sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Alice Moderno, a política e os políticos (2)


Alice Moderno, a política e os políticos (2)

Hoje, dá-se continuidade ao texto publicado na semana passada sobre a ação política de Alice Moderno que foi muito mais modesta do que a sua amiga, a professora Maria Evelina de Sousa.

Sobre os políticos, a propósito de José Bensaúde (1835-1922), distinto e culto industrial e lavrador de origem judaica, que ensinava as operárias da sua fábrica a ler, Alice Moderno escreveu: “alheio à bisca política de nacionalistas, regeneradores e progressistas, todos eles muito boas pessoas na oposição”.
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Alice Moderno, que nasceu em 1867, teve a oportunidade de viver e assistir à queda da monarquia, saudar o advento da República e “aderir de alma e coração ao partido republicano”, segundo Maria da Conceição Vilhena, e passar os últimos anos da sua vida, primeiro sob a Ditadura Militar e depois sob o Estado Novo.

Como já referimos na primeira parte deste texto, até ao momento, não encontramos qualquer informação ou documento que confirme a participação de Alice Moderno na vida interna de qualquer partido, o que é público é a sua defesa do regime republicano no seu jornal “A Folha”, mesmo após algumas deceções que lhe causaram algumas medidas tomadas pelos republicanos no poder.

Entre Junho de 1918 e Maio de 1925, publicou-se em Ponta Delgada o semanário republicano “A Pátria” que, entre outros, teve como diretores José da Mota Vieira e António Medeiros Franco. De entre os colaboradores do jornal contaram-se Alice Moderno e a professora Maria Evelina de Sousa, também republicana convicta.

Através dos números do jornal a que tivemos acesso, desde o primeiro até ao publicado a 16 de junho de 1924, concluímos que o contributo de Alice Moderno foi bastante modesto, tendo-se limitado à publicação de dois poemas, “4 de Julho”, no número 6, datado de 11 de julho de 1918, e “Resposta de Roosevelt”, no número 10, datado de 8 de agosto de 1918, que abaixo se transcreve:

Quando foram dizer ao grande ex-presidente
Que o seu filho mais novo, ainda adolescente,
Tenente-aviador do exército da América,
Recebera no front a morte heroica e épica
Que consagra os heróis, no solo o mais sagrado,
Lutando em prol do Ideal, agora espezinhado
Pelo militarismo, a contrapor afeito
O direito da força à força do Direito,
Roosevelt respondeu, com voz que não tremia:
“Minha mulher e eu sentimos alegria
Ao ver que o nosso filho, única e simplesmente,
Cumprindo o seu dever, honrou a pátria ausente!”

Sem comentário algum, dobremos o joelho,
E ó pais de Portugal, vede-vos neste espelho!


Defensora da autonomia, Alice Moderno defendia que os deputados deviam ser naturais de cada círculo por conhecerem melhor as realidades locais e os governadores civis deviam ser estranhos às ilhas para não se deixarem influenciar e dominar pelos senhores locais.

Após a queda da Primeira República, em 1926, não conhecemos qualquer intervenção política de Alice Moderno que, a 4 de março de 1927, numa carta a Ana Castro Osório, escreveu o seguinte: “Eu, pela minha parte, estou absolutamente desinteressada da política”

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 31018, 24 de agosto de 2016, p.16)

Foto: Por FDR Presidential Library & Museum - CT 09-109(1), CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=47600299

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