como foi consumada a fuga de Cuba recomendo a leitura do texto de Silva Júnior, intitulado “Romance de Amor. A gentil cubana que pediu asilo às autoridades portuguesas”, publicada no Diário dos Açores de 27 de novembro de 1971.

O texto, onde é noticiada a saída de Marta de São Miguel, publicado no jornal “Açores”, de 23 de março de 1973, termina assim: “Resta que alguém, sabendo manejar a pena, escreva o “Romance de amor da bela Martha Milanes Fernandez, terminando-o – e são estes os nossos votos – dizendo que se casaram, tiveram muitos meninos e vivem em plena felicidade”. Até ao momento em que escrevo este texto, não tenho qualquer informação sobre se Marta e Cristos voltaram a encontrar-se após a sua despedida em São Miguel, em 1971.

( Correio dos Açores, 31024, 31 de agosto de 2016, p.16)